Temas-livre 3: Abordagem gestáltica e a busca da boa forma para além da clínica

3.3. Propondo uma visão gestáltica sobre o coaching de carreira: a busca pela boa forma na escolha e no desenvolvimento de uma carreira congruente entre o pensar sentir e agir.

 

Glorita Cajaty Miguel de Carvalho

 

Resumo
Apresentar uma proposta de aplicação do coaching de carreira no setting terapêutico gestáltico com base no processo de estabelecimento de metas do coaching objetivando a construção de uma carreira congruente com as reais necessidades do cliente.

Proposta
Como é possível se dar conta de que carreira iremos seguir frente às constantes mudanças e infinitas possibilidades de novas profissões e os diversos cursos técnicos, de graduação e de pós-graduação que surgem no mercado de trabalho atualmente?

Estabelecer metas profissionais e partir para ação é o que se pretende com o coaching de carreira, já a Gestalt-terapia (GT) busca investigar o que realmente desejamos e quais são nossas reais necessidades na vida como um todo.

O presente trabalho objetiva a abertura do diálogo entre o coaching de carreira e a GT para que a partir daí possam surgir novos campos de aplicação para a GT.

Segundo O’Connor (2004), o termo coaching é originário da arena dos esportes, mas agora é uma nova profissão que pode ser utilizada por qualquer profissional que busque ajudar pessoas a terem uma vida melhor, como o caso do terapeuta.

A definição atual de coaching, num sentido mais amplo, para International Coaching Federation (ICF), entidade que certifica profissionais para o exercício da profissão de coach é: “uma parceria continuada que estimula e apóia o cliente a produzir resultados gratificantes em sua vida pessoal e profissional. Por meio do processo de coaching, o cliente expande a sua capacidade de aprender, aperfeiçoa seu desempenho e eleva sua qualidade de vida”. (KRAUSZ, 2007, p. 26)


O’Connor (2004) define o coaching de carreira como o a modalidade especializada em orientar pessoas que queiram encontrar um emprego, mudar de carreira ou retornar ao mercado de trabalho.

O coaching é, portanto um processo conduzido por um coach, que poderá ser um profissional de qualquer área, seja psicólogo ou não, bastando ter uma formação em coaching, onde sua função será facilitar e apoiar as pessoas ou organizações durante a busca pela conquista de seus objetivos e metas. Vale ressaltar, conforme afirma O’Connor (2004), que “todos os tipos de coaching compartilham os mesmos padrões: estabelecer metas e valores e construir habilidades para o futuro”.

Para Clutterbuck (2008) o coaching trata-se de um processo que visa ajudar o cliente a planejar como alcançar metas.

Como a ênfase do presente trabalho está na utilização do coaching de carreira por meio da abordagem gestáltica não podemos perder de vista que as metas da GT não se encaixam em protocolos, pois que ela se dá através de um encontro existencial entre seres humanos. Neste sentido, Zinker (2007) espera que o processo terapêutico seja capaz de levar pessoas a: “Desenvolver mais awareness de si mesmo – seu corpo, seus sentimentos e seu ambiente; aprenda a assumir a autoria de suas experiências em vez de projetadas nos outros; aprenda a tomar consciência (awareness) de suas necessidades e desenvolver habilidades para satisfaze-las, sem desrespeitar os outros; passe a ter um contato mais pleno com suas sensações, aprendendo a cheirar, saborear, ouvir e ver, apreciando todos os aspetos de si mesma; perceba cada vez mais seu poder pessoal e sua capacidade de se dar suporte, no lugar de recorrer a reclamações, recriminações ou imputações de culpa a terceiros para mobilizar suporte do meio externo; tornar-se sensível ao ambiente que a cerca, mas, ao mesmo tempo, seja capaz de se proteger naquelas situações que lhe forem potencialmente tóxicas ou destrutivas; aprenda a assumir a responsabilidade por seus atos e as conseqüências destes e sinta-se confortável com a awareness de suas fantasias e de sua expressão.” (Zinker 2007, p. 113)

A proposta do presente trabalho baseia-se no fato de que a GT se presta à criação sendo considerada tanto arte como ciência. Desta forma, creio ser perfeitamente possível à utilização do coaching de carreira pelo gestalt-terapeuta. É muito importante que o foco do coaching de carreira segundo a abordagem gestáltica leve em consideração além do processo de desenvolvimento profissional a vida pessoal do cliente tecendo um paralelo às necessidades do organismo e sua satisfação.

