WORKSHOP 03: A SEXUALIDADE NA CLÍNICA

 

Autor: Ênio Brito

 

OBJETIVO GERAL

A intenção do workshop é propiciar aos gestalt-terapeutas interessados a possibilidade de discutir as interferências, as particularidades e os possíveis manejos da sexualidade na situação clínica e na vivência da relação terapêutica.

OBJETIVO ESPECÍFICO

Ampliar, através de discussões no grupo, as possibilidades a criatividade e as estratégias para se lidar com o fenômeno da sexualidade do terapeuta e do cliente na situação e na relação terapêuticas.


FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A sexualidade, fenômeno inerente ao ser humano, está presente em todos os atos da vida. É um fundamento básico da personalidade que possibilita à pessoa maneiras particulares e individuais de existir, se comunicar, viver e se expressar. Sexualidade é um dos pilares da identidade pessoal, é fenômeno muito mais amplo que o sexo e o inclui. Sexo tem a ver com o fato de sermos macho ou fêmea e com o conjunto dos órgãos reprodutores, além de significar também o ato sexual propriamente dito; sexualidade é um conjunto de fenômenos que são ligados ao sexo e que o extrapolam: masculinidade e feminilidade, erotismo, sensualidade, afetos, desejos, posturas e valores. Em suma, sexualidade é o conjunto de emoções, sentimentos, sensações, pensamentos e comportamentos que associamos ao sexo, ou seja, é um conceito amplo, pois se todos os fenômenos genitais são sexuais, há uma série de fenômenos sexuais que não têm relação direta com o genital. A sexualidade está para além da expressão sexual genital e a inclui. A vivência da sexualidade humana se dá a partir de suportes afetivos e culturais, ou seja, o ser humano vivencia a sexualidade através de seus sentimentos e por meio de seus valores culturais, não apenas a partir de sua biologia. Por ser meio propiciador de contato, alguns muito importantes, por ter sua vivência fundamentada especialmente nos sentimentos, a sexualidade se faz presença inevitável no processo psicoterápico. São diversas as maneiras como a sexualidade ocupa seu espaço em terapia: ela pode influenciar o sintoma que traz o cliente para a terapia; ela pode ser o próprio sintoma que provoca a psicoterapia; ela está sempre permeando o entre, sempre compondo o fundo que sustenta a relação psicoterapêutica. A partir da fundamentação da abordagem gestáltica, a sexualidade é compreendida com um dos aspectos do existir humano. Também por isso, é importante frisar que, a partir desse mesmo referencial gestáltico, a sexualidade é um meio, não um fim em si mesma. O fim da existência humana é o desenvolvimento e a auto-atualização constante e criativa, é o contato, a busca de relações com o outro e o ambiente. Neste aspecto, a sexualidade torna-se um meio por excelência e é nesse sentido que ela deve ser entendida. A sexualidade é função mobilizadora por excelência do contato, seja intra, seja interpessoal esse contato. Não custa esclarecer que não estou tratando especificamente de contatos com vistas a relações ou envolvimentos sexuais, mas, antes, que estou tratando da sexualidade como facilitadora ou como meio de dificultação de contatos humanos e, também, contatos com o ambiente. É nesses sentidos, de promoção e de dificultação das relações, que ela se apresenta no processo terapêutico. Algumas das maneiras como a sexualidade pode aparecer no processo gestalt¬terapêutico têm sido mais estudadas que outras: a clínica da sexualidade em Gestalt-terapia, embora ainda incipiente, já conta com a atenção de alguns profissionais. Uma das manifestações da sexualidade que menos atenção tem recebido dos gestalt-terapeutas é o que eu chamo de “a sexualidade na clínica”, ou seja, a maneira como a sexualidade do terapeuta e a sexualidade do cliente se comunicam e interferem no processo psicoterapêutico.

