WORKSHOP 12: CO-TERAPIA EM GESTALT: UMA PROPOSTA CONTEMPORÂNEA DE
ATENDIMENTO A SISTEMAS COMPLEXOS

 

Autoras: Rosane Carneiro Porto e Ivone dos Santos Brittes

 

OBJETIVO GERAL

Este workshop tem como propósito proporcionar uma vivência teórica e prática de co-terapia em Gestalt, vista como uma possibilidade de atendimento em equipe.
Esse formato de atendimento em co-terapia vem sendo construído a partir da nossa prática clínica no Núcleo Contemporâneo de Psicoterapia, Niterói, RJ, Brasil, inspirado em autores contemporâneos e nos modelos de trabalho em equipe terapêutica de Tom Andersen e Michael White.


OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Vivenciar a distinção entre o paradigma científico moderno e o pós-moderno;
• Reconhecer atitudes e recursos terapêuticos que são pertinentes ao paradigma contemporâneo;
• Pensar epistemologicamente a prática clinica da Gestalt-terapia revendo atitudes e recursos terapêuticos focalizando a co-terapia.

 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O movimento de transformação paradigmática que ocorreu nas ciências durante o século XX incluiu a noção de "complexidade, instabilidade e inter-subjetividade" na ciência contemporânea (VASCONCELOS, 2002) e trouxe mudanças significativas à psicoterapia. Na psicologia, as teorias humanistas, dentre elas a Gestalt-terapia, assim como as terapias sistêmicas, trazem uma nova maneira de pensar a realidade como uma rede de relações.

No mundo contemporâneo o foco nos relacionamentos vem se tornando muito freqüente no setting terapêutico, incluindo famílias, casais, grupos e comunidades. Devido à complexidade destes atendimentos tem sido uma prática comum aos terapeutas trabalhar em equipe. Na Gestalt-Terapia apesar da co¬terapia ser muito praticada, não é muito comum estudos ou pesquisas onde ela esteja em foco.

Na nossa prática clínica há alguns anos temos desenvolvido um modelo específico de co-terapia em Gestalt. A construção deste modelo tem inspiração em autores contemporâneos que partem da mesma perspectiva paradigmática da Gestalt-Terapia e contribuem, ampliam e enriquecem as reflexões da clínica.
Humberto Maturana, neurobiólogo chileno, fundamentando-se num enfoque biológico, apresenta muitos aspectos em sua teoria que estão em perfeita sintonia com a Gestalt-Terapia. Podemos citar contribuições de Maturana (1997) que ampliam e fundamentam algumas posições da Gestalt, tais como: distinção entre "objetividade sem parênteses" e "objetividade-entre-parênteses"; os seres vivos como "sistemas autopoiéticos" (sistemas que geram a si mesmos); "determinismo estrutural" (sistemas estruturalmente fechados, que não aceitam interações instrutivas), "acoplamento estrutural"; "o outro como legítimo outro na convivência" (Biologia do Amor). (MATURANA, 2002)

Outro autor que muito contribuiu para o nosso trabalho é Gregory Bateson (1973). Entre suas contribuições a que considera que "sempre existe mais a se ver numa dada situação do que aquilo que é visto por alguém", nos remete a importância do trabalho em equipe, pois fornece múltiplas perspectivas ao setting terapêutico, enriquecendo o trabalho com sistemas complexos.
Bateson acrescenta, ainda, que para promover mudanças precisamos buscar em nossas intervenções "a diferença que faz diferença", ou seja, uma diferença significativa, nem grande demais, que poderia desorganizar o sistema, nem muito pequena, que poderia não ser notada. (SCHNITMAN,1996)

O Psiquiatra norueguês, Tom Andersen (2002), desenvolveu um trabalho de co-terapia que denominou de "equipe reflexiva". Neste formato de atendimento observamos dois sistemas inter-atuantes: o sistema entrevistador, composto pelo terapeuta de campo e os clientes que estão presentes a consulta (que pode ser uma família, um grupo, etc.); e o sistema equipe reflexiva, que pode ou não ficar atrás de um espelho unidirecional e ser composta por um número variável de terapeutas.

Neste modelo de co-terapia, cada membro da equipe reflexiva escuta silenciosamente a conversa e busca alternativas para a questão. Em um determinado momento da consulta, falam entre si apresentando uma ecologia de idéias. Esse procedimento dá ao sistema entrevistador uma possibilidade de ter um diálogo interno enquanto escutam as versões que a equipe apresenta. (ANDERSEN, 2002).

Do modelo da Terapia Narrativa de Michael White aproveitamos conceitos como, "externalização do problema", "reconstrução de narrativas", "conversa de re-autoria", e principalmente o conceito de "Testemunha Externa". Neste recurso, White utiliza uma ou mais pessoas e faz uma entrevista estruturada (MORGAN, 2007). Com esses recursos busca abrir possibilidades de construção de histórias alternativas mais auto-apoiadoras da identidade das pessoas. (PALMA, 2008)

Todos estes autores colaboram na construção dos recursos que utilizamos para estruturar a co-terapia que desenvolvemos no nosso instituto.


PROCEDIMENTOS

Este workshop apresenta o formato de uma experiência vivencial, portanto, serão intercaladas pequenas explanações teóricas com práticas vivenciais.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSEN, T. Processos Reflexivos. Rio de Janeiro: Instituto Noos: ITF, 2002.

BATESON, G. Steps to an ecology of mind. Nova Iorque: Ballantine Books, Inc. 1973.

GRANDESSO, M. Sobre a reconstrução do significado: uma análise epistemológica da prática clínica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.

MATURANA, H. R. A Ontologia da Realidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1997.

_____________. Transformación en la convivencia. Santiago do Chile: Dólmen Ediciones, 2002.
MORGAN, A. O que é terapia narrativa? – uma introdução de fácil leitura. Porto Alegre: Centro de Estudos e Práticas Narrativas, 2007.

PALMA, F. G. Terapia Narrativa. Idéias Sistêmicas – Caderno CEFAI, volume V, número 5, outubro 2008 p.07 -20.

SCHNITMAN, D. F. (org) Novos Paradigmas, Cultura e Subjetividade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

VASCONCELOS, Maria José Esteves de. Pensamento Sistêmico: o novo paradigma da ciência. Campinas, SP: Papirus, 2002.