ARTIGO

A rosa no túmulo de minha família – uma dança entre terapeuta, resistência e cliente

The rose on the tomb of my family – therapist, client and resistance dancing together

 

Eloisa Marília de Souza*; Fábio Nogueira Pereira**

Faculdades Integradas São Pedro - FAESA - ES.

Endereço para correspondência

 


RESUMO

O presente artigo se baseou na análise de um atendimento realizado por Robert Resnick em um treinamento da "Gestalt Associates Training Los Angeles" (GATLA) gravado em vídeo. Nosso objetivo era através o atendimento discutir a relação dialógica, um dos principais pressupostos da abordagem gestáltica contemporânea. Abordamos aspectos como alteridade, confirmação, resistência, entre outros que são fundamentais para que, através de uma relação de respeito, abertura e entrega, o cliente possa se colocar por inteiro e viver um encontro transformador. Acreditamos que usar um caso real e gravado em vídeo possibilita discutir mais detalhadamente como a relação dialógica é capaz de promover a dissolução de resistências e ajudar o cliente a alcançar novas compreensões sobre suas vivências de forma mais segura.

Palavras-chave: Relação Dialógica; Gestalt-terapia; Pesquisa Documental.


ABSTRACT

This paper is the result of a documentary research of a individual work done by Robert Resnick with a therapist during a Gestalt Associates Training Los Angeles (GATLA) intensive program recorded on video. Our objective was to analyze a therapy session in order to discuss the dialogical relationship, one of the main premises of contemporary Gestalt Therapy. Aspects such as alterity, confirmation, resistance, among others that are fundamental to this approach were addressed. Distinguished authors state that, through a relationship in which respect, openness and dedication are present, the client can express himself fully and live a transformative encounter. We believe that using the video recording of a real case would enable a deeper discussion on how the dialogic relationship can promote the dissolution of resistances and help the client to reach new understandings about their experiences in a more safe way.

Keywords: Dialogical relationship; Gestalt Therapy; Documentary research.

 

 

Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer.
Confúcio

O processo psicoterapêutico se distingue pela relação estabelecida entre terapeuta e cliente. Esta relação tem características próprias e deve criar um contexto adequado para o autoconhecimento, a expressão e o crescimento da pessoa como ser único que é. A relação terapêutica em Gestalt-terapia abrange, entre outros aspectos, um relacionamento que preza pelo encontro de diferenças e potencialidades. O terapeuta de prática dialógica se faz disponível ao outro, o reconhece como se apresenta e se permite ser tocado e transformado pelo modo de ser de seu cliente. A terapia, então, se torna travessia e transformação compartilhadas, desvelando a beleza do encontro dialógico.

A ideia da neutralidade na clínica psicológica é um equívoco demasiadamente difundido. Não há neutralidade nas relações humanas, muito menos numa relação profunda e íntima como a estabelecida num processo psicoterápico. Em Gestalt-terapia, entendemos que o terapeuta é anfitrião e proporciona um ambiente no qual seu envolvimento é imprescindível – visto que é inevitável. Pelo contrário, a autenticidade e afetação dos envolvidos se torna a via para que o processo de crescimento ocorra satisfatoriamente, uma vez que o crescimento é compartilhado por terapeuta e cliente. Porém, devemos lembrar que, por se constituir pela prestação de um serviço, o papel do profissional é contribuir para que o cliente alcance melhor consciência os contatos presentes, sobre si mesmo e o ambiente. O resultado esperado é a retomada do autossuporte, a capacidade de escolha e de ação, todos direcionando para o crescimento criativo e saudável, bem como a autonomia responsável.

Abordaremos ao longo do texto a relação estabelecida entre terapeuta e cliente a partir de uma concepção dialógica. Apresentaremos aspectos fundamentais da Gestalt-terapia com foco na relação dialógica a partir de alguns autores que foram influenciados por Martin Buber e suas obras. Nosso objeto de investigação será um atendimento realizado por Robert W. Resnick gravado em vídeo, onde ele lida com uma cliente que apresentava resistência inicial para abertura. Queremos proporcionar, a partir da análise do vídeo, uma visão mais ampla da vivência na clínica, além de superar uma estereotipia das práticas gestálticas vinculada aos vídeos de Fritz Perls na perspectiva do terapeuta iniciante. Pretendemos, ainda, discutir como se dá essa relação usando o vídeo do atendimento como suporte a fim de compreender melhor a transformação que a psicoterapia pode proporcionar ao terapeuta e ao cliente; afinal, ambos são pessoas que contribuem para a criação de novos significados na relação estabelecida e que mudam através dela. Mesmo em casos com clientes que apresentem alguma resistência, ou seja, que inicialmente não demonstram abertura para o estabelecimento desta relação, entendemos que é possível criar vínculo e produzir um campo potencialmente rico e transformador.

Consideramos relevante o estudo de um atendimento real, pois possibilita uma compreensão mais ampla daquilo que muitas vezes psicólogos em formação só têm a oportunidade de ver em teoria ou através de transcrições de atendimentos. Nossa escolha também se deve ao fato de que, no Brasil, ainda encontramos poucas possibilidades atendimentos viabilizados através de registro em vídeo, para estudo. Entendemos que materiais como esses podem contribuir muito para ampliar a visão de novos profissionais tendo o Dialogismo e a Gestalt-Terapia com foco processual.

Chegamos à relação dialógica como tema de investigação após extenso levantamento bibliográfico sobre a prática clínica gestáltica e assitir vídeos de atentidmento de Robert Resnick. Consideramos o Dialogismo um assunto e prática apaixonantes, pois nele vemos a singularidade da entrega, do vínculo pessoa a pessoa, a essência para um verdadeiro encontro transformador.

 

DE ONDE VIEMOS? – AS BASES EPISTEMOLÓGICAS DA GESTALT-TERAPIA

A Gestalt-terapia surge em meados do século passado junto com o movimento da psicologia humanista. Esta concebia uma nova visão de homem, bastante diferente daquela até então trazida pelos comportamentalistas e psicanalistas, abordagens predominantes naquela época e que tinham características prevalentemente deterministas. Questões como criatividade, desenvolvimento do potencial humano e autorrealização são pontos relevantes para as escolas que nasciam naquele período com a proposta de auxiliar as pessoas a se descobrirem como referência na criação de propósito para suas vidas (FRAZÃO, 2013).

