WORKSHOP 04: CORRER PARA QUÊ? PERCEBER É MUITO MAIS GOSTOSO

 

Autores: Patricia Rocco Ramos, Ana Rafaela Moreira da Rocha, Fernanda Hayne Hott, Lorena Benesi Rodrigues e Natalia Lorenzoni


OBJETIVO GERAL

Promover uma reflexão sobre a percepção e a qualidade do contato.

OBJETIVO ESPECÍFICO

Proporcionar ao participante a percepção e o contato com as várias demandas de seu dia-a-dia e que, dependendo da qualidade, da intensidade ou da necessidade, podem estabelecer os mais diversos tipos de contato. Proporcionar um trabalho de conscientização sobre a maneira como cada um tem se percebido e como tem sido seus contatos.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A Gestalt-terapia acredita que todo ser humano tem a sua forma própria de perceber o mundo. O homem possui também uma tendência natural para buscar seu equilíbrio e para encontrar sua própria organização interna, sendo esta organização pessoal e intransferível (RODRIGUES, 2004). E, a maneira que cada um encontra para funcionar, será a sua melhor forma de adaptar-se ao seu meio, ao que nele acontece e às pressões que dele sofre no determinado momento em que suas experiências e vivências surgem.

Assim, se uma pessoa, não percebe o que acontece ao seu redor, se uma pessoa não vê o tempo passar por ela e nem entra mais em contato consigo e com este mundo no qual se encontra inserida, talvez tenha sido a maneira encontrada por ela para “funcionar”. Entretanto, esta maneira de existir sem contato, pode promover um desequilíbrio e, com isso, processos de adoecimento podem surgir.

Rodrigues (2004) traz a idéia de que o homem, atualmente, está apenas “agindo”, mas sem perceber sua própria existência, suas escolhas e sem se responsabilizar por estas. Agir sem se perceber pode ser uma forma de viver sem estabelecer contato. Perls, Hefferline e Goodman (1997, p. 43) afirmam: “1) que experiência é essencialmente contato, o funcionar da fronteira entre o organismo e seu ambiente; e 2) que toda função humana é um interagir num campo organismo/ambiente, sociocultural, animal e físico”. Esses mesmos autores (1997) vão além ao dizer que o tema da psicologia é a fronteira de contato, posto que organismo e ambiente não se separam e contato inclui todo tipo de relação que ocorre na fronteira, na interação entre Eu e não-Eu.

Burow e Scherpp (1985) alertam para o fato de que existem o contato físico e o contato psicológico, o contato comigo mesmo e com o meio animado e inanimado. Contato e recusa de contato podem ocorrer nos níveis cognitivo, emocional e comportamental.

Rodrigues (2004, p. 47) alerta para o fato de que
“Na GT, a saúde implica em um reconhecimento da capacidade do indivíduo em manter-se em contato com seu contexto, podendo – dentro de um processo de escolha espontâneo – optar sobre a melhor forma e o melhor momento de efetuar suas trocas com seu mundo. [...] Ao poder reconhecer que tem essa capacidade de manter-se em contato e efetuar escolhas – mesmo que ele ainda não utilize tais escolhas, quando opta em se recolher ou momentaneamente permanecer fechado para o mundo – somente ao reconhecer que há esta possibilidade – que há o mundo e que ele tem escolhas – já é um sinal de que a saúde está presente.”
A Gestalt-terapia também acredita que o ser humano tem todo potencial, toda possibilidade e plena capacidade para viver um processo de tomada de consciência, de awareness.

“A awareness caracteriza-se pelo contato, pelo sentir (sensação/percepção), pelo excitamento e pela formação de gestalten.” (Perls, Hefferline e Goodman, 1997, p.33). Isto que dizer que o contato é imprescindível para que se consiga a awareness, mas nem sempre que há contato a awareness ocorre. “A questão crucial é com o que se está em contato?” (Perls, Hefferline e Goodman, 1997, p.33 – grifo nosso).

Ribeiro (2006, p.74) refere-se à “[...] awareness como consciência da própria consciência ou como um processo pelo qual me torno consciente de minha própria consciência, aqui e agora, no mundo.” O mesmo autor (2006, p.75) defende a “Awareness, o estar consciente de que se está consciente, não como um ato cognitivo apenas, mas como algo integrador e transformador.” A awareness "É um dar-se conta, um olhar para dentro, final e conclusivo, a partir do qual dificilmente passarei pelo mesmo lugar com a mesma roupagem intelectiva e emocional. [...] Awareness é um caminho de mudança, um processo de integração harmoniosa pessoa–mundo de tal modo que fica na pessoa a sensação de fim da linha, de chegada de uma longa e difícil viagem, e sobretudo uma sensação de completude, de um chão fecundo em que as sementes já podem germinar.” (RIBEIRO, 2006, p.75)

A Gestalt-terapia crê no homem e nas suas potencialidades. Crê também que este mesmo homem, ao percorrer seu caminho único e pessoal e, quem sabe transformador, poderá assim ressignificar suas necessidades e demandas, encontrando desta forma seu equilíbrio interno.