Cada necessidade ocorre em diferentes demissões, que para o gestalt-terapeuta Ginger (2007), estão divididas em cinco:

1) A dimensão física: o corpo, a sensorialidade, a motricidade, a sexualidade física...

2) A dimensão afetiva: o “coração”, os sentimentos, a relação de amor, o outro...

3) A dimensão racional: a “cabeça” (com seus dois hemisférios): as idéias e o imaginário criador...

4) A dimensão social: os outros, o meio ambiente humano, cultural...

5) A dimensão espiritual: o lugar e o sentido do ser humano no meio ambiente cósmico e no ecossistema global...

O coaching de carreira segundo a abordagem gestáltica no presente trabalho se apresenta como a reabilitação da capacidade do cliente em identificar suas necessidades em todas as suas dimensões, tornando-o capaz de fazer escolhas autênticas. Sua aplicação pelo gestalt-terapeuta deverá ocorrer de modo verdadeiramente fluido e dinâmico durante todo o processo, pois mesmo após cada estabelecimento de metas definido pelo cliente, dever-se-á observar às alternâncias de figuras as quais cada cliente estará permanentemente sujeito ao longo do processo.

Na função de “coach gestaltico” o gestalt-terapeuta buscará criar um ambiente pedagógico que facilite o cliente a desenvolver de forma criativa um planejamento estratégico com tarefas, metas, sub-metas, de curto, médio e longo prazo, capazes de fazê-lo avançar do seu estado atual (o aqui-agora) para seu estado desejado (conquista futura), sem que isso o afaste das suas reais necessidades do momento presente que poderão se alterar, vindo a sofrer muitas mudanças ao longo do processo devido a alternância de novas figuras.

O diferencial do coaching de carreira segundo a abordagem gestáltica é que ele não se restringe unicamente ao desenvolvimento de habilidades e obtenção de resultados profissionais, pois parte do principio de que cada cliente precisa de uma real oportunidade em descobrir o que necessita como um todo, para então iniciar um plano de carreira congruente entre seus pensamentos, sentimentos e ações.

Diante de todo o exposto entendo que a utilização do coaching de carreira no setting terapêutico dará ao cliente a oportunidade de descobrir quem ele realmente é, o que ele quer de sua carreira e a partir daí estabelecer metas atualizadas de si mesmo de modo congruente.

Contudo, é muito importante mostrar ao cliente que em sua interação com o mercado de trabalho ele deverá assumir a responsabilidade de escolha quanto a sua maneira de como irá se relacionar com ele, tomando atitudes favoráveis às suas metas, reconhecendo sua própria capacidade de determinar como se apoia ou como se regula dentro de um campo que inclui muito mais do que a si próprio.

Bibliografia

CLUTTERBUCK, D. Coaching Eficaz. Introdução, São Paulo: Ed. Gente, 2009.

FADIMAN, J.; FRAGER, R. Teorias da Personalidade. São Paulo: Ed. Harbra, 1986.

GINGER, S. Gestalt: A arte do contato. Rio de Janeiro: Ed Vozes,1997.

KRAUSZ, R. Coaching Executivo. São Paulo: Ed Nobel, 2009.

O’CONNOR J.; LAGES, A. Coaching com PNL. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2004.

PINTO, B.E. Psicoterapia de Curta Duração na Abordagem Gestáltica: Introdução, São Paulo: Ed Summus, 2007.

ZINKER, J. Processo Criativo em Gestalt-terapia, São Paulo: Ed Summus, 2007.