MESA REDONDA 09 – PARTE I: GESTAÇÃO DE RISCO E GESTALT-TERAPIA: UMA APROXIMAÇÃO POSSÍVEL?

Autor: Guilherme de Carvalho

 

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo propor uma aproximação entre o atendimento clínico em gestalt-terapia e o cenário de pré-natal a gestantes de alto-risco. A partir da observação da pouca produção na área, objetiva-se criar um espaço de discussão onde são tratados alguns elementos específicos do atendimento em gestalt-terapia, associados a uma proposta de acolhimento de um novo paradigma denominado de Psicologia da Saúde, trazendo destaque ainda para o papel do psicólogo em unidades hospitalares, com contribuições significativas para o setor da atenção materno-infantil. O papel do psicólogo hospitalar é discutido em termos da importância, e eficácia, de seu atendimento em um pré-natal de alto-risco e articulado à prática clínica da gestalt-terapia como suporte teórico e prático. Como resultado, observa-se traçar uma articulação entre os temas em uma prática consciente e ética, visando a promoção da saúde das usuárias do pré-natal e destaca-se a importância da formação do profissional de psicologia na abordagem gestáltica, no intuito de ampliarmos a área de influência da Gestalt-Terapia para diferentes ambientes, inclusive o hospitalar.


Palavras-chave: gestalt-terapia; gestante; pré-natal



INTRODUÇÃO

A atuação do psicólogo hospitalar, com ênfase na atenção materno-infantil, observou a necessidade de uma reflexão mais cuidadosa acerca da prática do profissional de psicologia em uma unidade de saúde pública – hospital geral – e, especificamente, a operacionalização e articulação da prática clínica, a partir do referencial teórico da Gestalt-terapia, e o atendimento a gestantes.

Nota-se, na literatura da área, inúmeros trabalhos sobre a atuação do psicólogo no hospital e o trabalho do mesmo em relação às idiossincrasias de cada ambiente ou setor da unidade (Campos, 1995; Trucharte, 2003), a inserção do profissional na equipe, sobre a psicologia da saúde (Sebastiani, 2000; Sebastiani & Maia, 2005), visão acerca da temática da promoção da saúde (Barbosa & Mendes, 2005; Buss, 2003; Campos, 1992) e sobre a legislação (Ministério da Saúde, 2000; 1996; Silva, 1992) etc. Contudo, existe um fraco interesse sobre a produção científica de um saber legitimado a respeito da eficácia terapêutica da abordagem gestáltica no trabalho do psicólogo em unidades de saúde. Nota-se a ausência de trabalhos na área que proponham interfaces entre Gestalt-Terapia e o atendimento de pré-natal. Em trabalho recente, foram traçadas algumas aproximações entre o serviço de pré-natal de risco e a atuação/inserção do profissional de psicologia na equipe clínica de suporte à gestante (Carvalho, 2008), o que pode significar a abertura para um caminho frutífero de investigações sobre o tema.

Neste sentido, torna-se necessário um aprofundamento natural em relação ao como o processo de intervenção profissional pode ser realizado na área de pré-natal e atenção materno-infantil.
A área da atenção materno-infantil tem progredido enquanto área de destaque e interesse científicos. Abarcando um leque enorme de possibilidades de atuação, englobam ações direcionadas ao cuidado com crianças, recém-nascidos, díade mãe-bebê e avaliação gestacional. Ações de promoção da saúde, prevenção e manutenção têm obtido máxima preocupação por parte de equipes de saúde e de setores específicos do poder público envolvidos com a legislação e atenção à saúde da mulher e da criança (Ministério da Saúde, 2000a, 2000b, 2002). A questão da maternidade, do cuidado com os filhos, enfim, a parentalidade, assume hoje lugar central no debate entre profissionais “psi” no cenário acadêmico, por um lado, e de outro, na vida cotidiana das pessoas, em suas rotinas, e já demonstra impactos no que concerne à relação terapêutica nos consultórios particulares de profissionais de psicologia em diferentes correntes clínicas.

Observando as três grandes abordagens no interior da ciência psicológica – Psicanálise, Behaviorismo e Humanismo -, localizamos diferenças significativas em relação ao setting terapêutico, paradigmas e metodologias de trabalho. Como afirma Spangenberg (2007), todo modelo teórico possui uma metodologia de trabalho e se converte em um enquadre específico, que se traduz em um formato de relação terapeuta-paciente. A proposta deste trabalho se configura como uma tentativa de discussão acerca da especificidade da Gestalt-Terapia, enquanto referência clínica e teórica, para o atendimento a gestantes, de forma a discutir seus alcances e limites.

