Recursos, soluções e
possibilidades: um tributo a Milton H. Erickson- minha voz irá contigo
Marcos Bueno
Todos os
recursos para resolver nossos problemas estão dentro de nós. Milton H. Erickson
Resumo: O
artigo busca um olhar sobre três palavras-chaves em nossas vidas: recursos,
soluções e possibilidades. Sabendo utilizá-las adequadamente, saudavelmente
podemos desfrutar da felicidade de realizar nossos sonhos e projetos pessoais.
Palavras-chave:
recursos, soluções, possibilidades e utilização.
Artigo:
Uma vida bem
vivida depende de como observamos e percebemos os recursos, as soluções e as
possibilidades.
Fomos
educados para perceber, sentir e falar sobre problemas, dificuldades e
limitações.Essa visão pessimista e reducionista acaba nos limitando num mundo
de infinitas possibilidades como dizia e deu seu exemplo de vida o psiquiatra,
psicólogo e educador americano Milton H. Erickson.
Falando um
pouco de Milton H. Erickson.Ele nasceu no dia 15 de dezembro de 1901 na cidade
de Aurum, Nevada, numa fazenda, filho de pequenos fazendeiros, foi criado e fez
o curso básico na escola rural.Aos quatro anos Erickson ainda não falava e aos
domingos ele ia a igreja com seus pais e lá ele e sua mãe eram obrigados a
ouvir aquela ladainha, por que o Milton ainda não está falando? Será que ele é
normal? Será que ele não tem algum problema? E outras coisas do tipo.
Milton
segurando nas mãos de sua mãe aguardava a sua defesa e sua mãe que era muito
sábia, tranqüilamente, saudavelmente respondia as pessoas inquietas: Não se
preocupem quando o Milton estiver pronto ele vai falar.E o Milton expressava um
leve sorriso de confiança em sua mãe. Por volta dos cinco anos, Milton começou
a falar e mais tarde se tornou o pai da Comunicação Estratégica, da Programação
Neurolinguistica - PNL, da Hipnose naturalista e da Psicoterapia breve. Tudo
isso se tornou possível, muito provável a paciência e confiança de sua mãe.
Milton entrou
na escola aos sete anos e tinha dificuldade com a aprendizagem, sua professora
o estimulou a utilizar o dicionário que ele leu mais de cinco vezes até os doze
anos quando descobriu que ele tinha dislexia.Milton desde pequeno revelava sua
capacidade bem humorada para lidar com problemas, dificuldades e
limitações.Superou todas.
Descobriu
também que ele era daltônico, só percebia a cor roxa, mas isso só influenciou
na decoração de sua casa. Aos 17 anos teve uma poliomielite grave que resultou
numa paralisia total, foi desenganado pelos médicos, com muito esforço
conseguiu sair da cama e começou a aprender a andar novamente observando sua
irmã caçula de dois anos.Entrou para a universidade usando muletas e depois
passou a utilizar a bengala, especializou-se em psiquiatria e um mestrado em
psicologia, especializou-se em hipnose e foi professor e terapeuta até os
últimos dias de vida aos 78 anos.
Teve uma vida
pessoal, acadêmica e profissional de sucesso e superação de desafios
permanente.Especialmente com relação a sua saúde que era bastante preocupante.
Aos quarenta e oito anos teve nova recidiva de poliomielite que o deixou na
cadeira de rodas até o final de sua vida.Ele e sua família precisaram se
adaptar as suas novas e limitas condições físicas.Teve que se transferir dos
hospitais e universidade onde trabalhava como diretor de pesquisa e psiquiatra
chefe para a cidade de Phoenix no Arizona devido ao clima ser mais seco e
propicio a sua saúde.
Sua esposa
Elizabeth Erickson teve um papel determinante na vida de Erickson, ela não foi
apenas uma esposa, foi uma companheira de vida, de desafios, superação,
crescimento, descobertas.Lendo o livro Homenagem a Elizabeth Moore Erickson,
editorial Diamante e escrito pela terapeuta Marilia Baker a autora cita “este
livro é uma homenagem a uma mulher extraordinária, profissional, esposa, mãe e
companheira e a um casal. Mas é também uma homenagem a todas mulheres e a todos
os casais que querem construir, viver e experienciar juntos sua vida”.