Fritz Perls foi o responsável pelo pontapé inicial desta nova abordagem, juntamente com sua esposa Laura. Fritz queria revisar o modo como a Psicanálise entendia alguns temas e buscou em outros autores o embasamento para compreender além dos limites teóricos que tal escola o encerrava. Laura era estudiosa dos existencialistas Heidegger e Kierkegaard, bem como de fenomenólogos como Husserl e Scheler. Frazão (2013), Ginger e Ginger (1995) e Stoehr (1994) nos lembram que nesta empreitada, Fritz, Laura e outros desenvolvedores iniciais da Gestalt-terapia contaram ainda com a contribuição e influência de vários outros nomes importantes como Wilhelm Reich, com quem Fritz iniciou sua análise didática e de quem tomara emprestado o termo "terapia da concentração" para designar aquela que futuramente seria chamada de Gestalt-terapia. Além de Reich e sua Vegetoterapia com ênfase nos aspectos subjetivos expressos no corpo, a ideia de "aqui e agora" de Otto Rank ganhou espaço através de Paul Goodman (STOEHR, 1994). Entre os anos de 1950 e 1960, Perls realizou muitos workshops nos Estados Unidos representando uma das duas correntes então existentes, focando em intervenções dramáticas e incisivas. A outra escola gestáltica era representada por Laura Perls e os Institutos de Nova York e de Cleveland (FRAZÃO, 2013; STOEHR, 1994). A Gestalt-terapia passou a ser conhecida no Brasil nos anos 1970 através da pioneira Thérèse Tellegen (1972), despertando o interesse de vários psicólogos para o estudo e desenvolvimento desta abordagem.

Nunca podemos supor originalidade na elaboração de uma corrente filosófica, visto que algum pensamento anterior serve de base para sua formulação, seja concordando ou discordando em algum ponto (REHFELD, 2013, p.24-27). Perls em várias obras fala dos autores que contribuíram para que pudesse chegar à ideia do que tornaria a Gestalt-terapia (ver Perls, 1979, por exemplo). Tais convergências/divergências ocorreram também no advento da Fenomenologia. Em 1884, Husserl conheceu Franz Brentano através de seus cursos na Universidade de Viena e, a partir daí, passou a afirmar que não haveria apenas uma ciência única e verdadeira, mas várias ciências, cada qual com suas características e peculiaridades quanto ao objeto de estudo e seus métodos investigativos. Husserl foi categórico ao afirmar que não era possível transferir a forma de se produzir conhecimento das ciências naturais para o esforço que a Psicologia fazia a fim de compreender a vivência humana (REHFELD, 2013, p.26).

Assim, vemos que a Gestalt-terapia é uma das herdeiras da Fenomenologia ao trazer para seu fazer ferramentas que mudariam a prática do terapeuta. Para termos condições de compreender a singularidade do sujeito e a particularidade de sua vivência é necessário se desfazer do referencial prévio, da interpretação e do senso comum. Colocamos em suspenso os pressupostos a fim de ir ao encontro da pessoa que se coloca ali e apreender aquilo que lhe é específico através de uma nova compreensão. Para Rehfeld (2013, p.30-33), isso é tanto uma atitude fenomenológica quanto gestáltica.

Neste mesmo passo, encontramos diversos autores que, em meados do século XX, se incomodam com a predominância do racionalismo e do cientificismo. Podemos citar Sören Kierkegaard, Jean-Paul Sartre, Martin Heidegger e Martin Buber como alguns que acabam por marcar o pensamento filosófico descontente com o paradigma vigente e que chegam à Gestalt-Terapia como um aporte epistemológico que marcou esta escola psicológica (FRAZÃO, 2013; GINGER; GINGER, 1995). Esses pensadores apresentaram reflexões sobre o modo de ser do homem no mundo e despertaram uma nova maneira de conceber a relação da pessoa consigo, com outros outros, o mundo e a vida.

Encontramos então, o Existencialismo, que é um movimento filosófico que surge na Europa Ocidental e tem como perspectiva a noção de um homem livre para construir sua própria existência, se tornando o único responsável por ela. Em outras palavras, o homem é um ser livre para definir sua essência e construir conscientemente sua vida, através de suas próprias escolhas. Tais pressupostos repercutem essencialmente na Gestalt-terapia, tanto no âmbito teórico quanto prático, pois o papel do terapeuta será conduzir o cliente, ser único e livre para o autossuporte e a autonomia, considerando suas potencialidades e limites, suas responsabilidades e escolhas em relação ao seu modo de viver no aqui-e-agora (FRAZÃO, 2013; GINGER; GINGER, 1995).

Tomando a Fenomenologia e o Existencialismo como referenciais para a Gestal-terapia, nos torna claro que ninguém é mais capaz do que a própria pessoa para compreender, interpretar, significar e intervir em sua vida. Também entendemos que isso somente é possível na alteridade, aspecto destacadamente abordado pelo filósofo e teólogo hassídico Martin Buber.

A obra "Eu e Tu" de Buber é amplamente citada quando se lê a respeito de relação dialógica. Esta "representa, sem dúvida, o estágio mais completo e maduro da filosofia do diálogo de Martin Buber" (ZUBEN, 2001, p.XL). O conceito de relação para Buber representou o que de mais essencial pode acontecer entre os homens e entre o homem e Deus. Porém, o existencialismo dialógico, seja de Buber, Tillich ou Marcel, apresentados a Fritz Perls por Laura Perls, mantém para ele distância do viés teísta e adquirindo uma radicalidade humanista que o aproxima muito mais de Sartre (PERLS, 1979).

Essa compreensão acerca da relação trazida da filosofia de Buber é o principal diferencial entre a psicoterapia dialógica e outras teorias que privilegiam um modelo individualista de pessoa e que colocam o aspecto relacional em segundo plano (CHAGAS, 2016). A cultura contemporânea reforça a ideia de individualidade insular; contudo, a individualidade defendida pelos autores dialógicos se mostra diferente, uma vez que somente pode ser compreendida como um dos pólos de uma existência que é naturalmente relacional. O Dialogismo rompe com esse caráter moderno da insularidade e prioriza o aspecto "inter-humano", ou seja, o produzido no encontro de duas pessoas é muito maior do que a simples soma da criação de sentido das duas individualmente e mesmo do "nós" relacional que inclui as duas. O "entre" é fértil pelo diálogo que reconhece a diferença desafiadora da alteridade, a necessidade de negociação e o hibridismo das sobreposições. A potência criadora do inter-humano transcende o individualismo insular e mesmo o aspecto relacional tomado em sua superficialidade. A relação passa a ter um caráter dialógico que deve conter primordialmente a totalidade, não simplesmente como a "soma dos elementos" presentes na relação, mas sendo "totalidade que age", totalmente entregue e concentrada no que acontece na relação (ZUBEN, 2001, p.L). Desta forma, autores como Buber foram disruptores da lógica vigente e puderam trazer à clínica gestáltica uma contribuição ímpar para o entendimento da produção de significados nos contatos estabelecidos.

