WORKSHOP 11: UM CAMINHO TERAPÊUTICO NA CLINICA GESTÁLTICA COM CRIANÇAS: A ARGILA E OS FANTOCHES COMO INSTRUMENTO DE CURA

 

Autora: Sheila Antony

 

OBJETIVO PRINCIPAL

Apresentar um modelo de atuação na clínica gestáltica infantil.


OBJETIVOS SECUNDÁRIOS

• Oferecer uma breve compreensão conceitual e teórica da Gestalt-Terapia;
• Apresentar uma metodologia de aplicação da argila e dos fantoches como técnicas expressivas e projetivas.

Este curso teórico-vivencial pretende apresentar um modelo teórico em Gestalt-terapia, abordando alguns princípios e conceitos fundamentais que norteiam a prática clínica com crianças. O modelo aponta a importância da presença consciente do terapeuta na construção da relação, na condução do processo terapêutico e na aplicação das técnicas e experimentos. O trabalho terapêutico é direcionado para: a awareness do funcionamento cognitivo, emocional, comportamental e corporal; a restauração da capacidade de fazer e sustentar o contato; e para experimentos de definição e fortalecimento do eu, visando o crescimento do auto-suporte (capacidade de identificar, assegurar, satisfazer as próprias necessidades e vontades). Os recursos terapêuticos utilizados para alcançar os objetivos citados envolvem o uso de técnicas expressivas e projetivas centradas em atividades de consciencia corporal, experiências de autonutrição e com a energia agressiva.

O trabalho com o corpo visa mobilizar sensações e emoções e resgatar a conexão eu-corpo, por meio de brincadeiras com os sentidos (o tato, os ouvidos, o paladar, o olfato, a pele) e atividades de coordenação motora voltadas para o equilíbrio, a postura, o movimento, o domínio corporal. Crianças com problemas emocionais (principalmente as molestadas, abusadas, deprimidas), muitas vezes, desconectam-se de seu corpo e iniciam um processo de dessensibilização e de contenção das emoções (retroflexão).

As experiencias de autonutrição consistem em ajudar a criança a aceitar-se como é, a reconhecer suas qualidades e dar valor ao modo como interage. A criança precisa entender que algumas de suas condutas problemáticas, revelam uma tentativa de organizar suas necessidades e, nesse sentido, é a melhor maneira que encontrou de ajustar-se criativamente às situações de tensão emocional. A intenção do terapeuta com o trabalho de autonutrição é fazer a criança se respeitar e ser capaz de cuidar de si mesma. Se a criança não aprende a se autonutrir ela ficará a vida toda querendo que os outros lhe dêem (ou façam por ela) aquilo que não é capaz de se dar. Inicialmente, procuramos levar a criança a identificar e aceitar as partes de si que não gosta oriundas das introjeções (aquelas crenças negativas internalizadas sobre si), que criam um autoconceito depreciativo e inibem a identificação de aspectos genuínos de si, fragmentando sua personalidade e distorcendo a auto-imagem; e em seguida, agimos no sentido de promover a integração das partes negadas (e projetadas) com as qualidades ocultas que formam a sua personalidade total. Segundo as palavras de Lee (como citado em Wheeler, 2002), “em GT procuramos sempre por vozes perdidas do self” (p. 178), pelos introjetos que conectam o mundo interno ao externo confundindo a expressão autentica da criança.

A tarefa terapêutica de oferecer experiências de conhecer e definir o eu, segundo Oaklander (2006), tem como finalidade ajudar a criança a construir e fortalecer o senso de eu por meio da expressão genuína de seu ser. Ao começar a se conhecer, se descobrir e definir a si mesma (através da exposição de seus desejos, vontades, necessidades, preferências), dá forma a sua identidade, o que irá alimentar a força interior responsável pelo auto-suporte. Esse processo envolve experiências com poder e domínio, fazer escolhas, reconhecer seus talentos, apropriar-se de projeções, aprender a discriminar entre o eu-outro-ambiente, delimitando limites e fronteiras. Ser criança é uma luta constante entre a personalidade espontanea e as exigências do meio exterior que confundem a sua autodescoberta, a auto-afirmação, a auto-regulação e sua identidade.

