WORKSHOP 01: AWARENESS DA RELAÇÃO - UMA SUPERVISÃO VIVENCIAL EM GESTALT¬TERAPIA

 

Autora: Maria das Graças Gouvea Neco

 

OBJETIVO GERAL

Promover de forma vivencial uma compreensão da atitude fenomenológico-existencial sob a qual se fundamenta o experimento em Gestalt-terapia.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Possibilitar aos participantes avaliarem sua própria atitude fenomenológico¬existencial na condução do trabalho com seus clientes.
• Proporcionar aos participantes uma situação experiencial para observar os fenômenos da redução fenomenológica, do contato e awareness da relação.

 

Palavras-chave: Fenomenologia, Experimento, Awareness da relação, Supervisão vivencial

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Quando um Gestalt-terapeuta se vê diante da transmissão de sua experiência concernente aos aprofundamentos metodológicos que absorveu ao longo de sua trajetória, uma questão importante se salienta: como passar adiante tal conhecimento em coerência com a própria metodologia que ele quer transmitir? Como compartilhar um conhecimento de forma metodologicamente coerente com o próprio conteúdo deste conhecimento? Para responder esta questão, precisamos ter a clareza de um pressuposto fundamental do método gestáltico, para então fundamentarmos a metodologia que ora apresentamos neste presente trabalho.

Desta forma, dividiremos nossa fundamentação em duas partes. Primeiro, enquanto base filosófica para o trabalho e, em segundo, como compreendemos que esta base filosófica pode ser aplicada através da prática de supervisão clínica vivencial, que ora apresentamos.

Primeira parte -fundamentação filosófica.
Tomando como base a fenomenologia de Edmund Husserl, este nos fala que o verdadeiro conhecimento só pode vir do retorno às intuições originárias. Ou seja, a epoqué filosófica é uma atitude de retornar ao conhecimento das essências intuídas dos fenômenos. Para isso, é importante reduzir a realidade que acreditamos nos envolver e compreendermos que nunca captamos tal realidade de fato. Só nos é possível racionalmente lidarmos com aquilo que podemos ter acesso: a própria percepção que percebemos das coisas, que se manifestam enquanto essências, de acordo com os campos de aparecimento de tais essências, ou de acordo com suas ontologias regionais (Husserl, 2002).

Para ter acesso às essências dos fenômenos, precisamos de uma atitude de busca direta da descrição dos fenômenos tais como se apresentam, tentando evitar o envolvimento de teorias prévias ao ato de descrever. Desta forma, o método descritivo fenomenológico é fundamental, pois é através disto que acessamos a fonte própria, originária de conhecimento. Terapeuticamente, é isto que intencionamos: colaborar para que o cliente compreenda como ele percebe o que percebe e, com isso, como pode estar sendo impreciso ao cometer erros categorias, confundindo as ontologias regionais, e lidando com uma teoria como se isto fosse uma coisa concreta, ou lidando com uma lembrança como se isto fosse um fato presente, ou lidando com uma crença como se isto fosse um objeto, enfim, iludindo-se através das fantasias que se têm sobre as coisas. Citando Perls:

“... o objetivo da terapia, o objetivo do crescimento, é perder cada vez mais sua “mente” e aproximar-se mais dos seus sentidos. Entrar cada vez mais em contato com o mundo, ao invés de estar apenas em contato com fantasias, preconceitos, apreensões, etc” (Perls, 1977, pág.77)
Acreditamos que é fundamental que seja passada adiante esta atitude de contato com as situações que se apresentam, mas de tal forma que seja pedagogicamente coerente com esta mesma atitude.

Segunda parte: aplicando a fundamentação filosófica.
Buscando então a coerência metodológica que mencionamos, verificamos que, no caso de uma supervisão clínica onde o Gestalt-terapeuta sob supervisão vai procurar seu supervisor e lhe apresenta o caso clínico, temos nesta situação somente como descrever o fenômeno da apresentação das lembranças do Gestalt¬terapeuta supervisionado, ao atender seu cliente. Desta forma, não supervisionamos um “atendimento”, mas somente o relato lembrado deste. Como seria possível supervisionarmos o próprio atendimento, para que o Gestalt-terapeuta pudesse aplicar propriamente a redução no ato da experiência de lidar com o outro, em plena ação? Obviamente, só nos resta concluir que tal supervisão só pode existir enquanto acompanhamento deste mesmo ato, ou seja, durante um atendimento. Eis aí a nossa proposta. Ou seja, propomos um experimento onde os Gestalt-terapeutas se coloquem como voluntários enquanto duplas terapeutas/clientes. Uma dupla por vez ocupará o centro do local do trabalho e terão um tempo para realizar um atendimento. Ao término de cada atendimento, teremos um material experiencial vívido para nos basearmos e discutirmos como tal base se configura como coerente ou não com os pressupostos gestálticos.


