WORKSHOP 13: ABRINDO A CAIXA PRETA: DA EVITAÇÃO AO ENFRENTAMENTO AMPLIAÇÃO DE AWARENESS EM SITUAÇÕES-LIMITE
Autoras: Glaucia Resende Tavares, Marilia A. de Freitas Cunha, Claudia Gonzalez Oliveira, Janaina Barbosa Yemura e Leticia Lobato
RESUMO
Abrir a
Caixa Preta é uma proposta de oferecer meios para se refletir sobre a
complementaridade da vida com a morte numa articulação lúcida
e reflexiva. Por adotar uma comunicação metafórica oferece
a possibilidade de construção de vários significados, variando
de acordo com as circunstâncias. Em geral os nossos limites são
social e culturalmente fixados como fundo, interditados de se manifestarem como
figura. A ampliação de awareness em situações-limite
pode ser alcançada ao se integrar as nossas fragilidades às nossas
possibilidades. Esta é uma tarefa que não tem o potencial de não
se esgotar e evoluir continuamente. A vida é mortal e as nossas precariedades
não se reduzem à impotência, podendo ser articuladas à
nossa condição vital, circunstância de quem se reconhece
por inteiro. Somos mortais, a imperfeição nos constitui. A vida
nos convoca a adotarmos posições humildes diante das mais diversas
experiências. Os mitos de idealização, perfeição,
verdade, neutralidade e objetividade funcionam como excesso de bagagem, sobrecarregando
as nossas mentes. Enxugar o sobrepeso mental é exercitar a renúncia
ao supérfluo, à arrogância humilhada ou humilhação
arrogante e ter a liberdade responsável de escolher conectar-se ao que
se mostra como essencial. Não é possível mudar os fatos,
mas é possível adotar a atitude modesta, com a flexibilidade do
peregrino no cumprimento das tarefas existenciais. Através da simbologia
da abertura da caixa preta, oferecemos a possibilidade de novas percepções,
emoções e ações sobre temas tabus, acessando os
segredos e as proibições no contexto das situações-limite,
transformando o que está enrijecido e adoecido em novas possibilidades
de enfrentamento.
Palavras-chave:
Morte, Vida, Limites, Possibilidades, Superação, Reflexão,
Metáfora
OBJETIVOS
•
Favorecer reflexões na articulação entre os limites e as
possiblidades;
• Facilitar a co-construção de opções de enfrentamento;
• Reconhecer a nossa capacidade de ajustar criativamente diante de obstáculos;
• Validar a auto-regulação, sustentada pela ampliação
da awareness.
METODOLOGIA
Workshop com uma hora e meia de duração, dividido em três momentos. No primeiro haverá apresentação de imagens metáforicas, no segundo os coordenadores re-apresentam as imagens e fazem explanação, e no terceiro momento há o compartilhamento das percepções e reflexões entre todos os participantes.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Mudanças
são referenciais reais, entretanto as transformações mal
assimiladas geram angústia e ansiedade. A vida muda as nossas vidas.
“A transformação se dá a partir de uma reflexão
consciente. É o reconhecimento da dor que nos direciona para a busca
da aceitação. Enquanto não aceitamos a realidade, ficamos
impotentes para agir. Deixar de aceitar a realidade é negar que podemos
fazer escolhas que façam sentido. Quando escolhemos não escolher,
vivemos à revelia e nos tornamos vítimas e/ou algozes das circunstâncias”
(Tavares, 2001:35)
Diante
dos riscos e perigos inevitáveis da caminhada existencial podemos articular
nossos medos e nossa coragem para enfrentá-los.
O desafio é sair da nossa tendência evitativa e nos colocar, criativamente,
como co¬partícipes dos eventos que nos cercam. Mesmo diante de obstáculos,
turbulências, perdas e morte podemos acionar a oportunidade de sairmos
fortalecidos, ampliar nossa awareness, evoluir nossa consciência e validar
qualidade de vida. “Manter a mente clara ou aberta é o resultado
do caminho onde fé, disciplina e mérito estão articulados”.
(Lucca,2008: 122) As limitações são consideradas barreiras
intransponíveis, percebidas e, tratadas como absolutas. Estar aberto
a novas possibilidades requer o questionamento para além dos limites,
considerando-os relativos, integrados aos recursos disponíveis a cada
circunstância. Sucesso, prosperidade e felicidade são desdobramentos,
consagrados pela determinação, pelo esforço e pelo tempo
dedicado em atitude simples, sinceras e serenas no caminhar. Somos seres de
passagem sobre esta terra, portanto peregrinos. O perigo se mostra quando o
foco se coloca em um ponto a ser alcançado, de forma inflexível,
desconectado da maneira como o caminho é realizado. Marcamos que o essencial
não é o nosso destino, mas o percurso.
“Olhar para a morte conhecê-la, entendê-la, aceitá-la,
para finalmente compreender a sua importância, nos mostrará as
suas qualidades, fazendo-nos entrar em contato com algo que é essencial
à vida”. (Hirano,2008:89)
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS
Segundo Barros (1994) awareness deveria ser traduzida como contato com o mistério, nada mais sendo do que uma relação adequada com os limites. O projeto Caixa Preta se propõe a uma viagem a temas desafiantes e inquietantes. Visa lidar com o mistério, com o silêncio e com a fertilização do vazio, repleto de possibilidades. Sendo assim, imaginar, respeitando o real e as diversas formas de fazer contato conosco, com os outros e com a vida favorece a adoção de uma atitude saudável no reconhecimento da nossa condição de impermanência. A metáfora é uma das mais poderosas formas de comunicação pelo seu poder de sensibilizar e atenuar resistências, permitindo que cada pessoa assimile o que lhe for possível. As transformações podem ser co-construídas, com criatividade, leveza e sensibilidade no lugar das paralisias, dos sofrimentos e das queixas diante dos obstáculos. O convite é o de ultrapassar as barreiras do medo de ter medo, da rigidez, da obstinação e da negação da negação, que se colocam diante dos inevitáveis desafios que nos compõem.
