ARTIGO

A infidelidade conjugal e seus mitos: uma leitura gestáltica

Conjugal Infidelity and its Myths: A Gestalt Perspective

Mariana Moura Magalhães

Endereço para correspondência


RESUMO

Este trabalho teve por objetivo conhecer os processos da infidelidade conjugal e analisar os mitos que dentro deste contexto são utilizados como forma de resistência para encarar a realidade dos fatos. Nosso enfoque foi observar as mulheres e seus comportamentos quando elas vivenciam a dor da traição. Nosso olhar teve como referencial a abordagem gestáltica, e nossa atenção esteve fortemente voltada para os conceitos de teoria de campo, mecanismos de defesa, disfunção do contato e contato. Para construção dessa monografia seguimos o seguinte percurso: em primeiro lugar fizemos um breve levantamento histórico da relação conjugal desde nossos antepassados até os dias atuais, observando o papel da mulher em suas relações conjugais e a maneira pela qual elas eram tratadas; em seguida, buscamos conhecer formas que fundamentam o processo de infidelidade baseados num perfil romântico de monogamia e, então, verificamos as reações das mulheres quando descobrem que foram traídas por seus cônjuges. Ao final do trabalho tecemos comentários diante da escolha de viver a exclusividade sexual e levantamos questões sobre uma nova forma de encarar uma relação amorosa na qual esta exclusividade não está presente.

Palavras-chave: Gestalt-terapia; infidelidade conjugal; mulher; mitos; monogamia.


ABSTRACT

This work aimed at exploring the processes of maritial infidelity and analysing the myths used in this context to resist facing the reality. Our focus was women and their behaviours while experiencing the pain of betrayal. Our theoretical reference was the Gestalt approach, whilst our attention was orientated strongly towards field theory, defence mechanism, dysfunction of contact and contact. For this final paper we pursued the following path: Firstly, we did a brief historical research of the marital relationship from our ancestors’ time to the present day, observing the woman’s role in her maritial relations and how they were treated. Secondly, we tried to detect the ways that substantiate the process of infidelity based on a romantic idea of monogamy. We then verified women’s reactions when discovering they had been betrayed by their partners. Finally, we commented upon the choice of having a relationship based on sexual exclusivity, and we raised questions about a new way of having of a relationship, in which this exclusivity would not present.

Keywords: Gestalt-therapy; Conjugal infidelity; Woman; Myths; Monogamy.


INTRODUÇÃO

O tema da infidelidade conjugal tende a estimular a curiosidade das pessoas. A razão deste fenômeno está no fato de que provavelmente, todos já passaram ou passarão por isso um dia, mesmo que não tenham conhecimento.

Ainda que em nossas relações amorosas haja uma expectativa de confiança no cumprimento da exclusividade sexual, sabemos que homens e mulheres traem uns aos outros mesmo conhecendo a dor que isso pode causar ao outro e a si mesmo.

Quando resolvemos abordar este assunto, sabíamos que estaríamos diante a um leque de possibilidades. Assim, dirigimos nosso olhar às mulheres que são traídas e que apresentam dificuldades de encarar essa situação. Acreditamos que a escolha de um foco permitirá uma maior atenção de nosso estudo, logo, maior qualidade no desenvolvimento desse tema.


Justificativa do tema

A escolha desse tema deveu-se ao fato de sua recorrência no consultório e de pequenos estudos visando conhecer melhor o assunto. Baseados nas leituras que fazíamos, assim como nos relatos de casos que ouvíamos no trabalho, a curiosidade de conhecer essa problemática aguçou nossa curiosidade o que acabou determinando o tema desta monografia.

Antes de qualquer coisa, para que possamos entendê-lo é importante esclarecer dois pontos:

1) Que tipo de infidelidade esse trabalho abordará?

2) O que são os mitos (1) aqui citados?

