Fórum 02: Desafios da pós-modernidade: algumas considerações sobre as transformações da relação terapêutica na atualidade.

 

Guilherme de Carvalho

 

Resumo

Na atualidade, vemos a transformações que as relações entre indivíduos têm tomado e como tais transformações atingiram os diferentes modelos terapêuticos, em especial a Gestalt-Terapia. Temas centrais como parentalidade, conjugalidade e trabalho ganham centralidade neste atual cenário e este trabalho tenciona verificar quais os principais vetores desta mudança.

Proposta

Atualmente, com a imposição do movimento denominado de pós-modernismo, assistimos como perplexidade a dissolução de inúmeros valores, antes tidos como estáveis, em nome da velocidade de informação, fluidez dos laços afetivos e novos modelos de interação social. No que se refere à velocidade, ou melhor, ao modelo de aceleração (Bauman, 2001), vemos uma alteração significativa na relação entre tempo e espaço. Este fenômeno também parece estar relacionado a novas formas de interação social, mediadas através de sistemas tecnológicos e circuitos representacionais que envolvem códigos e condutas característicos.

Não há recorte sócio-econômico, faixa etária, ou outro sistema de classificação social que não tenha sido atingido pelas novas exigências e novos padrões, sob o risco de exclusão. Vemos o imperialismo sobre os corpos, novos formatos de moralidade, transformações basais quanto á configuração da família e à sexualidade. Todas estas modificações, conseqüentemente, transformam as relações que se estabelecem entre indivíduos e repercutem na relação terapêutica. Esta influência pode ser caracterizada quantitativa e qualitativamente através do microcosmos do consultório enquanto cenário e espelho maior das transformações interacionais de nosso tempo histórico.

A Gestalt-Terapia, neste cenário, com o seu eixo teórico-prático marcado pelo foco na relação terapêutica enquanto exercício de mudança e elemento de contato, tem seus resultados e eficácia terapêutica postos à prova. Referenciais classificatórios provenientes do discurso médico e psiquiátrico estão cada vez mais presentes e precisam ser articulados à metodologia de classificação fenomenológica de forma que este profissional esteja em comunicação com a exigência do mercado.

De outra forma, as questões levantadas durante o processo terapêutico e, muitas vezes, situadas como demanda inicial, trazem em seu bojo rompimentos e descontinuidades. A partir da imagem de um certo desmapeamento, vimos a necessidade de construção de novos arranjos terapêuticos. Tais arranjos representam configurações novas para a variedade de questões inéditas, nunca antes veiculadas com tanta freqüência no setting terapêutico, no cenário da parentalidade, da conjugalidade, por exemplo.

Assim, existe a necessidade, hoje, de repensarmos o espaço clínico como universo privilegiado do debate acerca da pós- modernidade e das transformações sociais e culturais impostas ao nosso cotidiano. Temáticas como relação terapêutica e manejo clínico surgem como elementos de destaque na construção deste universo e como aspectos fundamentais de uma prática séria.