PROCEDIMENTO -DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DA CONDUÇÃO

I. Apresentação: duração de aproximadamente 40 minutos. Cada pessoa se apresentará, falando seu nome, o que faz -como é a sua experiência clínica e quais suas expectativas do trabalho, inclusive os coordenadores do trabalho.

II. Aquecimento: Primeira etapa: duração de aproximadamente 15 minutos. Encerrada a apresentação, as pessoas serão orientadas a andar pela sala, respirando e fazendo contato visual, a fim de formarem duplas. Cada dupla formada deve permanecer cerca de 1 minuto em contato visual em silêncio, ao final deste tempo serão instruídas a voltar a caminhar, respirar e escolher nova dupla. Este procedimento será feito até 5 vezes. Segunda etapa: duração de aproximadamente 5 minutos. As pessoas serão orientadas a andar pela sala, respirando e fazendo contato visual, com a seguinte orientação: “Volte a caminhar e observar. Andando pela sala, respirando, você verá que agora há alguns rostos conhecidos, rostos cujas mensagens já transmitem algo a mais para você, e outros rostos que você ainda não conhece... Assim como na sua vida, onde você também entra em contato com rostos que você capta mensagens, e outros rostos que você não conhece... Inclua esta experiência que você está tendo agora em sua vida como um todo: como você tem andado pela sua vida ? Como você tem visto os rostos que se mostram em sua vida ? Você olha para os rostos que você quer olhar ? Você não quer olhar mais para alguns rostos ? Você quer olhar para rostos que não estão mais disponíveis para o seu olhar ? Neste momento, aqui-e-agora, como estas perguntas mexem com você ? Permita-se, ao ouvir nossas palavras, que as mensagens existenciais emerjam... Vá permitindo perceber se há algo que você sinta vontade de trazer para trabalhar aqui-e-agora.”

III. Atividade principal: duração de aproximadamente 120 minutos (2h). Todo o grupo será orientado a sentar formando um círculo único. Será solicitado um voluntário para ser cliente e outro para ser terapeuta a fim de realizarem um atendimento sob observação do grupo por cerca de 20 minutos. Outros 20 minutos serão utilizados para que os coordenadores que observaram o atendimento possam fazer uma devolução ao terapeuta, o que se dará imediatamente após a conclusão de cada atendimento. Observação: Por “devolução”, entenda-se aqui que será comunicado aos terapeutas material exclusivamente sobre os aspectos metodológicos que foram por ele empregados. Ou seja, não será uma devolução que vise ampliar aspectos psicoterápicos expostos no atendimento. Será uma devolução cujo foco é pedagógico, onde as intervenções dos terapeutas durante os atendimentos serão colocados em reflexão e questionados à luz do método fenomenológico com o apoio de uma filosófica existencial-humanista, própria da Gestalt-terapia. Desta forma, a devolução que tencionamos compartilhar visará contribuir para uma articulação mais profunda entre o que é feito e o fundamento que motiva este fazer. Os observadores do círculo podem ser solicitados a refletir sobre as observações feitas, desde que o terapeuta sob supervisão esteja de acordo. Este procedimento pode ser repetido para até três duplas de terapeuta-cliente a fim de se permitirem mais experiências de observação.

IV. Conclusão -duração de aproximadamente de 60 minutos. Após os atendimentos supervisionados terem ocorrido, os coordenadores promoverão uma reflexão do grupo sob as concepções de redução fenomenológica, do contato e awareness da relação.

 

MATERIAL A SER UTILIZADO
• Nenhum

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Husserl, Edmund “A Crise da Humanidade Européia e a Filosofia”. Tradução Urbano Zilles. Segunda edição. Porto Alegre: EdiPUC RS. 2002

Perls, Frederick Salomon “Gestalt-terapia Explicada”. Tradução de George Schlesinger. Segunda edição. São Paulo: Summus, 1977