Sonho em Gestalt – Terapia Breve:
Uma Vivência no Aqui e Agora
Jônatas Dias
Teixeira
Artigo apresentado à Universidade Paulista como requisito
parcial à conclusão do Estágio Supervisionado I, na Área de Atendimento Breve a
Adulto e Adolescente. Sob a supervisão da Prof. Ms. Maria Aparecida Silva Dias
Vieira. Goiânia, Junho,2005
Resumo
Este artigo teve como objetivo explicitar a importância do
trabalho com os sonhos em Gestalt-Terapia Breve, tendo Perls (1966) como o
precursor dessa área de estudo. Enfatizando como é possível trazer os possíveis
conflitos, interiormente vivenciados pela cliente, ao aqui e agora, à realidade
atual. Para que assim possa entrar em contato com esses conflitos e dar
significado as diferentes partes desses sonhos que, segundo Perls, seriam
partes do próprio eu da pessoa. Fez-se isso através da exposição e subseqüente
dramatização do sonho de uma jovem, que se submeteu à psicoterapia breve
durante dois meses, sendo duas horas semanais. A cliente obteve reflexões muito
proveitosas a respeito de sua vida atual e de como agir futuramente. Pôs-se
ênfase também na carência não só de material disponível como de práticas,
muitas das vezes não publicadas, o que resulta em uma certa escassez de
bibliografias baseadas em trabalhos recentes sobre este tema.
Palavras – Chave: Gestalt-Terapia; Dramatização do sonho;
Escassez de publicação sobre sonhos.
Abstract
This article
have as objective shows the importance of the work with dreams in
Gestalt-Therapy Brief, having Perls (1966) as the pioneer of this study’s area.
Emphasizing how is possible bring the possible conflicts, inside living by the
client, here and now, in the current reality. To therefore could enter in
contact with theses conflicts and give signification to the different parts of
these dreams that, according Perls would be parts of the own I of the
person.Made that through the exposition and subsequence dramatization of girl’s
dream, which submitted to psychotherapy brief during two months, being two
hours on week.The client has reflections very benefits about her current life
and how acts in future. Have emphasis also in lack not only of material
available of practices, a lot of times not published, what result in a kind of
bibliography’s shortage based in recently works about this subject.
Key words:
Gestalt-Therapy; Dream’s dramatization; Shortage publication about dreams.
Introdução
O movimento Gestáltico
surgiu na Alemanha, por volta de 1910 a 1912. Max Wertheimer (1910), um alemão,
foi um dos pioneiros na elaboração dos conceitos da Psicologia Gestáltica.
Estes conceitos foram, posteriormente, ampliados por Kurt Koffka e Wolfgang
Köhler, que foram os sujeitos de experimentos da Gestalt.O ponto de partida da
Gestalt foi o estudo da percepção, mais especificamente o estudo da percepção
visual do movimento.
A escola de psicologia que
desenvolveu estas observações é chamada Escola Gestáltica. Gestalt é uma
palavra alemã para a qual não há tradução equivalente em outras línguas. Uma
Gestalt é uma forma, uma configuração, o modo particular de organização das
partes individuais que entram em sua composição.
A premissa básica da
Psicologia da Gestalt é que a natureza humana é organizada como um todo, onde
suas partes, ou seja, o meio, as relações interpessoais, sua vida interior, tem
suas particularidades e influencias neste todo. No entanto, a soma dessas
partes não refletem necessariamente esse todo. A experiência é vivenciada pelo
indivíduo nestes termos, e só pode ser entendida como uma função das partes ou
todos dos quais é feita.
“É de extrema importância
aqui frisar que há uma diferença entre a Psicologia da Gestalt, que enfatizou,
sobretudo, o estudo das percepções e chegou à conclusão de que a percepção era
um fenômeno total e não a soma de elementos isolados, e a Gestalt Terapia, que
tem a Psicologia da Gestalt como uma das teorias que a embasam, porém tem fins
terapêuticos. Foi essa a contribuição adicional de Frederick Perls (n.d) para a
Psicologia da Gestalt.”( Perls n.d., citado por Wallen,1980,
p.19 ).