Quando usamos o termo infidelidade, é possível pensarmos em uma série de significados e contextos diferentes. Buscando o sentido dessa palavra, em dois dos grandes dicionários da Língua Portuguesa, o Michaelis e o Aurélio, assim como outras palavras correlacionadas, encontramos as seguintes definições:

Infidelidade sf (lat infidelitate): 1 Falta de fidelidade. 2 Qualidade de infiel. 3 Traição. 4 Falta de exatidão ou de verdade. 5 Falta de crença religiosa. 6 Conjunto dos descrentes ou infiéis. 7 Dir Transgressão da fé matrimonial, ou do dever de fidelidade, comum aos cônjuges. Var: infidelidade (MICHAELIS, 2008).
Fidelidade sf (lat fidelitate): 1 Qualidade de quem é fiel; lealdade. 2 Semelhança entre o original e a cópia. 3 Afeição constante: A fidelidade do cão. 4 Probidade. 5 Exatidão, pontualidade (ibidem).
Traição sf (lat traditione:) 1 Ato ou efeito de trair. 2 Quebra de fidelidade prometida e empenhada; aleivosia, intriga, perfídia. 3 Dir Crime do indivíduo que, num estado de guerra entre potências, atenta intencionalmente contra a segurança externa da nação. 4 Infidelidade no amor. 5 Surpresa inesperada; emboscada (Ibidem).
Infidelidade sf: Qualidade ou procedimento de infiel. (FERREIRA, 1977, p.267).
Infiel adj: 1. Sem fidelidade; desleal. 2. Inexato, inverídico (ibidem, p. 267).
Fidelidade sf: Qualidade de fiel (Ibidem, p. 221).
Fiel adj: 1. Digno de fé; leal, honrado. 2. Que não falha; seguro. 3. Que professa uma religião. 4. Pontual, exato. 5. Verídico (Ibidem, p. 221).
Traição sf: 1. Ato ou efeito de trair (-se). 2.Perfídia, deslealdade (ibidem, p.474).

Observando estes conceitos, algumas coisas nos chamaram a atenção. Primeiro, é a presença de um caráter religioso. Vale a pena destacar que, de acordo com a Bíblia Sagrada, encontramos no livro do Êxodo (Êx, 20, 14) os Dez Mandamentos, entre os quais “não adulterarás”, o 7° Mandamento, se faz presente. De acordo com pesquisas (WIKIPÉDIA, 2008), o Cristianismo é considerado a maior religião mundial, predominante na Europa, América do Norte, América do Sul, Oceania e em grande parte da África, o que nos leva a pensar numa possível relação desta com o fato da infidelidade ser vista com algo reprovável. Segundo, é quando se fala de infidelidade no amor e terceiro, fidelidade comum aos cônjuges.

De acordo com Feldman (2005, p. 33), “para maioria das pessoas, trair é estabelecer nova relação amorosa (ou novas relações amorosas), seja em que nível for, quando já existe um compromisso e um vínculo de afeto estabelecido anteriormente com um companheiro”.

É nesse sentido, que o termo infidelidade será utilizado nesse trabalho. Além disso, tomaremos por base o ocidente, visto que em nossa referência bibliográfica inserimos autores cujos livros e artigos tratam dos costumes ocidentais.

Tendo por base a teoria da Gestalt-terapia, nosso estudo bibliográfico e relatos de clientes, percebemos que muitas vezes é difícil para o indivíduo entrar em contato com determinadas situações e aceitar seus verdadeiros desfechos. Essa fuga da realidade pode ser feita de diversos modos, no entanto, segundo Perls (1988, p. 35), “a fuga em si, não é boa, nem má, é apenas um modo de enfrentar o perigo”. Assim, acreditamos que aquilo que muitas vezes pode parecer devastador aos princípios singulares de cada um, pode tornar-se motivo de transformações, reflexões e de resultados positivos para o mesmo.

Observando no consultório casos onde a relação extraconjugal se fazia presente, muitos eram os relatos de mulheres que buscavam formas incoerentes para justificarem ou esconderem de si mesmas uma possível traição de seus cônjuges e, desse modo, enfrentar o problema. A afirmação de que estas justificativas eram inadequadas deve-se ao fato delas terem sido confirmadas pelas próprias clientes num momento posterior. No entanto, em outros casos, quando essa confirmação não se fazia, a nossa percepção terapêutica de uma repetição de comportamentos desordenados, permitiu que suspeitássemos dessa inadequação e ficássemos mais alertas para esse fato.

