ARTIGO

A relação terapêutica na Terapia Familiar Sistêmica Construtivista
e na Gestalt-terapia – uma breve reflexão

Beatriz Gorenstin

Márcia Estarque Pinheiro

Monografia Apresentada Por Exigência do Curso de Especialização em Terapia Familiar do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio De Janeiro, como um dos requisitos para a obtenção do Título de Especialista. Abril de 1994 - Rio de Janeiro – Brasil

RESUMO

Esta monografia versa sobre a Terapia Familiar Sistêmica, baseada no Construtivismo e a Gestalt-Terapia, na tentativa de verificar a coerência entre as duas abordagens psicoterápicas, no campo da relação terapêutica.

Abstract
This monography treats of Systemic Family Therapy based on Constructivism and of Gestalt-Therapy in an attempt to verify the coherence between both psychotherapic approaches, within the field of the therapeutic relationship.



Esta monografia é fruto da reflexão acerca de nossa postura como terapeutas em relação a nossos clientes. Para tal, tomaremos por base nossa experiência profissional até o presente momento.

Nosso primeiro contato com a Terapia Familiar Sistêmica foi enquanto alunas do curso de graduação em Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Durante dois anos (1990-1991), fizemos parte da equipe de Terapia Familiar do Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) desta Universidade, na função de estagiárias. Esta equipe possuía o enfoque teórico da Abordagem Sistêmica aplicada à Terapia Familiar. Naquele momento travamos nossos primeiros contatos com o trabalho de alguns autores que se baseiam nesta abordagem, como por exemplo, Virginia Satir, Paul Watzlawick, Salvador Minuchin e Maurizio Andolfi, através de aulas teóricas e supervisões de atendimento.

Em nossa trajetória profissional, obtivemos a formação em Gestalt-Terapia, a qual tornou-se um referencial importante em nosso trabalho. Dentro desse contexto, questões como respeito, não previsibilidade, escolha, possibilidade de crescimento, fenomenologia, dentre outras, têm sido norteadoras de nosso trabalho em terapia individual. Buscávamos encontrar na área de Terapia Familiar uma abordagem que tivesse uma visão de mundo e de homem congruente com a nossa. Esta monografia se desenvolverá no sentido de tentar encontrar este campo de interseção.
Enquanto alunas do Curso de Especialização em Terapia Familiar do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, atendemos, dentro da abordagem de Terapia Familiar Sistêmica, como um dos requisitos básicos para recebermos o grau de especialista, a famílias que recorreram ao Setor de Família desta instituição no período de Março de 1992 a Março de 1994.

Neste curso, em função de seu caráter didático, não se adotou um autor específico. Através de aulas teóricas e supervisões, estudamos alguns autores que baseiam seus trabalhos nas abordagens sistêmicas aplicadas à Terapia Familiar entre eles Satir, Watzlawick, Minuchin, Andolfi, Haley, Bowen e Whitaker. Nos últimos seis meses de nosso curso nos deparamos com a abordagem Construtivista de Terapia Familiar e com o trabalho de alguns de seus autores que nos impressionaram fortemente, como por exemplo, Lynn Hoffman, Tom Andersen, Marcelo Pakman, Harlene Anderson e Harold Goolishian.

Cada uma das abordagens psicoterápicas sistêmicas de Terapia Familiar dispensam atenção à questão da relação terapêutica com diferenças entre si. A relação terapêutica é entendida aqui como a forma segundo a qual se estabelece a interação entre cliente e o terapeuta. Neste contexto algo que nos provoca muito interesse é a postura que os terapeutas assumem em relação às famílias que atendem. Observamos as diferentes possibilidades de posicionamento do profissional no sistema terapêutico formado pelo subsistema terapêutico (terapeuta) e pelo subsistema familiar (família cliente). Em alguns momentos permanecem fora do sistema, como observadores, e em outros propõem tarefas diretivamente. Nos interessou em especial a forma como se aproximam da família, quando o fazem, de que forma o fazem e, principalmente, como escutam o que é dito pela família, e este foi um dos focos que nos motivou.

A cada autor estudado no decorrer de nosso curso nos questionávamos sobre nossa própria forma de atuar com as famílias que estavam em atendimento. Diante das diversas possibilidades de postura de relação terapêutica nos deparamos com a necessidade de verificar a coerência de nossa atuação enquanto terapeutas, considerando nossa formação anterior.

O que nos fazia adotar determinadas condutas e o que nos levava a não optar por outras? O que acontecia conosco que não nos sentíamos "vestindo a camisa" de nenhuma das escolas sistêmicas de Terapia Familiar de maneira integral? Em alguns momentos nos deparávamos com uma certa "salada" que fazíamos com as técnicas que íamos aprendendo, o que terminava por gerar ansiedade.

Como já é de conhecimento popular, certos temperos não podem ser misturados, caso contrário a salada pode azedar, ou no mínimo, ficar difícil de digerir. Foi diante destas reflexões que nos sentimos motivadas a repensar nossa identidade enquanto terapeutas de família. Qual será o "nosso tempero"?

Como conseqüência desse questionamento, o objetivo desta monografia tornou-se o aprofundamento do estudo da Relação Terapêutica nas duas formas de trabalho psicológico com as quais as autoras têm tido contato, paralelamente, nestes últimos quatro anos: A Abordagem Sistêmica de Terapia Familiar Construtivista e a Abordagem Gestáltica.

Quais as possibilidades de postura que um terapeuta pode manter em relação ao cliente (família/sistema) para estar de acordo com sua abordagem teórica? Será possível ser coerente com as abordagens citadas acima ao mesmo tempo? O que as diferencia? Em que se aproximam?

Estes são questionamentos que sempre permearam nosso trabalho. Consideramos de extrema importância para nossa atuação enquanto terapeutas uma reflexão a respeito dos pontos acima levantados.

Neste eixo, por um lado nos deteremos, no Capítulo III, à postura e relação terapêutica dos Construtivistas, e por outro, no Capítulo IV, à postura e relação terapêutica dos Gestalt-Terapeutas.

Dentre os terapeutas familiares da abordagem Construtivista, enfocaremos em nossa monografia Tom Andersen, Lynn Hoffman, Harlene Andersen, Harold Goolishian e Marcelo Pakman. Eles foram priorizados em função de seu destaque na área de Terapia Familiar e do seu recente impacto em nosso trabalho e no Brasil.

Dentro da Gestalt-Terapia nos deteremos principalmente a Fritz Perls, o fundador da abordagem e a alguns de seus colaboradores, como Joseph Zinker, Erving Polster e Miriam Polster.

A abordagem Sistêmica Construtivista de Terapia Familiar vem merecendo grande atenção dos Terapeutas Familiares no Brasil. Nós não fugimos a essa regra e nos sentimos motivadas a estudá-la. A proposta de Relação Terapêutica na Terapia Familiar Sistêmica Construtivista pareceu-nos, inicialmente, bastante congruente com a da Gestalt-Terapia no sentido da visão epistemológica que procuramos mostrar sucintamente no Capítulo II.

O entendimento da família como ativa e do terapeuta como agente facilitador junto à mesma no "recontar de suas próprias histórias" denota uma postura de tentar aproximar-se da família sem metas "a priori" ou modelos preestabelecidos onde a mesma deveria encaixar-se. O decorrente entendimento do sistema a partir do que este entende como problema para si, naquele momento, pareceu-nos familiar e nos incentivou a esta reflexão.

E, como par deste estudo, nos concentraremos na relação terapêutica da Gestalt-Terapia, a fim de verificar se seria coerente em termos teóricos, relacionar estas duas abordagens.

Apresentaremos no Capítulo V nossa reflexão sobre nossa experiência enquanto co-terapeutas no trabalho desenvolvido nesta instituição. Para tal traremos alguns pontos importantes do processo terapêutico de três famílias atendidas por nós no decorrer deste curso. Estes foram escolhidos por retratarem o que consideramos uma evolução em nossa forma de nos relacionarmos com as famílias.

No Capítulo VI faremos algumas considerações finais sobre o caminho que percorremos e sobre nossa identidade profissional, evidenciando que a necessidade de reavaliar constantemente seu trabalho faz parte da vida do terapeuta.

"Muitas vezes as idéias que se tem das coisas e do mundo a nossa volta estão de tal modo arraigadas na gente que é impossível imaginá-las diferentes. No entanto, idéias a gente faz, refaz, passa adiante ou simplesmente engaveta. Isto significa que elas não são coisas acabadas, imutáveis, absolutas ou intransferíveis. Como as trilhas que se abrem no mato, seu valor está no uso que delas fazemos. E, principalmente, a extensão em que elas são compartilhadas com nossos semelhantes”.(Bennaton, 1986, p.07).

Em síntese, é dentro desta perspectiva que nos propusemos a realizar esta monografia com o objetivo de verificar se as propostas de relação terapêutica da Terapia Familiar Sistêmica Construtivista e da Gestalt-Terapia são congruentes.

Capítulo II – Da linearidade ao entendimento relacional

A fim de compreender a priorização de determinados valores e conceitos de uma abordagem, torna-se necessário observar o contexto epistemológico em que esta se desenvolveu. Para tal é importante entender a evolução do pensamento científico. A ciência é produto do homem, e é preciso aproximar-se da visão de mundo daqueles que a produzem, do entendimento que têm dos acontecimentos e do posicionamento em relação aos mesmos.

Nesta monografia será desenvolvido o tema da relação terapêutica estabelecida na Terapia Familiar Sistêmica e na Gestalt-Terapia. Para tal, parece-nos importante relacionar a visão de mundo, na qual os terapeutas destas abordagens se baseiam, com o modo de relação que assumem e a coerência adjacente.

Em busca desta evolução do pensamento científico nos remontamos aos pressupostos científicos e aos valores dos séculos XVI e XVII, onde segundo Capra (1990), a cultura Ocidental contemporânea tem suas raízes. Neste período, chamado pelos historiadores de a Idade da Revolução Científica, houve uma mudança na perspectiva medieval, quando a noção de um universo orgânico, vivo e espiritual dominante até aquele momento, foi substituída pela noção do mundo como sendo uma máquina (mecanismo).

A crença cartesiana na verdade absoluta presente em nossa cultura ainda hoje é muito difundida. Como Capra cita Descartes:

"...Rejeitamos todo conhecimento que é meramente provável e consideramos que só se deve acreditar naquelas coisas que são perfeitamente conhecidas e sobre as quais não pode haver dúvidas." (Capra, 1990, p.53).

Descartes dividia a natureza em dois domínios fundamentais: a mente e a matéria, sendo que a primeira se sobrepõe à segunda. Seu modelo de entendimento dos fenômenos era matemático, concebendo o universo e o homem como máquinas. A natureza funcionava de acordo com leis mecânicas, e tudo no mundo material podia ser explicado em função da relação causal e do movimento de suas partes.

A base do conhecimento científico passou a ser, no século XVII, o método de investigação de Francis Bacon, o qual envolvia a descrição matemática da natureza e o método analítico de raciocínio cartesiano. Galileu, considerado o "pai" da ciência moderna, postulou que a fim de descreverem matematicamente a natureza, os cientistas deveriam privilegiar a quantificação (formas, quantidades e movimento) em detrimento de outras propriedades dos fenômenos, como som, cor, sabor ou cheiro, as quais considerava projeções mentais subjetivas.

Newton, por sua vez, contribuiu para o desenvolvimento científico através de sua física mecanicista. Segundo ele, todos os fenômenos podiam ser explicados através de equações fixas, ou seja, leis de causa e efeito. Esta concepção determinista dos fenômenos permitia que fossem formuladas previsões lineares a partir de certos estímulos, uma vez que o tempo e o espaço eram tidos como grandezas absolutas. A questão dos cientistas desta época era a de apreender a essência dos fenômenos, descobrir "o que é" dentro de um universo estável e previsível, onde não era levado em conta o observador. O ideal de toda a ciência era a descrição objetiva da natureza. A visão mecanicista do mundo foi amplamente aceita e influenciou as demais ciências nos séculos XVIII e XIX.

No decorrer do século XIX os estudiosos das áreas Biológica, Física, Psicológica, Química e das Ciências Sociais continuaram desenvolvendo seus trabalhos dentro de seus referenciais mecanicistas, e ao final deste século, novas descobertas e novas formas de pensamento foram evidenciando as limitações do modelo newtoniano.

Paralelamente surgiu a idéia de evolução - vinculando os conceitos de mudança, crescimento e desenvolvimento - a qual iria influenciar não apenas o século XIX, como todo o pensamento científico futuro.

O primeiro passo importante em termos de teoria de evolução foi dado por Lamarck, o qual propôs que os seres vivos teriam evoluído a partir de formas mais primitivas e mais simples, sob a influência do meio ambiente. Alguns pontos desta teoria foram abandonados mais tarde.

Posteriormente a Teoria de Evolução de Darwin trouxe para a ciência a idéia de que estruturas complexas se desenvolvem a partir de formas mais simples (evolução biológica). Esta teoria foi responsável pela ampliação para os cientistas da concepção Newtoniana. Segundo esta, o mundo era uma máquina, obra exclusiva do criador. Esta concepção passa agora a incluir também a possibilidade de autocriação e desenvolvimento.

No século XIX se deu na Física a descoberta e a pesquisa dos fenômenos elétricos e magnéticos. Estes estudos realizados por Faraday e Maxwell levantaram questões em relação ao entendimento dos fenômenos universais. Surgiu o conceito de campo de força para coabitar com o conceito anterior de uma força simples. O conceito de campo de força, criado por Faraday e Maxwell, foi utilizado por Kurt Lewin na Teoria de Campo aplicada à Psicologia.

