POSTER 22: UMA RELEITURA DO SONHO NA PERSPECTIVA GESTÁLTICA

 

Autor: Ana Carolina Seara

 

Segundo a Psicanálise, os sonhos constituiriam uma realização (disfarçada) de um desejo (reprimido). Para os neurocientistas, eles são formados a partir de estímulos aleatórios e não possuem qualquer significado.

Outro estudo (CHENIAUX, 20064) sugere que essas visões são complementares. Se o sonho, tanto para as neurociências quanto para a Psicanálise, faz parte de uma função natural dos seres humanos e se, diante das mudanças contemporâneas de estilos de vida e estresse, são registrados relatos de alterações significativas no ciclo de sono, também ocorrerão mudanças relativas à lembrança do sonho. Considerando a importância do sonho, seja fisiologicamente ou como mecanismo psíquico, esse trabalho tem como objetivo compreendê-lo a partir de um novo olhar -olhar do clínico gestáltico – numa releitura fenomenológica mais rigorosa da Teoria do Self (PERLS,HEFFERLINE e GOODMAN,19975; MÜLLER-GRANZOTTO e MÜLLER -GRANZOTTO,20076). Nesse sentido, poder-se-ia compreender aquilo que se chama de sonho através de dois momentos distintos: o sonho sonhado e o sonho relatado. Sonho sonhado é função id (entendida como a retenção de algo que não se inscreve como conteúdo, apenas como hábito -presença anônima do mundo em mim), fluindo livremente onde a função ego (entendida como a função que atua na fronteira de contato com o meio, operando com o fundo e abrindo possibilidades de futuro) não opera, pois o corpo está adormecido. Já o sonho relatado acontece ao despertar.

4 CHENIAUX, E. . Os sonhos: integrando as visões psicanalítica e neurocientífica. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Porto Alegre -RS, v. 28, n. 2, p. 169-177, 2006.

5 PERLS,P; HEFFEERLINE, R.; GOODMAN, P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997

6 MÜLLER-GRANZOTTO, M. J.;MÜLLER-GRANZOTTO, R.L. Fenomenologia e Gestalt-terapia. São Paulo:Summus, 2007.

 

No momento em que se lembra do sonho, inicia-se o processo de dar um sentido a ele, organizando cronologicamente os acontecimentos e construindo um relato do mesmo. A cada novo relato, há uma nova criação da função ego. É no momento em que se faz o relato que a função ego começa a operar com aquilo que foi retido do sonho (lembrança) e abre as possibilidades num horizonte de futuro. Quando a função ego faz esse trabalho, ela está tentando operar com o fundo e, ao dar um sentido àquilo que se sonhou, entra em cena a função personalidade (aquilo que se sabe sobre si, reproduzido principalmente por meio da linguagem). É em função disso que o clínico gestáltico, a partir do relato do sonho, utiliza-se de possibilidades de trabalho (dramatização, relato no presente (LIMA FILHO, 2002 7) que visam apropriar-se do sentido da experiência sensorial e/ou dar-se conta do modo de funcionamento habitual do sonhador. Dessa forma, o clínico pode propiciar um espaço para a reorganização do campo (organismo/meio) a partir de uma nova forma de operar com ele.

7 - LIMA FILHO, A. Gestalt e sonhos. São Paulo: Summus, 2002.

 

Palavras-chave: sonhos, gestalt-terapia, fenomenologia