WORKSHOP 07: DRAMATIZANDO AS MULHERES DE CHICO BUARQUE: INTEGRANDO POLARIDADES
Autores: Erika Falcão Ramalho, Denise Souza Gomes e Renata Serrano
Categoria: Práticas da Gestalt-terapia na atualidade e os seus caminhos .
OBJETIVO GERAL
Esse workshop tem como proposta trabalhar a comunicação das diversas polaridades que habitam o universo feminino, trazidas à tona pelas canções de Chico Buarque. Possibilitaremos aos participantes o início de um processo de awareness e integração das suas características polares, usando como instrumento técnicas advindas do Teatro.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Segundo
Ramalho (2005), nas décadas de 60 e 70, assistimos a Revolução
Sexual, o surgimento da pílula anticoncepcional e a eclosão dos
movimentos feministas. Com essa configuração social em grandes
transformações, as mulheres tiveram suas vidas completamente modificadas.
O surgimento e disponibilidade da pílula anticoncepcional ocasionaram,
pela primeira vez na história da humanidade, uma dissociação
entre sexo e gravidez. Elas puderam separar sexualidade de procriação.
Passaram a questionar seus papéis e lugares na sociedade. As relações
sexuais passaram a ser vividas sem o temor da gravidez indesejada (Rocha-Coutinho,
1994).
Se antes seus principais papéis sociais eram de esposa, mãe e
dona de casa, ou seja, papéis femininos atrelados ao casamento, o casamento
era, assim, o trabalho possível para a mulher.
As raras mulheres que trabalhavam fora da esfera do lar normalmente faziam parte
de classes menos abastadas. Mesmo assim os empregos disponíveis a elas
eram normalmente os serviços domésticos, a enfermagem e a educação
de crianças.
Com a eclosão dos movimentos feministas, as mulheres passaram a lutar
por uma igualdade maior entre os sexos e a questionar a limitação
de seus papéis de esposa, dona de casa, educadora e mãe. Desejavam
exercer outras funções que não fossem as desenvolvidas
dentro da esfera privada, em suas casas, e se dirigiram para o mercado de trabalho.
Apesar das mulheres terem conseguido aos poucos ingressar no mercado de trabalho,
isso não garantiu o abandono de suas velhas responsabilidades domésticas.
Elas acabaram acumulando seus velhos e novos papéis, configurando o que
é conhecido como dupla jornada de trabalho feminina. Esta luta por seu
espaço também deflagrou medos, angústias, receios e ansiedades
diversas.
Passados
quase 40 anos, ainda presenciamos em nossos consultórios os conflitos
das mulheres que tentam integrar funções, papéis, valores
e sentimentos conflituosos. Como ser a mulher sensual, mãe, esposa, amante,
“do lar”, independente, tudo ao mesmo tempo? Cabe a nós gestalt-terapeutas
a seguinte pergunta: como podemos facilitar à mulher uma melhor comunicação
e integração dessas tantas diferentes mulheres que tem dentro
de si?
De acordo com Polster (1973), a necessidade básica quando se trabalha
com polaridades é recuperar o contato entre as partes opostas. Cada uma
se torna, então, um participante válido na vida do indivíduo.
Ambas podem juntas, tornarem-se aliadas em busca de uma vida mais saudável
e feliz, ao invés de oponentes numa luta que mantém a separação
e o conflito. O indivíduo deve funcionar de forma equilibrada em pólos
opostos nos planos emocionais, de percepção.
Zinker (1977, p.197), afirma que “a pessoa saudável constitui um círculo completo que contém muitas polaridades integradas e entrelaçadas, que se unem entre si. A pessoa saudável conhece a maioria das polaridades que tem”. Por isto o nosso objetivo, enquanto gestalt-terapeutas é integrar as polaridades, possibilitar que o indivíduo se aproprie dessas forças opostas, de forma criativa.
Estamos com Beisser quando ele afirma que quando encontramos eus alienados, fragmentários, num indivíduo assumindo papéis distintos, cabe a nós como gestalt¬terapeutas encorajarmos a comunicação entre esses papéis. É a partir dessa crença teórica, aliado a importância do experienciar para uma maior awareness de si mesmo, que propomos esse trabalho com o objetivo de criar possibilidades para que as participantes experimentem as diferentes mulheres que nelas habitam e possam começar a integrar suas características distintas e por vezes conflituosas com as quais ainda não fazem contato.
PROCEDIMENTOS
Para trabalhar essas questões escolhemos utilizar como instrumento terapêutico canções de Chico Buarque, notoriamente conhecido como o poeta brasileiro que melhor sabe falar sobre as mulheres, o universo feminino e suas peculiaridades.
ETAPAS DA CONDUÇÃO DO TRABALHO
(1) Apresentação
dos coordenadores e dos participantes e o contrato de sigilo;
(2) Aquecimento corporal para mobilização de energia;
(3) Viagem de fantasia com utilização das músicas selecionadas
de Chico Buarque;
(4) Escolha de músicas pelos participantes a partir da identificação
com as mesmas:
(5) Divisão de mini-grupos;
(6) Discussão e vivência/experimentação das diferentes
mulheres através de técnicas teatrais;
(7) Compartilhamento das experiências e encerramento do workshop.
MATERIAL A SER UTILIZADO
Aparelho de som portátil compatível com CD-R e/ou CD-MP3 e datashow
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEISSER, A. Teoria Paradoxal da Mudança, in Gestalt Terapia Teoria Técnicas e Aplicações. (Fagan, J. & Shepherd, I. orgs.) -Rio de Janeiro: Zahar, 1973
DUARTE, Constância Lima. Feminismo e literatura no Brasil. Estudos Avançados. Sept./Dec. 2003, vol.17, no.49, p.151-172. ISSN 0103-4014.
HOBSBAWN, E., Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
JABLONSKI, B. Até que a vida nos separe: A crise do casamento contemporâneo, Rio de Janeiro: Agir, 1998.
ROCHA-COUTINHO, M.L. Tecendo por trás dos panos: A mulher brasileira nas relações familiares, Rio de Janeiro: Rocco, 1994
POLSTER, E. e M. Gestalt-terapia Integrada. São Paulo: Summus, 2001
RAMALHO, E. F. Par Perfeito: um novo espaço virtual para a procura de parceiros amorosos. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) – Departamento de Psicologia, PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2005
ZINKER,
J. Creative Process in Gestalt Therapy. First vintage books, 1977.