WORKSHOP
09: RECONSTRUINDO RELAÇÕES: O BRINCAR
COMO MEDIADOR DO
ENCONTRO
Autora: Bianca Lopes de Souza
OBJETIVOS
Nosso objetivo geral é criar um espaço vivencial para a facilitação do resgate do brincar no adulto. Entendendo a atividade lúdica como um meio potencializador do contato, do encontro autentico, espontâneo e criativo entre as pessoas. Nesse sentido nossos objetivos específicos são: Criar espaço de encorajamento para o auto-conhecimento; Favorecer e pontencializar o contato; Favorecer a expressão de temores, preferências, afetos, hábitos, desejos e necessidades; Mediar o processo de exploração e descobrimento de novas possibilidades; Favorecer a ampliação da awareness e o fortalecimento do self; Mediar o processo de criação livre; Facilitar a expressão da espontaneidade e liberdade de ser e agir da pessoa.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O homem
moderno ocidental vive numa cultura patriarcal que desvaloriza as emoções
em favor da razão e da racionalidade, e o convida a todo momento a se
focar no futuro. Neste contexto, as emoções são entendidas
como obstáculos para tomada de decisões racionais e objetivas,
dificultando a capacidade intelectual e produtiva dos sujeitos.
Educado para ser o mais racional que puder e controlar ou negar seus afetos,
este homem acredita que para um futuro de sucesso, precisa abdicar de suas necessidades
atuais e negar seus desejos imediatos. Segundo Cardella (1994), as conseqüências
dessa polarização de valores e atitudes, fazem com que o homem
ocidental experimente uma existência solitária, vazia e desesperançada
com a própria humanidade.
Para Maturana e Verden-Zoller (2004), essa limitação cultural tem nos incapacitado particularmente de perceber o amor – emoção que especifica o domínio dos comportamentos que constitui o outro como um legítimo outro em coexistência conosco. Para estes autores é a vivência no amor que nos torna humanos. Defendem que toda relação interpessoal que ocorre no amor é necessariamente vivida como brincadeira. E que o brincar, como relação interpessoal, só pode acontecer no amor. Para eles,
“O
brincar é uma relação de total aceitação
e confiança no encontro corporal de uma
pessoa com outra; com a atenção posta no encontro e não
no futuro; não no que virá, mas sim no simples fluxo da relação
-é fundamental para o desenvolvimento da consciência corporal e
o lidar com o espaço. Essa relação é essencial para
o crescimento do sujeito como um ser que pode viver em dignidade e respeito
por si mesmo, em consciência individual e social. Toda atividade realizada
com a atenção dirigida para ela própria se dá no
brincar, num presente que não confunde processo com resultado. É,
portanto inocente e transcorre sem tensão e angustia, como um ato que
se vive no prazer e é o fundamento da saúde psíquica, porque
se vive sem esforço mesmo quando no fim há cansaço corporal.”
(Maturana e Verden-Zoller, 2004, pag. 230)
Nós, adultos, em geral não brincamos. Vivemos numa cultura que
acredita que o brincar é privilégio das crianças. No mundo
“sério” do adulto, a espontaneidade do brincar não
cabe. Muito menos a entrega afetiva e a liberdade de ser o que se é no
momento em que se é. Talvez por isso os consultórios e grupos
terapêuticos estejam abarrotados de pessoas angustiadas e aflitas. Como
propõe Ciornai (2004), o que cada vez mais encontramos na clínica
são pessoas com a síndrome da incerteza, a síndrome da
solidão, a síndrome da dessensibilização e a síndrome
da indiferença e do desencantamento em relação ao mundo.
Falta brincar na vida do adulto. Falta a possibilidade de fazer contato conosco
e com o mundo de forma ingênua, criativa, despretensiosa. Falta contato,
isto é, “a consciência “de” e o comportamento
“para” com as novidades assimiláveis, e a rejeição
das novidades não assimiláveis” como definem Perls, Hefferline
e Goodman (1997). Nesta falta de contato o processo de mudança também
é atingido negativamente, uma vez que o “contato é o sangue
vital do crescimento, o meio para mudar a si mesmo e a experiência que
se tem do mundo” (Polster e Polster,2001).
O que o adulto talvez desconheça é a capacidade do brincar de
nos colocar em contato, de nos fazermos presentes, de nos possibilitar sermos
o que somos quando somos em total aceitação. Com isto, talvez
desconheça também a potencialidade do brincar no processo de autoconhecimento
e conhecimento do outro. Muito embora Platão já tenha afirmado
que “Você pode aprender mais sobre uma pessoa em hora de brincadeira
do que numa vida inteira de conversação” (Platão
428/27 a.C.– 347 a.C. apud Abbonati e Abbonati, 2007). Negamos o brincar
como atividade fim, importante por ela mesma. Fazemos isso de forma tão
rigorosa, que esquecemos o papel central do brincar na humanidade. Maturana
e Verden-Zoller (2004, pag.245) escrevem:
“Nossa
cultura ocidental moderna desdenhou o brincar como uma característica
fundamental generativa na vida humana integral. Talvez ela faça ainda
mais: talvez negue o brincar como aspecto central da vida humana, mediante sua
ênfase na competição, no sucesso e na instrumentalização
de todos os atos e relações. Acreditamos que para recuperar um
mundo de bem-estar social e individual – no qual o crime, o abuso, o fanatismo
e a opressão mútua não sejam modos institucionalizados
de viver, e sim erros ocasionais de coexistência -devemos devolver ao
brincar o seu papel central na vida humana. Também cremos que para que
isso aconteça devemos de novo aprender a viver nessa atmosfera”.