 

A GESTALT-TERAPIA COMO CENÁRIO

Inúmeras obras publicadas na abordagem gestáltica dedicaram-se com brilhantismo ao esquadrinhamento teórico e filosófico deste movimento que, desde 1951, com a publicação da obra de Perls, Hefferline e Goodman, vem oferecendo uma nova visão para a ciência psicológica (Rodrigues, 2000; Ribeiro, 1985, 2007; Spangenberg, 2007). Este estudo não tem intenção de superar os trabalhos já realizados a respeito do histórico da abordagem, mas sim chamar a atenção para alguns elementos da prática clínica da abordagem gestáltica.

Enquanto uma abordagem fenomenológica, sua atuação pressupõe o entendimento de alguns elementos como a noção de contato, de fenômeno e de conscientização. Diante do fenômeno, a atitude do gestalt-terapeuta é, acima de tudo, de respeito à sua manifestação no momento presente, em sua extraordinária singularidade. A partir da promoção de um ambiente facilitador, empático, de entrega e disponibilidade ao encontro, tem-se a plena manifestação do contato. E, finalmente, a partir de um trabalho contínuo de promoção da conscientização dos elementos alienados da personalidade do cliente, o gestalt-terapeuta, através de uma atitude de potência e controle (Fagan & Shepherd, 1973), promove ajustamentos criativos, frutos do que se convencionar como awareness. Segundo Yontev (1998), “awareness é uma forma de experiência que pode ser definida aproximadamente como estar em contato com a própria existência, com aquilo que é” (p. 30)

Com o intuito de organização e fechamento de gestalts inacabadas, a tarefa do gestalt-terapeuta, junto a seu cliente, é a de identificação e auxílio ao trabalho de conscientização da necessidade mais urgente, que movimenta o organismo, rumo à sua concretização. De outra forma, a satisfação de uma necessidade vital, a partir de trocas otimizadas com o “outro”, através de fronteiras de contato, promove um espaço de autonomia e de nutrição psicológica. Enfim...awareness.

Entende-se, neste estudo, a awareness, uma atitude dialógica e a empatia como três instrumentos terapêuticos fundamentais para a Gestalt-Terapia. Assim, a awareness, energizada pela necessidade dominante atual do organismo requer auto-conhecimento, conhecimento direto da situação atual e como o self está nesta situação (op. cit). A tarefa terapêutica, assim, configura-se em um projeto organizado e claro de auxílio clínico ao cliente, no sentido de “estar com”, para que o mesmo consiga, ao longo do processo terapêutico, dialogicamente, alcançar novos patamares, significações e vivências mais emocionadas. Alguns temas são, de forma associada, relacionados ao espaço clínico, como família, saúde, cuidado com os filhos, maternidade, etc., e requerem, sem dúvida, discussão e aprimoramento por parte do gestalt-terapia.

 

NOVOS MODELOS DE FAMÍLIA E DE PARENTALIDADE

A proposta de entendimento da noção de família hoje possui uma diversidade grande de sentidos, tanto para o sento comum quanto para o discurso acadêmico. Sua diversidade pode ser discutida em termos de modificações ao longo do tempo (em sociedades distintas) e em uma mesma sociedade, assumindo diferentes modelos de organização familiar. A possibilidade de coexistência de modelos em determinados contextos históricos é uma realidade (Rocha-Coutinho, 2006).

Em termos históricos, a noção de família é geralmente articulada com casamento. Gough (1971) aponta para a delimitação da família a partir do momento em que um par casado ou grupo de parentes cooperam em termos de vida econômica e criação de filhos/crianças. Existe uma intima articulação entre os interesses econômicos e os tipos de relação na família patriarcal, especialmente durante o período colonial, quando a influência da figura central do pater famílias em relação às demais figuras do conjunto familiar (filhos, esposa, escravos, agregados) era determinante. De acordo com Costa (1989), esta relação oscilava da mais simples determinação da profissão de um filho até alianças matrimoniais.