Petersen faz a seguinte afirmação:

A recusa de reconhecer o problema é um mecanismo de escape baseado em medo, falsa esperança [...]. Há um medo de incapacidade para enfrentar a crise, um complexo de não se ter recursos para enfrentá-la, de não se saber para onde se voltar nessa confusão (1985, p. 99).

É nesse contexto que encontramos os mitos que serão abordados nesta monografia. Mitos, por se tratarem de incoerências ou inverdades, de uma distorção da realidade.

A teoria da Gestalt-terapia aborda temas que são coerentes para compreensão do comportamento dessas mulheres, os quais estaremos abordando nesse trabalho. A disfunção de contato, os mecanismos de defesa, o processo de auto-regulação organísmica (homeostase), o ajustamento criativo, são formas que, em nossa percepção, o indivíduo emprega em sua vida visando uma manutenção de um equilíbrio interno. Inseridos num campo totalmente mutável, é fundamental que possamos mudar constantemente se quisermos sobreviver, no entanto esse processo de mutação pode ser cristalizado, impedindo o bom funcionamento do sujeito.

Desse modo, acreditamos que o tema aqui abordado pode ampliar nosso olhar como terapeutas no contato com os clientes, quando este assunto se fizer presente. Acreditamos também, que essa investigação tem relevância para Gestalt-terapia já que faz uma leitura de um comportamento tangenciado a sua teoria, facilitando a criação e aplicação de ferramentas que facilitem o contato do cliente com as escolhas que ele fizer para condução de seu problema.


Objetivos

Os objetivos desse trabalho foram divididos da seguinte maneira:

Objetivo geral:

- Investigar o que leva a mulher a buscar respostas inadequadas para explicar a infidelidade de seus pares.

Objetivos específicos:

- Fazer um pequeno levantamento histórico, objetivando mostrar algumas mudanças da mulher, desde nossos ancestrais até os tempos atuais.

- Investigar como os conceitos da Gestalt-terapia podem facilitar a percepção e o trabalho desenvolvido com estas mulheres.


Metodologia

Os procedimentos metodológicos utilizados para elaboração deste trabalho foram de três tipos. O primeiro e mais consistente, foi um levantamento de natureza exploratória, através da análise de dados secundários, isto é, o uso de informações já existentes, como livros, artigos e pesquisas, que foram estudadas com o intuito de recolher informações e conhecimentos prévios a respeito do assunto aqui tratado e da hipótese que pretendíamos investigar. Assim, essas informações foram utilizadas com o objetivo de complementar as idéias levantadas para produção desta monografia. Portanto, para este trabalho monográfico, foram utilizados livros que trazem a teoria da Gestalt-terapia e publicações que tratam o assunto da infidelidade, da relação conjugal e da sexualidade feminina.

Outra forma de investigação, utilizada para elaboração desta monografia, foi o de conversas informais com mulheres que já haviam experienciado a infidelidade. Dessa forma, as idéias que seriam exploradas na monografia foram levadas a um grupo reduzido de indivíduos pertencentes ao universo pesquisado e assim, as informações obtidas como, sentimentos, motivações, conceitos e idéias, foram exploradas, resultando em dados explicativos sobre o assunto pesquisado.

Em terceiro lugar, trabalhamos com a observação direta da experiência com clientes no consultório, sendo esta refletida por nós e empregada no desenvolvimento desse estudo.