Para a Gestalt-Terapia, é importante que o cliente seja tratado
como um ser digno de confiança, isto é, responsável por si mesmo, pois, se
escolhe ser o que é, é uma totalidade que pode ser integrada, voltado para a
consciência, auto-regulado, em permanente energia de auto-realização e
presentificação, e em busca de dar um sentido às suas percepções, às suas
experiências, à sua existência.( Ribeiro, 1999).
Sendo assim, a
Gestalt-Terapia formou sua base conceitual, para ser aplicada na prática
psicoterápica, fazendo uma integração entre idéias de várias correntes teóricas
que poderiam ser úteis.
Do Humanismo, onde se tem
Sartre (1978) como um dos principais representantes, a Gestalt-Terapia
aproveita a idéia de que o homem é responsável por suas escolhas, se escolhe
ser o que é. Portanto, compartilha a idéia de que o cliente é o principal
responsável por sua vida e as escolhas que faz durante ela.
Do Existencialismo,
sobretudo do existencialismo ateu, que acredita ser o homem responsável pelo
que é, o qual entra um pouco em desacordo com Kierkegaard (1979), porém não
convém explicitar aqui tais diferenças, adota a visão de um cliente como
realmente responsável pelo que é.
Assim, um cliente pode e
tem capacidade de assumir a responsabilidade do seu modo de ser e dos seus atos
no mundo em que vive, nos seus mais diferentes aspectos.
Da Fenomenologia, que tem
Husserl (1980) como pioneiro, com sua proposta de suspensão de todos os juízos
sobre os objetos que o cercam, e de um ser em relação com o mundo, a
Gestalt-Terapia formula seu método de ação, ao lidar com o cliente.Esse método
direciona o terapeuta a abster-se de qualquer juízo sobre o cliente, qualquer
pré-conceito e tratá-lo sempre como um ser de relações no meio, não isolado.
No que diz respeito à
Psicanálise, Perls (1969), como fundador da Gestalt-Terapia, desconsidera,
reformula e critica vários dos seus conceitos. Dentre eles, a forma de tratar
os sonhos dos clientes na psicoterapia. A Gestalt-Terapia trabalha com os
sonhos no presente, convidando o cliente a vivenciá-lo no momento atual.
“Da teoria de Reich, simpatiza-se
com a ênfase dada na postura corporal mais solta.”( Reich, citado por Ribeiro,
1985,p.54). A Gestalt-Terapia busca propiciar uma visão do cliente como um
todo, em que as partes tem seus significados particulares relacionadas a estes,
como o corpo por exemplo.
Da Psicologia da Gestalt, a
Gestalt-Terapia aproveitou e utilizou a noção de todo como forma de ver e
trazer o cliente para o presente e de vê-lo como um ser de interação constante.
Em relação à Teoria de
Campo de Kurt Lewin (1973), houve uma consideração da idéia de que o homem
sofre fortes influências do meio e também interfere neste. A Gestalt-Terapia
recebe o cliente como um ser em interação constante com o meio, porém, também
responsável pelo que é.
Com a Teoria Organísmica
(1939), compactuou da idéia de ver o organismo como um todo, e não só pelas
suas partes. A Gestalt-Terapia não trabalha apenas com o sintoma do cliente más
com o como ele vivencia isso em diferentes contextos.
O Taoísmo de Lao Tse
(1990), é aproveitado pela Gestalt-Terapia por ter uma concepção de homem que
para se realizar deve tornar-se integrado, isto é, suas forças conflitantes
devem ser trazidas a balanço e harmonia. A Gestalt-Terapia também procura
promover essa integração no aqui e agora.
