ARTIGO


Os ajustamentos criativos no desenvolvimento infantil: uma revisão gestáltica

 

Creative adjustments in child development: a Gestalt review

 

Gisele Peruzzo

Endereço para correspondência



RESUMO


O presente trabalho pretende estudar, através de uma revisão bibliográfica, os ajustamentos criativos no contexto do desenvolvimento infantil. O trabalho tem o intuito de conceituar o termo ajustamento criativo identificando sua epistemologia assim como sua evolução histórica. Pretendemos ainda, com este estudo, conhecer mais sobre as questões patológicas e saudáveis dos ajustamentos criativos que nada mais são do que uma forma de satisfação das suas necessidades mais urgente, que foi possível a criança no momento. Assim seremos capazes de identificar e trabalhar com a função exercida por estes ajustamentos no processo de crescimento da criança e perceber o quanto são importantes nesta fase. Por meio do presente estudo entraremos em contato com uma visão gestáltica do desenvolvimento infantil. Pois temos também o objetivo, de conhecer melhor o mundo da criança para que assim possamos aprimorar as formas de trabalho da psicoterapia com crianças. Partindo sempre do princípio de que o indivíduo é um eterno vir a ser e sua vida uma alternância de ajustamentos criativos.

Palavras chave: Ajustamento criativo; Gestalt-terapia; Desenvolvimento infantil; Ajustamento criativo funcional; Ajustamento criativo disfuncional.


ABSTRACT

SUMMARY The present work intends to study, through a bibliographical revision, the creative adjustments in the context of the infantile development. The work has intention to appraise the term creative adjustment identifying its epistemologia as well as its historical evolution. We still intend, with this study, to know more on the pathological and healthful questions of the creative adjustments that nothing more are of what one form of satisfaction of its necessities more urgent, that was possible the child at the moment. Thus we will be capable to identify and to work with the function exerted for these adjustments in the process of growth of the child and to perceive how much they are important in this phase. By means of the present study we will enter in contact with a gestáltica vision of the infantile development. Therefore we also have the objective, to better know the world of the child so that thus let us can improve the forms of work of the psycotherapy with children. Breaking always of the beginning of that the individual is a perpetual one to come to be and its life an alternation of creative adjustments.

 

Keywords:Creative adjustment; Gestalt-therapy; Infantile development; Functional creative adjustmen; Disfuncional creative adjustment.


INTRODUÇÃO

Estudar ajustamentos criativos, na minha concepção, é o mesmo que estudar Gestalt-Terapia (GT). O homem vive em uma tentativa de ajustar-se de forma tal, que suas gestalten possam ser fechadas para que outras possam surgir, completando assim o ciclo natural da vida. Ciclo este que perpassa, inevitavelmente, pelo desenvolvimento infantil, podendo acarretar conseqüências até a vida adulta do indivíduo.

Este tema tem grande relevância teórica que acredito ser indissociável da relevância técnica intrínseca ao tema. Considerando que é da natureza do homem, ser um ser de relação, e que em suas relações como um todo (sua relação com o meio) ocorrem os ajustamentos criativos. Descritos por Ribeiro (2006) como processo pelo qual o indivíduo se auto-regula criativamente, através dos recursos disponíveis no campo, que são necessários e utilizados a todo momento. Fica claro que o estudo das influências destes ajustamentos na vivência infantil, poderá clarificar a forma com que trabalhamos ajustamentos funcionais e disfuncionais; sendo estes atuais, originais ou recorrentes a muitos anos, ou seja, ajustamentos cristalizados, ou gestalten fixas.

A partir do momento em que passarmos a conhecer mais a fundo a realidade infantil, e dentro dela, passarmos a entender a funcionalidade dos ajustamentos criativos, poderemos ser capazes de, como terapeutas, ajudar com mais eficácia nossos clientes a utilizarem os ajustamentos a seu favor, ao invés de continuarem utilizando ajustamentos disfuncionais, ou cristalizados, sem discriminar as situações adequadas ou não para o seu uso.

Acredito que os ajustamentos criativos sejam parte determinante do desenvolvimento infantil, pois a partir destes a criança tem a oportunidade de se auto-regular. Algumas vezes, são “mal-sucedidas”, porém em outras se ajustam a situações de forma brilhante, criativa e funcional, produzindo mudanças no meio, mudanças que podem propiciar a “cura”. Além disso, este comportamento impede, muitas vezes, que a criança entre em contato com conteúdos que no momento não tem condições psíquicas para lidar, o que não impede que ela volte a entrar em contato e a trabalhar estes conteúdos em outro momento de vida.

A função do terapeuta é dar suporte para que esta criança possa lidar da forma mais adequada possível com seus conflitos, sejam eles internos ou provindos do meio. Para isso é necessário que o terapeuta conheça o funcionamento (desenvolvimento) infantil, para que seja sensível o suficiente e capaz de diferenciar um ajustamento criativo funcional (com o intuito de defesa da criança, necessário ao seu desenvolvimento) e um ajustamento disfuncional (utilizado de forma equivocada e generalizada, em situações inadequadas) que precisa ser ressignificado.

O tema se torna ainda mais importante por se tratar de crianças; a sociedade ocidental tem grande resistência em admitir que criança também sofre, criança também tem problemas. E assim como nos revela Antony (2009) a maioria dos adultos acreditam que as crianças vivem em um mundo diferente do nosso, onde tudo é belo, e os problemas do cotidiano não os afeta, ou são menores e menos importantes que os de um adulto. Acredito que seus problemas são proporcionalmente grandes, considerando a estrutura psíquica que estes pequenos indivíduos têm para lidar com as situações que têm de enfrentar, além disso, as crianças são, como qualquer outro ser humano, afetadas por tudo o que acontece no meio, e conseqüentemente, por todos os problemas que afetam os entes queridos a sua volta.

Com isso o trabalho ganha cunho social e relevância em se tratando de conscientizar a sociedade atual de que criança também precisa de terapia, de que eles precisam, assim como nós, aprender a lidar com as situações que enfrentam no dia a dia, para que estes ajustamentos constantes, e acima de tudo, necessários na vida de todos, não se tornem disfuncionais.

Pessoalmente me será muito prazeroso falar sobre este tema devido a todo o exposto acima, mas também pela paixão que alimento pelo atendimento a crianças. Penso que este trabalho me proporcionará conhecimentos necessários à profissão, assim como crescimento pessoal e profissional, pois a meu ver, trabalhar com crianças é o mesmo que “cortar o mal pela raiz”, ou seja, cuidar do ser humano no aqui - agora ao invés de esperar para que estes problemas se cronifiquem e se cristalizem, repercutindo na vida adulta do indivíduo, para que depois inspire cuidados muito mais urgentes.

Diante do exposto acima resolvi estudar o ajustamento criativo no desenvolvimento infantil, a partir de uma revisão bibliográfica. Este trabalho apresenta em sua primeira parte uma descrição do que é Gestalt-terapia, abordagem que embasa o presente trabalho, assim como um relato sobre a vida e obra de Perls, que é o fundador da Gestalt-terapia, para que o leitor possa se ambientar e contextualizar o exposto logo abaixo.

Em seguida, começaremos a falar sobre a relação do termo ajustamento criativo com a Gestalt-terapia, levando em conta sua evolução histórica. A partir disso poderemos diferenciar ajustamento criativo funcional e disfuncional avaliando assim a sua função no desenvolvimento infantil.

Com isso estaremos providos do conhecimento necessário para falar de possíveis intervenções clinicas em relação a estes ajustamentos.


2. OBJETIVOS


2.1 GERAL


Investigar o conceito de ajustamento criativo no desenvolvimento infantil, por meio de revisão literária em Gestalt-terapia.


2.2 ESPECÍFICOS


• Estudar a evolução histórica do conceito de ajustamento criativo;
• Diferenciar ajustamento criativo funcional de ajustamento criativo disfuncional;
• Identificar a função do ajustamento criativo no desenvolvimento infantil;
• Observar os ajustamentos criativos, na prática clínica gestáltica com crianças.


3. MÉTODO

O presente trabalho trata-se de uma revisão na literatura a cerca do conceito de ajustamento criativo e sua aplicabilidade no desenvolvimento infantil. Gil (1999) afirma que a revisão bibliográfica é uma espécie de resumo crítico sobre determinado tópico de interesse, muito usado para contextualizar uma problemática ou para identificar falhas em estudos anteriores. Também é uma nítida tentativa de contextualizar o termo ajustamento criativo e sua função no desenvolvimento infantil.

Realizei a busca bibliográfica privilegiando literaturas recentes, incluindo em meus estudos livros bastante antigos, pois senti a necessidade de contextualizar o leitor e para isso foi necessário o entendimento da epistemologia e surgimento do termo.

Foram utilizados na pesquisa livros, artigos e revistas eletrônicas, que traziam estudos confiáveis sobre o tema escolhido. As palavras chaves utilizadas foram: “ajustamento criativo”, “gestalt-terapia”, “desenvolvimento infantil”, “ajustamento criativo funcional”, “ajustamento criativo disfuncional”.

Devido a amplitude do tema, restringi-me a utilizar textos que se referiam ao ajustamento criativo em si, ou ao ajustamento criativo no contexto do desenvolvimento infantil. Descartando assim estudos referentes ao termo em contextos de patologias, lugares ou culturas específicas. Assim como os estudos de fontes não confiáveis.

Após a filtragem, foram selecionados, para o trabalho, treze livros, dois textos publicados em revistas eletrônicas, um artigo, dois dicionários que auxiliaram no destrinchar do termo e um dicionário de Gestalt-terapia.