A monografia foi dividida em 4 partes. No capítulo “A História da Mulher: falando sobre sexualidade feminina”, faremos uma apresentação histórica, de maneira sintética, desde nossos ancestrais até a atualidade, com o intuito de conhecermos de que maneira a mulher vivia sua relação conjugal, e observar o papel que ela desempenhava em suas relações. No capítulo “A Infidelidade Conjugal”, abordaremos o tema da infidelidade conjugal, observando algumas razões que são usadas como justificativas que levam a traição e conheceremos alguns mitos encontrados pelas mulheres para explicar a infidelidade dos cônjuges. No capítulo “Um Olhar Gestáltico sobre os Mitos da Traição”, desenvolveremos nosso olhar psicoterapêutico da infidelidade e buscaremos entender o motivo pelo qual a mulher, muitas vezes, escolhe não encarar a realidade como ela é. Embora todo trabalho tenha sido desenvolvido sob a ótica da Gestalt-terapia, neste capítulo nosso foco estará em relacionar essa teoria com o material que apresentaremos nos outros capítulos. Portanto, mesmo que alguns conceitos apareçam no decorrer dos capítulos 1 e 2, é aqui que eles serão explicados mais detalhadamente. Nas considerações finais elaboraremos uma reflexão acerca de nossas ponderações sobre este trabalho, e traremos novos questionamentos que surgiram do resultado dessa monografia.

1. A HISTÓRIA DA MULHER: falando sobre sexualidade feminina

Lidar com a questão da infidelidade não é nada fácil. A relação amorosa, razão de tantas alegrias, pode ser também fonte dos mais intensos sofrimentos. De acordo com Feldman (2005, p. 25): “a traição funciona como um verdadeiro atentado à auto-estima de quem é traído”. Essa afirmação é bastante pertinente se relacionada com uma idéia de exclusividade sexual, pré-determinada entre os cônjuges. No entanto, como o modelo de exclusividade sexual se constituiu? Será que ele esteve presente desde o início de nossos tempos? Sem dúvida estas foram perguntas que nos fizemos durante a elaboração deste trabalho.

Nesse capítulo, faremos um pequeno levantamento histórico tentando elucidar nossas perguntas e conhecer um pouco do papel que a mulher exercia na sociedade, o modo que ela era tratada, de que maneira era estabelecida a relação conjugal e as mudanças ocorridas nas últimas décadas.

No livro “Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor”, Allan e Bárbara Pease (2000), falam de diferenças entre homens e mulheres, que datam desde a evolução, e que têm como resultado, uma adaptação cerebral que vai ao encontro às funções que cada um desempenharia. Observa-se que desde o período Paleolítico já havia certa organização social e era possível perceber uma divisão de tarefas definidas de acordo com o gênero de cada um. O homem era responsável pela caça, o que resultou numa maior resistência e força física, maior altura e o desenvolvimento de um lado mais ativo e agressivo. Cabia a ele também a proteção da mulher. Para elas, que geravam os filhos, a responsabilidade estava basicamente em amamentar, cuidar da prole e do território. Ambos reconheciam a contribuição do outro para sobrevivência e bem-estar da família.

Na era Neolítica, que deu origem à propriedade privada e na qual o homem passa a tomar consciência pela reprodução da prole, teve como resultado o patriarcado. Os bens do pai deveriam ser passados para os seus filhos. Para que não houvesse dúvidas quanto aos herdeiros, a sexualidade feminina passou a ser controlada, o que impedia que as propriedades fossem passadas a não descendentes. No estudo de Engels, “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado” ele fala o seguinte:

... a família monogâmica foi necessária ao processo de acumulação privada de bens. Através da união monogâmica, a função paterna passou a determinar a organização familiar e a continuidade da propriedade privada na mesma linhagem. Assim, de acordo com a explicação materialista o surgimento do casamento monogâmico não foi fruto do amor ou de um sentimento natural, mas sim de uma construção social que surgiu a partir da necessidade de estabelecer a certeza da paternidade com a finalidade de concentrar a propriedade e a riqueza nas mãos do homem. Esta concentração só seria bem sucedida se houvesse o controle da sexualidade feminina (ENGELS apud MENDÉZ, s.d.).

A essa construção social, deve-se também a forma pela qual a divisão de tarefas era estabelecida, já que deveriam manter a política regente da época. O homem tinha o poder, tinha a propriedade, tinha a mulher. Ela, basicamente, cuidava da casa, dos filhos, de sua educação e socialização.