“O pai representava o princípio da unidade de propriedade, da moral, da autoridade, da hierarquia, enfim, de todos os valores que mantinham a tradição e o status da família. (...) O convívio familiar não devia nem podia ordenar-se de forma a privilegiar a escuta, atenção e realização de desejos e aspirações particulares. A estabilidade da família antiga dependia dessa indiferenciação de interesses individuais.” (Costa, 1989, p. 95).

Em conjunto com transformações na organização social brasileira, a noção de família também demonstrou mudanças internas significativas. Como aponta Samara (2004), o chamado modelo de família extensa do tipo patriarcal, embora tenha sido adotado pela historiografia tradicional com único representante de toda a sociedade brasileira, deve ser relativizado e compreendido enquanto um sistema de relações que assumiu diferentes configurações regionais (urbanas e rurais) e transformou-se com o tempo.

Com o declínio da antiga família patriarcal (hegemônica, mas não única), desenvolve-se com maior destaque no Brasil a família conjugal moderna, fundada no casamento por amor e na reformulação dos papéis de homens e mulheres. O discurso médico-higienista reforçou estas transformações, atribuindo diferentes papéis na dinâmica familiar (Costa, 1989). Surge a família burguesa, estável e legalizada, com a mulher como responsável pelo cuidado com os filhos, educação e o lar. De acordo com Wagner (2002), esta estrutura é garantida legalmente e dispõe de determinadas dimensões como a econômica, política e moral.

Neste cenário, a concepção de mulher como voltada para a família e para o sacrifício como “dona do lar” (Mizhari, 2004; Demos, 1978) trouxe um modelo romântico de mulher, portadora de virtudes e defensora do lar, lugar de abrigo. Este fato já traduz certa diferenciação em relação a períodos históricos anteriores, quando a glorificação da maternidade e suas responsabilidades não eram temais centrais. Como aponta Rocha-Coutinho (2007), “(...) a criação dos filhos estava integrada a outros afazeres das mulheres e não era nem mesmo considerada uma de suas principais tarefas” (p. 178).

A partir deste binômio mulher/mãe, este eixo atribui um novo significado à família, desligando a mulher do trabalho dito “produtivo”, de fora de casa e confere ao homem a possibilidade de realização de um trabalho rentável, produtivo.

“Assim, em contraste com o valor atribuído ao trabalho exercido pela mulher no passado, a devoção da mulher ao ‘trabalho de casa’ a tornou dependente das pessoas de quem ela cuida, isto é, ela se tornou emocionalmente dependente do marido — um homem escolhido por amor — e psicologicamente dependente de seus filhos, produtos de sua maternagem.” (Rocha-Coutinho, 2007, p. 159).

O processo de modernização pelo qual vem passando a família brasileira traz novos elementos a este cenário, redistribuindo papéis e reestruturando crenças e expectativas em relação aos membros da família. De maneira geral, famílias de classes médias brasileiras apresentam hoje uma série de mudanças na sua estruturação, ofertando aos indivíduos (seus membros) uma variedade de escolhas e/ou pluralidade de estilos de vida. Apontam para um direcionamento rumo à igualdade das relações, baseadas no diálogo e não em relações igualitárias (Rocha-Coutinho, 2006, 2007). Tem-se, assim, uma clara distinção entre um modelo de família igualitária, com papéis baseados em valores individualistas, anti-autoritários, em contraposição à família hierárquica, baseada em papéis bem definidos quanto ao gênero e à geração.

Partindo de uma compreensão mais ampla das possibilidades de definição de família, podemos compreendê-la como uma instância que envolve tanto relações sociais, econômicas, ideológicas, afetivas e, como tal, devemos considerá-la como marcada por descontinuidades e contradições. De acordo com Figueira (1987) e Almeida (1987), o conceito de desmapeamento sugere uma metáfora útil para o entendimento das descontinuidades inerentes à família. No interior da organização da vida familiar, temos a presença de ordens, mapas e formas contraditórios. As mudanças da vida, ou organização, familiar são, desta forma, associadas à presença de diferentes mapas, por vezes contraditórios, que geram descontinuidades, tensão e conflito.

Mudanças internas no modelo familiar brasileiro talvez estejam relacionadas a esse movimento de mapeamento-descontinuidade-re-mapeamento. O surgimento de novas configurações (ou arranjos) familiares notifica mudanças qualitativas na organização familiar contemporânea. Tais mudanças são associadas a transformações no mundo do trabalho e da parentalidade. De acordo com Henriques, Féres-Carneiro & Magalhães (2006), no âmbito da família, a instabilidade, a incerteza e a insegurança são sentimentos que permeiam as relações e são efeitos de perdas de referências trazidas pelas condições de vida dos centros urbanos, a partir de mudanças e avanços tecnológicos, de novas relações de trabalho, etc.

