ARTIGO

 

 

Terapia de grupo ou terapia individual: Comparando resultados

 

Group therapy or individual therapy: Comparing results

 

Willian Custodio Domingues

IGT - Instituto de Gestalt - Terapia e Atendimento Familiar - Rio de Janeiro, RJ., Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente artigo é fruto de um “projeto” monográfico de pesquisa, na qual se deseja refletir sobre a oposição que a clientela “aparenta” ter quando recebe uma indicação de terapia de grupo. Pensando sobre este tema aqui citado como foco questionador, e se ambicionasse revisitar os primórdios da Psicologia e conseqüentemente das relações grupais estabelecidas pelo o Homem. O olhar que permeará essa consideração chama-se Gestalt-terapia, abordagem teórica que fundamenta este trabalho. Sendo assim o primeiro capitulo oferecerá dados históricos da construção da Psicologia enquanto ciência. O segundo em que se refletirá sobre os atendimentos: individual e grupal, respectivamente, pelo prisma da Gestalt-terapia. O terceiro que se abordará os resultados pretendidos na pesquisa de campo.  

Palavras-chave: Terapia de grupo, terapia individual, gestalt-terapia.


ABSTRACT

This article is the result of a "project" monographic research, in which to reflect on the opposition that the clientele "appears" to have an indication of when you receive group therapy. Thinking about this topic here focus quoted as questioning, ambition revisit the beginnings of psychology and consequently of group relations established by man. The look that permeate this account is called Gestalt therapy theoretical approach that underlies this work. Thus the first chapter will provide historical data of the construction of psychology as a science. The second that will be reflected on the services: individual and group, respectively, through the prism of Gestalt Therapy. The third who will address the intended results in field research.

Keywords: Group therapy, individual therapy, gestalt therapy


 

 

1 Introdução

A psicologia enquanto ciência teve seu início formal em 1879 na Alemanha, fruto das pesquisas laboratoriais do médico fisiologista Wilhelm Wundt na Universidade de Leipzig. Embora a mesma tenha começado como uma prática estritamente acadêmica, uma das modalidades que melhor a caracterizam é a atuação clínica do psicólogo.

Quando se pensa na psicologia clínica a imagem que melhor a define é a prática analítica do médico neurologista Sigmund Freud. O acompanhamento das investigações freudianas sobre a histeria se dava na relação individual, analista/analisando. Relação essa que permeou a atividade clínica da psicologia, diga-se: um terapeuta e um paciente.

Com o advento da terapia de grupo em 1905 pelo médico Joseph H. Pratt e seu trabalho com tuberculosos do Massachusetts General Hospital - EUA, esse procedimento foi englobado a atividade da clínica psicológica; mas a mesma ainda parece ser vista com certo desdém.

As pessoas que procuram os serviços de um psicólogo, principalmente quando se fala de uma prestação particular, vão na expectativa de um atendimento individualizado e normalmente não vêem com bons olhos a indicação/sugestão de um acompanhamento em grupo; dão a impressão de que a psicoterapia individual se sobressai à terapia em grupo, dão a entender que o atendimento de grupo é uma espécie de “plano B” para quem não possui condições financeiras de arcar com a sua terapia individual.

Testemunha desse impasse, acima citado, que se tem visto com certa regularidade na reação dos clientes entrevistados p/ terapia; almeja-se investigar se essa construção social é válida ou não. A prática das entrevistas é atividade obrigatória como carga horária do curso de Especialização em Psicologia Clínica – Individuo, Grupo e Família creditado pelo CFP – Conselho Federal de Psicologia e ministrado pelo IGT – Instituto de Gestalt-terapia e Atendimento Familiar, sediado na R.Haddock Lobo nº 369 sala 709 – Tijuca – Rio de Janeiro.

Pensando nessa resistência, anteriormente descrita, das pessoas com as quais se entrou em contato nas entrevistas iniciais, surgem dúvidas tais como: Será que o desenrolar da terapia no setting é melhor ou pior que no atendimento individual? Será que a empatia entre terapeuta e cliente/s é tão diferente no atendimento de grupo? Será que o cliente de grupo sente - se invadido pelos outros clientes atendidos? O desenvolvimento pessoal do cliente de grupo é mais ou menos significativo?

