Caminhando na corda bamba
A gestalt-terapia de casal e de família
Teresinha Mello da Silveira
Este trabalho surge como um questionamento que tenho me feito e
que envolve a identidade profissional do gestalt-terapeuta na prática clínica
com casais e famílias.
Há algum tempo me chama a atenção, o número cada vez maior de
terapeutas que procuram cursos de extensão na área referente a casal e família.
Especulando sobre o motivo do interesse nesta área encontrei respostas
variadas: algumas mais claras e outras bem vagas. Formulei algumas hipóteses a
partir do que ouvi em uma ou outra conversa informal. Para fins desse trabalho
resolvi mandar uma mensagem para alguns colegas perguntando sobre porque
decidiram fazer curso sobre casal e família, se o curso ajudou de alguma forma
na prática como gestalt-terapeuta e como. Decididamente não era meu objetivo fazer
uma pesquisa, mas abrir questão sobre por que tantos profissionais decidiram se
especializar no trabalho com famílias, sendo que, a maioria deles, o fizeram em
alguma das muitas vertentes da abordagem sistêmica e apenas uma fez a formação
em Gestalt-terapia de casal e família. Os dados fornecidos gentilmente pelos
meus colegas ofereceram algumas pistas interessantes.
Por não se tratar de um estudo criterioso e sim de especulação
nascida da minha curiosidade, contatei todos os gestalt-terapeutas que estudaram
sobre família no Rio de Janeiro, e que faziam parte do meu catálogo eletrônico.
Não houve, portanto, preocupação com tempo de experiência, com a vertente
sistêmica escolhida para fazer o curso ou mesmo se buscou conhecimento em outra
linha qualquer. Por razões que desconheço alguns não responderam e, devido à
exigüidade do tempo, debrucei-me na compreensão de 15 respostas recebidas que
tornarão mais claras em que consiste a problemática.
Quanto à primeira pergunta destaco o fato de que 11 pessoas responderam
que foram buscar informação, deixando transparecer que a Gestalt não “informa”
sobre trabalhos terapêuticos com casal e família. Vale lembrar que fazendo uma
revisão bibliográfica, encontrei artigo de Gestalt em publicação de 1968,
referido ao assunto. Outras leituras passam rapidamente pelo tema nas décadas
de setenta e oitenta (Kempler, 1970; Perls, 1973; Zinker, 1977; Polster&
Polster, 1979; Campbell, 1980). Entretanto, não achei nada mais sistematizado
ou mesmo muitos relatos de experiência, no que tange ao tema.
Muitos entrevistados alegaram que se interessavam por trabalhos
com casal e família e em alguns desses casos enfatizavam que procuraram o curso
pelo fato de atenderem crianças e precisarem contextualizar ou compreender melhor o contexto familiar dessas crianças. Aliás, as palavras contexto ou
contextualizar surgiram em quase todas as respostas. Este é um outro aspecto
que me chamou a atenção. Será que a Gestalt-terapia (ou o gestalt-terapeuta)
desconsidera o contexto? Ela afinal de contas é ou não é uma terapia
relacional?
Quanto à segunda resposta, mais de metade falou que ajudou na
prática como gestalt-terapeuta porque a abordagem sistêmica tem paralelos com a
Gestalt, fornecendo outros recursos, outras ferramentas. Uma das pessoas alegou
que embora a Gestalt-terapia seja uma abordagem relacional, na prática
desconsidera muito o contexto. Para três pessoas o curso não contribuiu para
sua prática. Para duas pessoas serviu para reafirmar sua opção profissional.
Para uma pessoa reacendeu a chama da confiança
na construção do diálogo e no manejo das diferenças... É curioso que
justamente esta pessoa fez seu curso de família na abordagem gestáltica. Uma
outra entrevistada explicou que o curso não mudou a sua prática, mas mudou a
forma de ver o casal e a família.
Observei no material que tinha à mão que a escolha da escola
sistêmica varia de acordo com o estilo do gestalt-terapeuta. Aqueles mais
afeitos a experimentos buscaram as vertentes mais intervencionistas. Os que
colocam mais o foco na relação escolheram o construcionismo social e
construtivismo dentre as várias abordagens ditas sistêmicas.
Muitos dos colegas alegaram implícita ou explicitamente a
necessidade de ampliar o seu campo de trabalho com vistas aos seus trabalhos em
instituições de saúde ou devido à escassez do mercado de trabalho.
Quanto a mim (quase que ia esquecendo) também fiz minhas
transgressões nos caminhos sistêmicos e trago na bagagem, por um lado o desejo
de me aprofundar mais naquilo que chamamos de situação inacabada e de
ajustamento criativo e por outro a rejeição a aspectos que considerei mais
pedagógicos do que psicoterapêuticos e que se referem a prescrições e
sugestões, porque maculam a crença que tenho na capacidade da família de
descobrir os seus próprios recursos de convivência.
Desde o início dos anos oitenta tem havido uma verdadeira
explosão de cursos de terapia de casal e de família, mais particularmente nas
concepções sistêmicas.