4. O QUE É GESTALT TERAPIA

Gestalt é uma palavra alemã, que foi disseminada pelo mundo devido a sua impossibilidade de tradução, já que não existe nenhuma outra palavra compatível em outras línguas, segundo Ginger e Ginger (1995), que traduz a palavra como “dar forma ou dar uma estrutura significante”.

Estes mesmos autores deixam bem claro que GT (Gestalt-terapia) é muito mais que a mistura de Psicologia da Gestalt com algumas técnicas, é muito mais que a junção de várias teorias, e que isto é tão certo quanto o fato de que a soma das partes não é igual ao todo.

Assim foi criada a GT, terapia que preza pela singularidade, autenticidade do indivíduo, o que a impede de utilizar a palavra “cura” e a faz buscar mudanças, que para Ginger e Ginger (1995) é o que a difere de outras teorias normatizadoras e centradas na adaptação social. A GT trabalha com o desenvolvimento do potencial humano, facilitando não a adaptação ao que não está bem, mas sim a recriação deste fato. Sendo assim, para esta abordagem, saudável é aquele que tem a capacidade de reinventar e criativamente se ajustar a suas próprias necessidades.

Ginger e Ginger (1995) acreditam que a Gestalt-terapia seja aplicável a todos, sejam estes portadores de doenças mentais, neuróticos, psicóticos, indivíduos ditos “normais” acometidos por um sofrimento qualquer, ou até mesmo alguém em busca de desenvolvimento pessoal. E quem somos nós para dizer que qualquer destes casos seja mais grave ou mais brando que o outro, se nem ao menos somos capazes de saber de que forma esta ou aquela pessoa vivência cada experiência em particular?

A GT apresenta-se, como descreve Ginger e Ginger, “para além de uma simples psicoterapia, apresenta-se como uma verdadeira filosofia existencial, uma “arte de viver”, uma forma particular de conceber as relações do ser vivo com o mundo”. Forma esta que designa responsabilidade a cada um sobre seu próprio destino, aprendendo a lidar com aquilo que se apresenta a cada dia.

Para Ginger e Ginger (1995) esta é a terapia da tomada de consciência, que se baseia nas formas de contato do indivíduo com o mundo, alargando ou restringindo as fronteiras de contato de cada cliente, conforme o mesmo se apresenta, e fazendo com que este tenha plena consciência da responsabilidade, trazida pela liberdade de escolha, que tem sobre o curso de sua própria vida.

Contudo, me questiono se será possível falar de Gestalt-terapia sem falar daquele que a criou, sabendo nós que muitos dos caminhos da abordagem se cruzam, entrelaçam e até confundem-se com os seus.


4.1 VIDA E OBRA DE PERLS

Perls nasceu em 1893 em Berlin. Era de uma família de comerciantes, família que preservava muitos costumes da religião judaica, porém sem deixar de participar da cultura alemã da época.

Na adolescência, Perls ou Fritz, como era comumente chamado, se tornou uma pessoa “difícil”, era considerado um adolescente rebelde e foi expulso do ginásio. Mais tarde foi admitido em um ginásio mais liberal, onde pode desenvolver sua paixão pelo teatro, o que mais tarde viria a influenciá-lo em seu trabalho, trazendo-lhe grande facilidade em perceber sutis mudanças na entonação de voz e linguagem corporal.

Aos vinte e um anos, estudava medicina na universidade de Berlin, até que em 1916 ficou nove meses trabalhando como assistente médico nas trincheiras da recém iniciada primeira guerra mundial. Lá foi ferido e voltou muito abalado e desiludido com a humanidade, como ressalta Tellegen (1984). Revela ainda que a experiência de guerra desestabilizou Fritz de tal forma que “os quarenta anos seguintes de sua vida foram uma constante e sofrida busca de direção e enraizamento”.

Formou-se em medicina no ano de 1920, quando começou a trabalhar como neuropsiquiatra. Esteve sempre ligado a vida noturna Berlinense, onde conheceu e associou-se ao grupo “Bauhaus” que, segundo Tellegen (1984), era composto por pensadores, todos radicais políticos que queriam acima de tudo uma vida menos rígida e padronizada, na qual a expressão fosse permitida.

Entre idas e vindas de Berlim, Perls passou por um período de análise com Karen Horner, que o aconselhou a sair de Berlin, o que o levou a Frankfurt. Foi nesta época, aproximadamente 1926, que Fritz, segundo tellegen (1984) esteve em contato direto com os autores que exerceriam influência quase que permanente em seu trabalho. Em Frankfurt, trabalhou como assistente de Goldstein, com quem teve seu primeiro contato com os princípios gestalticos. Perls naquele momento, não tinha intenção alguma de criar uma nova abordagem, suas intenções estavam em uma reformulação da Psicanálise Freudiana, que este acreditava estar direcionada de forma equivocada.

Foi também nesta época que esteve em contato com o pensamento existencial de Martin Buber e Tillichi, os quais lhe atraiam profundamente e que conheceu aquela, que mais tarde viria a ser sua esposa, e exerceria grande influencia em seu trabalho, Lore Posner ou Laura Perls como passou a ser chamada.

Segundo Granzotto (2007) a proximidade com estes pensadores fez com que Fritz passasse a enxergar as patologias de um modo holístico, como se fossem uma forma diferente, ou disfuncional, de integração do organismo com o meio, e não um fato isoladamente psíquico ou físico. Perls entendia que Freud havia passado despercebido por uma de suas maiores descobertas, a inalienabilidade das pulsões. Para Perls não poderia ser apenas o efeito conflituoso da ausência de um objeto originário de satisfação, mas sim “essa orientação ambígua”, que se manifesta a partir de meu passado, como minha paradoxal forma de ligação com o mundo presente”, como descreve Granzotto (2007, p.43,44).

Perls passava a enxergar a influência mútua exercida entre organismo meio, e a inevitável intencionalidade, ou responsabilidade, do ser humano para com seus conteúdos, ou seja, nossos atos presentes não são meras repetições ou “efeitos” do nosso passado sobre o presente. Granzotto (2007) encara isso como uma “terceira tópica” proposta por Perls, que algum tempo depois seria a idéia central de uma comunicação intitulada “Resistências Orais” (em 1936), bem como do seu primeiro livro (Fome Ego e Agressão, 1942)

Porém antes disso, em passagem por Viena, recebeu supervisão de Helene Deutsch, A. Hirshman; assistiu seminários de Otto Fenichel e Paul Federn, além de trabalhar no hospital dirigido por Paul Schilder. Em sua volta a Berlin, em 1928, foi orientado a continuar sua análise, desta vez com o psicanalista Reich.

Em 1931 Fritz precisou se refugiar em Amsterdan, devido ao seu envolvimento em um movimento antinazista, que viera a falhar. Enfrentando grandes dificuldades com a família e sem a possibilidade de trabalhar, Perls teve novamente de se mudar. Estabeleceu-se como analista didata na África do Sul, onde mais tarde criaria o Instituto Sul-Africano de Psicanálise (1935). Lá estabeleceram um padrão de vida bastante confortável, porém o distanciamento cultural e profissional o fizeram querer voltar.

Sob grande expectativa, em 1936, viajou para participar do Congresso Internacional de Psicanálise na Tchecoslováquia, onde apresentou sua comunicação “Resistências Orais”. Segundo Tellengen (1984) a comunicação de Fritz foi muito mal recebida por Freud, assim como não foi satisfatório seu reencontro com Reich. A partir daí começou a formular vária críticas à psicanálise. Algumas destas críticas chegaram a compor o livro publicado anos depois, “Ego Fome e Agressão” (1942), que tinha originalmente o subtítulo “uma revisão da teoria e método de Freud” e contou com grande participação de sua esposa Laura.

Esta primeira obra continha resquícios do que certamente encontraremos na, mais tarde fundada, Gestalt-terapia, porém não se trata ainda de um livro voltado a abordagem, mas talvez sim, de uma tentativa de reformulação da metapsicologia Freudiana, como ressalta Granzotto (2007).

Após o término da segunda guerra mundial, o casal resolveu se mudar para os Estados Unidos, onde encontrariam apoio de vários psicanalistas europeus, encantados com seu livro, e se ligaria a um grupo neo-freudiano.

Segundo Granzotto (2007) Perls reconhecia os méritos de Freud frente a Psicologia da época, porém, tinha convicção de que o mesmo havia “pecado” em não perceber a totalidade de um sintoma. Para Perls a vivência da awareness intrínseca a todas as vivencias atuais, compunha um todo indivisível que, por tanto, não poderia ser explicado a partir de uma de suas partes. Desta forma, achou necessária a utilização de um novo modelo teórico para compor uma abordagem coerente a estas vivências.

Orientado por Godstein, Perls chegou à Teoria do Campo da segunda geração da Psicologia da Gestalt, a partir da qual o mesmo desenvolveria seus pensamentos sobre a intencionalidade (awareness) e perspectiva de um homem contextualizado. Mais tarde Godstein, novamente, conduziria o amigo aos trabalhos de Kohler, inserindo a sua nova abordagem o conceito de figura-fundo. Este conceito faria uma certa “costura” entre os conceitos anteriores, pois para Kohler a figura só poderia surgir a partir de um fundo, composto pelas vivências do indivíduo, o contato que o mesmo fez com elas (awareness), dando um contexto a essa figura, e formando assim o campo vivencial deste indivíduo.

Conforme Granzotto, Perls adota em sua teoria, aspectos do Holismo, inferido por Smuts, não em sua totalidade, mas visando o seguinte funcionamento:


Perls propôs, não um gestaltismo estruturalista que faria da awareness a lei ou a regularidade de uma combinatória de partes. Em vez disso, Perls propôs a tese de que a awareness seria a vivência de um processo de auto-regulação contínuo, sempre em mutação, dependendo dos fatores ou das contingências que viessem a aparecer (2007, p. 49).