 

Objetivos

Sendo assim se tem por objetivo neste projeto de pesquisa monográfica, investigar um percentual representativo da clientela do IGT que fez uso da terapia de grupo e também da terapia individual na clínica social do Instituto e a partir deste contato, obter as seguintes informações: Houve os ganhos idealizados pelos mesmos, por intermédio da terapia? O atendimento em grupo/individual foi de encontro as suas expectativas? Sua opinião em relação ao atendimento de grupo/individual continua a mesma ou não?

 

Justificativa

Entende-se que essa pesquisa é meritória para o saberda psicologia, contribuindo para desconstruir ou legitimar o preconceito que as pessoas tenham com o atendimento de grupo. Como essa modalidade de atendimento é cara, na funcionalidade do IGT, compreende-se a importância de dar voz aos clientes, para ver se o crédito que o instituto tem dado a esse atendimento continua fazendo sentido.  

 

Metodologia

Presume-se que a melhor estratégia para a realização desta pesquisa de caráter qualitativa é através de questionário, cujo modelo está em anexo. Este contém uma serie de perguntas direcionadas e objetivas.

A intenção é aplicá-lo numa amostra composta por 40 (quarenta) sujeitos, todos maiores de 21 (vinte e um) anos, a distribuição destes participantes será em dois grupos de 20 (vinte) indivíduos, oriundos do atendimento de grupo e individual, respectivamente. Destes sub-grupos de 20 pesquisados, dez serão do sexo masculino e os outros dez do sexo feminino.

 

Justificativa

A seleção destes participantes será feita através dos contratos de atendimentos que se encontram arquivados nas dependências físicas do IGT, depois de se ter em mãos uma pré-seleção, estes nomes serão contados por intermédio de telefonemas e e-mail,s, confirmando ou cancelando sua participação. Na medida em que este trabalho tem como único interesse a pesquisa acadêmica sem fins lucrativos, a participação destes investigados será voluntaria, assegurando os seus direitos e deixando claro aos mesmos que poderão se desvincular desta pesquisa, quando assim desejarem sem nenhuma espécie de penalização. É de fundamental importância registrar que os voluntários não terão suas identidades reveladas, mantendo assim o sigilo absoluto em todas as fases desta analise.

 

1 – Um breve Histórico sobre a Psicologia Aplicada:

Antes mesmo de se constituir enquanto ciência, o conhecimento psi já estava atrelado à filosofia e suas relações com a metafísica. Desde os primórdios da humanidade, o ser humano buscou organizar-se em grupos sociais com o objetivo de se proteger dos predadores e preservar a sua espécie. Nestas organizações se estabeleciam regras de convivência, de comunicação e de trabalho. Segue uma leitura de como estes desdobramentos se relacionam com a psicologia, nos tópicos abaixo.

 

1.1– Dos rudimentos filosóficos e as suas contribuições:

Este mesmo Homem “primitivo” dentro de seu conhecimento de mundo se relacionava com o desconhecido lhe dando o status de mito, os “deuses” eram os responsáveis por tudo aquilo o que ele desconhecia. Logo compreender aquilo o que envolve o ser do Homem, se tornou um dos primeiros focos de interesse, daqueles que saindo de uma explicação mítica buscaram os argumentos racionais, estes eram conhecidos por filósofos. 

Segundo Aranha e Martins (1993) na Grécia antiga, personalidades como Sócrates, Platão e Aristóteles já se dedicavam a pensar sobre a subjetividade humana, os mesmos abriram caminho para que outros pensadores tais como: Descartes e os empiristas ingleses surgissem e dessem sua contribuição as reflexões humanas. Esses diálogos produziram inúmeras linhas de pensamento, dentre elas deseja-se citar: A fenomenologia de Edmund Husserl.