Desde a Antiguidade, período que tem início em 4000 a.C e fim na Idade Média (séc. XV), até os dias atuais, não foi apenas a monogamia que esteve presente. A poligamia também era e ainda é comum. No entanto, na maior parte dos casos, era direito do homem poder ter relação sexual com mais de uma mulher. Esta era vítima de atrocidades como a extirpação do clitóris para desencorajar a promiscuidade, a sutura dos grandes lábios impedindo a penetração vaginal e o uso dos cintos de castidade. No caso de adultério por parte da mulher encontramos casos nos quais a transgressora apanhava com galhos espinhosos, cactos eram introduzidos na vagina, eram curradas (2) que vivemos hoje também tem seus critérios e a monogamia é um deles. Dessa forma, o casal espera de seu parceiro a adoção dessas regras.

Na Idade Média, a sexualidade feminina que até então era regida mais por aspectos políticos, passa a ser controlada pela religião (SEIXAS, dez 2005/jan 2006). O Cristianismo começa a ditar normas e regras. O que não fosse sexo visando a procriação era condenado e castigado pela igreja. As mulheres deveriam casar virgens. Em muitas culturas, o sangue que deixava marca no lençol branco, era exibido, depois da primeira noite de amor, mostrando que a mulher era realmente virgem.

No Antigo Testamento, aquele que era pego em adultério era apedrejado, mas como a lei de Moisés admitia a poligamia masculina e o divórcio, o delito era marcado quando a mulher casada mantinha relações com outro homem. Com o tempo, a prática da poligamia foi proibida pelo Cristianismo. A partir do Novo Testamento, a cultura da fidelidade matrimonial e a condenação do adultério era uma conseqüência que recaia sobre homens e mulheres.

Porém, quando o homem cometia adultério o resultado dessa infração era bem mais ameno daquilo que a mulher enfrentava, caso fizesse o mesmo. Segundo Zampieri (2004), o adultério era tratado como crime capital, mas apenas quando cometido pela esposa era considerado crime. A sexualidade feminina era negada e condenada.

Vós, mulheres, sujeita-vos a vossos maridos, como ao Senhor. Porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja; sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos. (EFÉSIOS, 5:22-24)

A manutenção da submissão da mulher ao homem, foi defendida pela Igreja, o que podemos observar nas seguintes encíclicas papais:

Trabalhos há também que não se adaptam tanto à mulher, a qual, por natureza, destina-se, de preferência, aos arranjos domésticos que, de outro lado, salvaguardam admiravelmente a honestidade sexual, correspondendo melhor, pela própria natureza, ao que pede a boa educação e a prosperidade da família (LEÃO XIII,1891 apud CANEZIN, 2004).


Em um como em outro estado civil, o dever da mulher aparece nitidamente traçado pelos lineamentos, pelas atitudes, pelas faculdades peculiares do seu sexo. Colabora com o homem, mas no modo que lhe é próprio, segundo sua natural tendência. Ora, o ofício da mulher, sua maneira, sua inclinação inata, é a maternidade. Toda a mulher é destinada para ser mãe: mãe no sentido físico da palavra ou num significado mais espiritual e elevado, mas não menos real. A este fim o Criador ordenou todo o ser próprio da mulher, seu organismo, mas também seu espírito e, sobretudo, sua especial sensibilidade, de modo que a mulher, verdadeiramente tal, não pode de outro modo ver nem compreender a fundo todos os problemas da vida humana, senão com relação à família. Por isto, o sentido agudo de sua dignidade a coloca em apreensão cada vez que a ordem social ou política ameaça prejudicar sua missão materna, em favor da família (PIO XII,1943 apud ibidem.).

Observa-se que as diferenças entre os gêneros não estavam ligadas apenas à sexualidade. Por muitos anos, as mulheres não tiveram direitos civis e não podiam fazer transações jurídicas. Caso ainda não fosse casada, ela deveria ser representada por um homem (seu pai ou um irmão, por exemplo), mas sempre sob “tutela” de um varão. Sua educação restringia-se às prendas domésticas, à prática da virtude e da obediência ao futuro esposo.

A força do patriarcalismo e do conservadorismo existentes perdurou por muitos anos e se manifestava sempre que as mulheres tentavam brigar por seus direitos. Isso porque, a ruptura dessa estrutura poderia trazer conseqüências às famílias, desestruturando-as, bulindo num poder que era dos homens. Apenas em 1879 é que as instituições de ensino superior, por exemplo, foram abertas às mulheres, mas a desaprovação social das universitárias era muito grande (ZAMPIERI, 2004).

