Mesa 10 – "Novos saberes e a Gestalt-terapia: as contribuições das neurociências, o uso do biofeedback da psicossomática."


PSICOSSOMÁTICA, INFÂNCIA E O PROCESSO TERAPÊUTICO (TL)
Luise de Souza Cozzolino Soares


A clínica de crianças com doenças psicossomáticas vem tomando uma dimensão significativa na contemporaneidade.Ao refletirmos sobre a possibilidade de intervenção precoce nesta faixa da população, pensamos em intervir no relacionamento pais-criança.
Presentemente, as crianças são muito exigidas. Atividades físicas, falar vários idiomas, além de outros comportamentos mais sutis como serem agradáveis e competentes naquilo que faz. Estas são atividades comuns na classe média brasileira que busca nossos atendimentos. As mesmas encontram-se continuamente ocupadas com as tarefas que necessitam desempenhar, não conseguindo ser o que são, isto é, crianças. Sobrecarregam-se na tentativa de serem aceitas pelos outros e o excesso de obrigações dificulta ou pode até impedir o seu desenvolvimento saudável. De tal modo, ela se confunde com tantas informações e exigências, resultando comportamentos desajustados, tais como, medo exacerbado, agressividade, contratempos escolares e diversas formas de dificuldades no relacionamento crianças quando se percebem em meio a conflitos, acabam "adoecendo" na tentativa de comunicar que algo não vai muito bem.
O adoecer pode ocasionar um comprometimento na capacidade de escolher. Além do mais, em vez da criança fluir na busca da satisfação de suas reais necessidades, ela utiliza um repertório de respostas estereotipadas, repetitiva,s fruto de padrões cristalizados (defesas patológicas) que já são obsoletos e precisariam ser atualizados.
Cada indivíduo constrói sua vida com uma história própria e adequada a cada situação e essa história vem sempre expressa no seu corpo. Assim sendo, nossos corpos são manifestações diretas de quem somos. Tratando-se de uma doença psicossomática, o ajustamento criativo possível, pode ocorrer através do sintoma, se evidenciado em um ou vários órgãos do corpo.
O(s) sintomas(s) podem ser entendidos como uma forma criativa de ajustamento ao meio e não como uma patologia a ser resolvida.O que ocorre é que nestas circunstâncias, a gestalt fica incompleta trazendo sofrimento e angústia. E é nesse sofrimento, que as crianças mostram formas disfuncionais de contato e cristalizações, que de certa forma parecem contribuir para o surgimento e a manutenção da doença.
Na psicoterapia com crianças, a abordagem gestáltica oferece a possibilidade, por meio de seus recursos ludoterápicos, como, por exemplo, uso da fantasia de uma forma focalizada no presente, ou de identificação com objetos ou animais, ou usando a imaginação da criança para perceber entre outras coisas o que ela imagina ou o que dizem sobre ela.
Na condição de terapeutas, criamos condições para ela se apropriar conscientemente de aspectos do seu self ou optar por novas condutas, atualizando-se em relação às suas próprias necessidades.
O ambiente terapêutico oferece as condições indispensáveis para se repensar relacionamentos, escolhas, dificuldades, possibilidades, em um espaço protegido onde o indivíduo pode se escutar, sentir, fantasiar. A criança amplia a conscientização e faz contato direto consigo e com o mundo, de tal modo que se torna mais fácil o seu crescimento emocional e social.
Evidentemente sabemos que a criança não se desenvolve sozinha e, assim é relevante a participação da família, pais ou os cuidadores principais na terapêutica, já que, essa noção de transformação e de desenvolvimento implica evidentemente na ampliação de possibilidades relacionais no âmbito do contexto do qual a criança compartilha.
Compreendemos que a Gestalt-terapia apresenta procedimentos particulares e a relação estabelecida amplia e aguça a percepção da criança e do seu sistema familiar, facilitando o processo de crescimento. Sendo assim, a criança se experimenta e a partir do relacionamento construído em terapia, fica mais aware de aspectos antes alienados, integrando de forma saudável seus afetos e emoções. Desta maneira, constatamos um funcionamento organísmico norteado pela hierarquia das necessidades presentes.
Objetivo
Com base no que foi exposto acima, o presente trabalho tem como objetivo facilitar a vivência da criança adoecida existente em cada participante e liberar o potencial criativo retido nas situações inacabadas relativas ao sintoma.
Metodologia:
Através de uma viagem de fantasia levar os participantes a experenciarem a sua criança acamada, na tentativa de re-significar aspectos da sua história que estavam atuantes como situações inacabadas e que são possíveis de serem resolvidas no aqui-agora.