“A vida não é
algo a que se possa dar uma resposta imediata. Você pode usufruir o processo da
espera, o processo de você se tornar você mesmo, você mesma. Não há nada mais
prazeroso do que plantar sementinhas de flores e não saber quais variedades
irão brotar”. Milton H. Erickson (do livro Homenagem a Elizabeth M. Erickson).
Erickson foi
considerado por muitos um gênio por criar recursos psicoterapeuticos
aparentemente absurdos para a psiquiatria e a psicologia americana nas décadas
de 40 a 70.
Alguns o
achavam um impostor por não gostar das teorias acadêmicas, porém ele conseguia
resultados simplesmente impressionantes e até hoje muitos de seus alunos e
pesquisadores não conseguem explicar.Erickson afirmava que não era adequado
colocar o paciente dentro de uma teoria como se fosse a “cama de Procusto”.Ele
dizia que a terapia tinha que ser feita sob medida e a medida era o paciente
único que estava ali na sua presença, que veio até você buscando ajuda e
esperando acolhimento, respeito, compreensão.
O que sabemos
é que Erickson utilizava a observação e a percepção com muita eficácia, o poder
da comunicação e da "intuição" de forma brilhante.Sabemos também que
de forma geral somos deficientes na comunicação e mais ainda na intuição,
especialmente devido a nossos preconceitos, portanto só poderia ser absurdo o
que ele fazia.
Tive
oportunidade de fazer cursos com alguns de seus ex-alunos e eles são muito bons
principalmente no cuidado com o ser humano, na amorosidade que é o que falta
nas chamadas abordagens acadêmicas tradicionais, onde se preocupam mais com a
técnica, com a teoria, com o nome das doenças e esquecem do humano.
A técnica de
Erickson era muito focada em histórias, anedotas e metáforas.Era uma linguagem
indireta de atingir o inconsciente.Ele dizia que o consciente é inteligente e o
inconsciente é sábio, portanto exige uma comunicação diferente para acessá-lo,
entendê-lo, interpretá-lo.
Certa vez
Erickson disse ao Dr. Sidney Rosen seu ex-aluno “que o que você não
percebe,Sid, é que a maior parte da sua vida está determinada de forma
inconsciente”.E Rosen mais tarde percebeu que o que Erickson queria dizer era
que todas e cada uma de nossas experiências atuais afetam tanto nossa mente
consciente quanto nossa mente inconsciente.E continua Rosen (2003) se leio
algum texto que me inspira, minha mente inconsciente terá se modificado; o
mesmo acontece se conheço uma pessoa importante ou especial para mim.
Na verdade, a
eficácia de qualquer terapia, de qualquer educação ou relação fundamentá-se na
capacidade da pessoa para se transformar, em grande parte em conseqüência de um
encontro com a outra ou com outras pessoas como também aborda a fenomenologia
de Martin Buber e a Gestalt-Terapia de Pearls.
Erickson
também não trabalhava as resistências da forma tradicional como uma
dificuldade, um problema, ele incorporava as resistências como material útil e
integrava a queixa do paciente, com isso reduzia a angustia do terapeuta em
ficar lidando com as resistências.Ele dizia que é preciso trabalhar com tudo o
que o paciente trás ao consultório, tudo tem sua importância, é preciso
observar, perceber, ler e interpretar os significados.
A vida é
relação, contato, encontro, motivação e mudanças.Tudo acaba sendo uma forma de
intervir consigo ou com o outro.A questão central é a qualidade da
intervenção.Rosen (2003) cita que nas intervenções de Erickson, ao contrário,
provocavam mudanças que se autoperpetuavam gerando outras mudanças. Talvez isso
acontecesse porque apontavam na direção do crescimento e da “abertura” pessoal.
A filosofia de Erickson era de que cada individuo é importante e pode melhorar,
e cada um tem suas próprias possibilidades de crescimento.