No final da década de 60 e início da década de 70 do século XX, é que podemos falar num marco fundamental nas transformações dos papéis femininos. Com a revolução Industrial e as duas grandes guerras, os valores morais, éticos, políticos e individuais sofreram mudanças e as idéias feministas começaram a ganhar espaço. A luta era pela participação da mulher na vida pública e nas decisões políticas.

Era o início do Movimento Feminista que, a princípio, não tinha a intenção de perturbar a ordem e a harmonia social, no que diz respeito à sexualidade feminina. As mulheres lutavam pela conquista de novos espaços no mercado de trabalho e numa igualdade política entre homens e mulheres. São algumas dessas transformações o direito ao voto (1932) e a legislação trabalhista de proteção ao trabalho feminino, consolidado com as leis do trabalho (1932 e 1943). De acordo com Harris (apud Jablonski 1998), a primeira motivação para que a mulher saísse de casa foi a econômica. Como vimos anteriormente, o papel central na vida das mulheres era o cuidado com a casa, os filhos. Porém, por volta da década de 50, a necessidade de suplementar o salário dos maridos foi uma das causas, talvez a principal, que levou as mulheres às ruas, em busca de trabalho.

No entanto, a desigualdade entre os sexos era marcante, como a diferença salarial e setores de trabalho que não aceitavam a mão de obra feminina. Jablonski fala sobre as origens da desigualdade:

Essa desigualdade tem origens diversas: menos investimento educacional por parte da mulher, maior tendência à interrupção de uma carreira, opções por trabalhos de meio expediente, escolhas de carreiras de menor reconhecimento socioeconômico e com poucas opções de ascensão em termos pecuniários, menores pretensões salariais, a própria limitação gerada pela sociedade, que impele o contingente feminino para certas ocupações, e, por fim, a existência de um tratamento discriminatório propriamente dito (JABLONSKI, 1998, p. 154).

Outro fator fundamental que ajudou nessas transformações foi a pílula anticoncepcional que permitiu que as mulheres pudessem controlar sua contracepção, dissociando o sexo da procriação. Com isso, a partir da década de 70 a mulher vai em busca de reformular os padrões sexuais vigentes, buscando igualdade e defendendo o controle de sua própria vida, deixando para trás a negação de sua sexualidade.

A partir dessa revolução feminina, as mudanças foram muitas e foram rápidas. Hoje, podemos falar de mulheres independentes socioeconomicamente e de mulheres que gozam de sua liberdade sexual. Estes direitos e poderes trouxeram mudanças na relação conjugal e uma série de novas atribuições e modificações no papel do casal.

Nos dias atuais, é possível que uma mulher possa viver sem a presença de um marido ou sem o suporte financeiro de uma família, o que veio situar o casamento num contexto basicamente afetivo/sentimental. O casamento monogâmico tem agora outra cara: o do amor romântico. A exclusividade sexual passa a ser uma escolha e não uma imposição política ou religiosa.

No entanto, a infidelidade conjugal continua em voga. Porém, diferente da história da sexualidade humana, na qual o adultério masculino era aceito e perdoado e o feminino punido, falaremos agora sobre quebra de lealdade e confiança. Quebra que pode ser cometida pelo homem e pela mulher e que pode trazer os mesmos sentimentos, tanto para um, como para o outro.

No próximo capítulo, abordaremos o tema da infidelidade conjugal sob a lente daqueles que escolhem viver uma relação de exclusividade e que acabam violando esse contrato.

2. INFIDELIDADE CONJUGAL

No capítulo anterior, conhecemos um pouco da trajetória da mulher no que diz respeito ao lugar que elas ocuparam nas famílias, o papel que desempenharam, na repressão de sua sexualidade e em sua luta por igualdade.

Nesse capítulo, vamos falar sobre a infidelidade conjugal, presente nas relações atuais, mesmo que esta apresente um novo panorama. Falaremos sobre suas possíveis causas, assim como mitos usados para justificar uma traição. Embora homens também sejam traídos, iremos nos focar nas mulheres que são traídas e na maneira pela qual elas lidam com essa situação.