Esta é uma característica de difícil observação nos vídeos que costumeiramente circulam com demonstrações atendimentos de Fritz Perls apresentando a Gestalt-terapia para universitários e jovens curiosos pelo autoconhecimento e desenvolvimento de seus potenciais. Resnick (2017) e Stoehr (1994) apontam que a noção de desenvolvimento mútuo e significação compartilhada parecem mais evidentes nas tradições das escolas da costa leste por influência dos Institutos de Nova Iorque e Cleveland e a aproximação de autores como Laura Perls, Paul Goodman, Isadore From e Paul Wiess. A seguir, detalharemos a Gestalt-terapia contemporânea no que tange sua prática mais voltada aos aspectos dialógicos e processuais.

 

A RELAÇÃO DIALÓGICA: POR UMA ABORDAGEM GESTÁLTICA PROCESSUAL DE PESSOA A PESSOA

Friedman (1995, p.9) descreve a psicoterapia dialógica como uma terapia voltada para o encontro do terapeuta com seu cliente, considerando os dois como foco central de cura, independente da atividade ou técnica que seja utilizada no processo. Para Friedman, a psicoterapia dialógica não pertence a nenhuma escola específica e é considerada mais como uma abordagem do que como uma linha psicoterapêutica. Logo, podemos encontrar seus representantes nas grandes escolas de psicoterapia, já que é uma abordagem respaldada pela filosofia do diálogo, priorizando o aspecto relacional. Contudo, nos lembra Friedman, as origens desta maneira de entender e fazer psicoterapia têm raízes na filosofia de Martin Buber.

Buber (2001, p.4-12) reafirma a existência relacional, ou seja, o homem não existe só, mas apenas "em relação" a seu objeto. Portanto, a relação dialógica exige reciprocidade, totalidade, mutualidade. Ela é uma relação intensa, realizadora, imediata, e incidental que acontece no presente, não no sentido pontual, mas no sentido de plenitude. Para que a relação se estabeleça é preciso abertura, reconhecimento da alteridade e confirmação do outro. Luczinski e Ancona-Lopez (2010) discorrem sobre condições fundamentais para que uma psicoterapia seja dialógica, quais sejam: a autenticidade dos participantes, ou colocar-se na relação como se é; perceber o outro enquanto alteridade, singularidade, totalidade e concretude, e contemplar o outro além da simples observação; a horizontalidade e legitimação do outro que produz fecundidade no diálogo estabelecido.

Há que se considerar também os limites a serem observados no "setting" terapêutico, assim como são necessários respeito, responsabilidade e segurança para se colocar em um relacionamento tão íntimo com o outro. O caminho a se percorrer para o estabelecimento de tal relação, geralmente, demanda tempo, compromisso e habilidade. O terapeuta caminhará junto ao cliente até o ponto onde haverá uma relação de confiança, de segurança, que permitirá uma maior abertura, necessária para uma relação sólida e propícia ao encontro e à transformação.

 

A transformação através do encontro

Para Hycner (1995, p.22) a existência humana está pautada, em seu nível mais profundo, ao sentido relacional; daí o porquê de pensar a relação como dialógica. Esta abordagem exige uma mudança de paradigma dos modelos psicológicos que apresentam self isolado, ou das perspectivas que consideram uma individualidade insular, como dissemos anteriormente, para uma perspectiva sistêmica, de campo, que seja inter-humana.

Por termos uma relação de mutualidade, entendemos que quando o terapeuta se depara com questões da vida do cliente trazidas para o "setting" terapêutico, pode ter que lidar com facetas de sua própria vida que não estejam resolvidas. Esta situação apresenta dois vieses para Hycner (1995, p.28-29). Caso o terapeuta tenha maturidade suficiente para lidar com a própria questão em aberto, ele pode compreender de forma mais ampla e estar mais preparado para o diálogo com o cliente. Entretanto, quando do contrário, se não tenha resolvido satisfatoriamente a questão em sua vida, tal fato pode tornar-se um impecilho ao diálogo, ao encontro genuíno, prejudicando todo o processo, até mesmo encobrindo aquilo que o cliente traz para o "setting". Existe ainda uma terceira possibilidade, na qual o cliente traria conteúdos referentes a situações não resolvidas do próprio terapeuta, que envolvido e conectado com seu cliente, seja ele mesmo, naquele momento alvo do processo terapêutico. Sua resolução para a situação inacabada é, assim, um subproduto desta interação. Não é o objetivo da terapia, porém isso pode acontecer diante da profundidade do encontro das duas fenomenologias ali presentes.

Chagas (2016, p.20) detalha que a confirmação do outro é afirmar sua existência única, sem julgamentos. O terapeuta precisa se esforçar para vivenciar a fenomenologia do cliente ao mesmo tempo que permanece centrado em si mesmo (HYCNER, 1995). A inclusão de fato está além da empatia, pois significa voltar-se inteiramente para o outro. Trata-se de uma tentativa profunda de viver a experiência que o outro está vivendo, como se fosse sua própria experiência. Na relação dialógica, tanto o terapeuta quanto o cliente precisam estar disponíveis por inteiro, em presença ativa e sem reservas. Assim, autenticidade e mutualidade sustentam o diálogo. Dessa forma, podemos dizer, em transposição para a Gestalt-terapia, que há contato, "awareness" e ação.  Na concepção de Hycner (1995, p.40), já não é mais aceitável que o cliente termine o encontro apenas com um "insight", mas que viva a partir deste encontro a relação, a conscientização e que seja capaz de aplicar em sua vida o que aprendeu, inclusive de maneira pré-reflexiva.

Resnick (2016a) explica este encontro das fenomenologias se referindo aos significados que emergirão no encontro, tanto por parte do cliente, quanto por parte do terapeuta. Neste encontro, regado de confiança e acolhimento, certamente se encontrará um ambiente propício para que venha à tona com inteireza as emoções, os sentimentos, as situações que estavam latentes, as diferenças que derivam do diálogo. Essas diferenças irão gerar, contraste e conscientização, dando possibilidade de alcançarmos principal objetivo da Gestalt-Terapia, a escolha de um novo rumo a ser percorrido pelo cliente. No encontro, o cliente se torna "aware" dos recursos que tem à sua disposição ou de suas opções de escolha. A partir disso pode decidir se e como mudar e o que fazer. Portanto, o papel da terapia é ajudar o cliente a perceber que a escolha está a seu alcance, e o que cabe ao cliente decidir se quer mudar ou não.