A Física adquiriu uma nova dimensão com a segunda lei da termodinâmica, a qual foi formulada por Sadi Carnot. Apresenta-se a idéia de que há processos irreversíveis que ocorrem ao longo de uma flecha do tempo. Esta lei enuncia que todos os processos avançam numa certa direção, isto é, da ordem para desordem. Na sua formulação mais geral:

"...qualquer sistema físico isolado avançará espontaneamente na direção de uma desordem sempre crescente." (Capra, 1982, p.68).

Em meados do século XIX para expressar essa direção da evolução dos sistemas físicos, numa forma matemática precisa, Rudolf Clausius introduziu uma nova quantidade a que denominou "entropia" (do grego: energia + tropos = transformação ou evolução).

No início do século XX, Ludwig Bolzmann (Alemanha) e Willard Gibbs (Estados Unidos), ambos físicos, contribuíram para a queda da supremacia da concepção newtoniana na Física. Através da introdução do uso da estatística em Física, ampliaram sua validade dos sistemas de grande complexidade para os sistemas simples também.

No sistema newtoniano eram aplicadas as mesmas leis para múltiplos sistemas, que se iniciavam a partir de diferentes posições e momentos, e se acreditava que esta medição física seria sempre precisa em relação aos momentos iniciais dos fenômenos.

Gibbs apresentou pela primeira vez um método científico bem definido, o qual propunha que se levasse em conta também a incerteza e a contingência dos fenômenos. Acreditava que se pode ter em relação a um determinado evento apenas uma previsão alcançável, algo acerca de sua distribuição e não uma certeza absoluta decorrente de leis causais. Gibbs fez, dessa forma, uma introdução das probabilidades na Física, o que a influenciou no sentido de não mais ter uma postura de previsibilidade em relação aos eventos e sim de probabilidade. A Física do século XX não mais se propõe a dar conta do que vai sempre ocorrer, e sim do que pode ocorrer com grande probabilidade.

Com base na teoria das probabilidades proposta por Gibbs e Bolzmann, o comportamento de sistemas mecânicos complexos pôde ser descrito em termos de leis estatísticas. Nessa perspectiva se dá o início da transição entre o universo determinista e o das possibilidades.

No século XX surgiu também a noção de complementaridade de Niels Bohr na física. Segundo esta, a percepção de um determinado fenômeno está relacionada com o ponto a partir do qual este é observado. Dessa forma cada percepção do fenômeno é complementada por outras percepções onde cada uma é validada dentro de seu universo.

"...a imagem da partícula e a imagem da onda são duas descrições complementares da mesma realidade, cada uma delas só parcialmente correta e com uma gama limitada de aplicação." (Capra, 1982, p.74).

A noção de complementaridade de Bohr, associada ao princípio da incerteza de Gibbs, revolucionou a Física e sua visão mecanicista do mundo. Passou-se para o entendimento de que a matéria não existe com certeza, mas tem tendência para existir. Esta descoberta do aspecto dual da matéria abala a forma de compreensão dos fenômenos. Abandona-se o mundo exclusivamente das coisas que são e percebe-se o mundo das coisas como conexões e interações prováveis. Como Capra cita Bohr:

"...as partículas materiais isoladas são abstrações, e suas propriedades são definíveis e observáveis somente através de sua interação com outros sistemas". (Capra, 1982, p.75).

Verifica-se então que a ciência do século XX caracteriza-se por uma mudança significativa de paradigma. Abandona-se a exclusividade tanto da concepção de causalidade linear quanto das leis deterministas dos fenômenos, para acreditar na probabilidade de ocorrência dos mesmos. O parâmetro de organização e de intervenção dos cientistas deixa de ser somente a previsibilidade e passa a ser a probabilidade. Enquanto antes a pergunta clássica era "o que é" determinada coisa, neste momento o cientista questiona "como se dá tal fenômeno", conferindo legalidade às possibilidades que nele estão contidas.

Gregory Bateson (antropólogo e filósofo) contribuiu para esta compreensão sistêmica do universo ao acreditar que o entendimento dos fenômenos físicos enquanto relações deveria ser ampliado para todos os fenômenos. Assim para Bateson, as relações seriam a base da definição das coisas e, portanto da realidade. Neste momento, em diferentes áreas do conhecimento, surge o movimento na direção de uma compreensão sistêmica da vida, a qual baseia-se nas inter-relações e na interdependência dos fenômenos.

"Os sistemas são totalidades integradas, cujas propriedades não podem ser reduzidas às unidades menores. Em vez de se concentrar nos elementos ou substâncias básicas, a abordagem sistêmica enfatiza princípios básicos de organização." (Capra, 1990, p.260).

Enquanto para os mecanicistas as atividades que uma máquina, à semelhança dos organismos vivos, é capaz de realizar depende de sua estrutura, para a concepção sistêmica a estrutura orgânica é determinada pelos processos organizadores que este sofreu e está sofrendo no dado momento em que é observado.

Falar da concepção sistêmica remete ao pensamento de Bertalanffy, criador da Teoria Geral dos Sistemas. Esta teoria tem por objetivo formular princípios aplicáveis aos sistemas em geral, independentemente da natureza das partes que o compõem e das relações que estas estabelecem entre si (Bertalanffy, 1973).

Esta teoria se constitui em um instrumento valioso que possibilita aplicar modelos de funcionamento sistêmico de uma área de conhecimento em outra. Isto não significa uma tentativa de reducionismo científico e sim uma nova proposta de produção de conhecimento, através da descoberta de isomorfismos nas leis dos diferentes campos de conhecimento.

Esta concepção unitária do mundo propõe que o todo é percebido enquanto unidade pela sua organização interna, a qual é definida pelas relações estabelecidas entre as suas partes. Isto só é possível na medida em que os sistemas equivalem a totalidades organizadas, as quais apresentam características semelhantes como crescimento, diferenciação, ordem hierárquica, dominância, controle e competição.
Bertalanffy define que os sistemas se dividem em abertos e fechados. Os sistemas fechados são aqueles que não estabelecem nenhum tipo de troca com o ambiente e os abertos são aqueles que realizam estas trocas através de energia, matéria e/ou de informação.

As trocas com o ambiente acontecem nos limites do sistema, ou seja, na fronteira entre este e o meio.

"Qualquer sistema enquanto entidade que pode ser estudada em si mesma deve ter limites, quer espaciais quer dinâmicos. Estritamente falando, as fronteiras espaciais só existem na observação ingênua, pois todas as fronteiras são, em última análise, dinâmicas”.
(Bertalanffy, 1973, p.286).

A partir da diferenciação entre sistema aberto e fechado, torna-se importante ressaltar o conceito de eqüifinalidade. No que tange aos sistemas fechados, o estado final que estes vão atingir é totalmente determinado pelas suas condições iniciais. No entanto, o mesmo não se aplica aos sistemas abertos. As possibilidades de troca com o ambiente, seus processos internos e o nível de complexidade do sistema permitem que os sistemas abertos permaneçam dentro de sua faixa de equilíbrio homeostático a partir de condições iniciais diferentes e através de processos distintos.

Todo sistema vivo é essencialmente um sistema aberto, uma vez que é impossível o fenômeno da vida sem que haja troca em algum nível. A concepção de Bertalanffy sobre a vida traz embutidas as perspectivas de crescimento e evolução, na medida em que a partir da troca, o sistema estabelece uma nova organização interna, irreversível, respeitando o princípio da eqüifinalidade.

A noção de evolução ganha importância no pensamento sistêmico. Observa-se que os organismos têm certo grau de flexibilidade e plasticidade interna, ou seja, que são regidos pelo princípio da auto-organização. Tal princípio lhes permite se adaptar e/ou evoluir diante das diferentes situações que se apresentam no ambiente. A organização interna e a função não são determinadas pelo ambiente, mas pelo próprio sistema, o que denota sua autonomia diante do mundo.

Os organismos vivos auto-organizadores se caracterizam por dois fenômenos dinâmicos fundamentais que estão, por sua vez, intimamente ligados à autonomia. O primeiro é a auto-renovação, entendida como a capacidade que os sistemas vivos têm de renovar e reciclar continuamente seus componentes, sem deixar de manter a integridade de sua estrutura total (Capra, 1990). Este processo é também denominado homeostase e traduz a tendência do sistema a manter-se num estado de equilíbrio dinâmico que permite a vida. O segundo fenômeno é a autotranscendência, que se refere à capacidade de expansão criativa, ampliando as fronteiras físicas e mentais nos processos de aprendizagem, desenvolvimento e evolução (Capra, 1990).

Assim, podemos concluir que os sistemas vivos têm uma tendência intrínseca a manter sua homeostase, sem perder sua identidade, bem como a evoluir. Estes processos se dão através da interação do sistema com o meio. O sistema tem liberdade para mudar dentro dos limites desta interação. Ele será tanto mais autônomo quanto maior for seu grau de complexificação para alcançar a satisfação de suas necessidades, dentro das possibilidades que o meio lhe oferece. Infere-se, portanto que os processos observados em um sistema, em um dado momento, refletem, no presente, sua história, sua dinâmica atual, sua função e nele estão contidas todas as possibilidades de evolução que este for capaz de criar.

Concomitantemente à Teoria Geral dos Sistemas, surgiu a Cibernética, criada por Norbert Wiener (Bertalanffy, 1973). A palavra cibernética etimologicamente vem do grego e significa pilotar, governar, controlar, constituindo-se no estudo dos sistemas controladores (vivos ou não) através da informação. Esta se preocupa com o estudo da entrada ("input") e da saída ("output") de informações de um sistema, independentemente de como este as processe.

A Cibernética traz uma proposta de compreensão global dos fenômenos a partir do entendimento das relações que se apresentam na manifestação do mesmo. Estas são estabelecidas através da troca informacional entre o sistema e o meio. Seu objetivo é explicitar as leis que regem o comportamento de determinado sistema.

"...à Cibernética interessa o modo de se comportar dos organismos e das máquinas (...) Importante é que, ao se debruçar sobre tais fenômenos, ela pinça sempre dois aspectos primordiais: o trânsito da informação e os esquemas de controle existentes." (Bennaton, 1986, p.13).

Assim, esta disciplina insere-se no cenário científico com um intuito de estudar os mecanismos de controle de forma sistêmica, isto é, através da compreensão de como se dá a troca de informações (relações) entre o sistema e o ambiente, sem reduzir tais mecanismos a leis de causa e efeito.

"A máquina, à semelhança do organismo vivo, é (...) um dispositivo que parece resistir, local e temporariamente, à tendência geral para o aumento da entropia. Mercê de sua capacidade de tomar decisões, pode produzir, à sua volta, uma zona de organização num mundo cuja tendência é deteriorar-se". (Wiener, 1968, p.34).

A Teoria Geral dos Sistemas mostra a mesma preocupação em acentuar a tendência dos sistemas vivos a organizar ativamente seu mundo, através da constante troca de informações com o meio externo.

"O estímulo (isto é, uma alteração nas condições externas) não causa um processo em um sistema de outro modo inerte, mas apenas modifica processos em um sistema autonomamente ativo" (Bertalanffy, 1937, p.133ss, in Bertalanffy, 1973, p.278).

A informação é entendida como uma medida de organização dos sistemas. Assim, quanto mais complexo for o sistema, maior a quantidade de informações com as quais ele pode lidar ao mesmo tempo, bem como a variedade de formas em que estas se apresentam.

O conceito de informação está ligado ao conceito de probabilidade. A probabilidade de uma dada mensagem (forma de configuração e organização) ser percebida pelo sistema dentre as várias mensagens que este recebe em um determinado momento, varia de acordo com a quantidade de informação que esta contém, respeitando-se a capacidade de absorção do sistema.

O conceito de informação está relacionado à probabilidade e à novidade, na medida em que quanto menos esperado ou conhecido for o conteúdo da informação, maior será a probabilidade desta ser percebida pelo sistema (Wiener, 1968). A autonomia de deliberação do que fazer a partir da assimilação da mesma caberá sempre ao sistema.

Na Cibernética, o conceito de sistema é tão primordial quanto os de informação e organização. Sistema aqui é entendido como um todo delimitado por fronteiras onde se dá a comunicação com o meio externo.

O sistema é tratado como uma "caixa preta" que troca informações com o meio e dentro de si mesmo, sem perder seu contorno. Isto lhe permite, na medida de sua complexidade, selecionar as informações que assimilará e que rejeitará. Desta forma pode exercer certo grau de autonomia sobre a influência do meio externo nos seus processos internos.

A contrapartida também deixa no ar a questão de como apresentar uma informação ao sistema de modo a que haja maior probabilidade deste percebê-la. Este questionamento faz sentido na medida em que a mudança no funcionamento de determinado sistema acontece através da modificação de suas relações. Um dos caminhos para tal é a inserção de novas informações. Retornaremos a esse ponto nos capítulos subseqüentes.

Ao receber uma informação nova, o sistema é modificado. Inicia, então, uma busca de retorno ao equilíbrio inicial, isto é, ao estado de homeostase. Este processo de retorno ao equilíbrio a partir de informações é denominado retroalimentação (Watzlawick, 1988) e pode ser atingido principalmente de duas maneiras.

Uma delas é a retroalimentação negativa, que denota o retorno ao estado de equilíbrio através da correção do erro, isto é, da correção do desvio da situação de equilíbrio estático anterior. Outra é a retroalimentação positiva, que se caracteriza pela ampliação do erro ou desvio, causando uma ruptura com a homeostase anterior. Este movimento favorecendo a emergência de uma nova organização, igualmente estável dentro da faixa de possibilidade de funcionamento do sistema.

"A realimentação pode ser tão simples quanto um reflexo comum, ou pode ser uma realimentação de ordem superior, na qual a experiência passada é usada não apenas para regular movimentos específicos como, outrossim, toda uma política de comportamento.” (Wiener, 1968, p.33).