Não é novidade para ninguém o quanto as famílias estão mudando e
tais mudanças, muito comumente, implicam em um estado de crise. Embora essa
possa ser uma das razões, é sabido que as dificuldades nos relacionamentos
íntimos sempre existiram. Temos que considerar também que antigamente as
famílias não se dispunham a falar de suas mazelas, até mesmo porque o modelo
mais tradicional de família incluía um silêncio, por vezes doloroso, em torno
do que se passava dentro delas. Hoje a contemporaneidade que aponta para as
rápidas mudanças, a instabilidade nos relacionamentos, a multiplicidade de
opções, as desconstruções e reconstruções constantes das famílias, a maior
visibilidade dos acontecimentos que deixa os conflitos familiares mais expostos
e, como decorrência, a necessidade de compreender o que está acontecendo neste
contexto conduzem a novas formas de trabalhos terapêuticos.
No campo da psicologia clínica ocorreu toda uma reviravolta nos
meados do século passado quando em diferentes partes do mundo, médicos e
psicólogos começaram a incluir os familiares nos trabalhos que até então se
restringiam à díade terapeuta e cliente.
A psiquiatria observou que os pacientes internados quando
voltavam ao seio da família tinham recaídas precisando de nova internação.
Desta forma começou a ser questionado o papel dos parentes no agravamento ou
melhora do transtorno mental. Surgiu, então, a idéia de incluir a família no
tratamento do portador de doença psiquiátrica.
Para muitos o modelo intrapsíquico da psicanálise não respondia
às questões do mundo atual e nesta ótica não havia como considerar o relacionamento
familiar e muito menos a inclusão dos outros parentes no tratamento. Por sinal,
esta corrente clínica vem também se modificando, dando cada vez mais ênfase aos
aspectos sócio-culturais. Desta maneira, para além dos impulsos e pulsões
inconscientes existe e considera-se atualmente, a relação do sujeito com o
mundo. O curioso é que embora a teoria freudiana acentuasse o papel dos pais no
desenvolvimento da criança, estes mesmos pais eram mantidos fora do tratamento
até algum tempo atrás, sendo apenas informados quanto ‘a evolução da terapia e
orientados quando era o caso.
As vertentes
existenciais, se bem que concebia e concebe o homem em sua relação com o
ambiente, colocou a ênfase durante muito tempo na responsabilidade de cada um
consigo mesmo, também deixando em segundo plano os fatores relacionais na saúde
e na doença dos indivíduos. Mais recentemente é notória a mudança de enfoque da
pessoa para a relação. Assim é que as contribuições dos teóricos existenciais
que dão mais destaque ao ser em relação são mais evidenciadas.
Paralelamente crescem os movimentos grupalistas, deixando claro
o quanto o sujeito é parte do coletivo. A esse respeito, louvo os trabalhos de
Lewin, Pichon-Rivière e Bion pelo empenho em mostrar a importância de
compreender a dinâmica grupal influindo com seus estudos nos trabalhos com
casais e famílias (Nichols e Schuwartz, 1998). O próprio Perls (1975) dirigiu
seus trabalhos cada vez mais para os grupos, chegando mesmo a dizer que a
terapia individual estava obsoleta.
O mundo atual é um mundo de redes, o que acontece com uma pessoa
reflete em toda uma rede. Assim é também na rede conjugal e familiar. Nada mais
natural do que, neste contexto, florescer o trabalho com casais e família.
Pensando sobre o que foi exposto, talvez sejam essas algumas das
razões para tantos cursos de extensão em psicoterapia que ofereçam os recursos
necessários para os casais e famílias manejarem os seus conflitos.
Para falar em terapia familiar é preciso destacar a importância
da concepção sistêmica. Nesta concepção não existe doença isolada do todo em
que está inserido o seu portador. Um sintoma é encarado como expressão de uma
disfunção no sistema. Nesta ótica o sujeito que porta uma síndrome, seja de que
ordem for, é o chamado paciente identificado, ou seja, aquele que denuncia a
doença do sistema familiar, por exemplo.
A palavra sistêmica em psicoterapia é herdada da Teoria Geral
dos Sistemas, Essa teoria foi criada por Bertallanfy (1972), na década de quarenta
e usada no trabalho com famílias e casais para indicar a forma como esses
grupos são vistos.
O sistema é um todo em relação. Cada parte interage com as
outras de tal maneira que não existe uma relação de causalidade linear, visto
que, as influências são sempre mútuas. Assim é que, não é possível ver um
sintoma como algo pertencente a um membro da família ou do casal e sim como
expressão da interação desses membros. Logo, o processo é descrito através das
relações, da comunicação e da maneira como a família se organiza.