Quando alguém me pede uma indicação de uma terapeuta, a primeira pergunta que faço é: “você prefere um homem ou uma mulher?”. Esse meu comportamento é bastante comum, praticamente um hábito entre os terapeutas. No momento em que o futuro cliente começa a pensar em com quem fazer uma psicoterapia, já a sexualidade aparece compondo em parte a escolha do profissional que acompanhará o cliente. De fato, para muitas pessoas é difícil até mesmo pensar em se abrir para uma pessoa de sexo diferente do seu próprio. Também para os terapeutas o sexo do cliente é fator importante já desde o primeiro contato: há terapeutas que se sentem mais à vontade com pessoas do mesmo sexo, há terapeutas que preferem atender pessoas do outro sexo, há terapeutas que vivem como riqueza as diferenças que há nos atendimentos de homens e de mulheres. Isso para não falar das complexas questões ligadas ao gênero. Inevitavelmente há diferenças: a composição da díade terapeuta-cliente é permeada pela sexualidade. Porque a relação terapêutica é permeada pela sexualidade, parte importante do papel do terapeuta é estar atento a esse fenômeno e trabalhar-se no sentido de que a presença da sexualidade na relação terapêutica seja também uma presença terapêutica. Uma das maneiras de se trabalhar nesse sentido é discutir com colegas as possíveis alternativas quanto ao contato com a sexualidade na situação terapêutica, as dúvidas e os sofrimentos provenientes da presença da sexualidade permeando a relação com o cliente. Discussões assim, além de propiciarem um incremento da segurança do terapeuta ao estar frente a frente com seu cliente, também servem para tornar menos prováveis comportamentos inadequadamente sedutores ou evitadores por parte do terapeuta, além de propiciar trocas que propiciam a diminuição da solidão, tão comum entre os terapeutas, quando se trata de um assunto que ainda é tabu social. Se é certo que a vivência da sexualidade tem se modificado na contemporaneidade, é igualmente certo que essas mudanças não são uniformes e, mais do que isso, são cada vez mais amplas as possibilidades de a sexualidade interferir na relação terapêutica. Assim é que, por exemplo, a explicitação maior dos desejos sexuais no cotidiano das pessoas aparece também nas relações terapêuticas, obrigando o psicólogo a estar mais bem preparado e mais aware para lidar com essa questão. Se as vicissitudes da transferência e da contratransferência interferem profundamente na vivência da sexualidade na relação terapêutica, como um gestalt¬terapeuta lida com isso? Também pode ser motivo de discussões entre os terapeutas os desejos eróticos, hétero ou homossexuais, que eles eventualmente sentem por um ou outro cliente: como lidar com isso? Que perguntas se fazer? Que cuidados tomar? Que resistências combater? Por aí afora, poderíamos elencar aqui uma miríade de situações envolvendo a sexualidade na relação e no processo psicoterapêutico, a maior parte delas envolta em silêncios, em tabus, em vergonhas, em preconceitos, em situações inacabadas angustiantes. A possibilidade de trazer à luz, de discutir com colegas situações vividas ou imaginadas, pode ser uma boa oportunidade para rever valores e posturas, para que o terapeuta possa reconfigurar-se como ser sexualizado atendendo outro ser sexualizado. Também por isso é oportuno e importante que se ocupe um espaço no congresso nacional de Gestalt-terapia com essas discussões. Não se pode mais fazer de conta que somente a clínica da sexualidade tem importância! A sexualidade na clínica é, no mais das vezes, até mais importante e está presente e interferindo, mesmo (talvez até especialmente) na clínica da sexualidade.

 

PROCEDIMENTOS/ DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DA CONDUÇÃO

Haverá, de início, uma pequena exposição teórica para situar o tema. A seguir, alguns casos clínicos mais conhecidos serão reapresentados para gerar debates. Poderão também ser utilizados casos clínicos do apresentador com a mesma finalidade. Finalmente, será solicitado que os presentes contem histórias, se posicionem quanto ao tema, compartilhem experiências vividas, fracassos e sucessos.


MATERIAL A SER UTILIZADO

• Datashow, para a apresentação inicial.