A Psicologia acompanhou as tendências do pensamento científico de cada época e traz em si as marcas dessas influências. Já no século XX, segundo Capra, a escola Behaviorista e a Psicanálise clássica adotaram métodos e concepções diferentes, porém basearam-se no modelo Newtoniano de realidade. Posteriormente a influência do pensamento sistêmico também se estendeu na Psicologia para diversas abordagens.
No início deste século, os estudiosos da Psicologia da Gestalt detiveram-se nos processos psicológicos enquanto produtos da interação dinâmica, privilegiando desta forma a compreensão unificada dos fenômenos totais, em detrimento da análise dos elementos que os compõem. Esta concepção traz em seu bojo indícios de uma transição para uma compreensão sistêmica dos fenômenos psicológicos.

Dentro da perspectiva mecanicista o homem era entendido como um robô, capaz apenas de reagir aos estímulos do meio e manter seu estado de homeostase através da retroalimentação. Na perspectiva sistêmica o homem é um sistema vivo aberto, organizado, autônomo e em evolução. Nesta condição é reconhecida a capacidade do homem de organizar seu mundo e de ser agente de sua própria história.

A ciência se encontra num período de transição no qual deixa de ser fundamental a linearidade causal para se privilegiar o enfoque relacional, deixa-se de buscar unicamente o "por que" de determinado acontecimento para se valorizar também o entendimento de "como se dá" determinado fenômeno.

Este período de transição se reflete na Psicologia, abrindo outras possibilidades para o trabalho psicoterápico. O homem deixa de ser percebido apenas como uma vítima passiva de seu passado e de seu meio, para ser reconhecido como um sistema ativo capaz de atuar com a sua história na construção de sua vida presente, a partir da percepção de como se dão suas relações atuais. Dessa forma o sistema pode lançar mão de um maior número de informações, que ampliam seu leque de possibilidades de novas organizações, aumentando a probabilidade de que ocorram mudanças.

Até aqui tivemos a oportunidade de entender melhor o legado que recebemos de expoentes do pensamento sistêmico. Tendo em mente esta trajetória, nesta monografia, nos dedicaremos à busca da compreensão de como a perspectiva sistêmica se reflete na Terapia Familiar e na Gestalt-Terapia. Neste percurso teremos como foco a relação terapêutica, a qual será entendida aqui como a interação estabelecida entre sistemas auto-reguladores, que se dá na fronteira dos mesmos. Os sistemas buscam, através desta interação e de seus processos internos, uma mudança na situação atual. Esta relação é uma situação de comunicação interpessoal, onde duas ou mais pessoas compartilham experiências, se expressando de diversas formas, porém exercendo papéis definidos a partir do próprio objetivo da psicoterapia, que é centrada na situação existencial do cliente.


Capítulo III – A relação terapêutica na Terapia Familiar Sistêmica

Consideramos importante, conforme dissemos no Capítulo II, o contexto epistemológico onde determinados fenômenos se dão. Nesta monografia não temos a intenção de fazer um relato completo da história da Terapia Familiar, e sim apenas ressaltar alguns momentos e autores que consideramos relevantes na evolução do trabalho dos que se propõem a atender famílias dentro de uma visão sistêmica Construtivista.

As abordagens de Terapia Familiar de base sistêmica possuem uma série de diferenças que foram sendo salientadas e desenvolvidas através de aprofundamentos teóricos e da prática clínica. O processo de legitimação da Terapia Familiar como uma prática clínica e científica foi lento e influenciado por autores de diferentes áreas de conhecimento.

O surgimento de trabalhos em Terapia Familiar refletiu o desenvolvimento do contexto social após a Segunda Guerra Mundial, quando houve um aumento no interesse dispensado à saúde mental. Nos Estados Unidos, neste período, os psiquiatras foram percebendo que as terapias tradicionais não funcionavam adequadamente para todos os indivíduos. O tipo de tratamento proposto pela Psiquiatria Clássica mostrava-se pouco eficiente para abarcar todo o processo que se dava com determinados pacientes. Tornava-se necessária uma compreensão mais abrangente das doenças ditas psiquiátricas.

Até o ano de 1950, o tratamento de doentes mentais tinha como foco os sintomas do indivíduo acometido pelo distúrbio psiquiátrico. Em busca da melhora do paciente, o mesmo era retirado de seu habitat, geralmente a convivência familiar, "tratado" e quando estava "curado", era "devolvido" para a família. Alguns pacientes, ao voltarem para casa, tendiam a regredir nos quadros de suas doenças.

A participação que cabia à família neste tipo de tratamento resumia-se a dar informações relacionadas à história de vida do paciente para colaborar com o atendimento individual do mesmo. Os dados obtidos, as distinções e os modelos existentes até aquele momento eram pouco eficientes no tratamento de algumas dificuldades dos pacientes, dentre elas a anorexia, o comportamento suicida, a esquizofrenia e o distúrbio de conduta na adolescência.

Não havia, naquele período, uma teoria específica para o trabalho com famílias. Grande parte dos precursores do trabalho no campo de Terapia Familiar seguia as orientações psicanalítica ou psicodinâmica e seus trabalhos iniciais nesta área refletiam estas perspectivas particulares. Muitos dos terapeutas da época utilizaram-se de sua intuição como guia em suas decisões de atender conjuntamente vários membros de uma mesma família.

Inicialmente, os trabalhos e pesquisas no campo da Terapia Familiar eram desenvolvidos de forma isolada. Não existia então grande oportunidade de comunicação, divulgação ou troca das idéias e experiências desenvolvidas pelos que voltavam seu interesse para essa área de trabalho.

Aos poucos foi aumentando o intercâmbio entre os diferentes trabalhos realizados. Neste contexto pôde-se perceber um grande desenvolvimento e uma série de mudanças e novas possibilidades em termos de atendimento familiar.

Gregory Bateson (antropólogo e filósofo), Jay Haley (Teórico da Comunicação), Don Jackson (psiquiatra) e John Weakland (Engenheiro Químico e Antropólogo), influenciaram de forma marcante a história da Terapia Familiar Sistêmica, com o desenvolvimento do conceito de duplo vínculo em seu artigo intitulado "Toward a Theory of Schizofrenia" publicado em 1956. O duplo vínculo e o entendimento da função do sintoma levaram ao surgimento do conceito de homeostase familiar (Jackson, 1957). (Goolishian et alli, 1987)

Outro marco na Terapia Familiar Sistêmica é o Mental Research Institute (MRI), em Palo Alto, na Califórnia, o qual até os dias de hoje continua influenciando os que trabalham como Psicoterapeutas, dentre eles os Terapeutas de Família. Nas décadas de 50 e 60 foi grande o seu desenvolvimento.
Inicialmente seus estudos eram voltados para a comunicação na esquizofrenia e na família dos esquizofrênicos. Deslocou-se a atenção dada somente ao indivíduo em si para as suas relações e o contexto no qual está inserido. Porém esse foco foi expandido para a interação familiar e seus efeitos em diferentes fenômenos, como por exemplo, as doenças psicossomáticas, o comportamento suicida e o distúrbio de conduta na adolescência. Faziam parte do "staff" desta instituição, dentre outros, Jackson, Bateson, Satir, Watzlawick, Beavin, Weakland e Haley, os quais entendiam a família como um sistema social em interação.

Os trabalhos do grupo de Palo Alto, como também ficou conhecido o MRI, foram sendo divulgados e desenvolvidos através de palestras, "workshops", programas de treinamento, artigos e livros produzidos pelos membros de seu "staff".

Em 1962, em conjunto com o Family Institute of New York (depois denominado Ackerman Institute for Family Therapy), o MRI iniciou o jornal Family Process, tendo Haley como editor. Até os dias de hoje este jornal tem papel importante na divulgação dos trabalhos realizados em Terapia Familiar em diversas partes do mundo.

A Terapia Familiar recebeu inúmeras influências marcantes em seu processo de desenvolvimento, dentre elas da Teoria Geral dos Sistemas (Bertalanffy). Todas as abordagens sistêmicas de Terapia Familiar surgiram a partir da base comum da Teoria Geral dos Sistemas. Esta teoria, conforme descrito no Capítulo II, é uma abordagem metadisciplinar, desenvolvida por Von Bertalanffy na década de 40, a qual se propõe a estudar as características organizacionais presentes nos diferentes sistemas (Bertalanffy, 1973). Conceitos importantes desta teoria, como: sistema, circularidade, homeostase, retroalimentação positiva e negativa, eqüifinalidade, evolução, auto-regulação e organização foram utilizados na Terapia Familiar, possibilitando o surgimento de novas formas de trabalho terapêutico.

Alguns estudiosos de Terapia Familiar, como o "grupo de Milão", utilizaram analogias úteis, como o método de perguntas e respostas para facilitar a solução de problemas, provenientes da Teoria Geral dos Sistemas. Estas analogias tiveram grande valor na descrição, em termos relacionais, dos dados obtidos em sua prática clínica e em suas investigações. Os conceitos sistêmicos contribuíram para o desenvolvimento de modelos sobre comunicação, processos interpessoais, organização e mudança familiar. Estes estudiosos deram ênfase conceitual às noções de complexidade e organização, e à busca de metodologias não reducionistas.

As diversas áreas do conhecimento encontram-se em constante transformação e tendem a evoluir, influenciando-se mutuamente num mesmo momento histórico. Outra fonte além da Teoria Geral dos Sistemas a influenciar a Terapia Familiar, foi a Cibernética, a qual, segundo Robert Wiener (1968), tinha como primeiro objeto de estudo os processos de comunicação e controle em sistemas naturais e artificiais. Nestes estudos foram utilizados os conceitos de sistema, informação, retroalimentação e auto-regulação, conforme descrito no Capítulo II.

Neste movimento percebe-se com clareza o desenvolvimento de um novo domínio de estudo, o qual abarca a família e a ecologia das relações humanas, incluindo também a esfera da comunicação.

O desenvolvimento epistemológico da Cibernética teve grande influência como referência conceitual no desenvolvimento da Terapia Familiar Sistêmica. Esta influência se fez notar através dos trabalhos de Gregory Bateson, Humberto Maturana, Francisco Varela, Heinz Von Foerster e Ernest Von Glasersfeld. Os trabalhos destes autores possibilitaram à Terapia Familiar Sistêmica pensar a respeito de si mesma, de suas próprias práticas e propostas, ou seja, lhe deram a possibilidade de ficar no nível meta. Neste contexto tornou-se possível o desenvolvimento de novas idéias, novos termos e novos temas na Terapia Familiar Sistêmica.

Influenciada pelo primeiro momento da Cibernética, posteriormente denominada "Primeira Cibernética", a Terapia Familiar Sistêmica voltou seu interesse para a neutralização do desvio, isto é para a manutenção da homeostase do sistema, através da correção do erro (auto-regulação de retroalimentação negativa). Neste período os trabalhos do campo da Terapia Familiar Sistêmica enfatizavam as regras, os mitos e os padrões interacionais da família em atendimento e as intervenções terapêuticas visavam restabelecer a homeostase familiar. Segundo Sluzki (1987), dentre os expoentes dessa época encontram-se: Jackson, Haley, Watzlawick e Beavin.

O segundo momento no desenvolvimento da Cibernética ficou conhecido como "Segunda Cibernética". Aqui passam a ser focalizados os processos de amplificação do desvio, a auto-regulação de retroalimentação positiva, e os processos sistêmicos de mudança. Os fenômenos passam a ser entendidos em termos dinâmicos, enfatizando a dialética estabilidade-mudança. Ilia Prigogine (pesquisadora em Termodinâmica) e seus colaboradores correspondem a essa orientação e contribuíram com seus estudos para a compreensão da ordem através das flutuações. (Sluzki, 1987)

"...Las interacciones no lineales asociadas con fenómenos regulatórios en sistemas abiertos alejados del equilibrio hace posible que el sistema pase de un estado al otro a través de la amplificación de una fluctuación y una bifurcación que corresponde a una solución descontínua para un parámetro del sistema..."(Schnitman, 1987, pg.121).

Em um estado longe do equilíbrio pode ocorrer no sistema a ampliação de uma flutuação e surgir uma bifurcação. Os pontos de bifurcação são pontos de instabilidade, onde é possível ocorrer saltos qualitativos que podem estabelecer novas possibilidades e novos processos neutralizadores. Qualquer perturbação, por menor que seja, ao redor dos pontos de bifurcação tem a possibilidade de afetar todo o funcionamento do sistema.

Neste contexto entende-se que o sistema pode, em condições apropriadas, escolher evoluir para diferentes modos de funcionamento.

"...Existe más de un estado posible, más de una solución en cada punto de bifurcación. Esta multiplicidad de soluciones corresponde a una gradual adquisición de autonomía respecto de su medio" (Schnitman, 1987, p.122).

A Terapia Familiar Sistêmica, influenciada por esta compreensão dos fenômenos, pôde entender e descrever atividades terapêuticas de que até então não se falava ou escrevia por falta de conceitos, ou linguagem pertinente. Surgiram os termos "intervenções geradoras de crises", "movimentos desequilibrantes" e "atividades provocativas". Estas atividades tinham por objetivo levar a família para além dos limites de sua organização atual, e desencadear mudanças qualitativas. Esta influência se faz representar na clínica pelas modalidades terapêuticas de Salvador Minuchin e Carl Whitaker.

Outro momento importante no desenvolvimento da Cibernética foi a "Cibernética de Segunda Ordem". Nesta fase, segundo Sluzki (1987), a Cibernética passa a incluir a ela mesma como seu objeto de estudo.

De acordo com Marcelo Pakman (1988), Médico, Psicoterapeuta e Epistemólogo, a partir do momento em que o sub-sistema observador vivo é incluído no sistema, a linguagem passa a desempenhar um papel fundamental na produção de conhecimento. Esta perspectiva inaugurou a Cibernética da linguagem, que passou a ser denominada Cibernética de Segunda Ordem.