 

Resistência protetiva, autorregulação e

A resistência é outro elemento que aparece com certa frequência nas relações, inclusive nas terapêuticas. De acordo Polster e Polster (2001, p.67-68) resistência consiste em ações que demonstrem a dificuldade que a pessoa tenha em se comunicar internamente de forma imparcial com ela mesma. Essa dificuldade aparecerá como uma barreira peristente, estranha à maneira natural como essa pessoa costuma se comportar. Para os autores, a resistência consiste em um elemento "sabotador" das forças intrínsecas ao indivíduo e é importante considerá-la não apenas como uma dificuldade ou um bloqueio a ser removido, mas como um elemento criativo, usado para administrar aquilo que é difícil enfrentar. A importância de observar com atenção o comportamento do indivíduo a ponto de conhecer sua resistência, fará toda a diferença na condução do processo dialógico a fim de se estabelecer uma relação transformadora.

Ribeiro (2007) defende que a resistência é uma função de autopreservação, defendendo o funcionamento organísmico e a totalidade do vivenciado pela pessoa. Logo, ela sempre estará presente frente a uma possível ameaça. A questão a ser observada é como uma forma de agir que em determinado momento fora pertinente e em outro é descontextualizada e se caracteriza como neurótica. O comportamento anacrônico, fora do momento certo, sem a devida discriminação do que está presente no campo relacional pelo organismo leva a repetição porque a ação não leva à satisfação da necessidade que abriu o ciclo de contato (FRAZÃO, 2015; RESNICK, 2016a; RIBEIRO, 2007). Segundo Ribeiro (2007), muitas vezes a resistência está em relação à "awareness" e não ao contato.

O comportamento anacrônico do contato resistente, como dissemos, não leva ao fechamento das "Gestalten" abertas. Luczinski e Ancona-Lopez (2010) nos lembra que o acúmulo de situações incompletas e pendentes adoecem. Sempre buscamos o equilíbrio, e a forma como tentamos sustentar o contato é, por vezes, mais tóxico do que benéfico (RESNICK, 2016a). Contudo, a resistência também pode nos apontar novos caminhos se aproveitada no trabalho psicoterápico (FRAZÃO, 2015; RESNICK, 2016a; RIBEIRO, 2007; SCHILLINGS, 2014).

Hycner (1995, pp.146-147) sustenta que a resistência, deve ser para o terapeuta, como uma "dança". Devemos respeitar os limites impostos e aproveitar os direcionamentos que a resistência oferece (SCHILLINGS, 2014). Polster e Polster (2001, p.68) sugerem que é melhor reconhecer o indivíduo como ele se apresenta e, posteriormente, acentuar o comportamento procurando torná-lo evidente, energizado, ao invéz de desqualificá-lo. Tornar a figura da resistência mais nítida tende a gerar melhores resultados, uma vez que permite a compreensão pelo cliente de como o contato é mantido e promove abertura ao processo terapeutico ou à relação dialógica.

 

MÉTODO

A presente investigação se delineou a partir de uma análise documental de vídeo que apresenta um atendimento realizado por Robert W. Resnick (2016b), que será descrito e analisado a seguir. Este vídeo faz parte de uma série de registros de treinamento produzidos por Robert Resnick a fim de divulgar um caráter mais dialógico e processual da Gestalt-terapia e auxiliar a desvencilhar a prática contemporânea da imagem cunhada pelos vídeos de Fritz Perls que circulam pela internet e, muitas vezes, são mal compreendidos (RESNICK, 2017). No vídeo em questão, Robert Resnick atende uma psicoterapeuta judia durante um "European Summer Residential Training" em julho de 2001 na cidade de Cervera de Pisuerga, Espanha. Os treinamentos na Europa são realizados em diferentes países desde a década de 1970 e atraem terapeutas de vários países.

Gil (2008) se refere ao uso de vídeo, além de outros documentos, como uma possibilidade de coleta de dados. Como se trata de um vídeo de atendimento gravado por Resnick e, assim, dado secundário, o objeto analisado cabe dentro da compreensão de Cellard (2008, p.299) sobre análise documental. Segundo este autor, os elementos estudados podem ser descritos de diferentes formas, por exemplo, de acordo com o contexto, a quem foi destinado o material utilizado, avaliar os esquemas conceituais de seus autores, além de conseguir uma compreensão da reação daqueles que estão envolvidos no objeto de estudo e identificação das pessoas, grupos sociais, fatos e locais encontrados.

Devido ao caráter descritivo desta investigação, não tivemos qualquer objetivo em extrapolar o estudo para fins de generalização da discussão realizada a seguir na próxima seção deste artigo. A análise que se segue terá como base a literatura gestáltica e dialógica revisada.

 

ANÁLISE E DISCUSSÃO DO CASO

Escolhemos a análise documental a partir do vídeo, por se tratar de uma abordagem qualitativa no intuito de descrever e analisar "in vivo" o estabelecimento de uma relação dialógica. No Brasil, ainda temos poucos atendimentos viabilizados pelo registro em vídeo para estudo. O que usamos e será analisado a seguir foi gravado no 30º curso do Programa Europeu de Treinamento realizado por Robert Resnick em 2001 na cidade espanhola de Cervera de Pisuerga. Robert W. Resnick, Ph.D., atua em psicoterapia clínica, sendo gestalt-terapeuta já há mais de 50 anos e realiza treinamentos internacionais há mais de 45 anos. Recebeu treinamento de Fritz Perls e James Simkin. Desenvolve atualmente uma série de vídeos de treinamentos, seu estilo é caloroso, envolvente, fala com humor e clareza.

A análise e discussão do caso se dará em uma sequência própria de um encontro na relação dialógica. Apresentaremos como se deu a abertura para a alteridade, a confirmação seguida pela aceitação do outro com suas limitações, percebendo como elas são etapas fundamentais para que a resistência fosse desfeita. Em seguida mostraremos como aconteceram o diálogo e a vivência que produziram novos sentidos para aquilo que até então estava obscuro para a cliente e a importância da horizontalidade no ambiente terapêutico.

 

Autenticidade e abertura para a alteridade

Durante este treinamento, um grupo de terapeutas estava reunido há 11 dias com Robert Resnick em um "workshop". Todas as manhãs, cada participante tinha a oportunidade de se apresentar para o trabalho terapêutico no grupo, colocando como estava e sua demanda para aquele dia, bem como falar de alguma questão que desejasse diante de todos ou ainda escolher participar de uma sessão individual com Robert, que seria assistida pelo grupo. Neste grupo, havia uma participante que, ao longo de todos os 11 dias anteriores, sempre passava sua vez e não se colocava para os demais ou trazia qualquer demanda para ser trabalhada. Ao abdicar de sua participação ativa no grupo, ela fazia um gesto com a mão que foi compreendido por Robert como uma rejeição para uma aproximação maior.  Ele fez questão de abordá-la e deixar claro para a cliente como se sentia a respeito deste posicionamento. Disse a ela que não buscava alguma atitude específica por parte dela, mas que queria que ela soubesse como ele estava se sentindo naquele momento. Ele explicou e repetiu para que ela o compreendesse. Ao final da conversa, ela disse à Robert que se sentia triste pelo ocorrido e pela maneira como ele se sentia.