COMENTÁRIOS
Integrar a mítica caixa de Pandora à abertura da caixa preta é um espaço-tempo para se buscar entendimento, integração com o tema morte, que culturalmente colocamos sem luz, no escuro, no escondido. O convite é para introduzirmos a conversação sobre o tema, com abertura de novas possibilidades, em atitude interativa e complementar. Quanto mais se amplia a consciência sobre como influenciamos as energias à nossa volta, mais podemos participar do que nos acontece. Embora não tenhamos controle sobre os episódios em nossas vidas, podemos escolher como vivenciamos cada circunstância. Mesmo os eventos mais sofridos podem ser percebidos como valiosas lições se nos dispomos a aprender com eles. Segundo Yontef (1998) a awareness é sempre aqui e agora e está sempre mudando, evoluindo e transcendendo, não se colocando cativo do passado e nem teme o futuro. Integra a objetividade e a subjetividade das relações e das informações. Disponível para experimentar as contínuas novidades, organiza e permite uma sabedoria intuitiva, inocente, diferente de ingênua. Reconhece que o caos é o primeiro passo do processo criativo. Caos e ordem, caos e imaginação, vida e morte. O caos tem um namoro ostensivo com a linguagem, com o simbólico. O ato criativo consiste na articulação da imaginação com o caos. “Para integrarmos nossos sonhos e desejos à vida, mesmo diante do mistério da morte, que se mostra como caos em nossas vidas, é que podemos contar com a imaginação e fazer ajustes criativos. A imaginação articulada à criatividade muda a forma de perceber a realidade” (Tavares, 2001:27) O projeto Caixa Preta já foi desenvolvido nos mais diferentes contextos. Sua formatação permite adequar sua apresentação ao público assistente, tendo sido premiado com o 2º. lugar no Congresso da ALAPSA, Associação Latino Americana de Psicologia e Saúde, realizado em novembro de 2007, em São Paulo. Comentários de alguns dos participaram da referida apresentação:
“É
a caixa preta mais colorida. Mudou a cor da caixa. A morte como tabu e a apresentação
traz esperança. É possível tornar a morte mais digna. Dá
para encarar, apesar dos medos. É extenuante, vivemos, como cuidadores,
os momentos limites. Devemos nos cuidar para estar diante da situação”
“Ampliou minhas idéias. Há uma quebra paradigmática.
É possível ter dúvidas, é possível sentir.
Como estudante de psicologia escuto tantos “tem que ser forte” Percebi
que não tenho que nada. É o ser que pode... Dá um alívio
saber que pode sentir e expressar. Não precisa se mostrar forte. É
possível se respeitar.”
“Precisamos deixar as “nossas caixas” não ficarem pretas.
É um trabalho de prevenção.”
“A gente construiu nossa caixa preta e influenciamos as caixas pretas
dos outros. Falta com-sentir, ter humanização e pensar na relação
e não no isolamento. Permitiu ter a consciência do todo.”
“Ampliou minhas possibilidades para lidar com tema tão difícil.”
“Foi excepcional. O contato com os meus medos, minhas dificuldades. A
gente não conversa sobre isto. Quando eu toco no meu paciente escuto:
“Nossa, nem parece psicóloga!” A máscara me incomoda.
Nosso trabalho é
o de quebrar barreiras, é o de escutar.
Fiquei feliz em saber que não estou errada. Hoje eu tive certeza. São
coisas que não se pode falar nem em terapia, é vergonha.”
“A caixa preta abriu a possibilidade de se poder sentir e modificar as
ações. Poder modificar os nossos instrumentos.”
“Caixa preta – caixa de ferramentas para construção.”
DEMONSTRAÇÃO DO MATERIAL
• Será utilizado aparelho de data show
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Barros P. Narciso, a bruxa, o terapeuta e outras histórias. São Paulo: Summus, 1994.
Hirano H. O suicídio na cultura japonesa. In: Oddone HR, Fukumitsu KO. (org.) Morte, Suicídio e Luto: Estudos Gestálticos. São Paulo: Livro Pleno, 2008; 77-92
Lucca F.
Manteniendo la mente abierta: impermanencia e gestalt. In: Oddone HR, Fukumitsu
KO. (org.) Morte, Suicídio e Luto: Estudos Gestálticos. São
Paulo: Livro Pleno, 2008; 117-124
Tavares GR. Morte na vida, vida na morte: caminho possível? In: Tavares
GR (org.) Do Luto à Luta. Belo Horizonte: Casa de Minas, 2001; 23-32.
Tavares GR. O pesar melancólico é diferente do luto. In: Tavares GR (org.) Do Luto à Luta. Belo Horizonte: Casa de Minas, 2001; 33-9.
Yontef
GM. Processo, diálogo e awareness. São Paulo: Summus, 1998.