Do Zen Budismo, a Gestal-Terapia
tira a visão de procurar sempre ver o cliente com um olhar novo, de forma que
suas pré-concepções sejam constantemente deixadas à parte no momento de olhar
novamente para o fenômeno.
Portanto, na
Gestalt-Terapia, a pessoa é pensada no campo, no qual pessoa e meio são
realidades interdependentes. Na prática, podemos pensar pessoa e meio como
figura e fundo de uma única realidade ( Ribeiro, 1999).
A finalidade da
psicoterapia é, prioritariamente, liberar e liderar as forças preservadas da
personalidade e não a de debelar sintomas. É importante que a pessoa encontre
sua capacidade de fluir, de ser espontânea, porque essas capacidades pertencem
à natureza da pessoa, pois provém de um mecanismo inato no ser humano, que é o
de auto-regular-se. Ser harmonicamente com o meio circundante ( Ribeiro, 1999).
Dentro do vasto campo da
psicoterapia, mais especificamente da Gestalt-Terapia, desenvolveu-se também a
psicoterapia breve ou de curta duração, que parte da reflexão da pessoa como um
ser que se locomove e se comunica dentro de seu espaço vital, aquém e além de
suas próprias fronteiras, num movimento permanente de fluidez, elasticidade e
plasticidade, onde pode escolher e agir.
Gestalt-Terapia
individual de curta duração é um processo no qual cliente e psicoterapeuta se
envolvem em soluções imediatas de situações de qualquer ordem, vividas pelo
cliente como problemáticas, utilizando de todos os recursos disponíveis, de tal
modo que no mais curto espaço de tempo o cliente possa se sentir confortável
para conduzir sozinho sua própria vida (Ribeiro, 1999, p.136).
A psicoterapia breve
significa que temos de atuar influenciando os sintomas e o todo do paciente num
curto prazo para que ele se torne capaz de agir por conta própria. Ela é uma
técnica baseada em ideologia e princípios próprios. É breve porque o cliente
deseja respostas mais rápidas.
Para isso, é preciso que se
atente para certos procedimentos de como torná –la mais eficaz. Esses procedimentos
estão em íntima relação com a visão de pessoa que embazeia a Gestalt-Terapia. O cliente é sempre a figura
principal, mesmo havendo grandes diferenças entre cliente e terapeuta e ainda
que conservem sua individualidade. O terapeuta desenvolve um papel ativo e
presente, sem jamais substituir a opção livre do cliente.
Segundo Ribeiro (1999),
algumas atitudes são de grande importância para um começar e desenvolvimento
satisfatório em Gestalt-Terapia, tais como: Examinar cuidadosamente o processo
pelo qual a pessoa passa, a fim de avaliar a possibilidade ou não de começar um
trabalho de curta duração; estabelecer com o cliente um plano claro de trabalho
a partir de uma conversa livre e direta cobre a questão a ser trabalhada;
utilizar todos os recursos à sua disposição e do cliente a fim de facilitar e
apressar o processo de mudança; conduzir o processo terapêutico como uma
totalidade mente – corpo – mundo em ação; centrar-se tanto na experiência
imediata da pessoa quanto na sua, de maneira clara, direta, precisa, sem
subterfúgios; não se aprisionar as teorias, agindo na mais direta conexão com o
cliente, atento às necessidades imediatas dele; e agir com humildade, sabendo
que a perfeição psicoterapeutica é um ideal e os resultados são apenas uma gota
d’ água na imensidão do que significa ser pessoa.
A grande arte da
psicoterapia de curta duração é funcionar, agindo imediatamente na totalidade a
partir das informações mandadas pelo sintoma, não o perdendo de vista em nenhum
momento ( Ribeiro, 1999).
Assim, o cliente, em suas
mais variadas formas de comunicação, utiliza-se de maneiras diversas para
expressar o que vem sendo vivenciado no seu dia-a-dia. Uma dessas formas de
expressão, por sinal, muito interessante, é através do relato de um sonho.