Nascidas nos Estados Unidos, a abordagem sistêmica e a
Gestalt-terapia evoluíram de um trabalho mais técnico pragmatista para um
trabalho mais interativo. Suas origens são diferentes. A vertente gestáltica
está ancorada em supostos filosóficos e teóricos fenomenológicos-existenciais,
sendo que, seus alicerces foram construídos na Europa. Porém, ambas têm muito
em comum, o período e o local onde nasceram, por exemplo, decorrendo daí
influências do espírito científico e cultural da época. A origem da vertente
sistêmica é americana, embora na época em que ela surgiu, o movimento de
trabalho com famílias estivesse começando também na Europa e América do Sul.
Tellegen (1984) e Zinker (1994) valeram-se da palavra sistema
para compreensão dos processos grupais. Não nego em hipótese alguma o empenho
desses que foram dois grandes mestres para mim no trabalho em Gestalt. Contudo,
para fazer jus aos pressupostos da abordagem, insisto que existem conceitos
gestálticos capazes de darem conta da teoria dos processos grupais incluindo aí
os grupos familiares.
Conceitos que nos são caros como Campo Organismo/Meio, Gestalt,
Totalidade, Contato, Fronteiras de Contato, Ajustamento Criativo, Situação
Inacabada, entre outros oferecem os recursos necessários para sustentar o
trabalho terapêutico com casais e com famílias. Ademais, a utilização do método
fenomenológico destacando a importância da experiência presente facilita que a
família ou o casal experimente no setting
terapêutico suas possibilidades e seus entraves.
Quero deixar bem claro que não estou desvalorizando de forma
alguma os supostos sistêmicos, mas o meu empenho neste momento é para mostrar
que a Gestalt-terapia é capaz de dar suporte teórico e prático ao trabalho com
diferentes tipos de grupo.
Conceitos
Gestálticos e o Processo Terapêutico com Casais e Famílias
Em Gestalt-terapia a mudança está ligada diretamente a
criatividade. Mudar, então, refere-se a descobertas de respostas novas a
eventos antigos. Nesta abordagem acredita-se que o homem é potencialmente capaz
e criador. A repetição é a utilização de recursos que foram adequados a outras
situações e que, contudo, não o são obrigatoriamente na vida atual da pessoa. A
repetição constante da maneira de funcionar não favorece a descoberta de novas
formas de ser. Assim ela torna o indivíduo rígido, limitado, e traz em geral
sofrimento.
A maneira pela qual o meio é percebido é influenciada pelo grau
de liberdade que o indivíduo tem para perceber. Ao mesmo tempo a percepção
clara é fundamental para o estabelecimento de contatos saudáveis ou não. Se
experiências passadas não tiveram resoluções satisfatórias, serão acionados
mecanismos que impedirão a percepção clara no presente, dificultando o contato
mais pleno com o ambiente. Assim, quando as situações inacabadas permeiam o
contato atual, não é possível enxergar a realidade presente, contaminada que
está pelos fantasmas do passado e expectativas quanto ao futuro.
Para Perls, criatividade é a capacidade de renunciar, de
abandonar respostas obsoletas. Nesse caso, entre as respostas criativas,
incluem-se, além da imaginação, as rupturas. Não há como manter velhos hábitos
num viver criativo; logo, sempre há riscos e ameaça de perder a fronteira de
contato (Perls & Stevens, 1975).
O ajustamento criativo (Perls, 1951) é o processo de fazer
contato com o meio ambiente através de uma fronteira. Quando o ajustamento é
saudável favorece o desabrochar da individualidade e o florescer dos
relacionamentos.
Ciornai (1995) explica que este é um dos conceitos chaves em
Gestalt-terapia, pois, não implica em “ajustamento” mas em “ajustamento
criativo”. A autora quer dizer com isso que existe nesse processo a
participação ativa do indivíduo. Não se trata de adaptação a algo que já existe
e sim de transformar o ambiente e enquanto este se transforma, o indivíduo
também se transforma e é transformado.
Como uma planta que cresce assimilando
do solo e do ar nutrientes que lhe ajudarão a crescer, ao mesmo tempo em que
cria e desenvolve mecanismos para se proteger de elementos que possam ameaçar
sua existência, filtrando poluentes, desenvolvendo raízes fortes, fechando-se
ao contato com elementos potencialmente agressivos, criando formas inusitadas
para receber o sol ou proteger-se das intempéries. (p.73)
É nesse contexto que a noção de fronteira é fundamental. Essa
noção está ligada à teoria de campo de Kurt Lewin (1973). Lewin descreve o
campo psicológico e social como um conjunto de forças que atuam no presente
formando uma rede de relações entre as partes. Esse campo ou espaço vital é
composto de regiões (intrapessoais, interpessoais, físicas, sociais) cujas
demarcações são chamadas de fronteiras. Do ponto de vista funcional, a
fronteira revela a diferenciação e a interdependência dos elementos. Na área
fronteiriça, ocorre o contato, a articulação de motivação, a percepção, o
afeto, a cognição e a ação (Tellegen, 1984).