Perls e Laura passavam a se distanciar cada vez mais do estilo de vida dos psicanalistas, acabaram acumulando hostilidades, afastando-os a cada dia mais. A partir de então passaram a realizar círculos, em torno do casal, do qual fez parte, como membro central, Goodman, que mais tarde se juntaria a Hefferline na co-autoria do segundo livro de Perls, que foi publicado em 1951, com o nome sugerido por Perls, apesar da forte objeção de Laura e dos outros dois autores, “Gestalt Therapy”. Este livro, segundo Ginger (1995), fora constituído de forma “americanizada” devido a participação dos dois co-autores (que eram americanos) e do editor, que fez questão de iniciar a obra pelos exercícios práticos.

Em 1952, o casal fundava o Instituto de Gestalt-Terapia de New York, e ao mesmo tempo a nova abordagem terapêutica. Conforme relata Tellegen (1984) a Perls ainda faltava tranqüilidade emocional para ir mais a fundo em seus escritos e em suas relações profissionais e afetivas. Então, em sua inquietude, Perls viajava por várias partes do mundo, disseminando sua teoria. Até que em 1964 se deparou com um centro, onde ficaria por cinco anos, o centro mais importante do movimento do potencial humano, Esalen (na Califórnia). E foi lá que Fritz ensinou Gestalt-terapia e escreveu seu terceiro livro “Gestalt Therapy Verbatim” assim como sua autobiografia. Porém, como relata Ginger (1995), as apresentações feitas por Perls, que o próprio dizia ser terapia grupal, eram muito mais “shows” que terapia propriamente dita. Ginger relata ainda que apesar do sucesso que estas apresentações faziam, Perls continuava invejando alguns de seus amigos, e sonhava estar em um lugar onde fosse o único senhor e não precisasse enfrentar oposições. O mestre passava a acreditar que utilizar a teoria para as sessões de terapia era muito pouco, e então desejar viver em um lugar onde pudesse viver Gestalt o tempo todo.

No ano de 1969, aos 76 anos, mudou-se para o Canadá onde, segundo Ginger e Ginger (1995), constituiu uma comunidade gestáltica, uma espécie de kibutz, onde passou o restante de sua vida - agora bastante satisfeito por poder ditar as regras, com o resultado gerado por suas teorias, e o reconhecimento de sua abordagem. Em 1970 veio a falecer, antes de concluir sua última obra, “abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia”, publicada posteriormente a sua morte.


4.2 GESTALT E AS FILOSOFIAS

A Gestalt-terapia foi criada a partir de vários pressupostos filosóficos, um deles, é o Humanismo. Segundo Ribeiro (1985) o humanismo tem o homem como centro, como se todas as coisas girassem em torno deste. Sendo assim o universo só pode ser pensado a partir do homem.
Como nos diz Ribeiro:

Conhecer a si próprio é experimentar o próprio poder e os próprios limites; é a partir de si próprio que o homem caminha para conhecer o mundo e utilizar o mundo na compreensão de si próprio. Conhecer a si próprio é uma proposta de se auto-gerir, de evoluir a partir de dentro, conscientizando-se, momento por momento (1985, p.28).

Portanto, o Humanismo se apresenta, na visão de Ribeiro (1985), como uma proposta de desenvolvimento e crescimento em todos os aspectos daquilo que é humano, como a capacidade do ser humano de gerir e auto regular-se.

Neste sentido, o mesmo autor, vê a psicoterapia humanística como uma criação do homem de si mesmo, como se este ao passo que existisse tomasse posse de si e do mundo que ele mesmo criou. Para que esta criação seja possível o psicoterapeuta procura lidar diretamente com o que de positivo tem a pessoa, procura lidar com seu potencial de vida , sem é claro deixar de lado a compreensão do sentido das limitações, mas faz suas reflexões a partir do positivo, do que o indivíduo tem de potencialmente transformador
A proposta desta psicoterapia é que, nas palavras do autor, o cliente consume a sua essência, ou seja, passe a utilizar todo o potencial que tem de maneira criativa. É levar o cliente a sua plenitude no agir, no pensar, no expressar-se pela linguagem; enfim trabalhar o homem como um todo.

Sendo assim, acredito que seja pertinente aqui a descrição de Ribeiro (1985) para a relação da Gestalt-terapia com o Humanismo: “fazer Gestalt é bem um consumar de essências na relação a dois. É um colocar-se todo para se descobrir inteiro na relação e na vida”

Outro pressuposto filosófico de extrema importância a Gestalt-terapia é o existencialismo, que Ribeiro (1985) define como a expressão de uma experiência individual, singular; trata-se diretamente da existência humana. O existencialismo também tem o homem como centro das atenções, mas o encarado como alguém que se concretiza nas suas circunstâncias, no seu viver, como bem nos relata o autor acima citado.

Por isso Ribeiro acredita que “o ser humano só pode ser compreendido por ele mesmo através de uma experiência direta do seu ser no mundo, e embora tenha perdido momentaneamente esta aptidão continua sendo a mais fiel intérprete de si mesmo” (1985, p.34)

Neste caso, o encontro terapêutico deve ser existencial e baseado na relação; na tentativa de compreender, experienciar, reavaliar, fortalecer e singularizar o que significa de fato, existir. Afinal, cada ser ocupa o mundo de modo singular e genuíno, um modo só seu, que gera tantas influências quanto as recebidas do mundo em que vive.

Ribeiro (1985) ressalta que o homem, enquanto existente é um ser de opção e assim, é capaz de fazer projetos que partam de si mesmo, um ser se fazendo. O homem é um ser existindo a procura de completar-se, o tempo todo, mas para isso é preciso fazer escolhas, escolhas estas que configuram o seu próprio mundo. O mundo é diferente para cada indivíduo, pois a existência do mundo não pode preceder a consciência do que o vê, ou seja, o mundo só pode ser visto a partir do homem, assim como o homem só pode ser visto a partir do mundo que ele mesmo construiu.

A fenomenologia é mais um dos pressupostos filosóficos usados por Perls na construção da Gestalt-terapia. Deste pressuposto a Gestalt utilizou de forma abrangente a noção de fenômeno, ou, redução fenomenológica. Ribeiro (1985) descreve como sendo aquilo que necessitamos para que possamos nos situar entre as coisas como elas são (fenômeno) e as coisas como elas se apresentam a nossa consciência, pois segundo ele, é impossível estudar o fenômeno sem considerar as experiências concretas de quem o vivencia.

A fenomenologia, na visão de Ribeiro (1985) usa o fenômeno para chegar as coisas mesmas, a essência do homem, já que para a fenomenologia não convém separá-los sendo que o que realmente lhe interessa é o homem que se apresenta no fenômeno. E neste momento o fenômeno deixa de ser uma coisa, um fato e passa a ser um modo de existir, uma forma de escolha de vida.

Ribeiro acredita que:

Assim como a fenomenologia, a ação psicoterapêutica não pode ser uma simples descrição do que se vê, mas uma interrogação do todo que aparece, “não se trata de um espetáculo a ver, mas de um texto a compreender” (1985, p. 45).


E, portanto, é impossível que o fenômeno chegue a nossa consciência independente de nós mesmos, ao passo que este é a expressão de nossa essência. O mesmo é utilizado pela fenomenologia na tentativa de se chegar à essência, as coisas mesmas, a essência do homem, através da descrição da experiência da forma como elas acontecem e se processam. E tudo isso caracteriza uma redução fenomenológica.

A dialógica é um dos mais importantes pressupostos da Gestalt-terapia, pois trata do diálogo. Segundo Ribeiro (2006) o encontro entre duas pessoas se dá através do diálogo, diálogo este que é expresso por palavras. Mas não se tratam de simples palavras e sim palavras que ecoam um diálogo interno e silencioso, que reflete todas as nossas formas de relação e contato com o mundo. Quando o ser humano entrega sua palavra ao outro, o faz esperando que esta seja devolvida a ele sem julgamentos, haja vista que os seus próprios julgamentos já trazem sofrimento o bastante.

Yontef (1998) acredita que a psicoterapia só pode acontecer através da relação cliente/terapeuta e a dialógica é uma manifestação existencial do relacionamento humano. Este mesmo autor defende que esta psicoterapia, baseada na relação, necessita que a relação em questão seja embasada em quatro princípios básicos, abaixo descritos:

O primeiro deles é a inclusão, o que exige do terapeuta uma posição de não julgamento ou interpretação, mediante a experiência do cliente, ou seja, aceita-lo como um todo em sua experiência e no sentido que esta, tem para ele.

O segundo seria a presença, é o que confirma ao cliente seu envolvimento no processo, através do compromisso com o diálogo (o terceiro princípio a embasar a relação terapêutica), que é experienciado, fazendo com que aquele que o faz entre em contato com os conteúdos expressos.

O quarto princípio, nada mais é que o diálogo vivido, diálogo este que é uma expressão de movimento ou energia, da própria pessoa, seja esta através da fala ou de qualquer outro movimento. O importante é que seja experiencial, vivencial, e não apenas palavras ditas.

A dialógica, portanto, nada mais é que a postura do terapeuta em relação ao cliente. Uma postura de ausência de julgamentos, interpretações, que promova a inclusão do cliente que se apresenta a sua frente, deixando o livre para vivenciar seu diálogo, diálogo este que é a expressão da sua essência.


5. AJUSTAMENTO CRIATIVO

Antes de qualquer coisa, entendo, ser necessário destrinchar o tema para que possa ser melhor entendido , partindo à princípio de sua origem. O termo “ajustamento criativo” como é hoje conhecido por milhares de gestaltistas vem de uma junção de dois verbetes utilizados cotidianamente pela população em geral: ajustamento e criativo.