No 11º dia, ao início das atividades, onde cada participante tinha a oportunidade de dizer onde estava naquele dia, ou passar a oportunidade.

Cliente (C) disse: Passo

Robert (R): Eu não entendi a palavra.

C: P-A-S-S-O (soletrando).

R: Eu sei como soletrar.

(Risos dos participantes do grupo)

Outra pessoa do grupo disse à C: Você definitivamente não passou.

E ainda outro do grupo disse: Isso não foi um "passo".

C: O que você não entende? (voltando-se para Robert).
R: Eu não entendo, e eu estou falando sério agora, eu não entendo, o que lhe impede de dizer onde está neste momento. É isso que eu não entendo e gostaria de entender.

C: Eu não sei. Eu entro e saio e são tantas histórias e coisas como essa. Eu só queria passar, é isso.

R: Então, você tem alguma objeção, a menos que eu lhe peça para colocar para fora. Eu estou colocando para fora, "são tantas histórias, que eu não sei o que fazer com elas, por isso quero me retrair". Esse sou eu.

C: Sim, melhor ouvir o que os outros tem a dizer.

R: Você não me ouviu. Você preferiria não dizer isso, a menos que eu lhe perguntasse. Você só faria "clique"! Passo.

C: Sim, talvez.

R: É nisso que eu estou interessado. Nessa escolha.

C: Certo.

R: E eu posso convidá-la a explorar essa escolha, e eu vou respeitar a sua resposta, mas é na escolha que eu estou interessado.

C: Ok, eu já disse.

R: "Tchum" e (gesticula com a mão imitando a cliente).

C: Acabei de dizer.

R: E eu me sinto exatamente como a Helen falou, quando você responde, como se você estivesse afastada. Como "então eu disse". Foi assim (faz novamente o gesto com a mão, como se estivesse descartando algo). E eu não sei se você sabe que, quando você fala comigo, dessa forma, você causa esse impacto. (faz novamente o gesto com a mão).

C: Você me envergonha assim, eu não sei o que fazer. Eu entendo o que você diz e, ah isso é o que eu tenho vontade de fazer. Talvez, não sei. Não consigo mais analisar isso. É só que...

R: Não estou pedindo para você analisar. Nesse momento, o que estou pedindo é: Você está ciente de que, quando você me responde desse jeito, isso me afasta? Está ciente desse impacto, não importa a sua intenção?

C: Agora que disse, estou ciente.

R: Mas não fica ciente no momento?

C: Não.

R: Certo. Quero que saiba disso. E... Quero que considere que, quando quiser me afastar, você me diga diretamente: "Por favor, afaste-se". E eu vou me afastar. Em vez de... (faz novamente com a mão o gesto). Temos um acordo?

C: Eu não gosto disso (repete o gesto), mas está bem. Se é isso que você quer dizer. Não é isso que eu quis dizer. Eu não gosto que continue fazendo isso (faz o gesto com a mão). Realmente não é o que eu estava tentando dizer.

R: Eu acredito. O que eu quero que você escute é que existe o impacto...

C: Tudo bem, eu ouvi, eu aceito e não tem problema.

R: E o que eu estou pedindo é, quando você quiser que eu me afaste, para me dizer e eu vou me afastar. Tudo bem?

C: Tudo bem.

R: Quero dizer mais uma coisa a você, não estou pedindo nada de você agora. Quando faço contato com você, sempre me sinto dividido, se eu me aproximo de você, seja lá com o que for, interesse, curiosidade, sei lá. A minha impressão é que eu te aborreci, ou incomodei, ou chateei, etc. E se eu não me aproximo de você, então minha sensação é de que você está sendo ignorada. Você está sendo evitada. Então, eu fico, ferrado se eu me aproximar. Ferrado se eu não me aproximar. Este sou eu, e eu não estou pedindo para você fazer nada a respeito. Só para que ouça.

C: (Após ficar bem inquieta na cadeira) Eu realmente fico triste em ouvir isso.

R: Não estou satisfeito por você estar triste. Estou satisfeito porque isso lhe afetou. E eu não me senti afastado nesse momento. E eu ouvi você.

Este trecho nos mostra o fim da atividade em grupo no 11º dia. Percebemos que a fala de Robert expressando como se sentia diante do comportamento de C. ao longo do treinamento o traz para mais perto, mostrando que se importa. Podemos observar aqui os elementos da psicoterapia dialógica: abertura, alteridade, reconhecimento, respeito, responsabilidade (LUCZINSKI; ANCONA-LOPEZ, 2010). Ao invés de enfrentar a resistência apresentada, Robert acolhe a cliente e se mostra disponível. Sua atitude resultará em abertura para diálogo por parte da cliente no próximo dia, como veremos a seguir. A cliente aceita o convite para a dança.

 

O reconhecimento de si através da confirmação da alteridade

No início do 12º e último dia do workshop, novamente foi dada a oportunidade para os participantes dizerem como estavam se sentindo. Aqueles que quisessem poderiam apresentar uma demanda para trabalhar com Robert Resnick caso desejassem.

C: É bom e animador falar, agora que chegou a minha vez. Sim, eu estou aqui, mas não tenho estado desde...eu entro e saio. De novo, eu sinto que quero falar com o Bob (Robert), eu não sei o que, exatamente, e é assim.

R: Alguém mais interessado em trabalhar agora? (pergunta ao grupo).
Sem resposta do grupo

C: Achei que deveria trabalhar com você, mas você disse que não quer mais ser terapeuta, então estou esperando você falar.

R: Não, eu não disse isso.

C: Eu ouvi isso, ontem mesmo.

R: Sim, ontem eu não queria mais ser terapeuta...

C: Tudo bem, mas todo dia não é um novo dia?

R: Sim.

(Risos)

R: Talvez seja esse o trabalho.

C: Então se cada dia é um dia novo, achei que pudesse ser bom para mim.

R: Então estou disposto a trabalhar em algo com você nessa manhã, está se sentindo pressionada agora? Alguém se sentindo pressionado? Quer começar agora? (voltando-se para a cliente)

C: Certo, vamos tentar.

Os dois se posicionam sentados um de frente para o outro, colocam microfones de lapela para iniciar a sessão.

Para Hycner (1995, pp.146-147) a resistência é como uma "dança" entre terapeuta, cliente e resistência. Este conduzirá o ritmo com seu cliente até encontrar os passos certos. Sabemos que o desfecho nem sempre é fácil ou parecido com o previsto. Dessa forma, todo cuidado é necessário, pois "entre" os três é necessário alcançar o ritmo adequado. A experiência fenomenológica do cliente será elemento fundamental para que o ritmo seja alcançado mais breve e eficazmente. No entanto é importante compreender o valor, a representação e quais ameaças "percebidas" pelo cliente, estão por trás da resistência.