O motivo de mencionar a Fenomenologia é a base que ela oferece sobre a relação do Homem, com os objetos do seu campo fenomenológico, e que entra em consonância com a psicologia da Gestalt e nunca é demais lembrar que se trata de um dos pilares da Gestalt-Terapia

 

1.2 – Da concepção da Psicologia e o seu desenvolvimento:

A psicologia enquanto ciência experimental, como aqui foi dito, teve seu inicio no ano de 1879 a partir dos estudos laboratoriais de Wilhelm Wundt na Universidade de Leipzig – Alemanha, o seu objeto de interesse não era a subjetividade humana, mas a consciência.

Para Schultz e Schultz (1992) “Wundt tinha como metas em sua psicologia os seguintes objetivos”:

Schultz & Schultz (1992): “Na Universidade de Leipzig, Wundt treinou gerações de estudantes dentre os quais: (...) Granville Hall, James Cattel, Lightner Witmer, Walter Scott e Hugo Münsterberg,” (p.174) estes psicólogos norte-americanos foram responsáveis, pela mais nova atuação da psicologia, lhe dando uma “cara”, além da acadêmica laboratorial.

Eles (...) Schultz & Schultz (1992) “levaram sua psicologia para o mundo real, para as escolas, fábricas, agências de publicidade, tribunais, clinicas de orientação infantil e centros de saúde mental, e fizeram dela algo funcional em termos de objeto de estudo e de uso.” (p.175).

Através desse novo braço a psicologia alcançou uma atuação prática passou a contemplar pessoas. No inicio do séc. XX (...) Schultz & Schultz (1992) “25% das comunicações de pesquisas publicadas nas revistas psicológicas americanas eram a respeito de psicologia aplicada.” (p.175)

Em 1917 com a entrada dos E.U.A. na 1ª Guerra Mundial (...) Schultz & Schultz (1992) “os psicólogos aplicados foram chamados para tratar de problemas práticos e imediatos. A psicologia tornou-se visível aos olhos do público. Psicólogos e não psicólogos reconheciam que os princípios e métodos do campo podiam ser usados para melhorar o bem-estar humano.” (p.201).

Em 1941 quando este mesmo país tomou parte na 2ª Guerra Mundial à psicologia alcançou um novo boom e ampliou sua influência geral. (...) Schultz & Schultz (1992) “Vinte e cinco por cento dos psicólogos americanos estavam diretamente envolvidos no esforço de guerra e muitos outros deram contribuições indiretas através da pesquisa e da redação de textos.” (p.202).

 

1.3–Origens da Psicoterapia Individual:

A atividade de psicoterapia individual como se conhece, tornou-se popular a partir dos trabalhos de Charcot, Breuer e Freud debruçados sobre seus estudos de histeria, dando inicio ao movimento nomeado de Psicanálise. Estes atendimentos popularizaram a imagem do analista e do analisando. Segue de maneira objetiva a forma como cada um destes pioneiros deu sua contribuição.

Jean Martin Charcot, médico francês, enquanto chefe do departamento neurológico do Hospital Salpêtrière - instituição para pacientes psiquiátricos usava-se da hipnose para cuidar de seus pacientes histéricos. Vale à pena recordar que o método hipnótico consiste em sugerir ao seu cliente palavras que o levem a um estado de relaxamento, diminuindo assim as resistências conscientes do aparelho psíquico.

Com Josef Breuer - médico, que estudava a histeria através da hipnose e do método catártico - Freud atendeu seu caso clássico “Anna O.” Este (...) Schultz & Schultz 1992) “caso que seria vital para o desenvolvimento da psicanálise.” (p.333).

Sigmund Freud, igualmente médico (neurologista) com seu estudo sobre histeria descobriu o método da associação livre, consequentemente o AP. Psíquico e a Psicanálise. Freud, que se tornou o pai do movimento psicanalítico, investigava a subjetividade humana, através de sua busca analítica pelas reminiscências reprimidas no inconsciente.

Pretende-se deixar claro que estes não foram os pioneiros do trabalho clinico, mas aqueles que se tornaram referencias para o senso comum da sociedade.