O princípio da incerteza da física quântica, os aportes filosóficos de Wittgenstein, as contribuições de neurofisiologistas tais como Humberto Maturana e Francisco Varella, de lógicos como Heinz Von Foerster e Gordon Pask, de psicólogos evolutivos como Jean Piaget e do antropólogo Gregory Bateson, entre outros, favoreceram o desenvolvimento da Cibernética de forma marcante.

A partir deste momento, a Cibernética deixou de ser unicamente uma "Cibernética dos Sistemas Observados" para tornar-se uma "Cibernética dos Sistemas Observantes". O observador passou a ficar atento, tanto para os fatos que acontecem no ambiente que o rodeia, como também para sua própria participação no processo de observação e construção do mesmo. Ele é parte do que está observando, e o que descreve a respeito do que observa é necessariamente uma descrição de si próprio (Sluzki, 1987).

Humberto Maturana (Neurobiologista), um dos cientistas mais polêmicos da atualidade, foi pesquisador do MIT (Instituto tecnológico de Massachusetts), candidato ao prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, atualmente trabalha no Instituto de Terapia Familiar em Santiago, no Chile. Através de sua teoria biológica do conhecimento, questionou o postulado básico da ciência tradicional, segundo o qual a realidade é externa e independente ao homem que a observa. Ele propõe que o que se pode ter acesso é a percepção da realidade que cada indivíduo possui. Relacionada a essa idéia está a noção de "multiversa", a qual se refere aos muitos significados possíveis que constituem nossos muitos mundos possíveis.

De acordo com Maturana entidades vivas são "estruturalmente determinadas". A estrutura é entendida por ele como "os componentes e as relações entre componentes que constituem uma unidade particular, realizando sua organização" (Vaz e Magro, 1993). As entidades vivas só podem operar e existir a partir de, e de acordo com a forma como foram organizadas, de maneira coerente com sua organização autopoiética. O termo autopoiese foi criado por Maturana para designar o processo contínuo de auto criação do organismo vivo.

Outra contribuição importante de Maturana foi a sua concepção de linguagem enquanto forma de interação coordenada/coordenante. Segundo Vaz e Magro (1993): "...linguagem como uma maneira de estar juntos coordenando as coordenações condutais que brotam da vida e convivência." Evidencia-se então o papel fundamental que Maturana dispensa à linguagem enquanto fenômeno interacional.

Segundo Goolishian e Anderson (1987), para Maturana o termo linguagem não se refere apenas a sons ou sinais escritos, mas à função de determinação do significado da realidade. A Terapia Familiar Sistêmica Construtivista tem em seu cerne a crença de que a realidade é uma construção social através da linguagem.

Para Anderson e Goolishian (1988), os seres humanos podem ser definidos como sistemas geradores de linguagem e de significado, engajados em um processo dinâmico intersubjetivo e recorrente. Assim a realidade é socialmente construída por grupos de indivíduos que fazem parte de uma mesma rede comunicacional. O sistema que procura ajuda do terapeuta é aquele formado por indivíduos que criaram um problema, enquanto significados em co-evolução.

O modelo de Maturana influenciou a Terapia Familiar Sistêmica Construtivista que tomou sua teoria do conhecimento e dos sistemas como base conceitual da atividade psicoterápica.

Esta abordagem traz uma nova perspectiva para o entendimento do processo de mudança no sistema, assim como para a postura do terapeuta diante deste. Utiliza uma linguagem que permite uma descrição Construtivista da Terapia Familiar Sistêmica através da própria inserção do observador e, ao mesmo tempo, dentro da concepção de evolução de Maturana, respeita o estilo do terapeuta enquanto observante e observado.

Segundo Goolishian e Winderman (1989), autores que fundamentam sua prática clínica no Construtivismo, a psicoterapia possui uma estrutura e um propósito o qual questiona constantemente o desenvolvimento evolutivo dessa relação. Desde o início a relação interpessoal estabelecida no sistema terapêutico, isto é, entre o subsistema familiar e o subsistema terapêutico pressupõe diferenças, respeitando o contexto social, político, cultural e lingüístico do qual faz parte.

Tom Andersen (1987), norueguês, professor de Psiquiatria Social, terapeuta familiar com embasamento Construtivista coloca que as principais contribuições e influências que recebeu foram os trabalhos de Gregory Bateson e Humberto Maturana e as observações do trabalho de determinados terapeutas de família, como por exemplo, alguns membros do grupo de Milão (Itália), do Ackerman Institute (New York) e do Galvenston Family Institute (Texas). Em relação a estes terapeutas, muito o impressionou o cuidado e o respeito que mantinham pela integridade das pessoas com quem trabalhavam.

Tom Andersen criou uma metodologia de trabalho na prática clínica denominada "Reflecting Team", a qual é um dos contextos que possibilita o atendimento familiar de acordo com as premissas da abordagem Construtivista. Este recurso pode ser utilizado de diferentes maneiras de acordo com as possibilidades do local onde se desenvolve o processo psicoterápico.

Nem os terapeutas de campo, nem os que observam a sessão - atrás do espelho ou na própria sala - trocam hipóteses acerca dos problemas da família e das metas a serem atingidas antes de estar com a mesma. No decorrer da sessão, os observadores não oferecem diretrizes ou propostas de perguntas e intervenções a serem feitas. Consideram o sistema terapêutico (formado pelo subsistema terapêutico e pelo subsistema familiar) livre para tomar suas próprias decisões e seguir seus próprios caminhos no decorrer da sessão.

O recurso do "Reflecting Team" consiste em possibilitar que os terapeutas observadores falem o que pensam e sentem a respeito do que percebem que está se dando com a família e com o(s) terapeuta(s) de campo no decorrer da sessão.

A sessão transcorre normalmente de acordo com os temas trazidos pela própria família por no mínimo uns 10 minutos, chegando algumas vezes a até 45 minutos. A partir do que foi percebido verbal e não verbalmente durante esse período, os terapeutas observadores colocam de uma maneira respeitosa e especulativa, na forma de questionamentos, o que pensam e sentem diretamente para o sistema terapêutico, sem terem feito uma discussão prévia do que deveria ou não ser dito. Os terapeutas observadores, porém devem estar atentos para que o que disserem seja suficientemente claro e absorvível pela família. Esta questão é fundamental para a prática de psicoterapeutas dispostos a contribuir para a ocorrência de algum tipo de mudança em um sistema (indivíduo/família).

Os terapeutas falam durante um tempo que varia normalmente de 2 a 15 minutos por vez. Este tempo não é previsto ou rígido e terá a duração necessária para que seja dito o que for considerado importante naquele momento.

Inicialmente, o sistema terapêutico permanece escutando o que é dito pelos terapeutas que estão observando o atendimento, para depois falar de como foi a experiência de escutar outros pontos de vista acerca de seu próprio momento e quais as sensações e pensamentos que lhe vieram à cabeça. Haverá tantas trocas de fala quantas forem necessárias no decorrer da sessão, porém sempre o subsistema familiar ficará com a última palavra. Isto é, este subsistema sempre terá a oportunidade de colocar na sessão seus sentimentos e opiniões acerca do que foi dito a seu respeito.

Neste contexto o subsistema terapêutico não assume uma postura de ter previsão e controle da sessão. Ele participa de igual para igual com a família colocando suas próprias opiniões e sentimentos na sessão.

"Our new way of working makes us feel that we are participants in a process in wich family members became our equals. We do not feel we can or should control the therapy process, and we accept that we are merely a part of it." (Andersen, T, 1987, p.427)

Lynn Hoffman, outro expoente do movimento da Terapia Familiar Sistêmica Construtivista, dá bastante ênfase à noção de uma "voz diferente" para a Terapia Familiar. Em seu trabalho como terapeuta familiar procura facilitar o desenvolvimento e a expansão das "vozes" dos membros do subsistema familiar. Para tal procura estabelecer um espaço de conversa no qual os participantes possam abordar de uma forma nova as dificuldades que os afligem. Este espaço permite que sejam ditas coisas que não haviam podido ser ditas antes; que todos possam participar igualmente, ouvindo os demais e se colocando.

Ela afirma que a maioria das pessoas tem recursos próprios para solucionar seus problemas, porém algo em seu contexto as impede. Relaciona esse impedimento a sentimentos de inadequação e propõe que, em um contexto menos pejorativo, muitas vezes possa aparecer uma nova solução, desaparecer o problema ou este terminar parecendo menor do que antes.

O enfoque Construtivista enfatiza o valor da associação e da colaboração entre o terapeuta e a família. A postura do terapeuta é deliberadamente pouco ostentosa. Este busca compreender a família, procurando não confrontar ou culpar ninguém. Esta postura está em consonância com a crença Construtivista de que a neutralidade é a possibilidade de desenvolvimento de novas posições a partir do intercâmbio dialógico. O subsistema terapêutico e o subsistema familiar são convidados a correr o risco de reavaliar e até modificar suas percepções, preconceitos e valores sem que, em nenhum momento, sua integridade seja ameaçada.

Na abordagem Construtivista a atividade terapêutica é descrita como uma atividade dialógica, um diálogo entre terapeuta e cliente (sistema terapêutico). Aqui o objetivo do terapeuta é facilitar à família que esta perceba que existem várias perspectivas em relação às situações em que está inserida.

As sessões transcorrem como uma conversa, onde o terapeuta é um especialista que acompanha o sistema terapêutico (Conjunto formado pelo subsistema familiar e pelo subsistema terapêutico). Seu papel é perceber os diferentes enfoques que podem existir em cada situação, dando-se conta de que são sempre possíveis pontos de vista alternativos em relação aos problemas. O trabalho do terapeuta é introduzir de forma bastante respeitosa na sessão observações com diferenças significativas em relação à descrição proposta originalmente pela família. As observações (mensagens) precisam ser na "dose certa", respeitando a capacidade de absorção do sistema, conforme mencionado no Capítulo II (p.20). O terapeuta acredita que as observações feitas por ele podem facilitar a emergência de outras perspectivas para o cliente (família) que aumentem seu grau de liberdade.

"...el terapeuta familiar no es um agente que opera sobre una familia cambiándola sino que es un participante educado en un proceso de transformación colectiva de significados." (Sluzki 1987, p.67)

O que acontece a partir daí é propriedade da família, resultando de sua própria participação única na construção das idéias que aparecem na relação terapeuta/família durante a entrevista.

Lynn Hoffman em seu trabalho, prioritariamente, não se baseia em propor prescrições ou intervenções. A terapia para ela é o estabelecimento de um diálogo fluido entre pessoas, das quais ao menos uma tem um problema.

"...la terapia no "se le hace" a alguien, sino que se establece un contexto conversacional del que participa el terapeuta. Esta conversación se organiza de tal manera que las soluciones, con frecuencia, aparecen por sí solas o los problemas terminan pareciendo menos intratables." (Hoffman, L. in Schnitman, p.74, 1992).

A relação que se estabelece no sistema terapêutico (formado pelo terapeuta e pela família) se caracteriza pela eqüidade e interdependência. Nenhuma visão da realidade tem primazia em relação à outra que participa do mesmo sistema terapêutico, portanto a visão do terapeuta não é superior às demais visões possíveis. O terapeuta acolhe cada família em sua singularidade, escutando-a e aproximando-se da mesma com curiosidade e respeito, favorecendo que todos se sintam à vontade para se colocar na sessão.

Ao aproximar-se da família, é necessário que o terapeuta esteja disponível para trilhar junto com a mesma um percurso de descoberta, sendo um ouvinte atento e interessado. O terapeuta deve procurar eximir-se de seus "saberes" anteriores para poder escutar a família e mergulhar junto com a mesma num processo de co-construção. Precisa ter sempre em mente que, a partir do momento em que é formado o sistema terapêutico, o terapeuta passa a fazer parte do problema e deve, portanto estar atento para sua contribuição na construção do mesmo.

O processo psicoterápico, dentro deste enfoque, se dá a partir do que é trazido pela família e da relação estabelecida no sistema terapêutico. O terapeuta acompanha a família, trocando com seus membros pensamentos, sentimentos e idéias que emergem a partir dessa relação. Ele tem liberdade de pensamento e prática, a partir do reconhecimento da subjetividade de sua compreensão dos fatos e situações. Sem perder de vista as características próprias de cada família, estando atento para as diferenças culturais, étnicas e de gênero existentes, o terapeuta pode trazer para a sessão suas opiniões e sentimentos a respeito do andamento da terapia, situações que considere relevantes de sua própria vida ou dividir com a família suas próprias dificuldades. Para tal, torna-se necessário que o terapeuta esteja atento para o processo que está se desenvolvendo a cada momento no sistema terapêutico; para que tipo de relação está se estabelecendo entre os participantes e que este use sua percepção como instrumento na sessão.

"...dependemos de formatos que promueven una revisión continua de acciones y realizaciones como sucede con las playas en las que cada mañana la marea deposita nuevos objetos. (Hoffman, L. in Schnitman, p.76, 1992).”

Lynn Hoffman (Hoffman, L. in Schnitman, 1992) se utiliza, em alguns momentos, do "Reflecting Team" como recurso nas sessões. Ela propõe tanto conversas reflexivas entre os terapeutas, durante as quais a família permanece apenas escutando, como que alguns membros da família assumam o papel de conversar enquanto terapeutas e os demais membros da família permaneçam escutando.

Nesta proposta, tanto o terapeuta quanto a família podem observar os acontecimentos a partir de diferentes pontos de vista. Dessa forma, poderão perceber as várias faces do problema dentro de um contexto mais igualitário e menos ameaçador.
As pessoas têm diferentes experiências do mundo ao seu redor e, portanto diferentes entendimentos do mesmo. Os problemas tendem a surgir quando se começa a discutir quem possui o entendimento correto (Andersen, 1987). Na abordagem Construtivista de Terapia Familiar, não se busca encontrar quem está certo ou errado, ou qual a solução para o problema, busca-se sim, intercâmbio das várias possibilidades de percepção do que está acontecendo naquele momento.

