A perspectiva do desenvolvimento à luz da abordagem gestáltica: reconfigurando conceitos, flexibilizando a teoria
Os temas referentes
a psicologia do desenvolvimento tem sido intensamente explorados e tratados
por diferentes abordagens teóricas tanto em psicologia quanto em outras
áreas afins, o que justifica uma preocupação legítima
em se compreender as etapas da existência humana.
Assim, inicialmente nossa proposta consiste em apresentar os conceitos fundamentais
da psicologia do desenvolvimento e a partir da correlação com
os fundamentos da abordagem gestáltica, refletir sobre a importância
de se considerar para além das regularidades e continuidades do processo
evolutivo, as descontinuidades e as manifestações fenomenológicas
do vir-a-ser do indivíduo partir da contextualização da
sociedade contemporânea, possibilitando assim que os conceitos possam
também reconfigurar-se no processo de compreensão das subjetividades
na atualidade.
Para a dinamização do Fórum pretendemos apresentar os seguintes
tópicos para discussão:
Problematizando os conceitos da psicologia do desenvolvimento:
O que é o
desenvolvimento?
Com essa questão inicial, pretendemos lançar a discussão
sobre essa noção dentro da psicologia e fomentar os participantes
a construir uma definição da psicologia do desenvolvimento para
então problematizá-lo à luz da abordagem gestáltica.
A compreensão do campo psicológico, biológico, social e
existencial no qual um indivíduo se desenvolve, encontra argumento no
conceito de totalidade proposto pela abordagem gestáltica. O discurso
da totalidade implica em se considerar o processo de desenvolvimento como algo
que se manifesta a partir de um campo psicofísico particular que se insere
em um campo ambiental maior, que por sua vez está contido em um campo
universal estruturante das vivências humanas.
Essas premissas possibilitam que as análises sobre o caráter processual
do desenvolvimento humano contemplem tanto as regularidades que compõem
o ciclo vital quanto as descontinuidades que se lhe demarcam.
2. O desenvolvimento à luz da abordagem gestáltica
Como a abordagem
gestáltica concebe o desenvolvimento?
Através desse questionamento pretendemos, com as respostas dos participantes,
construir um painel estabelecendo os constructos básicos apontados pela
abordagem gestáltica para se reconfigurar no contexto dessa perspectiva
o conceito de desenvolvimento.
Na abordagem gestáltica, partimos da premissa que a identidade pode ser
identificada como um continuum tendo em vista a processualidade do vir-a-ser
humano. Assim, consideramos que o estabelecimento da identidade se dá
a partir das possibilidades de ajustamento criativo do indivíduo ao seu
meio e que a partir da representação singular de suas vivências,
pode se reconfigurar em função da dinâmica que se lhe imprima.
Desse modo, quando nos defrontamos com os estereótipos sociais do indivíduo
na adultícia, é importante considerar tanto as representações
sociais que a delimitam como a contextualização específica
de suas vivências no campo social em que se inscreve. Isso significa que
a compreensão fenomenológica da psicologia do desenvolvimento
consiste em buscar a gênese desse processo de modo a contemplar o campo
fenomenológico em que esse processo se dá.
A análise fenomenológica nos permite clarificar como a experiência
humana se manifesta em um dado momento, possibilitando reconfigurar permanentemente
os conceitos fazendo prevalecer a afirmativa básica de Heráclito
no ano V a.C.: “Nada dura exceto a mudança”.
Não obstante os impasses com os quais podemos nos defrontar nessa empreitada,
é fundamental que a compreensão do desenvolvimento do indivíduo
e seus mecanismos de auto-regulação na sociedade vigente se dê
a partir de sua experiência subjetiva. A postura fundamental da abordagem
gestáltica deve ser o de estar aberto à compreensão da
realidade do indivíduo a partir dos diversos ângulos que compõe
a sua existência que em si está atravessada pela multiplicidade
de experiências e vivências.
Considerações Finais
A abordagem gestáltica
é uma proposta humanística que visa consolidar uma visão
de homem que contemple a análise das possibilidades do vir-a-ser humano.
As concepções em psicologia do desenvolvimento, historicamente
foram se delineando de forma a viabilizar a compreensão do ciclo vital
humano, bem como o processo de construção do “sujeito psíquico”.
Ao buscar a visão do “homem como um todo”, a abordagem gestáltica
não prescinde do caráter relacional que constitui a existência
humana e é exatamente em razão disso que o olhar sobre as interações
entre sujeito e mundo são as premissas fundamentais na construção
de uma visão crítica sobre os conceitos encapsuladores da existência
humana. Como nos aponta Aguiar (2005, p. 47): “Não negamos [no
ser humano] suas regularidades, o que ele possui em comum com os outros seres
humanos, mas interessa-nos particularmente aquilo que ele possui de específico
e a forma singular de suas regularidades e especificidades se configurarem num
ser total”.
Assim, ao analisarmos o desenvolvimento nessa perspectiva, é necessário
que o olhar sobre o processo de tornar-se esteja constantemente contextualizado
na sua relação com o mundo, inter-relacionando seus campos campos
existencial, biológico, social e psicológico.
Com essas considerações, encerramos nossa proposta no fórum
interativo buscando correlacionar os conceitos apresentados pela psicologia
do desenvolvimento e as possibilidades que a abordagem gestáltica nos
traz ao rever esses conceitos no sentido de repensá-los a partir de uma
perspectiva dialética.
BIBLIOGRAFIA
AGUIAR, Luciana. Gestalt-terapia com crianças: teoria e prática.
Campinas: Livro Pleno, 2005.
ABERASTURY, Arminda; KNOBEL, Maurício. Adolescência normal. Porto Alegre: Artes Médicas, 1981.
CAMPOS, Dinah. Psicologia
do Adolescente. Petrópolis: Vozes, 1996.
GINGER, Serge e Ginger, Ane. Gestalt: uma terapia de contato. São Paulo:
SUMMUS, 1995.
RIBEIRO, Jorge P.
Gestalt-terapia: Refazendo um caminho. São Paulo: SUMMUS, 1985.