Ferreira (2004) no “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa” descreve ajustamento, como ato ou efeito de ajustar-se, adaptar-se a algo ou conformar-se, acomodar-se ou concórdia, reconciliação entre pessoas desavindas. Com o intuito de uma descrição mais completa e atual cito ainda Houaiss (2009) que traz em seu dicionário, além de todas as definições anteriores, a definição como sendo ação de integrar-se a determinado contexto, amoldamento, arranjo de diversos elementos em conjunto harmonioso e agradável.

Este mesmo autor define criativo – a parte integrante do termo em questão – como provido de criatividade; criador, que se caracteriza pelo caráter inovador e original e pode ser complementado por Ferreira (2004) com a idéia de uma imaginação fértil e criativa.

Após a análise de cada uma das palavras que compõe o termo, em separado, acredito ser verdadeira a perspectiva de Perls ao pensar ajustamento e criatividade como polares, e por isso mutuamente necessários.

Considerando estas partes como polares e ao mesmo tempo como partes de um todo, é correto afirmar que é impossível a existência de um dos extremos sem que o outro também exista assim como é impossível o existir do todo – ajustamento criativo – sem a existência de dois extremos de uma polaridade que se integram na busca de um equilíbrio. O que não torna mais fácil pensar que dois opostos possam se unir para ter um só significado.

A palavra ajustamento com todos os seus significados nos remete a adaptação e conformidade, mas também pode nos levar a pensar em integração a determinados contextos, assim como um arranjo de diversos elementos em um conjunto agradável e harmonioso, o qual poderíamos perfeitamente representar aqui como sendo a pintura de um ser humano em seu campo vivencial, desfrutando de perfeito bem estar. E quando pensada em conjunto com criatividade, ou característica do criativo, o qual se destaca por um espírito inovador e original, capaz de criar e abstrair as coisas mais inusitadas que se possa imaginar, cria-se um novo sentido.

A partir de então podemos pensar no sentido do todo, que como se referia Perls não é a simples junção das partes, o que possibilita o surgimento deste novo conceito único e indissociável: ajustamento criativo. E não sendo dissociável deve ser entendido como adaptações de arranjos harmônicos realizados de forma criativa, inovadora e original; por utilizar-se do que está ao seu alcance para sobrevivência em um meio hostil, ao qual necessita transformar na mesma proporção em que é transformado, pois no momento não é possível a substituição do mesmo, ou seja:

Ajustamento criativo é o processo pelo qual o corpo-pessoa, usando sua espontaneidade instintiva, encontra em si, no meio ambiente ou em ambos soluções disponíveis, as vezes aparentemente não claras, de se auto-regular.(RIBEIRO. 2006, P. 64)

Assim como Ribeiro, D’Acri, Lima e Orgler (2007) acreditam que o ajustamento criativo é o processo pelo qual o indivíduo busca o equilíbrio ou mantém sua sobrevivência. Pois em algum momento o ajustamento do organismo por si só se torna insuficiente devido à grande alternância de situações que o meio lhe impõe. A partir de então, o organismo passa a buscar neste contato organismo/meio, respostas criativas que possam satisfazer necessidades que vão muito além das necessidades físicas.

Sendo assim, deixamos para traz a imagem de acomodação para ligarmo-nos há algo muito mais humano e transitório; deixamos de trabalhar com o ideal e passamos a nos preocupar com o real, com aquilo que se apresenta tentando nos ajustar a cada dia a uma nova situação da forma mais criativa possível.

O organismo humano vive um eterno ajustar-se. O ciclo constante da vida exige que através da fronteira de contato o homem possa entrar em contato com o novo, com o diferente, para que assim possa assimilar o que lhe é necessário e rejeitar aquilo que pode lhe prejudicar.

A partir desta visão Perls, Hefferline, Goodman (1997) (ou P.H.G., como serão referenciados daqui em diante) não exitam em afirmar que todo contato é criativo e dinâmico, uma vez que este desfruta do novo para sua própria nutrição e ressalta que esta nutrição só é possível quando a novidade é assimilada e então se torna apta a adaptar-se ou ajustar-se a necessidade do organismo de forma criativa.

O autor acredita nesta dinâmica de movimento do organismo ao ponto de afirmar que “todo contato é ajustamento criativo do organismo e ambiente” definindo, em seguida, o termo como a ferramenta para o crescimento dentro de um campo vivencial.

Percebemos então que os pais da Gestalt-terapia (P.H.G.) não erram ao dizer que “a Psicologia é o estudo dos ajustamentos criativos. Seu tema é a transição sempre renovada entre a novidade e a rotina que resulta em assimilação e crescimento. (1997, p. 45)”


5.1 GESTALT-TERAPIA E AJUSTAMENTO CRIATIVO

Como já dito anteriormente, falar de ajustamento criativo para mim é falar de Gestalt-terapia, isso por que as histórias destes dois conceitos se cruzam e se entrelaçam, assim como a história da Gestalt-terapia confunde-se com a de seu criador, Fritz Perls.

Segundo Granzotto (2007) Perls encontrou no conceito de “indiferença criativa”, de Friedlaender, uma forma de descrever esta tendência do organismo em buscar o equilíbrio e ainda o que ele chamava de todo holístico. Para Perls todo evento está relacionado a um ponto zero ou indiferença criativa, a partir do qual o organismo se regula criativamente, buscando sempre seu equilíbrio a partir das polaridades.

Ele então propôs que a awareness seria o processo pelo qual o organismo se regula constantemente, suprindo as necessidades que aparecem a cada momento. E a esta tentativa do organismo de se auto regular através dos recursos, aparentes ou não, encontrados no meio ou no indivíduo, na tentativa de suprir uma necessidade, dá-se o nome de ajustamento criativo.

Porém, antes de começar a dissertar sobre ajustamento criativo, é necessário entendermos como ele acontece e principalmente em que circunstâncias. P.H.G. (1997) acreditam que o ajustamento criativo se dá na fronteira de contato do sistema self. Já para Granzotto (2007) a partir da teoria do ponto zero, importada por Perls de Friedlaender, passou-se a vislumbrar uma noção nova de contato, na qual o campo (organismo/meio) não era mais vivenciado como um espaço/local, mas sim, como um processo, um processo de troca entre materiais propositalmente retidos.

Estes materiais, seriam o que P.H.G. (1997) chamam de excitamentos inibidos, estes excitamentos são conteúdos ou necessidades não satisfeitas do indivíduo que tenham provocado uma situação inacabada (gestalt em aberto) que precisa ser concluída ou ressignificada pelo organismo em uma tentativa de se auto ajustar.

Porém, P.H.G. (1997) entendem que estas necessidades ou “apetite”, nas palavras do autor, sejam muito vagas e necessitem encontrar no meio (realidade atual) algum objeto com que possa trabalhar estes excitamentos inibidos.Só então o ajustamento criativo poderá intensificar a awareness, deixando assim mais claro a figura em questão.

Poderia então dizer que todo este processo compõe o self , porém, P.H.G. (1997) consideram o self como um processo criativo, a partir do qual considera como pólos o ajustamento organismo/ambiente e a criatividade do self. O autor acredita que um não possa viver sem o outro, pois em um meio (ambiente) com tantas variáveis, somente por meio da auto-regulação herdada e conservativa (biológica) a satisfação das necessidades não seria possível.Por outro lado a criatividade, por si só, fora de um contexto resistente que necessite ser ressignificado e percebido é inútil ao organismo, permanece superficial, falta-lhe energia, estímulo e logo perde a razão. Para que o organismo assimile uma situação inacabada de forma criativa é necessário tomar consciência de algum material novo do ambiente (ajustamento meio/organismo).

P.H.G. (1977) acreditam que a tomada de consciência desprovida de uma mudança na realidade, dificilmente surtiria efeito sobre o “problema” em questão. É necessário que o indivíduo, através de um ajustamento criativo, possa ajustar o ambiente social a si próprio ou deverá, nas palavras de Perls, “novamente ajustar-se a ele e manter sua neurose”.

Fica claro então que somente ao manipular o meio e suas resistências o self torna-se envolvido e comprometido no processo, e só através deste processo podemos descobrir nossas reais intenções. Intenções estas que se revelam por meio dos excitamentos estimulados, tanto pelo meio quanto pelo organismo.O que torna a emoção a única awareness integrativa, possível, nesta relação (meio/organismo) (P.H.G. 1997).

Segundo P.H.G. (1977) a emoção é quem “dá o tom” para a alternância de figura e fundo. Nas palavras do autor ela seria a “força motivadora” que destaca uma figura no fundo, deixando de exercer sua força, somente quando em prol de sentimentos mais intensos e bem definidos como os hábitos, que muitas vezes por meio de racionalizações impedem manipulações mais complexas do campo (meio/organismo).

Acredito que seja necessário neste momento, abrir um parêntesis para esclarecer algo que pode não ter sido bem entendido. Ao contrário do que pode parecer, o self não é a figura criada, mas sim o próprio processo de criar figuras advindas do fundo, processo no qual estes dois conceitos são pólos, um não pode existir sem a existência do outro; a figura obrigatoriamente surge do fundo e depois volta a fazer parte dele.

A figura surge sempre de um conflito que perturba a homogeneidade e ressalta algo que se tornará a figura emergente, porém se o sujeito não for capaz de lidar com a figura nítida, naquele momento, aparecem figuras alternativas, que não tem energia o suficiente (são somente uma alternativa de solução fácil na tentativa de completar o processo em uma situação que o fundo está movimentado. “Ao contrário, se o escolhido (como figura) for o próprio conflito, então a figura será excitante e cheia de energia, mas estará cheia de destruição e sofrimento (P.H.G. 1997, p.216)”. Porém, segundo estes mesmos autores, um conflito muito intenso em primeiro plano pode significar a tentativa de ocultar o verdadeiro conflito.