 

1.4– Origens da Psicoterapia de Grupo:

As relações grupais fazem parte da sociedade humana desde o momento em que os primeiros Homens que habitaram a Terra se deram conta da necessidade de se organizarem, para o seu bem-estar.

Mas, a eficácia das relações grupais não se limita, a constituição e manutenção social, basta recordar que em outras áreas de conhecimento o grupo teve uma aplicação funcional e produtiva, dentre estas aplicações estão às psicoterapias de grupo.

As psicoterapias de grupo trazem em si a possibilidade de envolver pessoas na sua proposta de ação, as mesmas, não surgiram ao acaso, elas foram o produto de uma demanda observada por Joseph Pratt. O seu trabalho pioneiro foi o protótipo para o desenvolvimento de outras modalidades de processos grupais; como será revisado mais a frente. Só que antes de se ver como ocorreu a evolução dos grupos terapêuticos, é necessário caracterizar a psicoterapia de grupo e é isto o que será feito a partir de agora.

 

1.4.1– O que é uma terapia de grupo?

Em linhas gerais as terapias de grupo, grupos terapêuticos ou processos grupais, que são as nomenclaturas mais utilizadas, consistem na (...) aplicação de técnicas psicoterapêuticas a um grupo de pacientes.

Nas psicoterapias de grupo, independente de orientação teórica ou de objetivo prático ocorre um fenômeno interessante, característico das terapias de grupo. Se na terapia individual a identificação limitasse a empatia e o vinculo estabelecido entre terapeuta e cliente, na terapia de grupo além da identificação já citada, acontece o vinculo entre cliente e cliente.

Nos processos grupais o terapeuta ou o mediador do grupo, necessariamente não precisa ser uma presença marcante, já que a partir do momento em que este mesmo grupo constrói relações de convívio, consegue se gerir sem que o controle deste seja a toda hora, direcionado ao facilitador da terapia. Até mesmo quando não há uma completa identificação entre os pares componentes do grupo, as diferenças e conflitos podem se tornar uma força motriz para desenrolá-lo e para a consolidação da terapia.

Os grupos terapêuticos passam a ser cooperadores da eficácia terapêutica de seus membros, no momento em que dão espaço para as trocas de experiência, em que se permitem ouvir, representam os conflitos vividos no seu cotidiano e que se veem no lugar do outro. Dando a si a oportunidade de através de outras lentes, contemplar a própria historia e assim resignificá-la e encontrar a melhor forma no acompanhamento clínico de suas queixas ou um caminho para uma idéia de cura.

Segundo Irvin Yalom (1992) existem 11 elementos terapêuticos que são trabalhados  ao longo do processo grupal. São eles:

 

1.4.2 – A construção dos grupos terapêuticos:

O inicio dos grupos terapêuticos remonta o principio do séc. XX. De maneira prática será demonstrada a evolução da terapia de grupo, ao longo da história. Enfoca-se aqui os principais nomes deste processo, esclarecendo que o texto mais a frente se concentrará em Kurt Lewin, teórico fundamental para se compreender o movimento dos grupos terapêuticos, mediados por uma orientação gestáltica.

Bechelli e Santos (2004) em seu artigo classifica o desenrolar das terapias grupais, da seguinte forma:

Em 1905, Joseph H. Pratt inicia a Psicoterapia de Grupo, a partir da assistência a um grupo de tuberculosos, na sala ambulatorial do Massachusetts General Hospital, onde constata que entre eles se estabeleciam relações emocionais, que os tornava mais animados.  Iniciava-se, então, o Método de Reeducação Emocional, onde, em reuniões semanais, havia um resignificado do tratamento e da própria vida dos enfermos.

Em 1920, E.W. Lazell desenvole um trabalho de reinserção social com esquizofrênicos, através de aulas, Lazell mediava os seus grupos. Nestas aulas ele abordava inúmeros temas, buscando promover a reflexão dos participantes e o engajamento social dos mesmos. 

Em 1930, L.C. Marsh, inicia um trabalho com psiconeuróticos, o trabalho de Marsh, consistia em aulas temáticas sobre os transtornos mentais. Estes encontros eram precedidos por atividades musicais e os participantes também eram estimulados a se expor no grupo.