PROCEDIMENTOS/DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DE CONDUÇÃO

Os participantes são recebidos pelos autores deste workshop e são convidados a sentarem-se e posicionarem-se da maneira mais confortável possível. Quem quiser pode retirar seus sapatos e procurar um lugar na sala, onde se sinta bem acomodado. Inicia-se o workshop, propositalmente, sem oferecer nenhuma explicação do que acontecerá durante o trabalho.

Os participantes são comunicados que assistirão a um vídeo e será pedido neste momento, que eles apenas o assistam. Em seguida, será passado um vídeo de 15 minutos, produzido especialmente para este trabalho, com muitas fotos e imagens aleatórias retratando várias situações diferentes. Toda a exibição ocorre em alta velocidade, com as imagens passando muito rapidamente na tela e acompanhada de uma música ao fundo, tocando muito alta, com a intenção de produzir stress, irritação e incômodo nos participantes. Após este momento, e ainda sem dizer nada a eles, o mesmo vídeo é mostrado em outra velocidade, desta vez bem mais lento, bem mais calmo e com uma música suave ao fundo que provoque tranqüilidade e sensação de bem-estar. Após este momento, será entregue aos participantes um texto chamado “Ver Vendo”, do Otto Lara Rezende, e então será pedido que alguém do grupo o leia em voz alta. Sugere-se então, que aqueles que se sentirem com vontade de falar, que relatem como se sentiram durante a exposição do vídeo e o que supõem que seja a nossa intenção com o trabalho.

Caso ninguém se manifeste, será colocado aos participantes qual foi a nossa intenção e o que se pretendia provocar. Depois disso, abre-se uma breve discussão sobre o tempo que não percebemos passar ao nosso redor, sobre o tempo que não vemos fazendo parte da nossa vida e da nossa história, por simplesmente não conseguirmos mais entrar em contato com nossas demandas, necessidades e desejos, tamanha é a correria a que nos impomos todos os dias. Ao não percebermos mais as coisas, ao não nos percebermos mais, o que estamos perdendo? Quem estamos perdendo? Estamos cientes de que, ao não ter o tempo vivendo para nós, estamos fazendo uma escolha? E sabemos onde esta escolha poderá nos levar? Como nos sentimos e o que percebemos quando ficamos sabendo que, por escolha nossa, não vivemos mais o tempo da forma que queremos? Como nos sentimos quando descobrimos que o que queremos, não é mais percebido? Esperamos que essas questões possam tocar os participantes e desejamos que eles possam estabelecer contato com aquilo que eles tem deixado de viver, de perceber e de sentir, por causa dessa correria e dessas escolhas.
Após este tempo de discussão e reflexão será oferecido a cada participante, folhas de papel com um grande círculo vazio desenhado, além de outros materiais como lápis, canetinhas, cola colorida, purpurina, tinta, pincel, miçangas e etc.

Uma música suave está tocando e será informado que cada um tem diante de si uma folha onde podem desenhar a sua “mandala”. Será sugerido que, durante aquele momento, eles entrem em contato, expressem, desenhem, retratem e deixem fluir tudo aquilo que realmente tem ficado para trás nas suas vidas, sem nenhum julgamento ou cobrança. Para aqueles que quiserem, poderá ser explicado que ao se entregar ao trabalho com uma mandala, tem-se a oportunidade de experimentar um contato pessoal pleno e que esta é uma prática meditativa adotada, inclusive por monges budistas. A mandala é um exercício de introspecção e de conhecimento pessoal muito valioso. O intuito, ao propor esta experiência, é que eles possam vivenciar um momento de tomada de consciência, no aqui e agora deste workshop através desta construção. O desenho não precisa ser a representação exata de uma situação, como por exemplo, a não aquisição de sua casa própria. Mas ao fazer produzir aquela mandala, se espera que o participante possa identificar o que tem deixado para trás na sua vida, utilizando-se da mandala produzida como um instrumento de resignificação pessoal.

Quando terminarem suas mandalas, se alguém tiver vontade e quiser dividir este novo momento com o grupo, será disponibilizado um tempo para isso. Caso contrário encerra-se nosso trabalho.


MATERIAL A SER UTILIZADO

• Data show para vídeo,
• Aparelho de som,
• Cd com música suave,
• Papel, lápis, canetinha, cola colorida, papel crepon colorido, pincel, purpurina, tinta, miçangas, paetês e etc.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUROW, O.-A.; SCHERPP, K. Gestaltpedagogia: um caminho para a escola e a educação. São Paulo: Summus, 1985.

PERLS, F. S.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.

RIBEIRO, J. P. Vade-mécum de Gestalt-terapia Conceitos Básicos. São Paulo: Summus, 2006.

RODRIGUES, H. E. Introdução à Gestalt-terapia Conversando sobre os fundamentos da abordagem gestáltica. Petrópolis: Vozes, 2004.