Perls (1973) destaca a fronteira do
eu-não-eu no campo organismo-meio. A fronteira circunscreve e assinala os
limites do eu; organiza e dá forma; discrimina e separa o que é o eu do que é o
não-eu. A fronteira, segundo Perls, é o lugar da possibilidade do viver e do
criar. Um nível razoável de conscientização é preciso para que se possa
perceber e diferenciar situações que se afiguram semelhantes, a fim de dar a
cada necessidade a resposta mais adequada. É preciso também que situações sem
resolução não interfiram na percepção do agora de maneira drástica. Desse modo,
a função da fronteira pode ser proteger, impedir ou permitir a troca com o
ambiente em ritmo saudável. É necessário que a pessoa perceba com clareza a
fronteira, para que a experiência de contato com o novo não represente para ela
risco de perder-se, mas resulte em encontros que, pelo ritmo de união e
separação, renovem e vivifiquem as partes envolvidas (Polster & Polster,
1979).
A noção de fronteira de contato
compreende fatores interpsíquicos, a relação do psiquismo com outras partes do
organismo e do organismo com o meio. Desse ponto de vista, as vivências psicológicas
incluem todos os eventos (psicológicos, fisiológicos ou sociológicos) e ocorrem
sempre na fronteira de contato. Permeando todos esses intercâmbios, estão os
processos criativos.
Algumas
correntes por suas particularidades preocupam-se em desenvolver métodos que
possibilitam a emergência de um clima ou ambiente favorável à criatividade.
Nesse clima, a imaginação, a fantasia, a linguagem simbólica são decodificadas
com base nos processos criativos ativos na relação terapêutica. A
Gestalt-terapia coloca-se entre uma dessas correntes. Tendo como meio e como
meta primordial facilitar a conscientização da experiência presente ou awareness[1],
ela trabalha propiciando o contato intensificado do indivíduo consigo mesmo,
com o outro e com o mundo, proporcionando um ajustamento criativo saudável do
ser ao meio. Para tanto, Juliano (1995) afirma que o terapeuta deve ter “uma
atitude descontraída e atenta, inteira, disponível, energetizada”.(p.77)
De
acordo com sua crença básica no potencial de qualquer indivíduo, o método
gestáltico favorece a experimentação para descobrir novas saídas para problemas
antigos. Seu repertório instrumental, que inclui intervenções verbais e
não-verbais, possibilita ao cliente entender como ele mesmo funciona, e esse
conhecimento é fundamental para o processo de mudança, segundo Ginger &
Ginger (1995).
Ao considerar qualquer expressão criativa como indício do ser,
os terapeutas gestaltistas podem recorrer à modelagem, à pintura, à
dramatização, ao desenho, buscando ligações que permitam uma (re) significação
e uma (re) configuração perceptiva. Os sinais de saúde aparecem, então, quando
o sujeito está livre dos bloqueios ligados a padrões, valores, crenças e
experiências passadas que impedem o livre fluxo do potencial criativo e que estariam
a serviço da resistência à mudança.
A resistência à mudança surge de restrições à capacidade
criativa do indivíduo em sua relação com o ambiente. Suas ações tornam-se
reproduções, reações condicionadas, pouco fluidas, dificultando o intercâmbio
sadio e renovador. Preso às amarras do cotidiano, sem usar seu potencial de
criação, o indivíduo comunica-se com dificuldade, submete-se a valores sociais
e perde toda e qualquer autonomia.
Para May (1975), em toda atitude criativa deve haver liberdade e
coragem para ultrapassar fronteiras e quebrar antigos padrões em direção à
novidade. Sem os atributos de coragem, liberdade, espontaneidade e integração,
a pessoa encontra impedimentos ao uso dos seus processos criativos, e não
consegue promover mudanças. Como esses impedimentos fazem sofrer, recorre-se à
terapia para facilitar o fluir dos processos criativos.
Joseph Zinker (1979), em El
proceso creativo en la terapia guestáltica, associa criatividade e saúde,
vida e mudança, e aponta para a psicoterapia como um meio de favorecer a
criatividade. A mudança é a condição sine
qua non do processo criativo: transmutações de uma forma em outra, de um
símbolo em um insight, de um sonho em
uma representação dramática são maneiras de interconectar criatividade e psicoterapia,
levando à transformação, à metamorfose, à mudança, segundo o autor.
O indivíduo que tem à sua disposição recursos criativos é capaz,
autêntico, transformador, e se opõe àquele que se apóia basicamente no
ambiente, vivendo de valores externos, de aparências ou, conforme a
nomenclatura da Gestalt, na “camada postiça” — em que o indivíduo não se
compromete com a sua maneira de ser e, por isso, mostra-se sempre da maneira
que, segundo sua concepção, o mundo espera (Perls, 1973 e 1970).