"...Este tipo de formatos nos ayudan a hacer distinciones entre el centro y la periferia, en vez de jerárquicas superior-inferior. Son intrísicamente equitativos, promueven un processo abierto de ida y vuelta (...) el processo reflexivo involucra intercambiar lugares y ésta es una manera excelente de ayudar a las personas (incluyendo al terapeuta) a ver los sucesos desde diferentes puntos de vista. (Hoffman, L. in Schnitman, p.76, 1992)."

O sistema terapêutico é formado por todas as pessoas que de alguma forma sentem-se afetadas pelo problema atual. Cada membro do sistema terapêutico tem sua forma de se relacionar com os demais. Torna-se necessário que cada um respeite a maneira do outro se apresentar para que haja um ambiente favorável às trocas mútuas de versões, às quais poderão facilitar o surgimento de novas formas de relacionamentos.

Neste contexto cada um pode receber e conhecer versões diferentes da realidade. Através dos diferentes enfoques percebidos e intercambiados cada um pode ter novas perspectivas de sua própria versão da situação e esta será enriquecida.

Para os Construtivistas o trabalho se dá a partir da compreensão que a família tem do seu momento atual. Aos poucos, o terapeuta vai construindo junto com ela mais uma versão para este mesmo momento. Com esta atitude, o terapeuta facilita que o processo se dê a partir dos conteúdos da própria família e que a mudança aconteça de dentro para fora. O sistema terapêutico não pode prever o que vai acontecer, como será ou quando irá ocorrer a mudança.

Capítulo IV – A relação terapêutica na Gestalt-terapia

Pensando a relação terapêutica na Gestalt-Terapia, parece-nos importante esboçar alguns pontos relevantes acerca desta abordagem teórica e, para tal torna-se indispensável falar de Fritz Perls.

Fritz Perls (1893-1970), criador da Gestalt-Terapia, nasceu em Berlim. Em 1920 formou-se em Medicina e desde o início se dedicou à Neuropsiquiatria. Ao longo de sua vida sofreu diversas influências marcantes, como da filosofia de Friedländer, do pensamento existencial de Martin Buber e Tillich; da Teoria Organísmica de Kurt Goldstein, de Laura Posner, com quem se casou posteriormente, a qual era graduada em Psicologia na Escola de Gestalt e do zen-budismo através de Paul Weiss.

Perls se submeteu a análise com Karen Horney e Wilhelm Reich, dentre outros. Após o Congresso Internacional de Psicanálise de 1936, na Tchecoslováquia, rompeu com a psicanálise
Em 1942 publicou a obra "Ego, Hunger and Aggression - a Revision of Freud's Theory and Method", contando com a colaboração de Laura Perls. Este livro foi o marco de seu rompimento com a Psicanálise Clássica, a partir de uma crítica ao associacionismo dominante nos estudos de Psicologia da época.

Em 1951, Perls publicou, juntamente com Ralph Hefferline e Paul Goodman, "Gestalt Therapy - Excitement and Growth in the Human Personality", obra na qual apresentou os pressupostos básicos desta abordagem psicoterápica. Durante sua vida Perls publicou outras obras e fundou centros em vários pontos dos Estados Unidos, com o intuito de desenvolver a Gestalt-Terapia.

A Gestalt-Terapia é uma das herdeiras dos primeiros modelos sistêmicos em Psicologia (Tellengen, 1984), o que se explícita em sua compreensão holística dos fenômenos. O termo holístico se refere à proposta da Gestalt-Terapia de considerar os fenômenos em sua totalidade, buscando apreender o significado global da experiência presente. Esta herança veio principalmente através da influência da Teoria de Campo de Kurt Lewin e da Teoria Organísmica de Kurt Goldstein.

Da Teoria de Campo, a Gestalt-Terapia incorporou o conceito de campo, formado pelo indivíduo e pelo ambiente no qual ele está inserido. O campo é percebido, descrito e compreendido a partir das relações estabelecidas entre as partes que o compõem. O indivíduo é representado como uma área diferenciada dentro do campo. Por sua vez, esta área fica compreendida em uma área maior, denominada espaço vital. Este é entendido como o universo psicológico do indivíduo, que está em processo constante, contido dentro de fronteiras, que o separam e ao mesmo tempo o mantêm em contato com o meio externo no qual este está inserido.

O indivíduo é visto na relação parte/todo com o meio, estando claramente destacado do mesmo e em processo de troca constante com este. O espaço vital, por sua vez, também está dividido em partes que se inter-relacionam com maior ou menor permeabilidade, dependendo da dinâmica interna do mesmo e, mantendo um nível de tensão interna necessário à vida.

O campo está idealmente em equilíbrio, ou seja, a energia tende a estar bem distribuída no todo (campo/espaço vital). A organização interna do indivíduo define sua forma de funcionamento no mundo a cada momento. Este entendimento do homem está em consonância com a concepção de sistema autônomo proposta por Bertalanffy, conforme citado no Capítulo II.

Uma vez que o espaço vital se constitui na realidade psicológica do indivíduo, apenas forças que provoquem algum tipo de tensão no mesmo são reconhecidas como fatos e portanto percebidas. A tensão pode ser provocada por um fato ou por uma combinação de fatos no espaço vital num dado momento. Uma vez que um determinado fato (estímulo) é absorvido pelo espaço vital, o indivíduo tem uma gama de possibilidades para administrá-lo e produzir uma resposta. Esta visão do indivíduo não o reduz a um campo físico onde se dá a interação de forças, mas traduz claramente uma concepção sistêmica do seu funcionamento, entendendo o comportamento como uma função do meio no qual ele está inserido.

O campo, enquanto composto por figura e fundo em interação dinâmica, contém a história do todo, assim como todas as suas potencialidade. Este entendimento condiz com a visão sistêmica de que os processos observados no sistema, no presente, contém seu passado e suas possibilidades de crescimento.

A formação da figura pode ser entendida como o processo através do qual a configuração do campo permite a clara distinção da necessidade principal do indivíduo naquele momento, a partir da relação parte/todo.

"The excitations at the contact-boundary lend their energy to the formation of a sharper and simpler object-figure (...) This process of contacting (...) is in general a continuous sequence of grounds and figures (...) the whole process is an aware mounting excitement. Note that the energy for the figure-formation comes from both poles of the field, both the organism and the environment..." (Perls et alli, 1951, p.403).

Depreende-se desta passagem de Perls que o homem organiza o meio a partir de seu contato com o mesmo. Este princípio auto-organizador também já foi explicitado por Bertalanffy como característica dos sistemas vivos abertos. Lewin privilegiou a compreensão de "como" determinado fato afeta ou modifica o campo, em detrimento do "por que". Na Teoria de Campo, assim como na Gestalt-Terapia, a preocupação básica é a preponderância do entendimento sistêmico do fenômeno dado sobre o entendimento causal-linear do mesmo. A partir dessa visão relacional, em consonância com a visão sistêmica, pode-se compreender a importância do conceito de fronteira de contato para a Gestalt-Terapia. A fronteira de contato é justamente onde se dá a relação entre o indivíduo e o meio externo (no campo), sendo portanto um lugar de troca que não pertence nem ao indivíduo, nem ao meio, caracterizando-se justamente pela dinâmica da interação entre eles.

"... the contact-boundary is, so to speak, the specific organ of awareness of the novel situation of the field..." (Perls, Hefferline e Goodman, 1951, p.259).

Kurt Lewin desenvolveu sua teoria dentro de um modelo topográfico que não foi seguido por Perls. No entanto, a forma de compreender os fenômenos psicológicos enquanto decorrência da interação do homem com o meio foi integrada à Gestalt-Terapia. Para compreender o funcionamento e a interação entre as partes e o todo, Perls recorreu à Teoria Organísmica de Goldstein.

Goldstein foi um neurologista que se destacou por seu trabalho desenvolvido a partir dos conceitos básicos da Psicologia da Gestalt. Goldstein trabalhou com soldados que possuíam algum tipo de lesão cerebral decorrente de ferimentos de guerra. De seu trabalho com Goldstein, Perls trouxe para a Gestalt-Terapia a concepção do organismo como um todo, que age e tem funções, em detrimento da tendência dominante na Psicologia da época em estudar as funções psicológicas isoladamente.

"... Los procesos puestos en marcha por el estímulo no se hallan limitados a la parte del sistema nervioso cuya excitación corresponde al acto (...) el resto del sistema nervioso se halla asimismo afectado en mayor o menor grado, y existe una relación característica entre la excitación de la parte próxima y la excitación provocada en las partes remotas. En este sentido, decimos que el efecto proximal es el proceso de figura y el de la excitación en el resto del sistema nervioso es el proceso de fondo." (Goldstein, 1961, p.20)”.

A satisfação das necessidades em Gestalt-Terapia também é vista considerando o organismo total e se esta dá através do ciclo de auto-regulação organísmica (Zinker, 1979). A Gestalt-Terapia utiliza o ciclo como um referencial para o terapeuta, não como etapas a serem rigidamente obedecidas pelo cliente. O movimento de auto-regulação pode ser entendido como um ato organizativo, na medida em que o ciclo de auto-regulação é informacional (Gorenstin, 1992).

Para descrever sucintamente este ciclo pode-se dizer que a primeira etapa do mesmo é a da sensação. O organismo como um todo aos poucos percebe sensações que são experimentadas como uma determinada necessidade. A seguir, o indivíduo toma consciência da sua necessidade presente, já na segunda etapa do ciclo. A partir daí, na terceira etapa, a consciência da necessidade faz com que o organismo como um todo haja no sentido de obter a satisfação. Esta etapa se caracteriza pela excitação e mobilização da energia do organismo para a ação, dentro dos recursos de que dispõe. Chega-se então à etapa do contato propriamente dito, na qual ocorre a saciação da necessidade através da troca com o meio externo. Finalmente se dá a etapa de retraimento, na qual ocorre um relaxamento e a perda do interesse pela figura anterior. Agora o organismo está pronto para a formação de outra figura a partir da nova organização do fundo.

O princípio da auto-regulação organísmica que rege a satisfação das necessidades do indivíduo não significa que ele necessariamente alcançará tal objetivo (Latner, 1986). O homem não é determinado por suas necessidades, nem se limita ao mero exercício de restabelecimento de seu estado homeostático. Ele é um ser-em-relação com o que o meio lhe oferece, com o limite que o meio lhe dá e usa sua criatividade a seu favor nessa relação.

De acordo com o princípio da pregnância ou da boa forma, o todo assume a melhor configuração possível dentro das circunstâncias presentes. Em consonância com este princípio da Psicologia da Gestalt, para a Gestalt-terapia a auto-regulação não é garantia de satisfação ou saúde, mas de que o organismo está fazendo o melhor por si no momento (Latner, 1986). Neste processo figura e fundo são interdependentes e igualmente importantes.

"Por lo común pasamos por alto el fondo de un acto y prestamos atención únicamente a la figura. Mas desde el punto de vista de la observación sistemática y de la metodologia esto es falso, pues la figura y el fondo se hallan íntimamente relacionados entre si. Ninguno de ellos puede ser valorado debidamente prescindiendo del otro." (Goldstein, 1961, p.21)”

A Teoria Organísmica defende também que o indivíduo tem uma motivação dominante para o crescimento e desenvolvimento ordenados, no sentido da plena realização das suas potencialidade. Goldstein denominou esta motivação auto-realização.

"...Hemos aprendido que el hombre es un ser que no se limita a luchar por su autoconservación, sino que se halla impulsado a manifestarse espontáneamente y en su capacidad creadora." (Goldstein, 1961, p.143).”

O comportamento é visto, na abordagem gestáltica, como uma forma de ajustamento criativo do indivíduo à situação presente dentro de uma relação parte/todo, no sentido da auto-realização através do fluxo figura/fundo.

" ... el impulso único o tendencia básica del organismo es la actualización de si mismo según sus potencialidades, en el grado máximo alcanzable". (Goldstein, 1961 , p.160)”.

Na Gestalt-Terapia esta posição de Goldstein está também sustentada pelo embasamento filosófico existencialista. Segundo este, o homem é o único ser capaz de se projetar no futuro e construir a si mesmo. (Ribeiro, 1985). A filosofia existencialista, outra influência marcante na Gestalt-Terapia, propõe o respeito pela alteridade, que é necessário para a confirmação do cliente enquanto pessoa também distinta e única.

Após este esboço de alguns conceitos fundamentais das teorias Organísmica e de Campo, enquanto influências na Gestalt-Terapia, cabem alguns comentários. Ambas as teorias têm como base a relação parte/todo, provinda da Psicologia da Gestalt, que, por sua vez, nos remete aos primórdios do pensamento sistêmico. Assim, podemos dizer que os conceitos de sistema, todo e campo se equivalem, na medida em que se baseiam nas relações enquanto via para a compreensão dos fenômenos.

A Abordagem Gestáltica afirma um modelo autônomo de homem, entendido aqui como um homem capaz de se ajustar criativamente. Em consonância com o pensamento sistêmico, a Gestalt-Terapia não reduz o homem a um ser (ou máquina) que reage a estímulos do meio, sobrevivendo através da retroalimentação por erro segundo padrões pré-estabelecidos. Esta abordagem reconhece a autonomia do homem como sendo sua capacidade e possibilidade de escolher o comportamento que assumirá a cada momento, segundo seus próprios parâmetros. Esta idéia é plenamente compatível com a concepção sistêmica de auto-organização.

No senso comum os conceitos de autonomia e auto-suficiência se tornam nebulosos e/ou se confundem. Buscando a distinção entre eles encontramos, segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1975) as seguintes definições:
Autonomia:
"a faculdade de se governar por si mesmo, (Ét.) propriedade pela qual o homem pretende poder escolher as leis que regem sua conduta".
Auto-suficiência:
"denota a qualidade do ser que se basta a si mesmo."