O outro passo fundamental na clínica gestáltica infantil é levar a criança a tomar posse da energia agressiva, inerente em nosso organismo. Esta energia é responsável pelo processo mental de receber, engolir, desestruturar e assimilar objetos/alimentos/valores do ambiente compatíveis com a personalidade da criança. A agressão é vista, na teoria da Gestalt, como um processo positivo e necessário para o desenvolvimento e crescimento saudável da criança. A energia agressiva impulsiona para uma ação, a qual exteriorizada de forma consciente, dá um senso de poder e força para a criança sustentar a expressão de sentimentos e pensamentos importantes que estão como fundo de suas condutas inapropriadas e comportamentos defensivos. A criança perturbada com essa energia pode apresentar 2 (dois) tipos de bloqueio do contato: 1) retroflexão – bloqueio da expressão do impulso. Ex: crianças tímidas, medrosas, retraídas. 2) deflexão – fuga do contato com a emoção real, exteriorizado através de brigas, lutas, tagarelices, distração. Ex: crianças agressivas, agitadas, desatentas. A raiva é um dos sentimentos mais temidos e proibidos de ser expresso. No entanto, a raiva como qualquer outra emoção é uma forma de expressão do self. A essência da agressão é a autopreservação, a delimitação de fronteiras, o cuidar de si. Revela a necessidade de opor-se, de confrontar uma idéia ou um valor, numa tentativa de afirmação do próprio eu.

A argila é um material terapêutico de grande valor para mobilizar sensações e emoções primitivas utilizada como uma técnica para estimular a expressão genuína de sentimentos bloqueados. Os fantoches servem como ferramenta terapêutica para facilitar a auto-expressão e revelar projeções. A criança ao usar os fantoches sente-se protegida de ser criticada, julgada ou condenada em suas ações.

Em GT não empregamos a técnica pela técnica em si, mas transformamos a técnica em experimentação. O experimento deve surgir do aqui e agora da observação fenomenológica do terapeuta sobre o agir da criança na situação terapêutica. Ao ser sugerido, deve criar oportunidade para uma experiência emocional que venha abrir janelas para a consciência de aspectos desconhecidos/temidos/alienados de si, dos conflitos vividos, de suas formas de ajustamento criativo e modo de estar em contato ou bloquear o contato. As técnicas expressivas nos revelam as projeções da criança, assim como servem para facilitar a expressão de sentimentos bloqueados; aliviar tensões; possibilitar a manifestação de resistências e medos, bem como, suas qualidades ocultas. O trabalho com técnicas projetivas visa integrar as partes negadas, sem a intenção de deixar de lado aquela(s) que a criança não gosta, mostrar o seu valor positivo, como sendo um modo de auto-regulação e ajustamento criativo às condições familiar e/ou social. Quanto mais clareza a criança tem do seu modo de ser, mais confiança, mais segurança, maior a capacidade de auto-expressão e de ganho de consciência sobre o seu universo psicológico.

Em Gestalt-Terapia não se interpreta, se explora as projeções observando as cenas e descrevendo-se o que se vê. Não se impõe técnicas ou experimentos, mas respeita-se o ritmo, a espontaneidade e a singularidade da criança. Os recursos terapêuticos utilizados são calcados na técnica da GT do diálogo entre as polaridades (partes introjetadas e partes alienadas – dominador x dominado) projetadas na cena criada nos experimentos ou atividades desenvolvidas. A criança aprende e entende melhor por meio de experiências concretas, portanto, o trabalho com crianças deve ser conduzido para a vivência de experiências, de modo que ela possa experimentar seu mundo subjetivo e dar significado a ele, a partir daquilo que vê, sente, pensa e faz. A mudança ocorre através da experiência vivida no encontro terapêutico, que promove a tomada de consciência de suas ações, emoções e processos de ajustamentos criativos.


DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DE CONDUÇÃO

• Exposição teórica sobre o conceito de contato, awareness, processos de bloqueio do contato (ou resistências).
• Exposição teórica sobre os princípios de autonutrição, energia agressiva e procedimentos de definição e fortalecimento do eu.
• Explanação sobre a metodologia de aplicação da argila e de fantoches como técnicas expressivas e projetivas.


MATERIAL A SER UTILIZADO

• Power Point
• Argila E Fantoches

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

OAKLANDER, V. Hidden treasure: a map to the child´s inner self. London: Karnac, 2006.

WHEELER, G. Compulsion and curiosity: a gestalt approach to OCD. In: WHEELER, G. e McCONVILLE, M. The heart of development: gestalt approaches to working with children, adolescents and their world. Vol. 1: Childhood..New Jersey: Gestalt Press, 2002. p. 165-181.