Existem relacionamentos que propiciam e outros que dificultam a
melhor utilização do potencial criativo. Na corrente gestáltica, a própria
relação terapêutica tem características que mobilizam o potencial criativo
natural de qualquer ser humano. Como afirma Friedman, em prefácio ao livro de
Hycner (1995): “A terapia [...] se apóia na relação EU-TU de abertura,
mutualidade, presença e comunicação direta” (p. 12). O clima de aceitação,
empatia, respeito e confirmação do que o cliente é, a clareza de comunicação e
o repertório de experimentos que, usados criativamente, possibilitam a tomada
de consciência e permitem o surgimento de respostas novas para situações
antigas e cristalizadas. O objetivo da psicoterapia é ampliar o potencial
criativo do indivíduo pelo processo de integração (Perls & Stevens, 1975).
Integração é a
assimilação, de modo consciente e responsável, do material que está de acordo
com o “eu” do indivíduo. Para isso, é necessária uma boa capacidade de
discriminação. A fim de que haja integração, o indivíduo deve ser capaz de
avaliar criticamente, de perceber a realidade com poucas distorções. No
trabalho terapêutico, esse processo é favorecido pela relação estabelecida e
pela experienciação que favorece a awareness.
O terapeuta numa relação que favoreça o crescimento recorre a experimentos
vivenciais, valendo-se dos recursos verbais, não-verbais, ambientais e
artísticos de que ele e o cliente dispuserem (Zinker, 1979). Zinker destaca,
então, a curiosidade e o interesse pelos mistérios não revelados e a ousadia para
buscar o desconhecido como características necessárias ao terapeuta criativo.
Para facilitar a mudança, o terapeuta investe na utilização do seu potencial
criativo ao mesmo tempo em que propicia o bom uso do potencial do cliente.
A não-utilização desse potencial e a constante indiferenciação
caracterizam os relacionamentos doentios, que são bastante comuns nos
relacionamentos conjugais e familiares. Nesse caso, as pessoas envolvidas na
relação apresentam distúrbios de contato que, segundo Tellegen (1984), são caracterizados, em grandes linhas, por
excesso de rigidez de um lado, ou de permeabilidade por outro, levando o
indivíduo, enquanto parte do campo, respectivamente, ao isolamento ou à perda
de diferenciação e identidade. (pp. 49 e 50)
Nesse contexto, a aparelhagem sensório-motora e cognitiva do
organismo total está sendo utilizada para impedir a percepção clara da
experiência presente. Recorrendo aqui à teoria organísmica, que fornece
sustentação para a Gestalt-terapia no que se refere à organização da emergência
das necessidades (Goldstein, 1934; Perls, 1951), verifica-se que, enquanto não
são resolvidas as situações inacabadas que surgem como necessidades pedindo
encerramento, o indivíduo não poderá ter um viver individual e um
relacionamento criativo que permita compartilhar, mudar e transformar.
Saúde relaciona-se a movimento. No processo de mudança, a pessoa
se movimenta do conhecido para o desconhecido, enfrenta barreiras e bloqueios,
toma consciência dos impasses que apontam para os impedimentos da vivência do
novo. É nesse momento que, a despeito de todas as adversidades, o indivíduo
aciona seus recursos internos que permitirão a descoberta do novo. Desse modo,
pequenas paralisações fazem parte do processo. Na busca de alternativas para o
futuro, ter consciência dos entraves paralisantes que se fazem acompanhar pela
vivência plena dos impedimentos presentes levará à reorganização das fronteiras
entre o “eu” e o meio, restabelecendo a auto-regulação, ou seja, do fluxo
constante de busca de satisfação das necessidades. Para que tudo isso ocorra, é
preciso a ativação dos processos criativos.
Construtividade
e Destrutividade nas Relações Conjugais e Familiares.
Kurt Goldstein
(1961) me ajuda trazendo outras idéias para o que pretendo expor. Baseado na
noção de figura e fundo da psicologia da Gestalt, Goldstein afirma que o homem
é uma totalidade, um organismo total em constante interação com o meio. Não é
possível pensar o homem separado do ambiente, e, em constante interação, ambos
se modificam: organismo e meio. Aquilo que emerge (figura) a cada momento exige
uma resolução harmônica entre indivíduo e ambiente; não há, desse modo, uma
relação de causa e efeito. Segundo a teoria organísmica de Goldstein (1934), o
homem é participante ativo da rede de interações da qual faz parte, e nela age
segundo prioridades, hierarquizando seus desejos e necessidades. Logo, o homem
potencial age criativamente no meio ambiente, modifica-o e dele obtém os
recursos para transformar-se.
De fato, para lidar com os acontecimentos da vida não é possível
dispor de uma criatividade puramente individual. Há que considerar, num
relacionamento, os aspectos favorecedores, os impedimentos à aceitação e a
rejeição da produção criativa de cada um. É no seio do relacionamento que ocorrem
as mudanças, e é possível vê-las quando, no livre jogo das opções, o indivíduo
arrisca-se em meio à repetição de situações bastante conhecidas que surpreendem
a si a aos outros. A atividade criativa favorece a solução de conflitos que
surgem de tempos a tempos clamando por uma resposta inovadora. Resulta daí a
saúde e a renovação.