Em 1933, Kurt Lewin, definiu o conceito de "Campo Grupal", onde demonstra que o organismo busca a homeostase do sistema e que o comportamento do indivíduo é fortemente influenciado pelo meio social.

Em 1940, S. H. Foulkes inicia a Analíse de Grupo, que consistia na reunião de pequenos grupos, nos quais a partir de uma visão de que o todo é mais elementar do que as partes, buscava mudanças de longo prazo.

Em 1941, Jacob Levy Moreno consolida o Psicodrama, teoria que consiste em utilizar-se de técnicas do brincar, através dos jogos e do teatro. Moreno estimulava as pessoas a expressar suas vivências, lhes dando novo significado.

Em 1956, Pichon-Rivière, através da psicologia social começou a trabalhar com grupos buscando estudar a influência da família sobre os mesmos. A partir de suas pesquisas Pichon-Rivière concluiu que desde o nascimento o Homem se torna participante de grupos sociais. 

Entre 1960 e 1970, Carl Rogers inicia e desenvolve os Grupos de encontro, que consistem em promover o desenvolvimento pessoal, a comunicação e melhor qualificar as relações interpessoais através da experiência vivida no grupo.

Em 1980, ocorre o desenvolvimento dos grupos de orientação fenomenológico-existencial, como também os grupos terapêuticos mediados pela gestalt-terapia, abordagem que melhor trabalharemos no próximo capítulo.    

 

 2 – Um olhar da G.T. sobre o Atendimento Individual e de Grupo:

Uma das coisas fundamentais para que se possa melhor compreender a forma que a G.T. se relaciona com os atendimentos acima citados, é esclarecer o como a Gestalt-Terapia apareceu no cenário das psicoterapias.

 

2.1 – O que é a Gestalt-Terapia?

A idealização da G.T. enquanto um sistema psicológico começou a se desenhar a partir dos desencontros vividos pelo então, psicanalista Fritz Perls. Estas frustrações são pontuadas pelo desinteresse acadêmico da comunidade psicanalítica, pelo seu artigo: “As Resistências Orais” e as suas pesquisas que envolviam este tema. Perls tinha grandes pretensões com este texto, ele pretendia defendê-lo no Congresso Internacional de Psicanálise em Praga - Checoslováquia, no ano de 1936.

Em 1940 publica seu primeiro livro: “Ego, fome e agressão”, fruto de suas pesquisas sobre a oralidade.  Este livro marca o seu distanciamento de uma psicanálise ortodoxa.

Em 1951 publica junto com Paul Goodman e Ralph Hefferline, o livro: “Gestalt-terapia”. Obra que marca o início da nova área de conhecimento.
Logo, a G.T. se deu (...) Pimentel (2003):

“da dissidência de Perls dos grupos psicanalíticos, recorrendo a vários suportes teóricos para formar sua própria teoria.” Dentre as principais, destacam-se: A Teoria Holistica, A Teoria de Campo, a Psicologia da Gestalt, a Fenomenologia e o Existencialismo.” (p .32)

 

2.2.1 – Kurt Lewin e a Teoria de Campo

 

De todas as teorias participantes da construção da GT, a que melhor fundamenta o pensamento deste projeto de pesquisa é a Teoria de campo de Kurt Lewin.

Kurt em sua historia de vida, participou das duas grandes guerras, na (...) Schultz & Schultz (1992) “primeira guerra mundial, Lewin foi militar e recebeu a condecoração alemã Cruz de Ferro.” (p. 317) De ascendência judia se viu obrigado a fugir da Alemanha nazista em 1933, tornando-se um cidadão norte-americano em 1940.  Na Universidade de Berlin tornou-se companheiro dos três principais psicólogos da Gestalt: Wertheimer, Kofka e Kohler. Em 1929 apresentou no Congresso Internacional de Psicologia, Universidade de Yale – USA, suas pesquisas sobre motivação, um de seus primeiros trabalhos que foram amadurecendo aquilo o que se chama “teoria de campo”. Tomando o conceito da teoria de campo da física, Lewin aplicou os saberes psicológicos às dinâmicas matemáticas e cientificas, ele passou (...) Scuhltz & Schultz (1992):