Freud (1900), se referiu
aos sonhos como uma realização disfarçada de desejos reprimidos, desenvolvendo
assim técnicas de interpretação. Em outro momento, Freud ( 1915), se referiu aos sonhos como uma
reação a um estímulo que perturba o sono.
Por ora, é pertinente ressaltar
e enfatizar algumas diferenças básicas nas formas de trabalhos com os sonhos
entre Freud (Psicanálise) e Perls (Gestalt-Terapia). Freud (1900), tratou os
sonhos como mecanismos inconscientes, frutos de relações passadas, de desejos
que foram reprimidos no passado e que vem a tona no sono. Sua técnica de investigá-los era a interpretação, carregada
de sugestões próprias sobre o que o cliente trazia.
Já Perls (1966), tratou os
sonhos como atividades espontâneas, frutos e reflexos de vivencias atuais,
expressão do que se vive agora. Sua técnica para investigá-los era a
dramatização, proporcionando com que o cliente revivesse seu sonho. Não era
tratado como conteúdos do passado e não fazia interpretações, o cliente era
estimulado a achar o seu significado no presente.
Perls (1966), relata nunca
saber o que é o inconsciente, mas sabe que o sonho é definitivamente, a
produção mais espontânea que temos. Acontece com a nossa intenção, trabalho ou
deliberação.
Segundo Perls (1966), se
alguém quiser trabalhar com os próprios sonhos, que faça-no em conjunto com
outra pessoa, porque, perto do ponto de angústia a pessoa ficará fóbica.
Tentará evitar, fugirá, ficará subitamente sonolenta ou descobrira que tem
alguma coisa muito importante a fazer.
“Notarão que quem trabalha
sobre os sonhos da maneira que eu sugiro, isto é, sem interpretações, sem
interferência do vosso computador, os órgãos de pensar, deriva um grande
proveito disso.”( Perls, 1966, p.272).
A técnica utilizada por
Perls (1966), para se trabalhar com os sonhos consiste em fazer o sonho
acontecer novamente. Pede-se para o cliente que conte o sonho primeiro,
normalmente, do jeito que lhe venha à memória. Após terminar de contar, deixa-o
livre para escolher o que quer trabalhar no sonho. Decidido, pede-se ao cliente
que conte novamente o sonho, mas desta vez, narrando no presente do indicativo,
como se estivesse acontecendo no momento.
Começa-se a
psicodramatizar, incentivando o cliente, no decorrer de sua narração, a tomar o
lugar dos vários personagens do seu sonho, um a um, independentemente de
personagens inanimados ou com vida. É proposto, a todo tempo, que fale, se
manifeste, expresse seus sentimentos, movimentos, pensamentos, a respeito do
papel que está desempenhando no momento. O psicoterapeuta se mantém o tempo
todo ativo, interrogando, fazendo comentários pertinentes, incentivando o
cliente no desempenho dos papeis. No fim, é o cliente que será o responsável
para dar significados aos diversos papeis desempenhados. O psicoterapeuta
apenas o ajuda nesse processo.
Demonstramos,
como se vê, que todas as partes diferentes, qualquer parte de um sonho, é a
própria pessoa, é uma projeção do seu eu. Se há aspectos incompatíveis,
aspectos contraditórios, e os usamos para lutarem entre si, voltamos de novo ao
eterno jogo do conflito interno. Em todos esses encontros, observamos que as
duas partes são usualmente hostis, no começo. Mas se trabalharmos o tempo
bastante, então chegaremos a um entendimento e a uma apreciação das diferenças.
( Perls, 1966, p.281).