Duas pessoas, quando se casam, constroem uma nova totalidade, um
novo organismo, diferente das pessoas individuais juntas. Desenvolvendo um novo
contorno, elas formam a fronteira do “nós” ou da conjugalidade. Mais tarde
quando têm filhos mais um “nós” é formado pela fronteira da família.
Segundo Zinker
(1994), para compreender relações complexas, temos de traçar fronteiras em
torno das coisas, fenômenos ou eventos. Zinker desenvolve estudos com casais
e famílias com base na interconexão entre a teoria sistêmica herdada de Ludwig
von Bertallanfy (1972), Gregory Bateson e Don Jackson — que, como já vimos,
considera o casal um sistema ou ainda um subsistema do sistema família no qual
os membros da família influenciam-se mutuamente —, a teoria de campo de Kurt
Lewin (1973) — que considera o comportamento humano função das interações do
indivíduo num dado lugar e num determinado espaço de tempo — e a Psicologia da
Gestalt. O casal, como organismo, é um todo complexo, determinado por múltiplos
fatores e para compreender seus conteúdos deve-se adotar uma visão mais ampla,
em que se recorre a analogias, imagens e metáforas (Zinker, 1994).
Para
compreender os ajustamentos criativos que ocorrem na vida familiar, é
necessário compreender o que ocorre na fronteira da conjugalidade ou da
família. Perls (1951, 1969) se interessou pelos fatos que acontecem nas
fronteiras, especificamente pelas possibilidades e impossibilidades que vão permitir
ou não o ajustamento criativo ao longo do processo de conscientização ou awareness. Se não houver obstáculos na
fronteira, faz-se o contato com o novo, e, desse modo, a descoberta e a
transformação se realizam.
O contato é muito valorizado pelos Gestalt-terapeutas. Conforme
Polster & Polster (1979), o contato é definido pela função de união e
separação de partes diferentes. Seres diferentes se encontram, arriscam-se a
ser capturados na união e separam-se modificados.
O processo de mudança exige
capacidade de fazer contato. Zinker alerta para o fato de que o contato sadio
ocorre tanto entre os membros do casal quanto das famílias. O trabalho
terapêutico com famílias, desse ponto de vista, implica intervenções na
totalidade, tendo como base o favorecimento da eclosão e da resolução de
situações não resolvidas que atuam na relação dos membros. Para isso, há que
pôr em evidência por um lado todos os aspectos onde as pessoas envolvidas são
capazes de fazer um bom contato e por outro as evitações, os bloqueios, as
resistências, e encontrar, quando possível, novas formas de contato.
Os casamentos atuais incluem unidades bastante diferentes, entre
as quais casais que vivem juntos com filhos, sem filhos ou com filhos de outros
casamentos; casais que se separam e recasam; casais que se casam com pessoa do
mesmo sexo. Todas essas opções têm fronteiras que distinguem cada membro e que
permitem o contato com outras pessoas. Além disso, dependendo da fluidez e da
permeabilidade da fronteira do “nós”, os familiares se unem e se separam em
unidades individuais. Aliás, o bom funcionamento no âmbito da família depende
em grande parte de como os parceiros conseguem fazer encontros saudáveis na
fronteira do “eu” e na fronteira do “nós”. É necessário que prevaleça um ritmo
harmonioso de união e separação, o qual favoreça, de um lado, a intimidade e,
de outro, a individualidade. Como as fronteiras não são estáticas — pelo
contrário, estão em constante movimento — pelo que já foi colocado, é preciso
boa percepção da realidade para avaliar a possibilidade de contato a cada
momento. Desse modo, o emprego da criatividade é fundamental para experimentar
novos contatos.
O exame desses
fatores presentes na fronteira de contato permite entender o que Perls chamou
de ajustamento criativo. O ajustamento criativo no relacionamento familiar,
como em qualquer outro relacionamento, implica flexibilidade na fronteira para
experimentar novos contatos. Para experimentar, é preciso ter auto-suporte. O
auto-suporte orienta o indivíduo na escolha da atitude mais adequada em
determinada situação, a fim de que essa mesma situação seja recriada e
(re)significada. O auto-suporte refere-se à capacidade de mobilizar os recursos
internos para criar situações novas quando elas se fazem necessárias. O
auto-suporte é a base para maior auto-estima, segundo Satir (1980), autora que
se destaca na abordagem sistêmica como pioneira no trabalho com casais e
famílias. Satir refere-se à interação marido e mulher enfatizando as
capacidades de auto-estima e diferenciação como fatores importantes para o
entendimento da qualificação da interação entre os cônjuges (Calil, 1987).
No casamento histórias diferentes se misturam, e surge então uma
nova totalidade, uma estrutura, um fluir de comunicação. Esse é o primeiro
sinal de criação na vida em comum. As pessoas que se escolhem passam a
funcionar num estilo diferente, com linguagem própria, seguindo um ao outro. Os
limites pessoais são ultrapassados numa aliança que se faz fértil e
desafiadora. Personalidades diferentes, com diferentes habilidades para viver o
mundo, unem-se para construir algo maior, e assim vão compor uma nova
fronteira, a fronteira da conjugalidade.