Sendo assim, P.H.G. (1997) ressaltam que a verdadeira função do terapeuta é provocar o conflito, para que novas figuras surjam e estas “falsas figuras”, que não são dotadas de energia o suficiente, percam o interesse ao self. É neste momento que o self perde sua segurança e entra em sofrimento, o que está muito distante de um self fragilizado ou debilitado, mas sim, e como nos escreve o próprio Perls, “é um doloroso excitamento da transição da criatividade”.

Este ressalta que muitas vezes o indivíduo não quer ser criativo por medo da dor do próprio excitamento crescente, o medo da mudança. Gosta da sensação de segurança proporcionada pelos ajustamentos obtidos no passado, porém, temos que entender que não existe uma segurança verdadeira, por que neste caso o self seria fixo.

Segundo P.H.G. (1997) a pessoa segura emprega suas energias em uma luta segura, na qual nada de novo ocorrerá, pois esta situação já aconteceu e simplesmente se repete em uma derrota antecipada, mas segura, já que o indivíduo não estará em contato com nada de novo; esta luta não pode ser concluída por que o organismo continua produzindo a necessidade, e a agressão não se volta para o meio onde a solução poderia ser encontrada.

Por outro lado, neste mesmo livro, os autores afirmam que o self encontra força justamente onde não há sentimento algum de segurança, mas sim uma excitação, um interesse enorme e sentimento de adequação. A força do self se desenvolve a medida que o problema específico é enfrentado, gera sua própria estrutura; então, nele encontra-se novas possibilidades e as coisas se ajustam de maneira surpreendente – podemos então definir este contato passageiro como sendo um “contato psicológico”, sendo que após a assimilação ou mesmo a inibição deste excitamento espontâneo ele passa a ser fisiológico ou conservativo (não consciente). No caso dos excitamentos que foram inibidos Granzotto (2007) chama a atenção para a possibilidade destas passarem de inibições deliberadas para crônicas, ou seja, estes excitamentos são assimilados como formas esquecidas, ou, hábitos, que são desprovidos de conteúdos (tensões materiais) o que facilita que eles se liguem a qualquer novos dados na fronteira de contato, já que não têm finalidade, gerando assim novas situações inacabadas.

Esta forma de interação organismo/meio configura uma das muitas formas de ajustamento criativo disfuncional, como será descrito no próximo tópico.


5.2 AJUSTAMENTO CRIATIVO FUNCIONAL/DISFUNCIONAL

Como já é sabido, o ajustamento criativo se dá na fronteira de contato em função de situações inacabadas, sendo assim a interrupção em qualquer fase do processo de contato pode criar demanda para um ajustamento disfuncional.

Granzotto (2007) nos relata algumas formas disfuncionais de ajustamento criativo. Segundo este, os criadores da GT citam entre estas formas de ajustamento disfuncional as de nossa historicidade, as quais os dados vivenciados na fronteira do self ou não são retidos como fundo de excitamentos de novas vivências, por não terem sido assimilados, ou não se deixam integrar entre si e, portanto não podem constituir o fundo para os novos dados vivenciais desta fronteira de contato. Assim é como se a experiência de contato não fosse esquecida e se tornasse uma espécie de estrutura histórico-afetiva ou depois de retida não fosse capaz de estabelecer uma relação espontânea capaz de incitar novas experiências. Sendo assim o sistema self seria incapaz de exercer sua função id (caracterizada pela formação e mobilização do fundo de excitamentos) e conseqüentemente deixaria a função ego (caracterizada pela ação motora e linguageira) sem meios para lidar com os dados que se apresentam na fronteira de contato. Neste tipo de ajustamento as novas experiências acontecem privadas de awareness sensorial, e são denominados de ajustamento psicótico, como bem relata o autor acima citado.

Assim posso dizer que da forma como foi aqui colocado, percebemos um ajustamento criativo disfuncional, sem precisar de muito esforço. Porém se olharmos para o exposto de uma forma gestáltica veremos que o sentido das vivências não estão nelas em si mesmas, mas sim na relação que elas estabelecem com o mundo, na forma que isso acontece.

E segundo Aguiar (2005) o que diferencia um ajustamento criativo funcional/disfuncional é a forma de relação que este indivíduo tem com o mundo durante as suas intermináveis tentativas de auto-regulação.

Posso então afirmar que em determinado contexto este ajustamento criativo disfuncional tão aparentemente danoso a saúde do indivíduo poderia ter sido saudável, se no momento tivesse sido utilizado em prol da preservação da integridade (física e psicológica) do indivíduo, ao invés de ter se tornado uma constante forma de evitação do contato, uma interrupção revivida diariamente, da relação organismo/meio. Pois segundo Granzotto (2008) Ajustamentos psicóticos são utilizados quando o indivíduo não é capaz de entrar em contato com suas necessidades, com seus excitamentos, e assim não consegue definir uma figura dentro do fundo, o que faz com que este tenha que criar uma figura, como se fosse uma alucinação. Para que assim o organismo, de alguma forma, possa se auto-regular, mesmo que de forma precária, o que não é o ideal, mas o real, o possível.

Podemos então dizer, de modo a simplificar e sintetizar, que os ajustamentos criativos psicóticos disfuncionais, são interrupções do contato. Seja este um ajustamento psicótico de preenchimento ou articulação de fundo, em todos eles de alguma forma o self não consegue fazer com que o indivíduo entre em contato com as suas necessidades e, por conseguinte deixa-as por satisfazer.

P.H.G. (1997) relatam ainda, um outro tipo de ajustamento criativo disfuncional, os ajustamentos neuróticos. Que nada mais são que a tentativa do self de impedir a atitude da função ego na direção do excitamento provocado pelo novo que se apresenta na fronteira de contato do indivíduo. Para isso o hábito inibitório toma o lugar do ego neste processo e como afirma Granzotto (2007) traduz este excitamento inibido em um estado ansiogênico o qual o próprio hábito tenta dispersar por meio de ajustamentos compensatórios, os conhecidos sintomas neuróticos.

Com isso torna-se claro a dimensão do bloqueio causado por este ajustamento criativo disfuncional, que por ser causado por hábitos, ou seja, inibições que foram assimiladas como formas esquecidas e, nas palavras de Granzotto, “têm permissão para atuar anonimamente”. Muitas vezes agem por anos impedindo que determinada Gestalt se feche para que outra possa se aberta. Sendo que todas as vezes que novos dados surgem na fronteira de contato os hábitos inibitórios assumem a função do ego e impedem que o sujeito se de conta de seus desejos para a conclusão do ciclo de contato. Como nos relata Granzotto:

[...] tudo se passa como se o comportamento desempenhado na fronteira de contato não respondesse aos estímulos do meio, como se o autor desse comportamento – a posteriori denominado de neurótico – não os percebesse, ou os percebesse de modo distorcido. (2007, p. 261)

Conforme Granzotto (2007) os ajustamentos neuróticos perpassam por todo o ciclo do contato a começar pela confluência. Nos ajustamentos confluentes a inibição reprimida impede a assimilação do excitamento inibido, o que faz com que o self tenha grandes dificuldades em realizar o processo de figura-fundo e não consiga estabelecer suas figuras. Tendo assim que viver com a ausência de uma figura emergente a única maneira que este encontra de se auto-regular é através da figura alheia, vivendo em uma constante confluência, sem poder diferenciar quais as suas necessidades verdadeiras. Ao indivíduo resta a sensação de uma satisfação pela metade, de estar vivendo aquilo que não lhe pertence.

Porém em outros casos esta confluência pode ser absolutamente benéfica. Como nos revela Antony (2006) no inicio do desenvolvimento de um bebe é absolutamente normal e saudável esta confluência, que faz com que as fronteiras não existam e o todo e as partes pareçam um só. Pois neste momento de vida a criança ainda não tem consciência de si e precisa confluir com seu cuidador para que possa se apropriar do mundo que a cerca. O que não podemos esquecer é que é a temporalidade quem torna este processo patológico ou não, afinal a confluência deve ser um processo temporal e passageiro, nunca crônico.

Granzotto (2007) acredita que quando o self sente-se ameaçado pelos estímulos presentes no meio que chocam-se com a ansiedade do indivíduo – causada pelos excitamentos inibidos - estes excitamentos, buscam estabelecer no meio, normas e padrões que lhes pareçam coesas e lhe proporcione formas de afeto toleráveis. Tudo isso na tentativa de evitar que o self entre em sofrimento ao fazer contato com questões que foram inibidas justamente por trazerem este tipo de sentimento, mas que são necessárias para que o ciclo do contato deste indivíduo possa ser completo assim como sua satisfação.

Para Antony (2006) a introjeção é necessária para a assimilação de tudo aquilo que conhecemos e só passa a ser patológica a partir do momento em que aquilo que está sendo introjetado não é assimilado pelo próprio introjetor, quando estes introjetos passam a se sobrepor as necessidades do indivíduo, que deixa de lado suas próprias necessidades para satisfazer as demandas do meio.

Granzotto (2007) entende que se estes ajustamentos introjetivos não forem capazes de impedir que o excitamento inibido, entre em contato com os novos dados que se apresentam na fronteira de contato. O self então se utilizará de um ajustamento projetivo, por meio do qual o excitamento inibido não permite que o indivíduo vislumbre as possibilidades que os dados materiais abriram para a conclusão daquele ciclo do contato. Sendo assim, o projetor se satisfaz com a fantasia do desfecho temido, mas como se fosse vivido por outra pessoa.