Pouco se tem falado e
trabalhado na área dos sonhos em Gestalt-Terapia, se não na prática em si, ao
menos no que diz respeito a publicações, o que reflete em bibliografias
escassas, ficando este tema entregue, quase que unicamente a trabalhos
realizados por Frederick S. Perls. Daí a relevância de estar se dedicando a
este trabalho, tão rico em propiciar a vivencia e esclarecimento de conflitos
internos até então ocultos. Essa relevância ocorre não só a nível clínico
individual, mas a nível de publicação.
O objetivo do presente
artigo foi expor, de forma sucinta e mais clara possível, o trabalho realizado
através do sonho de uma jovem, em Gestalt-Terapia Breve, onde se pôde trazer
para o momento atual da vida da mesma, reflexões que até então não haviam sido feitas
e que, por conseguinte, ajudaram-na muito na compreensão de si mesma.
Também houve aqui a intenção de divulgação de um trabalho com sonhos em
Gestalt-Terapia, dada a inconstante publicação de trabalhos nesta área e ao
sucesso da terapia realizada, tanto para a cliente quanto para o terapeuta.
Método
Fez parte deste trabalho,
uma cliente adulta, com 25 anos de idade, de classe média baixa, solteira, sem
filhos, com ensino médio completo, atualmente, trabalhando como secretária,
escolhida aleatoriamente, por uma supervisora responsável pelas fichas de
triagem, na presença do estagiário, de acordo com a prioridade na fila de
espera.
Todas as intervenções terapêuticas foram realizadas em
sala para atendimento individual, com um tamanho em torno de três metros
quadrados, com cadeiras, uma mesa, um ventilador, janelas largas, e uma
perciana. Para auxiliar na intervenção, os instrumentos usados foram: Texto de
técnicas de relaxamento, criadas por Dennis Greenberger e A. Padesky (1995), e
técnica de dramatização do sonho no momento presente, criada por Frederick S.
Perls.
Após passar por três
atendimentos no plantão psicológico, A. foi encaminhada para o atendimento
breve e foi dado início ao processo psicoterápico. Ao todo, foram oito sessões,
com duração de 50 minutos cada, num período de três meses.
A. começou trazendo várias
dificuldades que vem enfrentando desde a morte da avó e subseqüente separação
do namorado. Dificuldades como: se sente muito insegura, muito ansiosa, se
sente rejeitada pelos homens, devido ao fato de ter sido trocada por outras
mulheres e por eles não se aproximarem, sente muita falta de ar e falta da avó,
e se cobra muito. Durante as sessões, foram sendo trazidas várias dessas
dificuldades e, dentre elas, A. trouxe um sonho que teve com a avó, e se dispôs
à investigá-lo mais detalhadamente.
No sonho, relatado, A.
chega em uma sala de hospital, onde sua avó já não está mais deitada como
antes, está sentada numa maca, aparentemente melhor, em silêncio. Quando A. se
aproxima, também em silêncio, cai no chão e fica desacordada, em seguida o
sonho acaba. Foi pedido a A. que narrasse o sonho acontecendo no momento
presente, vivendo-o no agora, no papel que se encontrava no sonho. A. narrou,
vivenciando. Em seguida, foi proposto a A. que narrasse agora na posição de sua
avó. A. narrou novamente. Foi perguntado a A. se ela queria dizer algo a sua
avó, no sonho. A. respondeu que sim. Logo, foi convidada a dizer o que não
havia dito no sonho, como se sua avó estivesse ali no momento. A. começou a
chorar profundamente, dirigiu o olhar para o terapeuta, como se fosse sua avó,
e disse que a ama muito, se sente muito sozinha, muito insegura sem ela, que
prefere estar no lugar dela, e que só está ali no consultório de um psicólogo
porque ela se foi. Após um longo período com A. chorando, lhe foi proposto que
entrasse no papel da Avó e dissesse para a A. o que não disse no sonho mais
gostaria de dizer agora. A., no papel da avó, disse para A. ser forte, ir atrás
de seus objetivos, confiar mais em si mesma, e ser mais segura.
