PSICOSSOMÁTICA, INFÂNCIA
E O PROCESSO TERAPÊUTICO (TL)
Luise de Souza Cozzolino Soares
A clínica de crianças com doenças psicossomáticas
vem tomando uma dimensão significativa na contemporaneidade.Ao refletirmos
sobre a possibilidade de intervenção precoce nesta faixa da população,
pensamos em intervir no relacionamento pais-criança.
Presentemente, as crianças são muito exigidas. Atividades físicas,
falar vários idiomas, além de outros comportamentos mais sutis
como serem agradáveis e competentes naquilo que faz. Estas são
atividades comuns na classe média brasileira que busca nossos atendimentos.
As mesmas encontram-se continuamente ocupadas com as tarefas que necessitam
desempenhar, não conseguindo ser o que são, isto é, crianças.
Sobrecarregam-se na tentativa de serem aceitas pelos outros e o excesso de obrigações
dificulta ou pode até impedir o seu desenvolvimento saudável.
De tal modo, ela se confunde com tantas informações e exigências,
resultando comportamentos desajustados, tais como, medo exacerbado, agressividade,
contratempos escolares e diversas formas de dificuldades no relacionamento crianças
quando se percebem em meio a conflitos, acabam "adoecendo" na tentativa
de comunicar que algo não vai muito bem.
O adoecer pode ocasionar um comprometimento na capacidade de escolher. Além
do mais, em vez da criança fluir na busca da satisfação
de suas reais necessidades, ela utiliza um repertório de respostas estereotipadas,
repetitiva,s fruto de padrões cristalizados (defesas patológicas)
que já são obsoletos e precisariam ser atualizados.
Cada indivíduo constrói sua vida com uma história própria
e adequada a cada situação e essa história vem sempre expressa
no seu corpo. Assim sendo, nossos corpos são manifestações
diretas de quem somos. Tratando-se de uma doença psicossomática,
o ajustamento criativo possível, pode ocorrer através do sintoma,
se evidenciado em um ou vários órgãos do corpo.
O(s) sintomas(s) podem ser entendidos como uma forma criativa de ajustamento
ao meio e não como uma patologia a ser resolvida.O que ocorre é
que nestas circunstâncias, a gestalt fica incompleta trazendo sofrimento
e angústia. E é nesse sofrimento, que as crianças mostram
formas disfuncionais de contato e cristalizações, que de certa
forma parecem contribuir para o surgimento e a manutenção da doença.
Na psicoterapia com crianças, a abordagem gestáltica oferece a
possibilidade, por meio de seus recursos ludoterápicos, como, por exemplo,
uso da fantasia de uma forma focalizada no presente, ou de identificação
com objetos ou animais, ou usando a imaginação da criança
para perceber entre outras coisas o que ela imagina ou o que dizem sobre ela.
Na condição de terapeutas, criamos condições para
ela se apropriar conscientemente de aspectos do seu self ou optar por novas
condutas, atualizando-se em relação às suas próprias
necessidades.
O ambiente terapêutico oferece as condições indispensáveis
para se repensar relacionamentos, escolhas, dificuldades, possibilidades, em
um espaço protegido onde o indivíduo pode se escutar, sentir,
fantasiar. A criança amplia a conscientização e faz contato
direto consigo e com o mundo, de tal modo que se torna mais fácil o seu
crescimento emocional e social.
Evidentemente sabemos que a criança não se desenvolve sozinha
e, assim é relevante a participação da família,
pais ou os cuidadores principais na terapêutica, já que, essa noção
de transformação e de desenvolvimento implica evidentemente na
ampliação de possibilidades relacionais no âmbito do contexto
do qual a criança compartilha.
Compreendemos que a Gestalt-terapia apresenta procedimentos particulares e a
relação estabelecida amplia e aguça a percepção
da criança e do seu sistema familiar, facilitando o processo de crescimento.
Sendo assim, a criança se experimenta e a partir do relacionamento construído
em terapia, fica mais aware de aspectos antes alienados, integrando de forma
saudável seus afetos e emoções. Desta maneira, constatamos
um funcionamento organísmico norteado pela hierarquia das necessidades
presentes.
Objetivo
Com base no que foi exposto acima, o presente trabalho tem como objetivo facilitar
a vivência da criança adoecida existente em cada participante e
liberar o potencial criativo retido nas situações inacabadas relativas
ao sintoma.
Metodologia:
Através de uma viagem de fantasia levar os participantes a experenciarem
a sua criança acamada, na tentativa de re-significar aspectos da sua
história que estavam atuantes como situações inacabadas
e que são possíveis de serem resolvidas no aqui-agora.