O conceito de autonomia, em Gestalt-Terapia, não se confunde com o de auto-suficiência. Isto seria um contra-senso em termos gestálticos e sistêmicos, já que um ser auto-suficiente prescinde da relação, ou seja, da vida. É justamente através da relação que o organismo se organiza. Esta organização é o que a Gestalt-Terapia se refere como suporte. O indivíduo obtém seu auto-suporte a partir de informações a seu respeito: fisiologia, postura, coordenação, sensibilidade, sentidos, habilidade motora, habilidade para usar a linguagem, pensamentos e sensações presentes (Latner, 1986).

Na prática o gestalt-terapeuta tem o papel de facilitar que o cliente possa perceber (se conscientizar) de como está organizando a cada momento o seu funcionamento, desta forma ampliando seu auto-suporte. Conscientizar-se aqui tem o sentido de "awareness" (termo sem tradução em português), entendida em Gestalt-Terapia como uma informação multidimensional (Gorenstin, 1992). O conceito de "awareness" é primordial na Gestalt-Terapia, uma vez que é basicamente nela que se centra a possibilidade de contato do indivíduo consigo mesmo e com o meio. " ... Awareness is the spontaneous sensing of what arises in you - of what you are doing, feeling, planning..." (Perls, et alli, 1951, p.75).

Uma vez que a "awareness" se dá, uma nova informação é acrescentada ao sistema, ou seja, amplia-se a fronteira de contato e se estabelece uma nova organização, que abre novas possibilidades para o processo contínuo figura/fundo.

O crescimento do cliente no "setting" psicoterápico se dá através da relação com o terapeuta. Esta relação se estabelece entre dois sistemas, o Eu e o Tu (Buber, 1974). Primordialmente para Buber a relação se dá no "entre" o Eu e o Tu e coloca esta relação como dialógica, podendo ser entendida como um encontro, uma relação essencial, um diálogo entre dois indivíduos que os confirma enquanto seres singulares. Nas suas palavras:

"O Tu se apresenta ao Eu como sua condição de existência, já que não há Eu em si, independentemente, em outros termos o si mesmo não é substância mas relação. O Eu se torna Eu em virtude do Tu. Isto não significa que devo a ele meu lugar. Eu lhe devo a minha relação a ele. Ele é meu Tu somente na relação, pois, fora dela, ele não existe, assim como Eu não existo a não ser na relação". (Buber, 1974, p. XLIX).

Buber entende o homem enquanto uma totalidade ativa. Esta condição lhe permite estar pronto para estabelecer uma relação dialógica, porém reforça que ela se dá na reciprocidade entre o Eu e o Tu. Reciprocidade é entendida por Buber como a responsabilidade, ou seja, a habilidade para emitir uma resposta diante do convite para relação dialógica.

Para entender a relação Eu-Tu (experiência), há que se recorrer à definição de relação Eu-Isso (utilização ou uso), que sucintamente pode ser colocada como o reino da relação de manipulação e de coisificação de um dos pólos da relação.

"...o Eu de Eu-Isso usa a palavra para conhecer o mundo, para impor-se diante dele, ordená-lo, estruturá-lo, vencê-lo, transformá-lo." (Buber, 1974, p.LI.).

Dentro da visão fenomenológica da Gestalt-Terapia, pressupõe-se que o que percebemos de um "cliente" é apenas um aspecto, ou uma forma de expressão do fenômeno total, dentre outras que estão acontecendo quando uma relação se estabelece. As limitações inerentes à condição humana não permitem que o fenômeno seja percebido em sua plenitude. Reconhecendo essa limitação, o terapeuta precisa ter o cuidado de verificar se sua percepção é também a do cliente, em relação ao que ocorre naquele momento.

Ainda dentro dessa visão, o terapeuta reconhece a presença de seus próprios conteúdos internos na relação que estabelece com o cliente. A fim de se relacionar com seu cliente enquanto indivíduo singular, o terapeuta busca colocar "entre parênteses" seus conteúdos pessoais na tentativa de estabelecer uma relação Eu-Tu (Buber) com o mesmo.

Este movimento de colocar sua consciência "entre parênteses" é denominado redução fenomenológica. Assim, cria-se um terreno fértil onde terapeuta e cliente podem construir um espaço de crescimento e troca. Dessa forma, afirma-se na Gestalt-Terapia a participação do observador no fenômeno apreendido.

A abordagem gestáltica é experiencial e trabalha com o aqui e agora. Segundo Polster (1979), o passado e o futuro são encarados como um fundo que sustenta o presente. As experiências passadas e as expectativas futuras influenciam a experiência presente, provocando tensões, trazendo lembranças e delineando uma figura. Contudo, é no presente que esta figura está se manifestando e é no aqui e agora que existe a possibilidade de experienciar o seu significado no fundo atual e de facilitar a mudança.

"... A totalidade emerge através do reconhecimento, da intensificação e do foco contínuo, até que a descarga motora - que está disponível somente no presente - afinal libera a pessoa de viver no passado morto". (Polster, 1979, p.27).

Assim, na Gestalt-Terapia, a relação terapêutica é um fenômeno experimentado pelo terapeuta e pelo cliente naquele momento, pertencendo a essa área de interseção (fronteira) entre os dois sistemas que se auto-regulam mutuamente.

Dentro do método experiencial adotado pela Gestalt-Terapia, o experimento ocupa um lugar de destaque. Foram criadas, adaptadas e desenvolvidas várias técnicas dentro da abordagem, com o intuito de facilitar que o cliente experiencie seu funcionamento presente. Cabe ressaltar porém que o experimento só faz sentido na Gestalt-Terapia enquanto proposta de ampliação da fronteira de contato do cliente, numa tentativa de facilitar o seu desenvolvimento em todas as suas potencialidades. Assim, pode-se dizer que a própria relação terapêutica é um experimento em si.

"Acredito que a "awareness" na relação terapêutica é importante para um bom andamento na terapia. Somos seres relacionais, e é apenas nas relações que conseguimos realmente alguma mudança afetiva e é também nas relações que construímos nossas doenças." (Ribeiro, M., p.32, 1991).

Nesse contexto, o terapeuta pode ser diretivo, respeitando a autonomia do cliente. O papel ativo só existe porque há espaço para o cliente também ser autônomo. O gestalt-terapeuta não tem uma forma de organização pré-determinada à qual o cliente deve chegar. Na Gestalt-Terapia não existe um "experimento que não deu certo". Toda e qualquer forma de expressão e organização que o cliente assumir é igualmente legitimada e sustentada pela relação terapêutica.
Conforme o princípio sistêmico da eqüifinalidade, o indivíduo (sistema) se auto-organiza autonomamente, sob as mais variadas formas, tendendo a se manter dentro de sua faixa de homeostase. A proposta de relação terapêutica da Gestalt-Terapia também está de acordo com a visão sistêmica de homem, uma vez que terapeuta e cliente são entendidos como indivíduos ativos, autônomos e responsáveis pela relação que entre eles se estabelece.

Esta crença permite ao terapeuta aceitar e acompanhar qualquer forma de organização e funcionamento que o cliente venha a apresentar ao longo do processo terapêutico, reconhecendo no cliente a condição de autor de sua história. O terapeuta tem uma atitude de disponibilidade e acolhimento que traduzem seu respeito pelo outro (cliente) que se apresenta a ele.

A clareza na definição dos papéis do terapeuta e do cliente é fundamental para o desdobramento do trabalho. Clareza não significa rigidez para negociação, porém reconhecimento dos limites que perpassam todas as relações humanas, constituindo-se numa oportunidade de ambos experimentarem novas possibilidades de relacionamento num "setting seguro".

Quando estas condições se reúnem, na relação terapêutica, podemos "tocar" e "ser tocados" por alguém com quem empatizamos e em quem confiamos. Neste contexto, podemos nos aproximar e mostrar os aspectos mais desprezados por nós mesmos e, ainda assim, sentir-nos aceitos e respeitados em nossa humanidade, podendo integrar partes escotomizadas do nosso ser, através da reorganização e utilização do potencial humano.

Através da relação terapêutica, o cliente tem a possibilidade de experimentar uma nova forma de se relacionar. Neste contexto, pode dar-se conta dos mecanismos através dos quais ele se impede de perceber a configuração do campo em que está inserido. Portanto, tem a oportunidade de escolher se quer modificá-los ou não. Acreditamos, enquanto gestalt-terapeutas, que a partir dessa experiência, o cliente poderá explorar e expandir seu potencial, escolher e criar formas de se relacionar consigo próprio e com o mundo de uma maneira mais real e plena.


Capítulo V – Nossa experiência, nossa evolução

Até este momento fizemos todo um percurso teórico o qual consideramos fundamental para verificar o que inicialmente, nos parecia possível: a existência de uma proximidade entre a proposta de relação terapêutica da Abordagem de Terapia Familiar Sistêmica Construtivista e da Gestalt-Terapia.

Até o início de nossos estudos para esta monografia, passamos um ano atendendo famílias no curso de Especialização em Terapia Familiar Sistêmica desta instituição. Com base nessa experiência teceremos algumas considerações que se restringirão à relação terapêutica, foco desta monografia.

Sentíamos falta de uma maior clareza do que nos norteava quando estávamos com cada uma das famílias no "setting" terapêutico. O que nos fazia seguir determinado caminho e não outro? O que nos levava a fazer determinadas perguntas e não outras? O que nos fazia escolher determinadas técnicas?

Ao nos aprofundarmos mais nos pressupostos básicos de cada uma das abordagens citadas acima, percebemos que a propostas de relação terapêutica em ambas é muito semelhante. A intenção desta monografia não é verificar uma total equivalência teórica entre elas, e sim enfocar a relação terapêutica segundo a proposta de cada uma.

Durante o curso pudemos experimentar dois momentos bem marcantes. Um foi durante o primeiro ano e meio, quando tanto a teoria estudada, quanto nossa prática de Terapia Familiar Sistêmica baseavam-se em autores da primeira e da segunda cibernéticas de primeira ordem. As supervisões centravam-se basicamente nas descrições das sessões trazidas pelas terapeutas.

No último semestre do curso tivemos a oportunidade de conhecer o Construtivismo, dentro de uma perspectiva de cibernética de segunda ordem. Tínhamos a sensação de estar entrando em outro mundo de pensamento, outra forma de trabalhar totalmente diferente em termos de Terapia Familiar.

Pensar de forma construtivista foi experienciado como um trabalho em cima da relação estabelecida no sistema terapêutico, formado pelo subsistema terapêutico e o subsistema familiar, e não no andamento do "caso" em si. A partir de então passamos a viver na equipe um momento de transição epistemológica. Os atendimentos ainda eram relatados pelas co-terapeutas e a supervisão dos mesmos, pela equipe, agora se dava na forma do "Reflecting Team", o qual foi descrito no Capítulo III.

Neste contexto tornou-se possível sermos trabalhadas como terapeutas e também como pessoas em supervisão, de maneira menos ameaçadora e mais profunda. Facilitava-se assim a reflexão a respeito do fenômeno dado na supervisão, que era utilizado como mais um recurso para o qual o subsistema terapêutico despertava.
Para falar de nossa experiência no curso de Terapia de Família é fundamental lembrar que esta se desenvolveu no contexto do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, durante dois anos (Março, 1992 - Março, 1994). Apesar deste aspecto não ser o cerne de nossa monografia, não podem passar desapercebidas as características da instituição e a especificidade da clientela que atendemos, além da forma como fomos afetadas por elas enquanto pessoas e profissionais.

No Instituto de Psiquiatria desta instituição, durante este período, convivemos com os diferentes discursos dos profissionais de saúde dos setores com os quais trabalhamos: Enfermaria, Centro de Integração Psicossocial (anteriormente denominado Hospital-dia) e o Infanto-juvenil.

Tivemos assim a oportunidade de exercitar uma escuta e uma expressão que possibilitassem a troca entre os profissionais de diferentes áreas que ali se encontravam, como por exemplo, terapeutas de família, médicos, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, psicólogos e demais funcionários da instituição.

A clientela é basicamente composta por famílias com pelo menos um paciente considerado psiquiátrico. Neste contexto mais uma vez percebemos a igual importância do desenvolvimento pessoal e técnico dos que se propõem a trabalhar com pessoas que apresentem esse tipo de característica.

No decorrer do curso atendemos várias famílias, sempre em co-terapia, conforme nos era orientado. Tivemos, então, a oportunidade de formar diferentes duplas terapêuticas. Em cada dupla pudemos perceber que atuávamos de formas diferentes. Nesta monografia nos deteremos apenas às observações de atendimentos realizados em co-terapia pelas duas autoras.

Considerar a nossa relação, bem como a relação estabelecida entre nós e a família é fundamental para o nosso entendimento sistêmico do fenômeno que se apresenta e do qual natural e inevitavelmente fazemos parte.

Desta forma, optamos por formar uma dupla terapêutica, por nos conhecermos, ao menos superficialmente, em função de termos cursado a mesma universidade e por termos o mesmo embasamento teórico em Gestalt-Terapia.

Com o transcorrer do curso surgiram situações durante os atendimentos, discussões dos mesmos e supervisões que nos permitiram uma aproximação pessoal e profissional muito maior. Houve momentos em que até nos percebíamos "respirando juntas" e momentos em que parecia que não estávamos na mesma sessão.

Á medida em que nos tornamos mais próximas, pudemos compartilhar algumas de nossas características (dificuldades e virtudes), e nossa relação tornou-se mais fluida. Este movimento incluiu fazermos descobertas a respeito de nossas próprias famílias de origem e compartilhá-las, não como justificativa para nossas dificuldades, mas como forma de facilitar a construção de uma relação de complementaridade e de cumplicidade no "setting" terapêutico.

Esta relação nos deu também suporte para termos maior flexibilidade nos atendimentos às famílias, bem como para questionar constantemente nossa própria prática. Desta relação de co-terapia ficou o gosto pelo exercício constante de confiança, verificação e confirmação do co-terapeuta.