Tais elementos trazem certa instabilidade ou menos certezas para a construção natural de um modelo seguro de família, envolvendo papéis de pais, filhos, avós, etc. Parece que existem modelos co-existentes de família, de parentalidade e conjugalidade na atualidade e justamente a existência de diferentes mapas sobrecarrega o exercício das funções paterna e materna e afeta, mais cedo ou mais tarde, a atuação do psicólogo clínico, e no caso, do gestalt-terapia.

Especificamente no que tange à atenção à gestante, em um trabalho multiprofissional em uma equipe de pré-natal, tais considerações ganham destaque e devem ser analisadas com cuidado e atenção. Novos avanços da ciência obstétrica e da ginecologia em articulação com o crescimento exponencial da presença do profissional de psicologia em unidades de saúde, públicas e particulares, solicitam um re-dimensionamento paradigmático, em termos de projeto de saúde, caracterização da clientela, avaliação dos agravos e balanceamento do binômio oferta-demanda.

UM NOVO PARADIGMA EM SAÚDE

Historicamente a ciência psicológica foi marcada pelo paradigma cartesiano¬positivista à medida que se estruturava enquanto disciplina formal. Certamente, na qualidade de ciência da saúde, a Psicologia durante a construção de um modelo clínico precisava estar atenta aos reflexos naturais deste histórico mecanicista, herança do modelo biomédico. Torna-se importante atentar para uma prática clínica e concepção teórica que relativizem esta questão e que proponham uma visão mais global do binômio saúde-doença, não como instâncias estanques, mas sim como pólos de um processo mais ou menos funcional (criativo e auto-regulado) da existência de uma pessoa – hoje doente.

De acordo com Sebastiani (2007), infelizmente os modelos de estudo do fenômeno humano ainda valorizam uma visão atomista-reducionista, o que dificulta a compreensão multifatorial, na sua relação com os processos naturais da existência, isto é, a compreensão global do paciente.
Na área da saúde pública, a preocupação com uma visão global do indivíduo associada com a necessidade de mudança da relação da equipe de saúde com o doente lança luz ao tema da humanização, preconizado pelo Comitê Técnico do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (Ministério da Saúde, 2000).

A transposição de um modelo biomédico (causal) de influência para um modelo biopsicossocial tem como resultado maior a intenção de avaliar o indivíduo de acordo com uma visão integral do binômio saúde-doença, balizada pelo entendimento e valorização de sua forma específica de ser-no-mundo e ela necessária contextualização de seu adoecimento.

Neste sentido, surge uma nova proposta denominada Psicologia da Saúde, que abarca todos estes questionamentos e os articula de forma a considerar também aspectos sociais, e não somente individuais, influentes rumo ao processo de adoecimento. Aspectos como características biofísicas da pessoa, poluição e agravos ambientais, estilo de vida e inadequação dos serviços de saúde refletem esta posição multicausal (Lalonde, 1996).

A Psicologia da Saúde, organizada enquanto campo de saber tem como principal função a promoção da saúde através do estímulo ao diálogo entre saberes, isto é, instrumentalizar a busca de alternativas para a transformação da vida cotidiana, incentiva a autonomia das pessoas na tomada de decisões para suas vidas e cria conscientização acerca das condições e determinantes de saúde, responsabilizando população e gestores de saúde neste processo (Barros & Ferreira, 1999). Trata-se de uma mudança significativa de paradigma nos níveis de atenção, promoção e manutenção da saúde, na direção do redimensionamento do entendimento sobre o binômio saúde-doença.

A MATERNIDADE E A ABORDAGEM GESTÁLTICA: MITO OU REALIDADE?

A partir da experiência pessoal do autor em uma unidade de saúde do Estado do Rio de Janeiro como componente de uma equipe multidisciplinar de pré-natal, surgiu uma série de inquietações quanto ao formato da entrevista clínica oferecida às gestantes matriculadas regularmente no Programa de Pré-natal de Alto da Unidade.

Enquanto gestalt-terapeuta, a avaliação desta situação clínica em específico é marcada por um entendimento próprio do que se convém chamar de crise. A gravidez configura-se enquanto um momento de inquietações e ansiedade, mas é tida aqui com uma oportunidade de atualização do self, vista enquanto potencial e não como conflito.