Este mecanismo é visto por Antony (2006) como uma forma de defesa, muito utilizada por crianças na tentativa de defender o seu “frágil EU”, que ainda está sendo desenvolvido e diferenciado do restante do meio e precisa ser confirmado como uma figura competente. Não sendo assim capaz de lidar com críticas a este respeito, a criança prefere projetar tudo aquilo que sente, mas acha que não deveria sentir, no intuito de preservar seu “EU”.

Se por algum motivo estes meios de evitação do contato, que podem se configurar como ajustamentos criativos funcionais ou disfuncionais, falharem e o self entrar em contato com estes conflitos, Granzotto (2007) afirma que, neste instante só resta a inibição reprimida desmantelar “os termos do conflito”, o que significa, desmantelar o próprio self, configurando assim um ajustamento retroflexivo.

Na retroflexão toda energia que o indivíduo deveria voltar ao meio é voltada para si mesmo o que faz com que a ação seja inibida. Antony (2006) acredita que é neste momento que a criança entra em contato com sentimentos de culpa e arrependimento e “[...] ao integrar esse processo ao seu mundo psíquico adquire o autocontrole e a autoreflexão necessários para uma relação de cuidado e respeito consigo e com o outro.” (ANTONY, 2006, p. 14)

A partir do momento que o self passa a lidar com a possibilidade de conclusão do processo de contato ele passa a utilizar mecanismos de evitação como o egotismo que impedem o contato final, num processo que Perls, Hefferline e Goodman (1997) definiram como adiamento do contato final, substituindo sempre por uma nova alternativa, pois a inibição reprimida conflui com a função de escolha do indivíduo, a tal ponto que fica difícil a troca, e assim se torna quase impossível a satisfação com qualquer que seja a alternativa, dificultando o contato final.

O egotismo é uma fase necessária ao desenvolvimento infantil, pois é assim que a criança conquista seu auto-suporte, auto confiança, amor próprio e fundamenta seu próprio eu, conforme Antony (2006). Porém, quando é cristalizado como forma de viver no mundo, impede que o indivíduo tenha trocas satisfatórias, uma vez que este passa a se importar cada vez menos com as necessidades do outro e usá-lo para a satisfação das suas próprias necessidades. E como entendemos que nenhum ser humano é capaz de se satisfazer em si, mas sim como afirma Ribeiro (2006), na relação com o meio, se torna praticamente impossível que um egotista, chegue ao contato final.

Outro ajustamento criativo a ser elencado dentro do ciclo do contato é a deflexão. Segundo Polster e Polster (1979) a deflexão é o processo pelo qual o indivíduo tenta se esquivar de um contato direto com o meio, para que não tenha que entrar em contato com a tensão e ansiedade – provocadas por excitamentos inibidos – no momento do encontro de novos dados na fronteira que mobilizem energia excessiva para o contato final. Sendo assim, quando o indivíduo deflete não consegue identificar no meio soluções para suas necessidades, ao passo que este nem ao menos é capaz de fazer contato com as suas próprias necessidades, ou com seus excitamentos inibidos.

Antony (2006) entende a deflexão como sendo parte do desenvolvimento da criança, e assim como outros bloqueios do contato necessários, porém, passageiros. A mesma afirma que a criança ainda não é capaz de tolerar “ataques ao seu EU” nem as tensões provindas do mundo adulto e por isso deflete na tentativa de preservar sua psiquê, que ainda não tem subsídios para lidar com tais situações.

E ressalta a influência dos mecanismos de evitação durante o desenvolvimento humano:

A CONFLUÊNCIA, o EGOTISMO e a INTROJEÇÃO são os pilares que orientam o percurso inicial do desenvolvimento humano. Por volta dos 4-5 anos, a PROJEÇÃO e a DEFLEXÃO passam a ser utilizadas como defesa à própria afirmação de sua personalidade em construção. Os demais recursos psicológicos do ciclo emergem com o amadurecimento da criança, vindo a se combinar ou se alternar (em uma relação de figura e fundo) conforme as potencialidades e necessidades mutantes da criança e a demanda da situação. (ANTONY 2006, p. 15)

Se as necessidades e potencialidades da criança/indivíduo são mutáveis, assim como diz Antony (2010), acredito que o indivíduo só pode ser saudável se for capaz de adaptar o meio as suas necessidades. E para isso é necessário que desde cedo este indivíduo seja capaz de experimentar e integrar todas as possibilidades contidas no seu meio/organismo, afim de conhecer todas as “ferramentas” que tem a disposição e poder lançar mão destes “artifícios” sempre que precisar. Assim, satisfará suas necessidades mais urgentes sem que para isso comprometa de forma permanente a satisfação de outras.

Portanto, entendo como sendo conveniente acrescentar aqui Aguiar (2005) que ressalta o quão importante são os mecanismos de evitação do contato, que nada mais são que ferramentas imprescindíveis para a realização dos ajustamentos criativos. Acrescentando ainda que


“a presença ou ocorrência de um determinado mecanismo em um dado momento e contexto, não implica em si um ajustamento criativo disfuncional. Em muitos momentos, o contato pleno implicaria em ações no mundo pelas quais a criança não poderia se responsabilizar.” (p.110)

A autora afirma que o que trará um caráter não saudável a um ajustamento criativo, é o uso que a criança faz do mesmo. A freqüência com que se utiliza deste recurso, as situações em que usa-o, e principalmente a impossibilidade da criança em agir diferente em diferentes situações. Quando a criança passa a generalizar a forma de se ajustar a muitas situações do seu dia a dia, estes ajustamentos deixam de ajudá-la a adaptar o mundo as suas necessidades e passam a ser disfuncionais, ou seja, prejudicar a sua interação organismo/meio.

A partir daí podemos dizer que um ajustamento criativo é disfuncional, ou em outras palavras, patológico, considerando que conforme Ribeiro (1981) saúde é o mesmo que a harmonia das partes dentro de um único todo, e devo acrescentar aqui que neste todo estão inclusos a criança e o meio, configurando assim uma perfeita auto-regulação organismica. E que se utilizados em momentos propícios, bloqueios de contatos podem ser ajustamentos criativos funcionais, que levarão estas crianças a brilhantes descobertas e surpreendentes adaptações.


5.3 AJUSTAMENTO CRIATIVO NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Estamos habituados a observar e compreender o desenvolvimento infantil a partir de suas inúmeras etapas. Acostumamo-nos a isso de tal forma, que nos parece hoje, muito difícil enxergar este desenvolvimento como um todo, como um contínuo. Portanto, na tentativa de situar o leitor, inicio meu relato com uma afirmação de Antony que descreve perfeitamente a visão de desenvolvimento da Gestalt-terapia:

A Gestalt-Terapia (GT) compreende o desenvolvimento humano como um processo permanente e contínuo de ajustamento criativo mediado pela capacidade inata de auto-regulação organísmica do indivíduo (2006, p. 01).

Sendo assim, se torna impossível que consigamos enxergar através dos olhos da Gestalt-terapia o desenvolvimento por etapas. Pois, como relata Aguiar (2005) uma abordagem que concebe o homem como um todo e acredita que este viva em constante transformação, na busca de um equilíbrio - que é o tempo todo perturbado pelas necessidades que surgem no campo e da mesma forma é constantemente reavido através da satisfação destas por meio dos recursos disponíveis - não pode pensar o ser humano como partes de um todo que seria a vida. Como se a criança fosse apenas um projeto inacabado ou imperfeito, que viria a se concretizar na fase adulta, e o adulto a concretude deste processo, dando-nos assim a impressão de um processo estagnado, sem chances de transformação.

Segundo Ribeiro (2006) a auto-regulação é o instrumento de manutenção da vida e perpassa por todos os estágios desta, fazendo com que as transformações, ou tentativas de auto-regulação perdurem a vida toda. Além disso, este mesmo autor nos revela a impossibilidade de que o ser humano, como um todo, se auto-regule sozinho ou a partir de si mesmo, pois segundo este, todos os seres se regulam no mundo e por meio dele. Qualquer auto-regulação só é possível através das relações, tornando assim cada indivíduo único, pois foi concebido através de relações, que de forma alguma serão vividas da mesma forma, por qualquer outra pessoa. E fazem com que se torne ainda mais difícil padronizar qualquer fase do desenvolvimento, seja este psicológico, motor, social, ou na visão da Gestalt-terapia, o desenvolvimento humano como um todo, sendo visto dentro do seu campo vivencial.

Rodrigues (2000) afirma que todo evento acontece em um campo espaço/temporal, onde muitas forças atuam simultaneamente sobre a vivência do ser, configurando assim a realidade. E é neste campo que a GT considera a existência do ser humano de forma completa, onde o homem não é visto como partes distintas de um mesmo corpo, mas sim como um todo que influencia e é influenciado por este meio/organismo o tempo todo. O que vai ao encontro da idéia de Antony (2006) de que homem e meio formam uma “unidade indissociável”, não podendo assim, existir físico ou psíquico, interno ou externo, mas sim um todo que se desenvolve em uma relação de reciprocidade e singularidade, proporcionadas pelas vivências e experiências diversas de cada indivíduo.

E é esta interação criança/mundo que fará com que a mesma desenvolva o que Aguiar (2005) chamou de “capacidade de awareness”. Que nada mais é que a capacidade da criança de se perceber no mundo através da sua relação com o mesmo, e a partir disto poder compreender o que se passa com ela nesta relação e identificar seus pensamentos, sentimentos, atitudes e necessidades. Deste momento em diante a criança se torna apta a se ajustar e ajustar o meio, de forma criativa, as suas necessidades. E a partir destes ajustamentos criativos se insere no mundo transformando e ampliando, a todo momento, sua existência nestas relações. De forma a adquirir e dominar aquilo que o meio lhe oferece, experimentando e assimilando o novo para que coisas novas possam ser aprendidas.