 “A considerar que as atividades psicológicas da pessoa ocorrem numa espécie de campo psicológico, que ele denominou de espaço vital. O campo total compreende todos os eventos passados, presentes e futuros que possam influenciar uma pessoa. Do ponto de vista psicológico, cada um desses eventos pode determinar o comportamento numa dada situação. Assim, o espaço vital consiste na interação das necessidades do individuo com o ambiente psicológico.”. (p. 318)

Nesta tese divulgada por Lewin em 1951 sobre o título de: “Teoria de Campo em Ciências Sociais; selecionados trabalhos teóricos”, considera que todo o estímulo presente no campo perceptivo gera um estado de tensão, seguido pela necessidade da satisfação presente, a fim de reorganizar o equilíbrio do sistema. Este dinamismo estruturado por Lewin envolve tanto o organismo enquanto uma unidade, como também na relação dessa unidade com outros organismos, na relação grupal. Este movimento organísmico se dá em todas as relações sociais do Homem, dentre elas a terapia de grupo.

Na GT este organismo é recebido como um todo, uma única figura, um Homem em seus muitos aspectos físicos, emocionais, sociais e até mesmo antropológicos. No encontro grupal estes estados vividos pelos organismos presentes são participantes do acontecer terapêutico, independente do tempo cronológico em que ocorreram.

 

2.2 - A G.T. e o Atendimento Individual:

“Em analise, a relação dual verbal, na privacidade do consultório, pode vir a dar margem ao desenvolvimento de pensamentos mórbidos (depressivos, por exemplo), ou ainda à evocação de fantasias – às vezes no limite do delírio -, isso sem nenhum confronto com a “realidade social” exterior.” (GINGER & GINGER, 1995. P.66).

 

Na G.T., o terapeuta ou o “servidor” daquele que o procura se encontra comprometido com o este, na arte de acompanhar seu cliente (...) GINGER & GINGER. (1995) “único responsável por ele mesmo, em sua experiência singular e irredutível.” (p.144). GINGER. & GINGER (1995)

“Para que essa jornada seja bem sucedida é fundamental que terapeuta e cliente construam de forma empática uma parceria nesta relação que será estabelecida. Nessa relação interativa, o gestalt-terapeuta busca dar espaço para que a queixa inicial (sintoma) fale de si, ciente que naquele momento o sintoma é parte integrante do indivíduo, é a forma que o organismo escolheu para expressar a sua realidade atual (...) seu papel é permitir e favorecer.” (p.146).

Em seu setting o terapeuta busca ampliar as possibilidades do cliente para que ele se aproprie (figura) de suas características até então ignoradas (fundo). Este movimento se compõe de cinco caracteres: corporal, emocional, intelectual, social e espiritual. 

 

2.3 - A G.T. e o Atendimento de Grupo:

(...) “Posso me perceber e me descrever como particularmente “sedutor e empreendedor” (com toda boa fé), enquanto que numa situação real de grupo, envolvendo a fala e a interação, poderiam rapidamente aparecer traços bem diferentes.”  (GINGER & GINGER, 1995. P. 67)

Os primeiros grupos coordenados por Fritz Perls, sobre uma orientação gestalt-terápica, aconteciam da seguinte forma:

Perls dava inicio aos trabalhos em grupo partindo sempre do singular, ou seja, ele promovia a terapia individual em grupo. Este evento ocorria na seguinte configuração, como ilustra Ruth C. Cohn (...) Shepherd & Fagan (1973) “o paciente é sempre um voluntário com quem Perls trabalhará por dez ou por uma centena de minutos conforme a situação requeira, com o grupo observando.” (p.191.).