 

Diálogo e reconhecimento da demanda

Inicia-se, então, o acolhimento da cliente e um contorno da resistência para abertura ao diálogo. Compreendemos que é fundamental que o cliente se sinta acolhido, apoiado, em um local seguro para se colocar com liberdade.

C: Não gosto que me olhe.

R: Não sei o que seria mais útil para você, se eu fico aqui quieto, ou se lhe digo o que estou pensando.

C: A segunda opção.

R: Certo. Quando eu disse que estava feliz por ter vindo, é porque eu sei o quanto isso é difícil para você. O que eu me lembro é que eu me senti mal por você ontem. Quando Danila disse que preferiria não trabalhar com você. E você disse imediatamente: "Tudo bem, eu sabia, já imaginava, etc., etc." Eu me senti mal por você, mas estava igualmente preso, pois se eu demonstrasse minha atenção a respeito, e lhe falasse da minha preocupação, você poderia se sentir magoada. Então tive de evitá-la. Mas eu quero que você saiba que eu pensei a respeito, e que me preocupei com você.

C: Legal, isso me faz sentir melhor. Você ter dito isso. Eu não pude sentir a preocupação genuína ou a tristeza genuína. Eu sei que era tipo...tentando me agradar.

R: ... (Risos)

C: Embora você tenha dito que não é esse tipo de pessoa. Mas acho que é difícil de acreditar.

R: Certo.

Silêncio por alguns instantes.

C: É muito difícil para mim, sabe...dizer que fiquei magoada com o que você disse. E que tive que praticar com Angela e Danila em trio umas quatro vezes. Eu me senti tão estúpida fazendo isso. Eu tive de olhar nos olhos de alguém e dizer: Acho que é o Bob. Ninguém consegue afetar o Bob, mas era como o Bob.

R: Certo.

C: E... (suspiro), é como se fosse uma explosão, como se fosse toda a minha energia. Então é legal que tenhamos o baile hoje para recuperar minha energia, pois do contrário ela acabaria.

R: Certo.

R: Eu entendo, acho, o quanto é um esforço para você.

C: Pois é.
Robert observa por instantes.

R: Parece que algum sentimento surgiu. Reparei que o seu pescoço ficou vermelho, você segurou a respiração. Seus olhos se encheram de lágrimas e aí você os espremeu.

C: É que, bem...é muito difícil falar das minhas próprias necessidades. Eu não consigo...eu tento colocá-las de lado, geralmente.

R: Sim.

C: E quando eu sinto que estou falando sobre elas, eu sinto que eu estou exigindo algo, ou tirando o tempo de alguém e há tantos problemas em torno que são muito mais importantes. Então...

R: Então você não tem o direito?

C: Sim. Eu não sei porque estou sentada aqui, pois é o último dia, e eu não quero levar algo comigo. Mas seja lá o que acontecer aqui, sei que vou levar comigo muitas coisas desse programa. Tudo isso porque eu decidi que é isso. Está aí. E eu preciso...conversar com você.

R: Certo. Posso convidá-la a falar sobre qual a dificuldade em ter necessidades?  Não estou perguntando quais são as necessidades. Estou perguntando qual é a dificuldade para você em falar sobre as suas necessidades ou ter as suas necessidades. E já encontrei um pedaço.

C: Eu não gosto de me colocar no centro, e parece que minhas necessidades são tão pequenas. Ou talvez eu tenha medo da reação da outra pessoa também.

R: Que tipo de reação você tem medo de obter se suas necessidades forem, se você contar as suas necessidades?

C: Todo tipo, eu não sei.

R: Agora, eu não estou acreditando em você. (Sorri)

C: Você tem razão.

R: E eu agradeço por você reconhecer isso.

C: É que...eu não, eu não tenho o direito de falar sobre as minhas necessidades, e ...

R: É nisso que acredita e você acha que é isso que as outras pessoas achariam?

C: Sim.

R: A reação delas seria de que você não tem o direito de ter necessidades.

C: Isso. E... e eu tenho medo de que se eu expressar o que eu quero, isso seja mal entendido. E...

R: Qual seria o mal-entendido?
C: Que eu quero algo impossível de conseguir, talvez. Ou o que eu preciso é tão simples, que todos vão rir. "É disso que você precisa? Só isso?" Então são os dois extremos. "Por que você toma o nosso tempo falando nisso?"

R: Então, ou é tão pequeno que é ridículo, ou é impossível.

C: Sim.

R: E tão difícil que é impossível.

C: Sim. E aí... Então, eu afasto isso até a necessidade desaparecer e acho muito difícil encontrá-la novamente. Eu já não sei mais do que se trata.

R: Certo. Então você anestesia a necessidade. Mas então ela volta.

C: Então ela volta. E estou aqui sentada.

R: O que você já sabe a respeito disso? O "isto" a que me refiro é, não ter direito de ter necessidades. A sua crença de que não tem direito e que você não acredita que o mundo acharia que você tem direito a ter necessidades. O que você sabe sobre isso?

C: Acho que vem da minha criação. De casa. Não é que eu saiba disso. É só... Que eu vim ao mundo para desempenhar um papel. E agradar aos meus pais, por causa do que eles passaram no Holocausto. E colocar minhas necessidades de lado. E... É que meu pai faleceu há pouco tempo e estou pensando, "se minha mãe morrer logo, qual será o meu papel?" Sabe, eu preciso continuar. Preciso satisfazer às necessidades de outras pessoas. Porque aconteciam coisas terríveis e ninguém me falava. Quando eu era muito jovem, eu sentia que havia alguma tristeza, mas ninguém falava. Então eu era...e acho que já disse antes...eu era...eu passei a achar que eu deveria ser a rosa crescendo no túmulo da minha família.

R: Você deveria ser o quê?

C: A rosa crescendo nos túmulos de toda a minha família, pois não tem mais ninguém, exceto minha mãe agora. E ela não tem ninguém. E quando eu comparo seja lá o que for a minha necessidade (ela coloca minha necessidade entre aspas, mostrando com os dedos), ao comparar com o que ela passou... Então, eu não tenho o direito.

R: Certo.

C: Porque, às vezes, eu realmente gostaria de estar em uma certa posição e passar fome, para sentir o que ela passou.

R: Certo, então, não importa o que fizer, você nunca vai alcançar a necessidade do seu pai e da sua mãe.

C: Isso.