A vida compartilhada própria das pessoas que se amam é
construída, mediante nova linguagem, novas regras que definem as peculiaridades
de um casal. Na vida conjugal existe um ritmo de autonomia e dependência mútua
que, mesmo sem comunicação explícita, favorece o “viver com”, de um lado, e a
vivência da individualidade, do outro. Num momento, surge o indivíduo com suas
questões pessoais, únicas, particulares; noutro, surge o par, e desaparecem as
fronteiras entre o “eu” e o “não-eu”. Uma relação criativa inclui, por
conseguinte, movimento. Pelo amor, expande-se, transcende-se, cria-se,
transforma-se e retorna-se renovado; o criar, assim, é prazer que liberta e
expande as fronteiras do eu.
Tentei mostrar até aqui a possibilidade de pensar numa teoria
para casais e famílias baseada na saúde. No entanto, uma série de obstáculos
impede este viver criativo. Deter-me-ei nas situações inacabadas.
Um relacionamento patológico é marcado pela repetição. Sem
possibilidade de perceberem-se diferentes e diferenciados dos modelos
anteriores, ou presos a forças ligadas a vivências do passado, os membros do
par não conseguem empreender mudanças. Sem que haja nenhuma alteração, o
relacionamento fica estagnado. Os cônjuges trazem para as relações atuais
experiências passadas e, se estas ainda não tiverem uma resolução, o atuante é
justamente a situação problemática. A repetição leva ao enfado, à mesmice,
deixando claros os sinais de desgaste no relacionamento. As situações bem
resolvidas oferecem uma maior possibilidade de discriminação, já que a
percepção presente não está tão contaminada com os fantasmas do passado. Caso
contrário o universo conjugal tende a ruir. Surgem as desavenças, os impasses,
as acusações, as desqualificações e brigas por qualquer motivo.
Comumente, quando as pessoas casam estão apaixonadas. A paixão
inclui um clima de encantamento, fantasias, sonhos, expectativas e desejos,
sendo que a pessoa desejada é vista de forma muito idealizada. O cotidiano
oferece um cenário extremamente favorável para o término da paixão. Se as
pessoas não sabem lidar com perdas e elaborar lutos, as decepções que se vão acumulando
no dia-a-dia e os desencantos decorrentes favorecem reações de raiva, que vão
aos poucos corroendo a relação.
Quando, nessas circunstâncias, o casal opta por se separar, além
de sofrer com a ruptura, cada um pode carregar para outras relações mais uma
situação inacabada, que tende a se repetir. Há, no entanto, pares que se mantêm
sob o mesmo teto num vínculo em que imperam as agressões mútuas, variando das
formas mais sutis até a violência física. Em outras situações, cada um passa a
viver sozinho o seu mundo psíquico, não havendo a partilha tão importante para
o convívio conjugal. Nesse caso, os cônjuges vivem em segredo, e cada um
investe a sua energia em projetos individuais. Os relacionamentos tornam-se tão
superficiais, que muitas vezes a intimidade é dirigida para situações externas,
enquanto as áreas de silêncio protegem o par.
Um outro exemplo de relacionamento destrutivo é quando um dos
membros não aceita diferenças e insiste em fazer do companheiro algo que ele
não é. Caso o companheiro se ajuste ao papel, fica identificada uma relação de
submissão, em que um exerce o poder e o outro concorda em ceder, anulando-se. O
par, nessa ótica mantém uma relação extremamente confluente.Se o parceiro não
se submete, não há negociação possível; a dupla vê-se diante de um impasse,
visto que não existe espaço para renúncia e confrontações.
Existem ainda cônjuges que desenvolvem patologias
complementares, isto é, fazem escolhas pautadas na doença. Desse modo, vê-se no
âmbito conjugal pares que apresentam papéis cristalizados de protetor e
protegido, algoz e vítima, herói e vilão, forte e fraco, médico e paciente.
Alguns outros casais se dão ao requinte de intercambiar os papéis citados,
mantendo suas relações como numa gangorra. Ressalto que tudo isso acontece com
a conivência de ambos, numa cumplicidade que mantém agonizante a relação
conjugal.
É surpreendente perceber como os casais desenvolvem alianças
perversas em que a inveja, a competição desenfreada, o ódio e a violência
imperam. Enredados por (re)vivências antigas, que se misturam com as novas,
eles não podem perceber suas distorções e contaminações. O que era um
engajamento amoroso transforma-se em guerra conjugal, que se faz em torno das
vivências de incompreensão, de injustiça e traição, porque não há
correspondência entre o concebido e o percebido. Dessa maneira, fica
intolerável reconhecer a dependência, porque perceber o outro separado de si é
ser dependente desse outro para uma série de gratificações pessoais.
Quando o casal depara-se com essas situações, vê-se impedido de
transformar a relação, e o crescimento de cada membro do par fica tolhido. Na
tentativa de os parceiros resgatarem questões tão primitivas, em que estavam em
pauta amor, ciúme, rivalidade, ódio, competição, sexo e morte, o que era um
conto de fadas torna-se um pesadelo ou uma tragédia.