Assim, as sessões seguiram
com o terapeuta, junto com A., trazendo esses diferentes papéis do seu sonho
para o momento atual da sua vida, como conflitos internos a serem resolvidos, e
estimulando sua autonomia e tomadas de decisões atuais.
A. foi convidada a fazer
uma auto-avaliação de suas diferentes maneiras de agir no dia-a-dia e como
poderia mudar o que estava lhe incomodando. A. Chegou à conclusão de que
precisa ser mais segura e afirmou que vai pensar mais no agora em vez de querer
prever o futuro, para se tornar mais segura de si. Afirmou que vai chegar até
os homens em vez de esperá-los e que vai esquecer mais a avó e cuidar da sua
vida.
Resultados
Os resultados que foram
alcançados com essa psicoterapia breve foram poucos comparados com o que A.
ainda vai alcançar ao longo de sua vida. O que se pode frisar aqui é que A.,
sem soma de dúvidas, passou por um processo impar de auto-reflexão,
auto-avaliação de sua vida como um todo.
Tornou-se consciente de que
é realmente capaz de tornar-se mais segura de si, pensando mais nas suas
realizações atuais e nas coisas boas que podem lhe acontecer em vez de
enfatizar as más. Que o estar sozinha depende de sua ação para ser invertido.
Decidiu lutar contra o pensamento de querer estar no lugar da avó. Em fim, A.
se sentiu muito contemplada com a psicoterapia e acredita fielmente em seu
sucesso com o decorrer do tempo, assim como o terapeuta.
Portanto, é realmente muito
importante que se veja o cliente como um todo, como um ser em contínua
interação entre o individual e o social, como já dizia Kurt Lewin (1937).
Sobretudo no momento de escutar o sonho de A. isso foi crucial.
Importante foi também me abster de qualquer pré-julgamento como
defende a fenomenologia de Husserl (1980), para escutar as várias partes do
sonho de A. sem interferência das minhas interpretações, como nos relata muito
bem Perls (1966).No entanto, há que se dizer aqui também que houve uma certa
dificuldade da parte de A. em entrar no jogo de dramatização, o que me levou a
suspeitar que com alguns clientes essa técnica dos sonhos possa ser inviável. É
pertinente enfatizar também que muito pouco material tem se produzido hoje em
dia sobre sonhos em Gestalt-Terapia, sendo a sua maioria ainda trabalhos
produzidos por Perls (1966).
Conclusão
Pôde-se explicitar através
deste artigo, o quanto trabalhar com sonho em Gestalt-Terapia Breve é de
extrema relevância para, junto com o cliente, trazer mudanças à sua vida, de
forma que o possibilite conduzi-la com autonomia. Através de um único sonho
relatado pela cliente foi possível proporcionar reflexões em sua vida nos mais
diversos aspéctos, sociais, profissionais, individuais, emocionais,
intelectuais, acontecimentos do passado, presente e futuro.
Concluiu-se que o trabalho
com os sonhos em Gestalt-Terapia não é uma prática de investigação e
interpretação de momentos passados da vida da cliente, como nos foi legado pela
Psicanálise, a qual ainda é uma das principais referências no que diz respeito
a sonhos.
Pelo contrário, ficou
evidente que pela vertente Gestáltica o trabalhar com sonhos se fás sem
interpretações do terapeuta, porém, com uma postura ativa e questionadora, e
enfatiza-se o momento atual da vida da cliente, englobando o todo e o
particular, dando-lhe condições para se responsabilizar por sua vida de maneira
ativa e transformadora.
Foi possível concluir que
trabalhando com os sonhos da forma como Perls (1966) desenvolveu, frisando o
presente, foi extremamente pertinente e satisfez as expectativas de uma terapia
breve, onde se fás necessário uma promoção de mudanças mais rápidas e práticas.
A cliente sentiu-se muito beneficiada, e desenvolveu através de esforços
próprios uma maior capacidade de gerar mudanças em sua vida.
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