No trecho acima, percebemos a forma como Robert conduziu a conversa de modo que a cliente se sentisse segura e encontrasse a abertura necessária. Percebemos a confirmação da alteridade citada por Chagas (2016, p. 20). A confirmação vai além de simplesmente aceitar o sujeito no momento, trata-se de compreendê-lo sem julgá-lo. A relação dialógica diz respeito a sermos e nos tornarmos seres humanos, com capacidade de desenvolvermos relacionamentos cheios de significados, respeitando o que é peculiar a cada um. Trata-se de uma interação muito específica entre as pessoas envolvidas, onde há o genuíno desejo de encontrar-se com o outro.

Hycner (1995) sugere que seja encontrado o "valor criativo" da resistência. O que tradicionalmente é chamado de resistência compreendemos como uma forma de contato em Gestalt-terapia. Esta "resistência" é um ato em favor da sobrevivência (RIBEIRO, 2007). O papel do terapêuta será fundamental para que o cliente compreenda que suporte este comportamento resistente lhe dá, e os ganhos obtidos com ele. Ao elucidar essas questões, outras possibilidades virão à tona e novas escolhas poderão ser feitas.

Ao reconhecer que durante anos percebeu suas necessidades como irrelevantes diante de tudo que seus pais viveram, a cliente conseguiu expressar seus sentimentos e preocupação para com sua família. Ao apresentar a metáfora da rosa no túmulo de sua família, percebemos que a cliente já procurava uma forma de continuar exercendo sua função na família, mesmo após a morte de seus pais. Segundo Chagas (2016, p.18), devemos abordar o que prejudica a existência do cliente, o que impede sua integração e interrompe o contato. Ressaltamos o cuidado particular que o terapeuta deve ter para respeitar o tempo e a forma como o cliente para ressignificar o conteúdo trazido.

 

Vivência e produção de novos sentidos

A continuação do diálogo nos mostra o resultado de ressignificação alcançada pela cliente na interação com Robert. Diante do encontro com o outro, novos sentidos puderam ser criados.

R: Certo. Presumo que você conheça o livro "Filhos do Holocausto"?

C: Conheço.

R: Então, tem muita gente como você.

C: Sim. Sim, eu tentei não me colocar nesse esquema de segunda geração. Porque por muito tempo eu não gostei disso. Mas...eu me tornei muito forte desde que me mudei de Israel, isso se tornou grande parte da minha identidade. E eu estou livre. E isso é tão forte, que me consome totalmente (suspira).

R: Sim, não estou falando apenas sobre a identificação com os filhos do Holocausto, estou falando da missão dos filhos do Holocausto.

C: Certo.

R: Que é o que você está falando. Não ter necessidades. E dedicar a sua vida às necessidades de outras pessoas. E de se sentir mal quando tem uma necessidade.

C: Certo.

R: Ou é algo trivial ou pequeno demais, ou é impossível.

C: Sim. Mas eu acho que... Quando eu digo que minhas necessidades são assim... (faz um gesto demonstrando "grandes" com os braços) É como ser uma criança e não um adulto que se importa com os seus pais. E eu não posso mais ser criança, eu tenho as minhas próprias crianças. Então, talvez o que eu queira das pessoas seja só o que eu posso dar; afeto e amor.

R: Certo, parece que de algumas formas você não pôde ser uma criança. Quando você era uma criança, você tentava agraciá-los. Salvá-los. Compensá-los.

C: Mas você sabe que se olhar além de uma bela infância, todas as minhas necessidades foram satisfeitas.

R: Sim, mas nós não...

C: Portanto eu me sinto mal ao falar disso.

R: Certo. Estamos tratando da parte que não foi atendida.

C: Sim.

R: Eu entendo que você se sinta mal só de falar no fato de que havia alguma coisa que não estava bem.

C: Exatamente. Exatamente, porque eles não tinham nada e tiveram que reconstruir suas vidas. Eles me deram tudo que podiam. Especialmente muita comida, eu não posso comer mais.

R: Certo. "Então, como eu poderia ainda dizer que eu tinha necessidades?" "Eu não deveria ter necessidades." "Eles fizeram tudo o que podiam."

C: Não.

R: Mas de alguma forma, você nota que, quando sua mãe morrer, e ela, provavelmente, vai morrer antes de você, é geralmente assim, que...se sua vida gira ao redor das necessidades deles, para onde você irá?

C: Bem, eu. Uma vez eu disse que ia morrer antes dela. Mas não posso fazer isso com meus filhos e o meu marido. Mas andei pensando nisso.

R: Então você tem laços aqui também... (mostra com as mãos dois extremos) com seus filhos e seu marido. Não apenas com sua mãe.
C: Mas eles também me dizem que eu não satisfaço às minhas necessidades. E que eu fui trazida aqui para me colocar no centro, para que eu pudesse me desligar de todos e me colocar no centro.

R: Quem lhe diz que você não satisfaz às suas necessidades? Seus filhos e seu marido?

C: Sim.

R: Ah, então eles lhe conhecem?

C: Sim. E ontem, eu liguei para casa, eu disse que não consegui. Eu não consegui me colocar... E eu fiquei lá. E eu escrevi um poema atrás do outro. E a resposta era: "Parece tão familiar". Então eu senti que não atingi o meu objetivo. E que não sabia porque eu vim aqui, mas agora eu sei porque vim aqui. E acho que fracassei.

R: Então, o que você vai dizer a eles hoje?

C: Não sei como isso vai terminar, primeiro vamos ver como isso termina.

R: E se terminasse agora?

C: Diria que eu pude falar sobre algo.

R: Sim, que você pode vir aqui e que você foi capaz de dizer algo a respeito de como se sente a meu respeito? E sobre você e as suas necessidades.

C: Certo. Sim. Parece animador. É um grande avanço.

R: Você fala isso timidamente, "Foi um grande avanço".

C: Eu ainda preciso digerir.

Neste trecho, encontramos características próprias do encontro Eu-Tu como a reciprocidade, a presença e a intensidade deste encontro (HYCNER, 1995; LUCZINSKI; ANCONA-LOPEZ, 2010). Existe um caminho a se percorrer, uma relação a ser estabelecida e isso, geralmente, demanda um certo tempo e habilidade. O terapeuta caminhará ao lado de seu cliente até o ponto onde haverá uma relação de confiança, de segurança, que permitirá uma maior abertura, necessária para uma relação sólida e propícia ao encontro e à transformação. Em um ambiente de apoio e sinceridade, o encontro se inicia e as fenomenologias produzidas por cliente e terapeuta se encontram, possibilitando a emergência de novos sentidos (RESNICK, 2016a).

 

Horizontalidade e apoio: a relação à serviço do cliente

A relação Eu-Tu é também caracterizada pela horizontalidade. Ambos os envolvidos na relação têm igual importância. O terapeuta deve criar um contexto no qual o cliente se sinta incluído, valorizado, acolhido e compreendido. Buber (2001, p.4-12) afirma que não existe Eu sem Tu ou Eu sem Isso. Buber defende a posição de que o homem não existe só, existe apenas em relação a seu objeto, seja na relação direta vivida (Eu-Tu) ou na organização e significação posterior do vivido (Eu-Isso).