Considera-se o momento da gravidez como uma possibilidade de crescimento e mudança, além de uma etapa natural para o ciclo de vida da mulher (Maldonado, 2002) como uma possibilidade de crescimento e mudança, assim como o puerpério, a menstruação, o parto, o climatério, etc. O entendimento desta etapa como o resultado de um processo contínuo de ajustamento criativo (Ribeiro, 2006) parece aproximar a abordagem gestáltica do cenário hospitalar, no que envolve a paciente gestante de risco.

A definição de risco para uma gravidez pode ser entendida como toda situação que gere uma evolução desfavorável para o concepto, sua mãe, ou ambos (Rosenberg, 2007). Elementos físicos, alterações metabólicas e transformações clínicas são esperadas com maior destaque em gestações de risco, mas, de forma complementar, é preciso atentar para possíveis alterações psicológicas no interior do período gestacional, daí a importância de um profissional de psicologia no interior da equipe de saúde para a identificação precoce de sinais disfuncionais.

À luz do paradigma maior do Humanismo, da visão fenomenológica e de uma atitude empática, avalia-se positivamente a abordagem gestáltica como referencial clínico e teórico para o atendimento de pré-natal à gestante de risco.

De forma operacional, é possível identificar dois momentos passíveis de intervenção psicológica: a gestação propriamente dita (tendo como cenário o espaço do pré-natal) e o puerpério (tendo como focos a situação de amamentação e os primeiros cuidados com o bebê).
Considera-se neste estudo a viabilidade da atuação do gestalt-terapeuta como uma possibilidade privilegiada de observação deste momento tão rico e transformador como a gravidez. Em relação ao puerpério, se aposta em um trabalho de follow up, especialmente em parceria com a enfermagem obstétrica das instituições de saúde para a realização de um atendimento em regime de colaboração e de forma a legitimar este espaço de promoção de saúde.

A Gestalt-Terapia insere-se neste cenário de maneira bastante otimista e traz consigo um olhar específico sobre a experiência do humano e sobre seu potencial criativo, pautado pela noção de awareness (Yontef, 1998) e baseado em uma proposta de mudança.

Alguns elementos compõem a cena clínica em um atendimento de pré-natal. De acordo com Yamaguchi, Pita e Martins (2007), “A gravidez e o puerpério são situações do ciclo de vida das mulheres que demandam uma atenção especial, por serem estados em que freqüentemente encontramos importantes alterações psicofisiológicas e psicopatológicas” (p. 118)

Salienta-se que cabe ao psicólogo neste ambiente avaliar: (a) situações de risco psíquico; (b) a existência, ou não, e a qualidade, do vínculo gravídico-fetal e; (c) estados psicopatológicos de destaque, que possam eventualmente colocar em risco tanto a gestante quanto o concepto durante o período gestacional e em todas as situações peri-natais. A avaliação da existência ou não de rede de suporte social de forma a auxiliar a gestante no enfrentamento da situação de risco também se mostra útil (Carvalho, 2008).

De outro lado, a vantagem da Gestalt-Terapia em relação a outras abordagens clínicas advém de sua sensibilidade e abertura às transformações sociais, clínicas e teóricas da Ciência psicológica. Assim, é possível associar a avaliação psicológica do movimento da Gestalt-Terapia, em termos de bloqueios do ciclo do contato (Ribeiro, 2007) e uma avaliação psicopatológica mais ampla, com características consensuais em relação a outras disciplinas, como por exemplo, a Psiquiatria.

Tal abertura ao diálogo é extremamente bem vinda nestas avaliações, pois o período gestacional (além do aleitamento) -por envolver sistemas integrados entre o corpo da mãe, a placenta e a constituição do feto -é fisiologicamente sensível, e a administração de medicações psicotrópicas constitui um risco em potencial para o feto devido à alta permeabilidade placentária das medicações psicotrópicas por terem um peso molecular baixo ao cruzar a barreira placentária (Rosenberg, 2007).

Em suma, acredita-se no potencial da abordagem gestáltica aplicada a instituições hospitalares, especialmente em relação à atenção materno-infantil, e ressalta-se a necessidade da formação de novos gestalt-terapeutas conscientes a respeito deste setor tão rico de experimentações clínicas e aperfeiçoamento.

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