A filosofia
de Erickson não é novidade, porém, por que deu certo para ele e não funcionava
com outros terapeutas e educadores? Talvez seja porque Erickson vivenciava o
que ele fazia.Não era uma teoria abstrata como ele sempre dizia, era
intervenção sob medida.Acontecia um encontro de dois especialistas, um em ser
humano o outro na terapia.
Os pacientes
quando vão ao consultório vão buscar ajuda para aliviar seu sofrimento e não
para receber uma aula teórica sobre as possíveis causas do sintoma.Só que a
maioria dos profissionais foram treinados para dar aulas aos pacientes,
utilizando uma terminologia rebuscada e incompreensível ao leigo.Não acontece o
mais importante, a comunicação.O resultado não aparece, muitas das vezes
consegue-se aliviar o sintoma.Erickson também não se preocupava com as causas,
pois achava que vasculhar no passado em busca das causas era um luta quase
sempre inglória, porque a lembrança e a memória mudam e o processo é muito
complexo.
Erickson que
foi também muito bom educador deixou observações do tipo quando você conta uma
história os alunos prestam atenção, ficam atentos, focados, concentrados (eles
estão num transe hipnótico e você pode entrar num transe junto com eles também)
quando acontece esse estado alternativo de consciência ocorre uma expansão da
consciência e o aprendizado é muito maiores, interessantes, prazerosos,
motivador.
Quando o
professor dá uma aula tradicional, os alunos ficam inquietos, conversam muito,
ficam nervosos, brigam, dormem, etc. Por que? Simplesmente não estamos
conversando com eles em um canal adequado.O bom comunicador é aquele que
conhece os diversos canais de comunicação (visual, auditivo e cinestésico) e os
utiliza eficientemente, ele percebe os momentos que deve mudar o canal para
despertar os ouvintes, alunos, platéia, pacientes, pais, etc.
Quando
utilizamos uma história, uma metáfora com os alunos e pacientes de forma
adequada ao contexto, a terapia acontece.Como dizia Erickson quando induzia
seus pacientes ao transe natural...minha voz irá contigo. Isto tudo foi um
pouco do legado de Erickson.
Bibliografia
consultada:
FREIRE, Paulo.Educação
como prática da liberdade. Ed.Paz e terra, São Paulo,1978.
GAIARSA, José
Ângelo. Amores perfeitos. Ed. Gente.São Paulo, 1994.
Haley,Jay.Terapia Estratégica. Editorial Summus,1994.
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________________. Raízes profundas.São Paulo: ed. Psy II,
2000.
ROGERS, Carl
R. Sobre o poder pessoal.Livraria Martins Fontes editora, São Paulo,
1978.
ROBLES,Tereza.Revisando
o passado para construir o futuro.Ed.Diamante/BH
TELLES,
Izabel. Feche os olhos e veja.Ed. Agora, 2003.
ZEIG, Jeffrey K. Vivenciando Erickson. Livro
Pleno.Campinas: 2003.
MENDONÇA,José Augusto
e Mendonça,Ângela. Abrindo portas com amor.Editorial Diamante, 2004.
_______________.A
magia da hipnose na psicoterapia.Editorial Psy,Campinas/SP.
Autor: Marcos Bueno
Currículo:
Psicólogo de orientação gestáltica e ericksoniana, fundador do NUP-GT de
Uberlândia/MG, professor universitário, Mestre em Gestão da Inovação
Tecnológica e Ambiental pelo PPGEP/UFSC, Especialista em Administração pela FGV
e UFU/Université du Quebèc a Trois Rivières e formação em Psicologia pela UnG,
ex-gerente de RH e Qualidade, em formação em psicoterapia e hipnose
ericksoniana no Instituto Milton Erickkson de BH entidade filiada a The Milton H.
Erickson Foundation, Inc., de Phoenix, AZ, EUA, membro do Instituto
Milton H. Erickson do Triângulo Mineiro e membro da Academia Catalana de
Letras.
E-mail: mlbueno@brturbo.com