R: Sim, certo. Eu não vou forçar, não vou apressá-la. Estou feliz por você ter conseguido isso hoje. Eu estava pensando, estava quase dizendo "preocupado", mas não é verdade. Estava pensando se você teria apoio suficiente para ir adiante ou não.

C: Acho que você provocou isso ontem. Eu usei isso em uma outra sessão. Nós entramos em uma, caixa de ferro...trancada, cuja chave eu joguei fora faz tempo. Agora ela está rachando um pouco.

R: Isso.

C: Então eu sou grata a você por isso. Da sua própria forma.

R: Disponha.

C: Agora eu preciso de um lenço (apanha um lenço para secar suas lágrimas).

R: Ok.

C: Eu não vou mais fazer "assim" para você (faz o gesto de "Passo" que fez no dia anterior).

R: Não. Eu aprecio isso, é uma sensação boa, você se aproximar e me permitir estar aqui com você e se permitir estar aqui.

C: Sim.

R: E eu quero repetir para você, que eu acredito totalmente que não é a sua intenção quando você faz "isso".

C: Tudo bem.

R: Mas também estou feliz que você pode ver que isso causa um impacto, mesmo quando não é a sua intenção. E que você não está mais fazendo isso agora.

C: E se eu fizer "isso" com você enquanto estiver dançando você me acompanha?

R: (Faz o gesto e sorri).

C: Obrigada, isso é importante.

R: (Suspira) Estou feliz por você ter se exposto.

C: Sim.

R:  E...você se expôs...
C: Seus olhos estão lacrimejando.

R: Pois é.

C: Por quê?

R: A alegria da conexão.

C: Certo, toca meu coração. Obrigada!

O terapeuta deve caminhar junto ao cliente até o ponto onde haverá uma relação de confiança, de segurança, que permite abertura suficiente para uma relação sólida e propícia ao encontro e à transformação. Buber (citado por HYCNER, 1995, p.23) propõe que o significado do inter-humano, do que é produzido no "entre" do encontro, "não será encontrado em qualquer dos dois parceiros, nem nos dois juntos, mas somente no diálogo entre eles, no entre que é vivido por ambos". Nesse encontro, o cliente encontrará também o caminho para o autossuporte adequado ao alcançar autoconhecimento e autoaceitação com a ajuda do terapeuta e, consequantemente, proporcionará seu crescimento, pois estará mais consciente de si mesmo e de suas próprias possibilidades (ANDRADE, 2014).

Para Buber (2001), por mais que busquemos uma completude em nós mesmo, nunca a encontramos. Isso ocorre porque não conseguimos nos tornar inteiros em uma relação conosco mesmos de forma isolada. Buber entende que a completude é resultado do encontro com um outro, mesmo que seja tão limitado quanto nós. O autor considera este encontro um momento de graça, no qual o diálogo genuíno só pode ocorrer na mutualidade. O encontro é efêmero e passageiro, não pode ser mantido para sempre. É preciso aprender a aceitar os momentos de encontro e partida, pois precisamos da produção polissêmica do diálogo e da organização e representação de tal vivência após o afastamento.

Agora para a cliente, o gesto que antes repelia Robert ganhou um novo significado, passa a ser um gesto de convite para acompanha-lo numa dança. A relação promoveu a condução da dança finalmente. Agora, não há mais três envolvidos nela. Transforma a resistência de contato disfuncional em ajustamento funcional, restaram terapeuta e cliente protagonizando uma linda dança dialógica. Ao fim do encontro, saem cada qual para um lado com passos firmes, mas suaves, inteiros, seguindo cada qual seu caminho.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo de muitos anos, vários autores se empenharam e trabalharam para que a abordagem criada por Fritz Perls se desenvolvesse e chegasse até nós atualizada às necessidades de nossa sociedade. Muitas pessoas trabalharam para que a Gestalt-terapia chegasse até os dias atuais aprimorada e contextualizada, ainda que mantendo seus pressupostos básicos calcados nas bases epistemológicas que nos oferecem uma visão de homem, de mundo e da relação entre ambos. Nas últimas duas décadas, autores como Richard Hycner e Robert Resnick, internacionalmente, e Beatriz Cardella (1994; 2002; 2015), no Brasil, para citar como exemplos, tem trabalhado os aspectos da relação terapêutica e suas repercussões para cliente e terapeuta.

Apesar da chegada ao Brasil ter acontecido há cerca de 45 anos, a forma como a Gestalt-terapia é conhecida ainda se vincula com a imagem de Fritz Perls em demonstrações didáticas com universitários, atendimentos em grupo ou no tão conhecido vídeo de atendimento de Glória. Muito mais do que uma variedade de técnicas impactantes, a Gestalt-terapia pode surpreender pela profundidade teórica e caráter dialógico aqueles que permanecem em contato com ela tempo suficiente para estarem aware de suas vicissitudes. Acreditamos que, além da renovação, da teoria alicerçar nossa prática, as mudanças técnicas também se tornem acessíveis e conhecidas através de textos, treinamentos e vídeos para que o fazer do gestaltista seja mais palpável e acessível às novas gerações.

Através da relação dialógica encontramos a possibilidade de trabalhar com uma potencialidade de produção de novos significados e mudanças de tal forma que as resistências que se apresentem podem ser contornadas, se não aproveitadas a favor dos envolvidos no encontro terapêutico. Para que esta relação ocorra de fato, a aceitação e da confirmação do outro são primordiais para o desenvolvimento de um vínculo seguro no qual cliente e terapeuta podem ser autênticos, transformadores e transformados. Compreendemos que ao nos sentirmos seguros, acolhidos e confirmados, as reservas e esquivas são superadas. E, independente da direção que aponta o vento, o terapeuta presente e compromissado ajusta as velas para chegar ao destino junto com seu cliente.

Esperamos que a discussão deste caso fomente projetos futuros de registro de atendimentos em vídeo para o treinamento de psicoterapeutas em formação e que seja convidativo para aqueles que ainda não conhecem a Gestalt-terapia a fundo, que venham e entrem também nesta dança.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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NOTAS

* Eloisa Marília de Souza Pena: Psicóloga formada pelas Faculdades Integradas São Pedro (FAESA).
** Fábio Nogueira Pereira: Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo, formado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, docente das Faculdades Integradas São Pedro (FAESA).

 

Endereço para correspondência
Eloisa Marília de Souza Pena:
Endereço eletrônico:mariliaspena@gmail.com
Fábio Nogueira de Souza Pereira:
Endereço eletrônico:fabio.nogueira@faesa.br

 

Recebido em: 13/08/2018
Aprovado em: 23/11/2018