A relação da criança com o meio é pautada pelo surgimento e satisfação de várias necessidades que respeitam certa hierarquia, fazendo com que a criança priorize a satisfação das mais importantes. Porém, para a criança a necessidade de confirmação é prioritária e faz com que ela se utilize de todos os ajustamentos criativos que lhe pareçam possíveis, na tentativa de satisfação desta necessidade (CARDOSO, 1995 apud AGUIAR, 2005). Nem que para isso, todas as outras sejam adiadas por tempo indeterminado.

Em outro caso, se esta necessidade é satisfeita, certamente outra se apresentará e o self voltará a sua constante reconfiguração devido aos sucessivos ajustamentos criativos que Aguiar (2005) denominou “movimento do desenvolvimento”. E é responsável por nos fazer acreditar na eficácia da psicoterapia com crianças e adultos, já que as transformações e reconfigurações do self perduram a vida toda e podem trazer novas possibilidades e habilidades ao indivíduo.

Sendo assim só posso concordar com Aguiar (2005) que acredita que a “infância é, na verdade, um determinado momento do desenvolvimento humano no qual o ritmo de aquisições e transformações é mais freqüente e acelerado, fazendo desse período palco de constantes desafios e inúmeros ajustamentos criativos” (p. 74). O que não exclui a possibilidade de desenvolvimento e mudanças até o fim da vida de qualquer ser humano. E faz com que entendamos o desenvolvimento como um percurso, no qual o único objetivo a ser alcançado é o aqui e agora, onde cada criança poderá completar e ressignificar suas experiências. Experiências estas que são singulares e sucessivas, e ajudaram-na a percorrer seu caminho até aqui e agora.

Apesar da certeza de que o desenvolvimento é continuo, temos de convir que a criança, ainda não é capaz de lidar com tudo que se apresenta, da mesma forma como se apresenta. Como ressalta Aguiar (2005) muitas vezes o contato pleno da criança com o meio a levaria a atitudes pelas quais a mesma não poderia se responsabilizar e os danos seriam muito maiores. Neste sentido, acredito que por diversos motivos, seja pela sua grande necessidade de ser confirmada pelo outro, ou pela necessidade de fortalecer seu próprio EU, muitas vezes a criança não tem os mesmos recursos que os adultos para lidar com a realidade que se impõe.

E é neste momento que os ajustamentos criativos passam a fazer parte do desenvolvimento infantil. De certa forma, a criança luta pela auto-preservação e ao se deparar com variadas situações de tensão, teme pela perda do amor parental como forma de punição dos pais. Na tentativa desesperada de evitar o abandono ou a rejeição dos pais, a criança utiliza-se de todos os recursos disponíveis para se livrar de sentimentos angustiantes e dolorosos visando a preservação do seu funcionamento harmonioso e a aprovação e amor dos pais (ANTONY, 2010). Ao perceber que não é capaz de lidar com aquilo que acontece, sem que seja afetada de uma forma muito negativa, se utiliza dos mecanismos de evitação do contato para evitar danos maiores. Fazendo assim, um incrível ajustamento criativo daquilo que o meio lhe oferece através das suas relações.

E se germinarmos esta afirmação de que tudo que o meio oferece a criança é através das relações, à informação que temos de que a necessidade primordial da criança é a de ser aceita e confirmada pelo outro, nos resta o fato de que os adultos têm papel fundamental no desenvolvimento infantil. E é papel destes fazer o possível para que a criança possa crescer em um ambiente de relações seguras, e para isso, Aguiar nos afirma que:

É necessário que os adultos participem deste desenvolvimento valorizando as potencialidades da criança e confirmando seus sentimentos, ajudando-a a lidar com seus “fracassos”, aceitando o erro como parte do aprendizado, apoiando-a em suas decisões, permitindo que ela faça suas escolhas e não exigindo que tais escolhas sejam “perfeitas” ou definitivas (AGUIAR 2005, p. 83)

Além disso, a psicoterapia pode ser grande aliada da criança na compreensão deste mundo e destas relações, que lhe parecem tão complicadas, mas tão necessárias.


5.4 OS AJUSTAMENTOS CRIATIVOS NA PRÁTICA CLÍNICA INFANTIL


Ao falar de um trabalho terapêutico com crianças, me propus a investigar como este trabalho seria se visto e realizado, sob a perspectiva de um terapeuta disposto a trabalhar os ajustamentos criativos realizados por esta criança ao longo de sua vida. Por algum tempo me coloquei a procurar por literatura condizente a este tipo de atendimento. E talvez na ânsia de encontrar me esquecesse por alguns instantes da teoria, a qual estava me embasando.

Embasada no que me apresenta a Gestalt-terapia, agora posso afirmar que dificilmente alguém encontraria um livro, no qual estivesse exposto algo a este respeito. Pelo simples fato de que tratamos aqui de uma abordagem que prioriza o todo e um outro fato ainda mais banal, o de que o ser humano vive em um eterno ajustamento criativo. Portanto, tudo que se refere ao ser se refere a um ajustamento criativo, e por conseguinte, qualquer seja o conteúdo trabalhado em terapia, certamente, este se referirá a um ajustamento criativo realizado pelo sujeito em algum momento da sua existência.

Portanto me proponho aqui a falar da prática clínica com crianças, sob o olhar da Gestalt-terapia sem deixar de lado o papel dos ajustamentos criativos no processo, porém sem também nos desvencilhar da visão de homem e de mundo da abordagem em questão.

Aguiar (2005) afirma que o processo terapêutico em Gestalt-terapia com crianças tem um objetivo muito claro, o de reaver o curso do desenvolvimento infantil, partindo do momento em que este se torna insatisfatório ao crescimento saudável da criança. Propiciando a esta, oportunidades de alargamento de fronteira do contato, de forma saudável. E nas palavras de Oaklander, a oportunidade de:

Reencontrar a vivacidade e o contato pleno com o mundo através da desobstrução de seus sentidos, do reconhecimento do seu corpo, da identificação, aceitação e expressão dos seus sentimentos suprimidos, da possibilidade de realizar escolhas e verbalizar suas necessidades, bem como de encontrar formas para satisfazê-las, além de aceitar quem ela é na sua singularidade (1992, apud AGUIAR, 2005).

Quando Oaklander fala sobre o reencontro da criança com um mundo pleno, fala sobre a forma com que muitas crianças permanecem no mundo, sem que possam exercer um contato pleno. Contato que na percepção de Antony (2010) é a capacidade do indivíduo de perceber e estar consciente da forma como esta no mundo, e se relaciona com o meio a sua volta. Tudo isso na tentativa de suprir suas necessidades mais urgentes, que se sobrepõem a outras no momento presente.

Como já dito anteriormente a necessidade principal da criança é a de ser aceito pelo outro. Se por algum motivo esta necessidade prioritária se vê ameaçada, ou seja, a criança acredita que para satisfazer outras necessidades ela terá de sacrificar a aceitação do ente querido, e tende a suprimi-las. Segundo Aguiar (2005) a criança, na tentativa de não perder o amor parental, assim como de buscar a confirmação do seu eu, que ainda é muito frágil, realiza ajustamentos criativos muitas vezes disfuncionais, bloqueando seu contato pleno com sentimentos ou situações que possam vir a ocasionar a desaprovação do outro significante.

Estes ajustamentos criativos, quando disfuncionais, podem fazer com que a criança tenha seu desenvolvimento prejudicado por tantas necessidades por satisfazer, ou, gestalten em aberto. Sendo assim acredito ser pertinente a forma de trabalho apresentada por Antony (2010).

Segundo a autora o terapeuta deve contribuir para que a criança vislumbre novos “ângulos” de si, identifique qualidades que não conhecia. Para isso é necessário que este “limpe as introjeções carregadas de energia negativa” do campo vivencial do cliente. Só assim o indivíduo poderá integrar qualidades e defeitos que formam sua personalidade total e será capaz de se auto nutrir ao invés de depreciar-se.

Esta mesma autora afirma que é necessário ainda, que a criança possa compreender que sua energia agressiva não tem que ser repugnada, e que pelo contrário, ela pode ser utilizada ao seu favor em momentos em que o cliente precise se auto afirmar ou até mesmo para sua auto proteção. Acredito que seja papel do terapeuta ampliar as fronteiras de contato da criança para que esta possa entender em quais momentos esta energia pode ser benéfica ou maléfica, dando-lhe novas possibilidades comportamentais de utilização desta energia.

Porém, Aguiar (2005) ressalta que para que esta flexibilização e expansão das fronteiras de contato aconteça, é necessário que o terapeuta, através da fenomenologia e o auxilio de técnicas facilitadoras, possa proporcionar a criança uma awareness maior a respeito de si e do mundo. E assim, relata Antony:

Quanto mais clareza a criança tem de suas defesas, ansiedades, conflitos e medos, mais confiança, mais segurança, maior a capacidade de aceitar a expressão autentica de si mesma. É por meio das experiências vividas na situação terapêutica que a consciência emerge, a mudança acontece e a criança caminha em direção a cura emocional, entendida como um processo de resignificação, transformação e cicatrização das experiências dolorosas (2010 p. 98)

E é somente através da expressão genuína de seu próprio ser que a criança pode construir e fortalecer o seu senso de eu, como nos relata a autora acima citada. Esta afirma que ao se conhecer como sujeito de desejos e necessidades que podem ser expostas a criança se apropria da sua identidade, alimentando uma força interior responsável pelo autossuporte.