Nesse sentido, o presente trabalho objetiva resgatar a possibilidade de viver
no brincar. Acreditamos na capacidade de transformação social
do brincar, entendendo-o como linguagem de possibilidades e encontro. Como uma
experiência no compartilhar, no co-existir em segurança, em aceitação.
Como um agir espontâneo e autêntico. Como uma forma de relação
coerente com o que defende a Gestalt-terapia. Concordamos com Zinker (2007,
pag. 31) quando este afirma que a Gestalt-terapia representa “tudo que
promete a totalidade das experiências; representa aquilo que vem, seja
assombroso, atemorizante, lamentável, comovedor, estranho, arquetípico,
desafiador”. Assim como ele, defendemos o experimento como a ferramenta
metodológica básica do gestalt-terapeuta, pela capacidade de colocar
a pessoa agindo no aqui-e-agora a partir dos seus conteúdos existenciais
de forma livre, espontânea, criativa e autêntica. E para isso o
brincar seja como experimento, seja como relação amorosa que ele
sempre é, aparece como um instrumento importante no fazer terapêutico.
Mas ainda, o viver no brincar revela-se um caminho promissor para uma existência
mais digna e amorosa. Um mediador fundamental no processo de reconstrução
das relações sociais.
DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DA CONDUÇÃO
1) Apresentação: duração de aproximadamente 40 minutos. Cada pessoa se apresentará, falando seu nome, o que faz e como é a sua experiência com o brincar, inclusive as coordenadoras do trabalho.
2) Aquecimento: duração de aproximadamente 10 minutos. Encerrada a apresentação, as pessoas serão orientadas a andar pela sala se olhando, para que possam escolher os seus companheiros de brincadeira. Serão orientadas a formar grupos de 5 pessoas. Cada grupo deverá se posicionar diante de uma das 9 pilhas de jornais que já estarão distribuídas pela sala.
3) Atividade Principal: duração de aproximadamente 1 hora e 15 minutos As pessoas serão orientadas a desmontar, separar, rasgar, amassar e amontoar os jornais formando uma piscina. A proposta é que brinquem livremente neste espaço por um tempo: se joguem, mergulhem, chutem, etc. Isso se dará em aproximadamente 15 minutos. Num segundo momento, cada grupo será orientado a se movimentar para reunir a maior quantidade possível de jornais e levar para o seu lugar (onde anteriormente estavam as pilhas de jornais), podendo “roubar” dos outros grupos. Para isto, as coordenadoras sugerirão que 2 pessoas fiquem protegendo o material enquanto os outros três tentem fazer a busca. Isso se dará em aproximadamente 15 minutos. A seguir, cada grupo fará uma construção livre com o jornal armazenado, sendo que todo o material conseguido deverá ser utilizado. Caso deseje, os participantes poderão utilizar material complementar tais como tesouras, fita crepe e cola na elaboração da construção. Isso se dará em aproximadamente 45 minutos.
4) Relaxação: duração de aproximadamente 15 minutos. Após o término da construção coletiva, os participantes serão convidados a deitar junto da sua construção, onde farão um relaxamento com música, guiado pelas coordenadoras.
5) Verbalização: duração de aproximadamente 1 hora e 30 minutos. Após a relaxação, os participantes serão orientados a voltarem a se reunir no grupo de 5 pessoas anterior para compartilharem suas experiências nesta vivência. As coordenadoras pedirão que cada grupo eleja um representante para a verbalização no grupo maior. Caso haja tempo, outras pessoas poderão falar.
6)Fechamento: duração de aproximadamente 10 minutos. As coordenadoras darão o feedback ao grupo.
MATERIAL A SER UTILIZADO
• Serão utilizados aparelho de som, jornais antigos, tesouras, tubos de cola, rolos de fita crepe e sacos de lixo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBONATI, L. e ABBONATI, L.V. (2007) Jogos e Soluções Interativas. Rio de Janeiro: Qualymark.
CARDELLA, B.H.P. (1994) O amor na relação terapêutica: uma visão gestáltica. São Paulo: Summus editorial.
CIORNAI, S. (2004) Percursos em Arteterapia: arteterapia gestáltica, arte em psicoterapia, supervisão em arteterapia. São Paulo: Summus editorial.
MATURANA, H. e VERDEN-ZOLLER, G. (2004) Amar e Brincar: fundamentos esquecidos do humano. São Paulo: Pallas Athena.
PERLS, F., HEFFERLINE, R., GOODMAN, P. (1997) Gestalt-terapia. São Paulo: Summus editorial.
POLSTER, E., POLSTER, M. (2001) Gestalt-terapia integrada. São Paulo: Summus editorial.
ZINKER,
J. (2007) Processo Criativo em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus editorial.