Experienciávamos em nossa relação de co-terapia, bem como na relação que estabelecíamos com o subsistema familiar, diferentes níveis de auto-regulação, de acordo com o nosso nível de organização interna. Observamos que, em determinados momentos, tendíamos a funcionar de maneira mais rígida com as famílias. Essas ocasiões muitas vezes "coincidiram" com momentos de insegurança ou desconforto nossos e/ou da família. Percebia-se congruência entre o fenômeno dado naquele momento e as diferentes relações que emergiam no sistema terapêutico.

A nosso ver ocorreu uma evolução em nosso trabalho em co-terapia no decorrer do curso. Atendemos três famílias distintas às quais nos referiremos aqui como família A, família B e família C.

Os primeiros contatos com a família A se deram durante o quarto mês de nosso curso. No transcorrer deste processo terapêutico, fomos percebendo que ainda não nos sentíamos integrantes da equipe de terapia familiar, e nem suficientemente seguras para atender a clientela da instituição dentro da abordagem sistêmica.

O atendimento das famílias B e C foi iniciado alguns meses após o primeiro contato com a família A. No decorrer do processo terapêutico estabelecido com a família B começamos a perceber como era importante, para nós e para o andamento do tratamento, a forma como se estabelecia a relação no sistema terapêutico.

Ao longo do processo terapêutico com a família C tivemos a oportunidade de iniciar o estudo da Abordagem Sistêmica Construtivista de Terapia Familiar. A partir de então passamos a viver a transição epistemológica, anteriormente citada no presente capítulo, dentro e fora das sessões.

Com cada uma das famílias citadas estabelecemos relações e expectativas diferentes. Não pretendemos aqui fazer um estudo detalhado de cada uma delas. Procuraremos ressaltar apenas situações e sentimentos em relação às famílias que consideramos importantes no decorrer dos atendimentos e nos restringiremos ao tema desta monografia: a relação estabelecida no sistema terapêutico.

A primeira família que atendemos juntas foi a família A. Era composta por pai (PA.), mãe (MA.), filho (FA1) e mais quatro irmãos. Só compareciam às sessões PA., MA. e FA1, os demais irmãos nunca compareceram e nem pareciam ter interesse em fazê-lo, apesar de nossos convites.

A família foi indicada para o Setor de Família pela equipe do Centro de Integração Psicossocial, então denominado Hospital-dia, desta instituição. A equipe do Hospital-dia considerou que FA1, o qual tinha o diagnóstico de esquizofrênico, havia obtido muitos ganhos individuais em seu tratamento naquele Setor, mas que sua família permanecia sempre distante daquele processo. Os profissionais do Hospital-dia consideraram que esta atitude da família não só não o ajudava a progredir, como também o atrapalhava em seu tratamento.

Na época, era bastante constante que FA1 passasse bem durante toda a semana e nos finais de semana, quando não havia atividades no Hospital-dia, ele entrasse em "crise". A equipe do Hospital-dia considerou obrigatório que a família participasse mais do tratamento a partir de então e o caminho determinado foi a Terapia de Família. A permanência de FA1 no então denominado Hospital-dia foi vinculada ao comparecimento da família às sessões de terapia familiar.

Desde o início do tratamento percebemos que não seria fácil nos aproximarmos da família. Logo nos primeiros contatos telefônicos notava-se que a família não estava motivada para se envolver no tratamento.

O clima nas sessões era agressivo e nos sentíamos intimidadas pelo subsistema familiar. Apesar de estarmos percebendo que o subsistema terapêutico e o subsistema familiar estavam distanciados, parecia-nos impossível modificar aquele contexto sozinhas.

A situação ficou cristalizada sem haver modificação na relação estabelecida no sistema terapêutico. A família faltava muito, chegava atrasada e nos percebíamos sem disponibilidade interna para investir mais nesse atendimento. Apesar da proposta ser de atendimento quinzenal, durante esse período só conseguimos estar com eles por 13 (treze) sessões. O sentimento presente para nós era o de estarmos constantemente "remando contra a maré".
Apesar de procurarmos discutir com a equipe, a partir de nossa descrição do que acontecia em cada sessão, não conseguíamos vislumbrar outras formas de estar com a família que não fosse nos sentindo acuadas, agredidas ou desqualificadas. No início do processo, juntamente com a equipe do Hospital-dia e do Setor de Terapia Familiar, tínhamos metas traçadas a alcançar com a família. Percebíamos a família sem flexibilidade nas relações entre seus membros e acreditávamos que PA precisava estar mais próximo do filho. Tínhamos um modelo de família rígido e precisávamos encaixar esta família no mesmo.

Parecia-nos impossível aceitar a idéia de que a família optava por permanecer naquela situação e qualquer alteração nos padrões era demasiadamente ameaçadora tanto para a família quanto para as terapeutas. Necessitamos da presença de nossa supervisora para que fosse possível a suspensão formal do atendimento, um ano após seu início, já que de outra forma nos parecia impossível. Após o encerramento do atendimento familiar, o então denominado Hospital-dia, repensou sua posição inicial com respeito ao tratamento de FA1 ser vinculado à terapia familiar.

Sem disponibilidade do sistema terapêutico a relação não fluía, isto é, não acontecia terapia. De forma geral, podemos concluir que a família e as terapeutas sentiam-se acuadas. Aprendemos com esta experiência a importância da disponibilidade da família para a mudança e das terapeutas para percorrer junto com a mesma esse caminho.

A segunda família que atendemos juntas foi a família B. A família era composta por pai (PB.), mãe (MB.) e duas filhas adolescentes FB1 e FB2. Esta família foi encaminhada para o Setor de Terapia Familiar pelo neurologista que acompanhava o tratamento de FB1, a qual tinha o diagnóstico de epilepsia. As crises de FB1 eram praticamente diárias e esta já havia feito vários tratamentos, porém não havia ainda conseguido controlar sua epilepsia. O neurologista considerava que suas crises poderiam ter um componente emocional.

O processo terapêutico teve a duração de seis (seis) meses e foi interrompido em função da total incompatibilidade de horário existente entre a família e as terapeutas. PB. foi transferido para um local de trabalho mais distante, o que tornava inviável sua vinda para as sessões antes do expediente, como era de costume. Paralelamente FB1 e FB2 passaram a estudar em turnos diferentes em função do que era oferecido pela escola onde estudavam. Naquele momento o único horário possível para a realização das sessões era às 19 horas, o que portanto estava fora da disponibilidade do Setor de Família desta instituição.

No início deste processo terapêutico, nos chamavam a atenção determinadas características do sistema terapêutico, que acreditamos terem influenciado a relação terapêutica estabelecida. Sentíamo-nos de alguma forma próximas dos acontecimentos e sentimentos expressos pelo subsistema familiar.

A família encontrava-se numa fase do ciclo vital que podemos denominar de etapa de casal com filhos adolescentes e trazia questões relacionadas à mesma. Nós havíamos passado pela transição desta fase do ciclo, enquanto filhas, recentemente, e ainda vivíamos paralelamente a passagem de nossos irmãos pela mesma. Outra característica que consideramos importante ressaltar desta relação terapêutica é a semelhança de algumas formas de estabelecimento de relações nos subsistemas desta família com as formas que vivenciamos em nossas próprias famílias de origem.

Aprendemos com este atendimento, entre outras coisas, a exercitar nossa capacidade de estar atentas para o que nos é familiar e a colocá-lo "entre parênteses". Esse exercício nos facilitou ficar livres e abertas para o estabelecimento de novas formas de auto-regulação.

Constatamos também o quanto nossa percepção da extensão de nossa influência no processo pode ser limitada. No Natal de 1993, 9 (nove) meses após a interrupção do atendimento, a família, através de MB., entrou em contato conosco. Sinalizou que continuavam em um processo de mudança e que, de certa forma, apesar de não estarmos tendo um contato direto com a família, ainda fazíamos parte do mesmo.

Compreendemos que a vivência da relação estabelecida no sistema terapêutico propiciou mudanças no subsistema familiar (ampliação de um ponto de flutuação na evolução do sistema). Citaremos um movimento básico percebido na sessão para expressar essa idéia.

Inicialmente percebemos cada uma de nós se relacionando com mais intensidade com subsistemas diferentes, dentro do subsistema familiar, o que não dificultava nossa interação, enquanto subsistema terapêutico. Ao passo que uma empatizava mais com o subsistema parental, a outra o fazia com o subsistema fraternal. A partir da diferença de empatia existente e sua conseqüente expressão nas relações estabelecidas, pudemos oferecer uma opção de respeito e convivência com a diferença através da relação do subsistema terapêutico. Este processo permitiu ao subsistema familiar experimentar e escolher novas formas de auto-regulação com um maior grau de autonomia também após a interrupção formal do mesmo.

A terceira família que atendemos juntas foi à família C. Esta era composta por um casal separado, pai (PC.), mãe (MC.) e dois filhos adolescentes, um rapaz (FC1) e um moça (FC2).

MC. Procurou o Setor Infanto-Juvenil desta instituição em função do distúrbio de conduta apresentado por FC1. Este Setor a orientou a inscrever sua família no Setor de Família.

A família foi atendida por aproximadamente 16 (dezesseis) meses. Passou por fases de atendimento semanal, quinzenal e mensal de acordo com o momento do processo em que o sistema terapêutico se encontrava.

Ao longo desse processo tomamos efetivo contato com a Abordagem Sistêmica Construtivista de Terapia Familiar, conforme descrito anteriormente. Experimentamos, então, trabalhar nessa nova esfera, principalmente em termos das supervisões relativas a este atendimento.

Durante as sessões, nos percebíamos exercitando a atualização constante de nossa percepção do sistema terapêutico. Conforme mudava nossa percepção da dificuldade mais pregnante do subsistema familiar, se modificava também nossa forma de nos relacionarmos com o mesmo. Variamos nossa forma de encarar e de nos referir a ele no decorrer do processo.
No primeiro contato nos pareceu estar diante de uma família de pais separados com filhos adolescentes e, ao longo do processo, esta passou a ser entendida por nós através de várias outras "definições", como por exemplo: "família com filho agressivo", "família em que a separação é ambígua", "família com mãe com transtorno afetivo bi-polar", "família com filhos que cuidam dos pais", "família com rigidez de papéis", "família com filha suicida", "família com autonomia sobre seu processo de reorganização".

Uma característica deste processo terapêutico foi a circularidade da posição de "problema da família", como se pode perceber através das diferentes "definições" que demos ao subsistema familiar. Entendíamos o membro do subsistema familiar que ocupava esta posição como alguém que possuía uma determinada característica, que afetava e era afetado pelo sistema terapêutico de alguma maneira, naquele momento. Acreditamos que esta postura adotada pelo subsistema terapêutico foi importante para o desenrolar deste processo. Esta postura trazia uma nova versão do problema para o sistema terapêutico dentro da proposta construtivista.

Neste contexto, podemos perceber que nossa postura de respeito e confirmação das particularidades de cada um facilitou o surgimento de novas formas de organização para o mesmo. Estas particularidades eram entendidas por nós como construções do próprio sistema. Aprendemos com esta experiência que o respeito pelo que é trazido pelo subsistema familiar, com um objetivo terapêutico, sem um modelo a priori por parte do subsistema terapêutico, é fundamental para o processo de ganho de autonomia do subsistema familiar.

Outra característica percebida por nós neste processo, foi nossa disponibilidade para atender esta família. Igualmente a mesma mostrava-se empenhada em comparecer às sessões, apesar das eventuais dificuldades que enfrentavam - horários de trabalho e escola, crises de MC., etc. Isto se tornou evidente pela mobilização que havia de ambas as partes para o atendimento nos horários e freqüências mais variados, dentro do que era oferecido pela instituição, ao longo do processo psicoterápico.

Este movimento do sistema terapêutico refletiu a motivação e a abertura que havia, tanto por parte do subsistema familiar, quanto do subsistema terapêutico, no sentido de se engajar na relação. Isto possibilitou ao sistema terapêutico uma base sólida sobre a qual se desenvolveu um espaço para vivenciar e refletir a respeito do fenômeno que era mais pregnante, a cada momento.

Esta experiência nos permitiu confirmar, na prática, a crença de que algum nível de motivação se faz necessário para criar um contexto onde o processo psicoterápico possa acontecer. Em termos sistêmicos podemos concluir que dois subsistemas precisam encontrar uma faixa comum de troca informacional para que a auto-regulação mútua possa acontecer.

Outra característica marcante desse processo psicoterápico foi a constatação da mudança enquanto um processo contínuo ao qual nem sempre estamos atentos. Ao longo de 16 (dezesseis) meses de trabalho observamos mudanças no sistema, que nos pareciam a princípio pequenas. Por vezes tínhamos a impressão de que o sistema terapêutico estava estagnado ou até regredido. Assim, pudemos confirmar que a evolução não é um processo necessariamente linear.
Paralelamente à nossa evolução citada acima, o subsistema familiar também se modificou, o que se expressou diferentemente com cada um de seus membros.

Na fase final do processo psicoterápico, FC2 pôde escolher experimentar ocupar um lugar de filha, que precisava ser cuidada e sentir-se amada. Entendemos que para tal ela se fez valer de diferentes recursos dentro do contexto em que se encontrava naquele momento, como por exemplo pedir uma sessão individual a nós quando da morte de seu avô (de quem gostava muito); pedir explicitamente carinho aos pais; faltar à escola; tentar se suicidar, porém desistindo no meio do caminho e faltar às duas sessões anteriores ao fechamento.

Entendemos que, dentro do processo vivido, suas faltas às sessões expressavam que ela deixava de se responsabilizar pelos compromissos da família como costumava fazer no início do processo psicoterápico. Na última sessão, FC2 esclareceu que havia faltado por achar que estava passando por um momento difícil que não gostaria de compartilhar com o sistema terapêutico. Disse que estava sentindo necessidade de um espaço próprio e que já havia iniciado um processo psicoterápico individual.