A terapia pode ajudar os
casais e familiares a manejar esses conflitos e crises usando seu potencial de
criatividade na resolução dos problemas. Na terapia, a capacidade e competência
da família como um todo é revista e oferece o suporte necessário para a
mudança. Com este suporte é possível que os familiares ou a dupla conjugal
trave uma luta complexa onde a tolerância à angústia e a presença da dor abrem
a possibilidade de refletir, experimentar e estabelecer um novo contato com a
sua realidade individual, conjugal ou familiar.
O nascimento dos filhos ou a adoção conduzem à formação da
totalidade familiar. Eles influem na conjugalidade solidificando ou abalando o
vínculo, trazendo acomodação e/ou transformação. As doenças, as preocupações, a
educação que deve ser dada, as questões econômicas, a necessidade de contar com
outros parentes para cuidar, os perigos a que estão expostos adolescentes e
crianças de diferentes idades refletem no relacionamento do casal e nos filhos.
Surgem as doenças, os sintomas, o mal-estar e a violência, minando o universo
da família. Mais uma vez é possível que sejam acionados mecanismos antigos da
família de origem para lidar com a gama de situações que podem surgir e que nem
sempre se afiguram adequados diante das mudanças rápidas pelas quais o mundo
está passando. Novas crises, novos enganos, novas decepções. Em meio a
vivências de conflitos e crises, o trabalho terapêutico favorece a descobertas
de novas formas de ser e de viver em família.
Considerações Finais
Embora os trabalhos com casais e famílias na concepção
gestáltica estejam se desenvolvendo mais recentemente, na literatura que
consultei desde a década de sessenta do século passado existem referências
sobre o assunto. Contudo, poucos são os escritos sistematizados na abordagem se
compararmos com outras abordagens e em particular no que se refere à concepção
sistêmica que oferece uma vasta opção de estudos sobre o tema em questão.
A Gestalt-terapia, no entanto, desde os seus primórdios se
coloca como uma vertente relacional não havendo a possibilidade de se descartar
o relacionamento conjugal e o familiar nesse contexto. Perls (1973), ao
referir-se ao campo organismo/meio deixa claro não só o fato do indivíduo existir
em relação como o de se contatar através da fronteira ou limite de contato.
Esses conceitos se constituem fundamentais para trabalharmos com casais e
famílias.
A Gestalt-terapia e a terapia sistêmicas valorizam a relação
estabelecida entre os componentes de um casal ou de uma família prevalecendo no
relacionamento estabelecido aspectos mais saudáveis ou mais patológicos.
A terapia sistêmica apresenta conceitos bem definidos levando os
terapeutas a se sentirem mais seguros, na medida em que terapia gestáltica, por
suas próprias crenças filosóficas pretende ser mais aberta para dar lugar à
criatividade. Insisto que é justamente a crença que o gestaltista tem no
potencial criativo do homem que abre a
possibilidade para trabalhos com diferentes formas de grupo.
A terapia sistêmica tem um corpo de terapeutas oriundos de
outras abordagens o que favorece a um maior intercâmbio e a produção de textos
técnico-científicos variados. Não afirmo, mas desconfio que há uma preocupação
maior com artigos e pesquisas do que na Gestalt-terapia, já que, nesta última a
ênfase recai muito comumente no praticar.
Por outro lado fazendo parte desse corpo de terapeutas só muito
recentemente, aqui no Brasil, os gestaltistas começaram a se manifestar.
Acredito que num futuro bem breve estejamos dando nossa contribuição e, a esse
respeito, destaco a pertinência do método fenomenológico como aquele capaz de
dar conta do enorme número de questões que envolvem o relacionamento conjugal e
familiar.
Quanto a mim não encontrei novos recursos, até mesmo porque
confesso que me sinto um pouco traindo aquela que escolhi como a linha
terapêutica que correspondia a tudo que eu precisava como profissional.
Contudo, os olhares diferentes, a posição de muitos autores enriqueceu-me e
deu-me maior segurança para trabalhar com casal e família. Talvez possa falar
mais desses autores em um próximo trabalho. Além do mais, meus primeiros
supervisores nestes trabalhos, aos quais eu muito agradeço, eram terapeutas
sistêmicos e inevitavelmente influíram na minha prática.
Procurei apresentar alguns poucos motivos para justificar a
relevância dos pressupostos gestálticos na psicoterapia de casal e de família.
Espero que outros profissionais da área se estimulem a escrever e publicar suas
experiências de maneira que possamos transmitir aquilo que a nossa prática tem
demonstrado: a Gestalt-terapia como uma abordagem que oferece os recursos para
fazer face às questões mais atuais deste novo milênio.
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[1] Awareness: palavra inglesa que significa “dar-se conta de”. Não tem tradução nem correspondência exata em português. Segundo Ciornai (1995) a awareness opera nos níveis sensório-motor, emocional, cognitivo e energético.