No decorrer do seu artigo intitulado: “Terapia em Grupos: Psicanalítica, Experiencial e Gestalt”, Ruth C. Cohn dá a dimensão desta atividade ao explicar que:

(...) Shepherd & Fagan (1973) “Enquanto Perls trabalha com um paciente voluntário no grupo, o grupo deve permanecer silencioso”. Entretanto, num determinado ponto, Perls entra com o grupo em jogo de um modo original a que chamo o “método do coro grego”. (p.191.).

Segundo Jorge Ponciano Ribeiro, existem duas outras formas de se trabalhar um grupo, são elas:

1-Terapia de Grupo – Nesta relação (...)  Ponciano(1994)

“O terapeuta e os membros do grupo se envolvem com uma pessoa ou uma temática. Alguém do grupo se torna figura, trazendo à tona uma necessidade sua específica.
O terapeuta conduz o caso e os membros do grupo podem intervir dando feedbacks, solicitando intervenções. Normalmente, após o trabalho, solicita-se ao grupo que fale livremente, expressando seus sentimentos a respeito do acontecido.” (p.80)

2-Terapia do Grupo – Na terapia do grupo, (...) Ponciano (1994)

“o grupo é visto como o cliente, como uma unidade em tratamento. Tudo o que ocorre no grupo é visto como pertencente ao grupo, que é o melhor interprete de seu próprio processo.
Este modelo é mais difícil, mais complexo porque envolve a crença no processo do grupo como algo diverso da soma dos processos individuais, bem como supõe uma aguda capacidade do terapeuta de sempre induzir o tema central a partir das colocações individuais e devolvê-lo ao grupo como uma produção sua.” (p. 81).

Diante desta nova terminologia, apresentada por Jorge Ponciano Ribeiro, entendemos que ação que melhor se assemelha a metodologia cientifica do IGT é a “terapia do grupo” e é a partir desta visão que se dará continuidade nesta pesquisa e também será este o termo que usado.  

 

3– Conclusão parcial: 

Propositalmente se nomeou este capitulo, como parcial, na medida em que este projeto de pesquisa ainda não obteve a chancelaria de um comitê de ética. Na proporção em que o mesmo encontra-se em processo de validação, ainda não foi possível realizar a pesquisa de campo, tendo assim dados fidedignos, pelos quais poderíamos tirar as devidas conclusões.  

Mas com tudo, se crê que cabe aqui compartilhar, as considerações adquiridas pela experiência vivida como facilitador de um grupo terapêutico.
De fato percebe-se que ao iniciar a formação de um grupo, os seus participantes ficam extremamente acanhados, demandando uma ação do terapeuta. Ação essa que consiste em fazer com que o grupo assimile que o grupo em questão não está ao acaso, mas possui uma razão de existir, dessa forma os experimentos e vivências propostas pelo terapeuta, vão ao longo do tempo introduzindo a intervenção terapêutica. Podemos perceber que na medida em que a unidade do grupo e as suas fronteiras são estabelecidas, os seus membros se apropriam da práxis no setting terapêutico.

Fato interessante de se observar é que o medo em se expor, tão presente nas sessões iniciais, onde o grupo encontra-se em formação, naturalmente desaparecem e a confiança das pessoas no sigilo do acompanhamento ganha crédito sem que o terapeuta precise a toda hora, relembrá-los da necessidade de manter-se os segredos de consultório.

Um exemplo interessante sobre isso é o caso que aqui chamaremos de J. Esse rapaz quando veio até nós tinha dificuldades de se ver como individuo e só se referia a si na 3ª pessoa do singular, tinha uma fala fragilizada e uma linguagem corporal travada e introvertida. Via-se pelo o olhar de sua mãe e de sua namorada.

Com o desenrolar do grupo, sua transformação ficou evidenciada, adquiriu uma fala mais firme e decidida, passou a se ver como o agente de transformação de sua vida. Passou a pontuar seu lugar no grupo, desenvolveu autoconfiança e se isso não fosse o bastante, sua leitura corporal mudou, fato curioso, que demarcou essa mudança foi seu corte de cabelo. 

