WORKSHOP 14: A GESTALT-TERAPIA EM BUSCA DE ABERTURA PARA O NOVO SEM A PERDA DA CONSISTÊNCIA EPISTEMOLÓGICA

 

Autores: Marcelo Pinheiro e Márcia Estarque Pinheiro


Eixo temático: Práticas da Gestalt-terapia na atualidade e os seus caminhos


OBJETIVO GERAL

Promover um espaço de troca, propiciando aos participantes a oportunidade de aprofundar sua compreensão sobre as especificidades das práticas dos Gestalt-terapeutas de nosso tempo.

 

OBJETIVO ESPECÍFICO

O objetivo de nosso trabalho é mobilizar os participantes do workshop quanto à necessidade de ampliação de investigação em relação às características de nosso tempo, às mudanças na realidade humana e a busca de identificação de como estas se refletem e trazem novas questões e possibilidades para a prática clínica do Gestalt-terapeuta. Desta forma visamos contribuir para que a prática Gestáltica se mantenha coerente com as peculiaridades inerentes ao nosso tempo.

 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Qual a cara de nosso tempo? O que marca a nossa época? Quais são as características mais peculiares a este momento histórico? De certa forma nós temos uma visão parcial destas marcas. Talvez gerações futuras possam olhar para trás e enxergar aspectos que nos sejam invisíveis nestes tempos, mas que saltem aos olhos dos que virão. De forma alguma isto significa que deste futuro ponto de vista se possa compreender a essência de nosso tempo de maneira mais própria que a dos que compartilham esta época, este momento em que vivemos e nossas peculiaridades e necessidades. Então, que época é esta? Algumas das características que se evidenciam é que este é um período em que para muitos o tempo se tornou em artigo de luxo. É uma época de transformações tecnológicas de rapidez exuberante. Os artefatos tecnológicos são substituídos antes que os donos consigam dominar integralmente seus recursos. É um momento de extrema fugacidade de contatos, onde são iniciadas, vividas e terminadas relações entre as pessoas com velocidade coerente com a das transformações tecnológicas atuais. Certamente em nenhum outro tempo as possibilidades de comunicação foram tão amplas – televisão, telefone, celular, rádios, torpedos, internet. As facilidades destes recursos – acessibilidade, velocidade na troca de informação -ainda não dão conta de fazer com que as trocas entre seres humanos estejam livres de impasses e dificuldades. Cada vez mais estão surgindo novas formas de contato entre as pessoas e nessas novas buscas, a reboque emergem também novas possibilidades. Neste contexto propomos este trabalho a partir de uma reflexão do próprio Perls [...] A teoria em si é baseada na experiência e na observação; cresceu e mudou com anos de prática e aplicação, e ainda está crescendo. (PERLS, 1985 p.13). Para onde estamos indo e como estamos trilhando estes caminhos? Na busca desta clareza percebemos que quanto mais sabemos quem somos, mais temos condições de facilitar que o outro se dê conta de quem ele é na relação conosco e que dê vazão ao seu potencial criativo. Para o desenvolvimento deste workshop nos baseamos em um breve levantamento bibliográfico, na exploração de nossa experiência na prática clínica (individual, de grupos, casais e famílias), na nossa experiência na formação de gestalt-terapeutas e no desenvolvimento de linhas de pesquisas com temas afins. Pensar sobre esse tema é pensar sobre uma identidade que está necessariamente sempre em movimento. Seria incoerente fazer uso dos mesmos instrumentos teórico-técnicos de uma abordagem sem uma eterna atualização em relação ao contexto em que estamos inseridos, e para tal é necessário estarmos atentos às mudanças sociais e culturais que estão se dando de forma cada vez mais rápida. Neste sentido este trabalho visa trazer à tona a reflexão sobre a possibilidade de abertura para o novo sem a perda da consistência epistemológica de nossa abordagem. Para que a gestalt-terapia possa sobreviver, ela deve defender essa espécie de processo integrativo de crescimento e essa generosidade criadora; deve continuar entrelaçando, para constituir novos conceitos [...]. Se nós, mestres do ofício, esquecermos esse princípio essencial da experimentação criativa, abdicarmos da criação de novos conceitos gestados pela nossa própria audácia e por uma conduta ousada e destemida, a Gestalt-terapia morrerá, assim como tantos outros modismos terapêuticos passageiros. (ZINKER, 2007 p. 32)


Cabe lembrar aqui que nós psicólogos somos profissionais da relação, isto é, profissionais da comunicação e precisamos estar atentos a com quem e como estamos nos relacionando, ao mundo ao nosso redor e as demandas da atualidade. Fundamental também observar a necessidade de modificações em nossa arte, caso contrário ficaremos anacrônicos. Discutir este tema é fundamental para o desenvolvimento consistente do trabalho de Gestalt-Terapeutas. Seria incoerente atuar no campo da psicoterapia, tendo como embasamento teórico este referencial e de alguma forma se manter cristalizado em apenas uma conduta dogmática para o trabalho clínico, independente das relações estabelecidas e das transformações do contexto. O tempo todo estamos vivendo transformações em nossas relações, sendo necessário buscar estar em contato com as novas realidades em que estamos inseridos, observando as relações em que estamos implicados. O trabalho do gestalt-terapeuta é desenvolvido a partir da relação terapêutica que estabelece com seus clientes e com isso é fundamental estarmos atentos a quem são nossos clientes e à realidade em que estamos inseridos. Como bem nos lembra Zinker (2007 p.32) “Se Fritz estivesse vivo hoje, ficaria decepcionado ao ver uma multidão de terapeutas imitando seu trabalho como se este fosse a última palavra em psicoterapia.” Neste contexto não podemos nos fechar apenas em horizontes rígidos que nos fornecem a tranquilidade gerada pela segurança do conhecido, sem olhar para as transformações desenvolvidas ao nosso redor e em que nos implicamos. Não olhar para isso fatalmente nos levaria a uma repetição de padrões que atualmente podem não mais ser coerentes com nossa realidade, e a um empobrecimento da prática clínica. Discutir este tema é fundamental para a nossa busca constante de encontrar a melhor forma possível neste momento de desenvolver um trabalho clínico consistente.

PROCEDIMENTOS/ DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DA CONDUÇÃO

1. Início com apresentação dos coordenadores e do grupo;
2. Apresentação breve da proposta, onde será esclarecido sobre o funcionamento da coordenação e das etapas do workshop;
3. Dinâmica de experimentação de contrastes do novo com o antigo, que se dará gradativamente a partir de contatos que vão do particular para com todo o grupo;
4. Divisão em grupos pequenos para troca sobre o que foi vivido e ampliação da percepção pessoal da proposta;
5. Retorno ao grupo grande para troca com todos os participantes sobre o que foi vivido desde o início da atividade;
6. Fechamento.

MATERIAL A SER UTILIZADO

• Datashow e telão para apresentação de imagens
• Computador
• Sistema de som (para uso de músicas disparadoras)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PERLS, Frederick Salomon. A Abordagem gestáltica e Testemunha ocular da terapia. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

ZINKER, Joseph. -O processo criativo em Gestalt-terapia. São Paulo : Summus, 2007.