Baseado na Gestalt-terapia e por meio da Fenomenologia o terapeuta procura conduzir o processo psicoterápico através das necessidades da criança, através daquilo que lhe é figura no momento. Porém conforme Aguiar (2005) o terapeuta não pode estar alheio ao contexto em que ela se encontra, pois ao concebermos a família como totalidade auto-reguladora, quando estivermos trabalhando com uma criança vamos intervir em um equilíbrio que vai além da criança e estende-se por todo seu contexto familiar. Sendo assim é preciso que o terapeuta cumpra uma das tarefas que Antony (2010) considera mais importante no atendimento a crianças, a inclusão dos pais no processo.

Assim como Aguiar (2005), acredito que seja necessária a participação dos adultos no processo de maturação da criança. Satisfazendo sua necessidade de confirmação dos sentimentos e valorização das potencialidades, ajudando-as a lidar com seus “fracassos” e erros cometidos, apoiando em decisões e escolhas sem exigir que tais sejam decisivas ou irrefutáveis. Criança precisa de atenção e principalmente aceitação, como prova de amor incondicional.

Em Gestalt-terapia nunca trabalhamos o indivíduo como um ser isolado, mas sim um ser contextualizado. Para isso trabalhamos com seu campo vivencial, através de orientações e apoio a família, a escola, conforme necessidade apresentada pela criança (ANTONY, 2010)

Convenço-me então, a cada dia mais, de que estamos falando de uma terapia do cuidado, que como bem descreve Antony (2010) faz com que a cura aconteça por meio do cuidado. Quando a criança se sente aceita, validada e respeitada pelo terapeuta, se torna capaz de percorrer seus caminhos em busca de sua independência, individuação, auto-regulação organísmica e valorização de si, com o intuito de se auto validar.


6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Propus-me, ao longo deste ano, a estudar os ajustamentos criativos na vivência infantil, e este foi o enfoque do meu trabalho. Acredito que meus objetivos foram alcançados, haja vista que hoje, entendo perfeitamente a função de cada um deles no desenvolvimento infantil. Mas o fato de ter conseguido entender aquilo que a princípio me propus se torna quase banal, mediante o fato de que ganhei muito mais que o aprendizado de um trabalho sobre ajustamentos criativos. Ganhei a oportunidade de me colocar diante do mundo infantil.

Tenho plena consciência de que teorias e técnicas são muito importantes para o trabalho de psicoterapia com crianças, porém consegui compreender ao longo deste trabalho que teoria e prática de nada valem se não estiverem aliadas a sensibilidade do terapeuta. Hoje digo com convicção que a abordagem que escolhi como minha é uma abordagem que trabalha com o cuidado. E me orgulho disso, a final, trabalhamos com seres humanos e no meu caso em específico, com seres humanos especiais, pois trabalhar com crianças é o mesmo que trabalhar para melhorar o futuro da humanidade.

Neste trabalho tive a chance de me reencontrar com a minha criança, e vislumbrar o quanto é bom poder ser criança. Com isso me pus a pensar no mundo em que vivemos e na forma como tratamos as nossas crianças. Crianças estas que tem vivido em função de um mundo que ainda não faz parte das suas férteis imaginações e sim das perspectivas de pais que deixaram a muito sua criança interior morrer. Percebi que muita das suas fantasias têm sido trocadas por responsabilidades, planejando um futuro que nem mesmo sabemos se chegará e se chegar, chegará a adultos “cartesianos”, incapazes de usar toda a sua imaginação, pois foram impedidos de praticar quando crianças.

Hoje entendo que crianças não são projetos inacabados a espera de uma conclusão que seria a vida adulta, muito menos adultos em miniaturas. Entendo que o ser humano é um eterno vir a ser, e com a criança não seria diferente, porém não devemos fazer com que ela viva em função deste vir a ser. Se não permitirmos que ela viva o aqui agora, não poderemos esperar que ela possa viver de forma saudável, o futuro que se apresentará.

A maior dificuldade dos adultos, em relação as crianças, é compreender que elas tem um jeito diferente de se expressar. Que a sua linguagem transcende a linguagem verbal. Criança fala com corpo, com gestos e atitudes, coisas que nós adultos, extremamente fixados em uma linguagem verbal cheia de defesas, somos muitas vezes incapazes de compreender. E assim passamos a subjugar aqueles que, diante de nossos olhos cegos pela empáfia, são menos que nós, pelo simples fato de não saberem se expressar com clareza através de um dialeto criado pelo homem.

Concluo este trabalho com muitas indagações e incertezas, que certamente me trazem a motivação para pesquisar mais e me dedicar ainda mais a esta área. Entre tantas dúvidas me resta uma certeza muito maior que qualquer suspeita, a certeza de que temos muito mais a aprender com as crianças do que a ensinar. E assim me remeto a uma frase que li em algum lugar a muito tempo, e por isso devo pedir desculpas aos leitores e ao autor que não será citado por uma falha da minha memória. Porém insisto em citar a frase que diz que nós adultos devemos ser muito mais generosos com as crianças do que elas conosco, afinal de contas nós já fomos crianças e deveríamos saber como é, mas elas nunca tiveram a oportunidade de serem adultas.

Apesar disto me parece que fazemos questão de esquecer que já estivemos no lugar delas para que não pareça pretensioso pedir que elas se curvem aos nossos desejos e tornem-se peças feitas a partir dos moldes da sociedade atual. Vivendo em prol de todos os deverias criados por adultos que nem ao menos são capazes de explicar a função destes.

Posso dizer então que este trabalho me proporcionou em grande aprendizado teórico, que a meu ver não se resume a teorias. O trabalho com crianças só é passível de resultados quando baseado em confiança e respeito. Respeito este que deve agir em uma via de duas mãos para que assim se torne possível uma relação que propicie a “cura”. Deixando claro que a todo momento em que me utilizo da palavra “cura”, faço eu menção ao significado dado pela Gestalt-terapia a palavra, o sentido de mudança por meio do contato, e não a seu sentido médico.

Sendo assim, atrevo-me a fazer minhas as palavras de Antony (2010)

A cura acontece por meio do cuidado, ocorre quando a criança se sente respeitada, aceita e validada pelo terapeuta. O caminho terapêutico, acima de tudo, visa incentivar a criança rumo à independência, a individuação, a autorregulação espontânea do seu organismo, a realização de seu potencial humano, a fim de honrar tudo aquilo que é e pode vir a ser. (p. 106)

Levo comigo ao fim deste trabalho a responsabilidade de alguém que sabe o quanto é importante para qualquer criança os bloqueios de contatos, os quais em alguns momentos e contextos de sua vida podem se configurar em ajustamentos criativos. Se estes ajustamentos serão funcionais ou não, somente o contexto poderá nos mostrar, mas o que me ficou mais claro em tudo isso é que o nosso papel não é o de investigar o “por que” do ajustamento, mas sim o “para que”. É nossa obrigação investigar a função deste ajustamento criativo, desprovidos de qualquer julgamento, afinal o sentido que este bloqueio de contato tem somente a criança pode saber. E como alguém me disse uma vez: “uma dor é sempre uma dor” e por isso precisa ser cuidada e respeitada

REFERÊNCIAS


AGUIAR, L. Gestalt-terapia com crianças: teoria e prática. Editora Livro Pleno, 2005

ANTONY, S. A criança em desenvolvimento no mundo: um olhar gestaltico. IGT na rede; vol. 3, num. 4, 2006.

______ (org.). A clínica gestáltica com crianças: caminhos de crescimento. São Paulo: Summus, 2010.

D’ACRI, G. LIMA, P. ORGLER, S. Dicionário de Gestalt-terapia: “gestaltês”. São Paulo: Summus, 2007.

FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário Aurélio da língua Portuguesa. 3 ed. Curitiba: Positivo, 2004

GIL, A. C. Métodos e técnicas da pesquisa social. 5º Ed. São Paulo: Atlas, 1999.

GINGER, S. GINGER, A. Gestalt: uma terapia de contato. Tradução: Sonia S. Rangel. São Paulo: Summus, 1995.

HOUAISS, A. Dicionário Houaiss da língua Portuguesa. Rio de Janeiro: objetiva, 2009.

MÜLLER-GRANZOTTO, M. J.; MÜLLER-GRANZOTTO, R. L. Fenomenologia e Gestalt-terapia. São Paulo: Sumus, 2007.

______.Perls leitor de Freud, Goldstein e Friedlaender e os primeiros ensaios em direção a uma psicoterapia gestáltica. UERJ, RJ, ano 7, N. 1, 1º semestre de 2007

______.Clínica dos ajustamentos psicóticos: uma proposta a partir da Gestalt-terapia. Revista IGT na Rede, v. 5, n° 8, 2008, p.3-25. Disponível em http://www.igt.psc.br ISSN: 1807-2526.

PERLS, F.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.

POLSTER, E. & POLSTER, M. Gestalt-terapia integrada. Belo Horizonte: Interlivros, 1979.

RIBEIRO, J. P. Gestalt-terapia: refazendo um caminho. São Paulo: Summus, 1985.

______. Vade-mécum de Gestalt-Terapia: conceitos básicos. São Paulo: Summus, 2006.

______. Holismo, Ecologia e Espiritualidade: caminhos de uma gestalt plena. Petropolis: Vozes, 1981.

RODRIGUES, H. E. Introdução à Gestalt-terapia: conversando sobre os fundamentos da abordagem gestáltica. Petrópolis: Vozes, 2000.

TELLEGEN, T. A. Gestalt e grupos: uma perspectiva sistêmica. 4 ed.São Paulo: Summus,1984.

Yontef, G. M. Processo, diálogo e awareness. 3 ed. São Paulo: Summus, 1998.

Endereço para correspondência


Gisele Peruzzo


E-mail: gperuzzo00@hotmail.com

Recebido em: 14/12/11
Aprovado em: 08/04/11