Logo, tendo o exemplo acima citado por referência, por mais que seja árdua a tarefa de ver o grupo como o cliente em questão, é gratificante de vê-lo como essa figura que se destaca de um fundo composto por uma multiplicidade de histórias, demandas e sofrimentos. Esse olhar propicia momentos em que o grupo, percebe e respeita a necessidade de um tempo maior/menor de um de seus membros, tempo este em que as mudanças pretendidas são processadas e ganham suporte.

A segurança no grupo faz com que as pessoas, a ele pertencentes, anseiem pelo o dia e a hora da terapia. Elas costumam se surpreender ao se darem conta que as muitas reservas que tinham em relação a modalidade terapêutica não se sustentam, muitas verbalizam essa surpresa e a mudança de opinião sobre o trabalho proposto.

A necessidade que se tem de dados empíricos, está exatamente na comprovação de que as ocasiões aqui relatadas, não são falácias. No momento em que a desmistificação do atendimento de grupo tornar-se uma realidade, a psicologia poderá fazer um melhor uso de um de seus mais eficazes instrumentos de trabalho.   

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Acesso em: 10/07/11.

DAVIDOFF, L. Linda Introdução à Psicologia – 3ª Edição. Ed. Makron Books, 2001.

GINGER, A & GINGER, S. Gestalt – Uma terapia do contato. 4ª Ed. Summus Editorial, 1995.

YALOM, Irvin D. & VINOGADOV, Sofia.Psicoterapia de grupo:um manual prático.Trad. Dayse Batista. Porto Alegre.Artes Médicas,1992.

PIMENTEL, A. Psicodiagnóstico em Gestalt-Terapia. Summus Editorial, 2003.

PONCIANO, J. R. Gestalt-terapia: O Processo Grupal – Uma abordagem fenomenológica da Teoria do Campo e Holística. 4ª Edição. Summus Editorial, 1994.

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Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v12n2/v12n2a14.pdf. Acesso em: 08/07/11

SCHULTZ P. D. & SCHULTZ E. S. História da Psicologia Moderna – 14ª Edição. Ed. Cultrix, 1992.

SHEPHERD, L. I. & FAGAN J. Gestalt-Terapia: Teorias Técnicas e Aplicações. Zahar Editores, (org.) 1973.

SMITH, M.K. Kurt Lewin: grupos de aprendizagem, experimentação e pesquisa ação, 2001.
Disponível em:http://www.infed.org/thinkers/et-lewin.html
Acesso em: 01/09/12

 

 

Endereço para correspondência
Willian Custodio Domingues

Endereço eletrônico: willian.contatopsi@gmail.com

 

Recebido em: 12/09/2012

Aprovado em: 27/12/2012

 

 

ANEXOS

Modelo do Questionário:

1 – Que tipo de atendimento psicoterapêutico você fez uso?
      ( ) Individual  ( ) Grupo

2 – Por quanto tempo?
      ( ) 6 meses  ( ) 1 ano ( ) Mais de 1 ano. 

3 – Qual tipo de atendimento psicoterapêutico você queria ter feito?
      ( ) Individual  ( ) Grupo

4 – Qual foi o motivo que te fez buscar o atendimento?
      ( ) Dificuldades no relacionamento
      ( ) Dificuldades na sexualidade
      ( ) Outros

5 -  Como você define seu processo terapêutico?
      ( ) Muito bom ( ) Bom ( ) Regular ( ) Fraco ( ) Ruim

6 – Continua fazendo terapia fora do IGT?
      ( ) Sim.Porque gostei do processo terapêutico do IGT
      ( ) Sim. Mas não gostei da experiência terapêutica no IGT
      ( ) Não.Embora tenha gostado do processo terapêutico do IGT
      ( ) Não. E não gostei da experiência terapêutica do IGT     
 

7 – Em que modalidade?
      ( ) Individual  ( ) Grupo

8 – Como a terapia lhe ajudou com sua queixa inicial:
     ( ) Foi fundamental
     ( ) Foi pouco importante.
     ( ) Não fez diferença.

9 – Como você define os ganhos obtidos com a terapia?
    ( ) Muito bons ( ) Bons ( ) Regulares ( ) Fracos ( ) Ruins