MC. sofria de transtorno afetivo bi-polar, fato que nos havia passado desapercebido até que a mesma o trouxe claramente nos primeiros atendimentos. Chamou-nos a atenção esta constatação. Neste contexto, dois pontos tornaram-se claros a respeito do subsistema terapêutico.

O primeiro foi a nossa dificuldade em lidar com a doença mental, evidenciada pelo próprio fato de nem suspeitarmos de que ela estava diante de nós. Pensando sistemicamente é importante salientar que o subsistema familiar não trazia essa questão como o problema naquele momento. No entanto, isto serviu para nos aprofundarmos em reflexões e trabalhos internos em torno desta questão.

O segundo ponto que se evidenciou foi a possibilidade de encarar a diferença, isto é a doença mental, como mais uma característica daquela pessoa, não como um rótulo que a define. Durante o processo terapêutico MC. passou por momentos de crise, em que sua medicação foi reavaliada, modificada e foi intensificado seu acompanhamento psiquiátrico. No entanto não houve necessidade de recorrer à internação naquele período, conforme acontecia pelo menos uma vez por ano até o início da Terapia Familiar.

Na fase inicial do processo, perceber que MC. era diferente não significou que teríamos essa questão como meta de trabalho terapêutico, na medida em que isto não era trazido pelo subsistema familiar como um problema, naquele momento. Com o desenrolar do processo terapêutico, o próprio subsistema familiar trouxe esta questão como problema e nessa oportunidade o sistema terapêutico pôde trabalhá-lo.

Na sessão de fechamento do processo psicoterápico, MC., através de presentes às terapeutas, mostrou sua perspectiva do processo de mudança. MC. fez questão de nos dar presentes e cartões individualizados, dizendo que éramos diferentes e que havíamos lhe transmitido coisas distintas (sic). Ao mesmo tempo em que fazia questão de nos distinguir enquanto pessoas diferentes, em termos do subsistema familiar, manteve-se como uma porta-voz, assinando por todos os cartões que ela própria nos escreveu.
Na mesma sessão, PC. nos transmitiu, através dos cartões de Natal entregues a nós, seu sentimento ao final desta experiência. Os dois cartões eram iguais e continham a mesma mensagem: "Nossa amizade vai até debaixo d'água! Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós juntos" (sic). Fica nítida em suas palavras uma modificação de sua perspectiva inicial de que os problemas de sua família eram individualizados para um entendimento relacional da mesma.

Por sua vez, FC1 pôde constatar que não ocupava mais o lugar cativo de ser "o problema da família", deixando em aberto a possibilidade de voltar a sê-lo (sic). Essa fala nos remeteu à idéia de que a flexibilidade que anteriormente não era explorada pelo subsistema familiar, estava começando a ser experimentada, ou seja uma nova versão da história estava surgindo.

Paralelamente ao processo da família, não podemos perder de vista nosso percurso como profissionais em formação. Conforme dissemos anteriormente, percebemos uma evolução em nossa forma de nos relacionarmos com as famílias. No contexto desta família esta evolução se torna nítida. Hoje nos damos conta de que, durante o primeiro ano do processo psicoterápico com a mesma, faltavam-nos respeito pela organização que estava diante de nós e uma escuta curiosa sobre as relações ali estabelecidas. Inicialmente trabalhávamos pensando em metas e objetivos concretos a alcançar com a família, como por exemplo, transformá-la numa família onde pais separados se separassem de fato, os filhos crescessem para seguir seu caminho de autonomia crescente e as crises de MC. pudessem ser administradas de uma forma mais tranqüila. Neste percurso assumíamos um papel de agente organizador, coordenávamos os diálogos estabelecidos nas sessões e procurávamos fortalecer as fronteiras entre os subsistemas.

Ao começarmos a estudar a Terapia Familiar Sistêmica Construtivista, verificamos uma mudança em nossa postura profissional, o que se refletiu em nossa relação com esta família. Conhecemos uma nova forma de estar com o subsistema familiar, a qual mostrava-se mais coerente com o que acreditávamos em termos de relação terapêutica. Passamos a abrir mão de objetivos pré-determinados, para priorizar a construção de um espaço de respeito e troca, onde as diversas vozes do sistema terapêutico pudessem ser ouvidas.

Como exemplo de nossa nova postura de relação, podemos citar o momento vivido pelo sistema terapêutico em que FC2 tentou cometer suicídio. Pudemos entender esse movimento como uma voz no sistema terapêutico e responder a ela sem negar nossos valores pessoais com relação à vida. Acreditamos sistemicamente que nessa ocasião o sistema terapêutico funcionou em um nível de auto-regulação mais estreito em função de uma menor organização transitória.

Ao final deste Capítulo, após trilharmos sucintamente nossos dois anos de curso de Especialização em Terapia Familiar, fica-nos a certeza de que estamos em processo de mudança. Este nosso processo implica em trabalho árduo, questionamento constante, repensar nossa prática e postura terapêuticas, lidar com impasses, respeitar limites, reconhecer características, apurar nossa escuta e, além disso, o que ainda temos por descobrir. Ser terapeuta, para nós, é aceitar o desafio desse processo para o resto de nossas vidas.

Capítulo VI – Considerações Finais

Após estudar os pressupostos básicos da Terapia Familiar Sistêmica Construtivista e da Gestalt-Terapia e de compartilharmos nossa experiência, traçaremos alguns comentários sobre o que pudemos apreender e observar.

Nossa preocupação no transcorrer desta monografia foi verificar se nossa postura, enquanto terapeuta, seria coerente ao abraçarmos estas duas abordagens de trabalho psicoterápico, tendo como foco a relação terapêutica.

Dentre os pontos que nos chamaram a atenção, encontra-se a forma de percepção da realidade presente nas duas abordagens. Acreditamos que esse ponto é fundamental, no sentido de que a forma como se percebe o mundo reflete a relação que se estabelece com o mesmo e vice-versa. Ao nos aprofundarmos nestas duas abordagens constatamos que estão no mesmo campo epistemológico, no que se refere à construção da realidade, o que poderá mostrar uma coerência entre as propostas de relação. De acordo com a concepção de Maturana, a percepção da realidade é um evento que inclui necessariamente, tanto a realidade observada, quanto o observador que a percebe. Assim, a noção de "multiversa" abarca a interação a nível individual, bem como a ecologia de interações de um dado sistema. Ele propõe um mundo de sistemas observantes, compartilhado e construído tanto pelo observador quanto pelo observado.

Desta forma Maturana participa da mesma característica epistemológica que já tinha tradição na Psicologia desde as primeiras décadas deste século (Psicologia da Gestalt, Teoria Organísmica e Teoria de Campo). Esta tradição, que se reflete no entendimento relacional do mundo, também influenciou outras áreas de conhecimento. Dentro desta perspectiva não existe um mundo "lá fora", sem observador. Esta questão epistemológica está presente na Terapia Familiar Sistêmica Construtivista e nos primeiros modelos sistêmicos na Psicologia, e como já mencionamos no Capítulo IV, a Gestalt-terapia é herdeira destes primeiros modelos sistêmicos.

Segundo a Gestalt-Terapia, conforme o aporte teórico da Psicologia da Gestalt, a percepção de configurações se dá através da interação entre o homem e o meio. O ato de perceber é entendido como a forma através da qual o homem organiza seu mundo, delimitando figura e fundo.

Em termos sistêmicos poderíamos dizer que o mundo é um mar de caos e a vida é uma ilha de organização (negentropia) que sobrevive, se desenvolve e evolui segundo suas próprias leis, em interação com o meio entrópico. A noção de "multiversa" de que Maturana fala corresponde na Gestalt-Terapia ao processo contínuo de formação figura/fundo, que é singular para cada indivíduo e em cada momento. Esta noção de "multiversa" está em consonância também com o entendimento da Gestalt-Terapia de que a configuração presente no sistema a cada momento é sempre a melhor possível para o mesmo.

Na abordagem Construtivista a noção de "multiversa" de Maturana se reflete na concepção da relação terapêutica enquanto uma relação de eqüidade e de interdependência. Já na Gestalt-Terapia, os participantes da relação Eu-Tu (Buber) ocupam lugares diferenciados na relação terapêutica e se confirmam mutuamente sem que a percepção de um desqualifique ou se sobreponha à do outro.
Lembrando do entendimento do que Buber denominava, Eu-Tu (Capítulo IV), há que se recorrer a sua definição de relação Eu-Isso (Capítulo IV). Nesse sentido, através da contribuição de Buber para a Gestalt-Terapia, há sempre a intenção de alcançar uma relação Eu-Tu, que se denota pelo caráter dialógico, no sentido de se evitar uma hegemonia desumanizada, no modelo da relação Eu-Isso.

Ambas as abordagens propõem um modelo de relação terapêutica dialógica, onde é enfatizada a auto-regulação mútua dos dois subsistemas em interação. Experimentamos uma relação dialógica, quando, para dar sentido a um determinado movimento do subsistema familiar, buscamos a compreensão de nossos próprios sentimentos e impressões relacionadas a esse mesmo movimento.

Lynn Hoffman, uma das expoentes da Terapia Familiar Sistêmica Construtivista, cita como parte importante de seu trabalho a ênfase dada à "voz diferente". Neste contexto surge a oportunidade dos diferentes membros do sistema terapêutico se colocarem e com isso possibilita o surgimento de novas versões para uma mesma questão.

Esta forma de trabalhar mostra-se congruente com os pressupostos da Gestalt-Terapia. Ouvir todos os membros da família pode ser entendido como um ato de confirmação existencial e respeito pela auto-regulação organísmica do sistema e pela sua percepção do mundo. O sistema, enquanto gestalt, se organiza da melhor maneira possível no aqui e agora. O surgimento de novas versões de uma questão equivale, em termos da Gestalt-Terapia, à possibilidade de explorar as potencialidades do ser humano/sistema.

Continuamos buscando uma postura de curiosidade, respeito e confirmação existencial, quando procuramos colocar nossas percepções e versões do momento que compartilhamos com o subsistema familiar. Tentamos também permanecer abertas para as novas configurações emergentes. Em nosso trabalho psicoterápico constatamos que, em muitos momentos, isso não é possível, porém consideramos importante ter em mente esta meta para estarmos coerentes com a proposta de relação terapêutica em que acreditamos.

Os autores construtivistas afirmam que para atender à família, ou ao sistema determinado por um problema, não é necessário ao terapeuta eximir-se de seus saberes e valores. A posição de neutralidade é reconhecida como impossível. O terapeuta construtivista admite que percebe a família necessariamente a partir de seu referencial pessoal e profissional e, tendo consciência disto, torna-se apto para observar e ser observado neste processo.

Da mesma forma, o gestalt-terapeuta se faz presente como pessoa no atendimento, consciente de si mesmo e da forma como a relação se estabelece (redução fenomenológica). O terapeuta que trabalha de acordo com esta abordagem busca colocar seus conteúdos "entre parênteses" e estar disponível para o encontro existencial com seu cliente. Entendendo que "entre parênteses" não é uma negação da experiência existencial, mas uma reserva para alcançar outros patamares para o encontro e possibilidade de conhecimento.

O gestalt-terapeuta usa, neste movimento, a si mesmo como instrumento e se vale de seu papel na relação terapêutica como caminho de exploração e conhecimento do fenômeno que vive com seu cliente.
Nas sessões, nos percebíamos usando a nós mesmas como nosso próprio instrumento, quando trocávamos sentimentos e impressões entre nós e, por vezes chegando a colocá-los para o subsistema familiar, com o intuito de compreender a totalidade do fenômeno que vivíamos naquele momento.

Na abordagem construtivista, a criação de novas versões para o problema ou para a história da família é uma forma básica de trabalho que facilita a mudança. Estas novas versões são geradas pelo próprio subsistema familiar a partir de informações que haviam ficado à margem, ou que não eram percebidas.

Lembrando que o ciclo de contato na Gestalt-Terapia é informacional (Capítulo IV), torna-se claro que o processo terapêutico se dá através do acréscimo de informações. Este movimento de inclusão de novas informações e modificação da configuração do sistema é o que em Gestalt-Terapia se entende por ampliação da fronteira de contato e recuperação da flexibilidade do processo figura/fundo.

Ao procurar o Setor de Família desta instituição, o subsistema familiar trazia sua história. Em nosso movimento de compreendê-la, mantínhamos uma postura de curiosidade e respeito. Em muitos momentos, a partir desse movimento do subsistema terapêutico, eram (re)descobertas informações que possibilitavam o surgimento de uma nova configuração para o sistema terapêutico.

À medida em que o sistema terapêutico se deparava com uma nova versão de sua realidade, construía formas de lidar com ela. Para isso, tornava-se necessário exercitar sua flexibilidade e criatividade, isto é, a autonomia sobre o seu próprio processo.

Ao finalizar este trabalho ficamos com a sensação de que ainda nos resta um longo percurso a trilhar. Fica-nos também a clareza de não sermos gestalt-terapeutas de família, nem terapeutas construtivistas individuais. Sentimo-nos felizes por havermos confirmado a hipótese inicial suscitada experiencialmente de que a relação terapêutica na Gestalt-Terapia e na Terapia Familiar Sistêmica Construtivista são coerentes.

Nossa motivação inicial nos abriu um campo fértil de possibilidades de crescimento profissional e, ao final desta monografia, fica confirmada uma identidade enquanto terapeutas sistêmicas. Esta se reflete na postura de respeito e curiosidade quanto às interações que se estabelecem no sistema terapêutico, na disponibilidade para estar na sessão, presentes enquanto indivíduos autônomos, na busca de flexibilidade e clareza para poder lançar mão dos recursos tecnicamente mais adequados para cada contexto psicoterápico.




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