Vimos que a construção do casamento e da manutenção da exclusividade sexual feminina perpassava por questões políticas e/ou religiosas que deixaram resquícios que podemos observar ainda nos dias atuais. A educação dada ao menino e a menina, por exemplo, traz diferenças que apontam para desigualdades que marcaram a história.

Numa entrevista realizada com o sexólogo Marcos Ribeiro, no site Pailegal (3) , falando sobre a educação que é dada os filhos, essas diferenças foram levantadas e identificamos com o que ouvimos em nosso consultório. Para o sexólogo, “ainda hoje, existe uma educação muito diferenciada para homens e mulheres e, na grande maioria das vezes, com vantagens e privilégios para homens, em detrimento das mulheres” (RIBEIRO, s.d.).

Observamos que os rapazes de hoje, costumam ter mais liberdade que as moças. Eles começam a sair com menos idade, podem chegar em casa mais tarde e muitas vezes, acompanhados de suas namoradas que vêm para dormir. As meninas são tratadas com mais submissão e não possuem essa mesma liberdade. Quando se relacionam com muitos meninos são chamadas de “galinhas”, o que significa promíscua, fácil. Eles, quando agem como “galinhas”, são vistos como garanhões, isto é, são invejados, por “ficarem” e/ou transarem com muitas garotas.

Ainda hoje, na nossa cultura, acredita-se que ‘ser homem’ é o mesmo que ser agressivo, competitivo, menos afetivo e mais ‘durão’. Em contrapartida, da menina, ninguém espera outro comportamento que não seja a delicadeza e a fragilidade (RIBEIRO, s.d.).

Embora, este modelo ainda seja marcante, desde a emancipação feminina, a mulher vem buscando não apenas igualdade com os homens e liberdade sexual. Percebemos que a cada dia, a aproximação dos valores e do padrão de vida entre os gêneros aumenta o que pode, no futuro, determinar novos paradigmas na educação das crianças.

Zampieri também traz um levantamento interessante sobre a educação diferenciada que é dada aos dois gêneros. Para ela, homens e mulheres foram criados para se completarem, para serem a metade de um casal.

Os meninos são ensinados a serem ativos, assertivos, intelectuais, não-verbais, assumidores de riscos e outros. As meninas são instruídas a serem passivas, úteis, reprimidas, emocionais e a se auto-sacrificarem. [...] cada um desempenha o seu papel baseado no gênero esperado. (2004, p. 166).

Essa educação de complementaridade citada pela autora, nos remete a idéia que introduzimos no capítulo anterior sobre o amor romântico.

Quando citamos o amor romântico, falamos de escolhas, que associaremos aqui com a palavra liberdade, isto é, liberdade para escolher um companheiro que satisfaça nossas necessidades afetivas, liberdade para escolher aquele com quem desejamos construir uma família e que admiramos. Liberdade para almejar reciprocidade: dar amor e ser amado. Tudo isso com uma única finalidade: a felicidade. Mas, como em nossa cultura a forma eleita para vivermos nossas relações amorosas é a monogâmica, na qual a exclusividade sexual seria essencial para o sucesso do pares, criamos uma contradição. Como sermos livres para realizar nossas escolhas e ao mesmo tempo vivermos um critério já pré-estabelecido? É importante destacar que temos a liberdade de escolher viver o amor romântico sim. Porém, o romance (4) que vivemos hoje também tem seus critérios e a monogamia é um deles. Dessa forma, o casal espera de seu parceiro a adoção dessas regras.

Com isso, embora a possibilidade de escolha venha associada a um sentimento de apaixonamento ela também traz, por conseqüência, uma série de idealizações. Um espera que o outro seja capaz de satisfazê-lo e completá-lo, ou seja, um projeta no outro as expectativas que não encontra em si mesmo. Além disso, ambos devem seguir normas que parecem indispensáveis para o sucesso do casal.

Cada pessoa tem sua coleção particular de idiossincrasias, trazidas da infância e de sua experiência. Os seus hábitos são peculiares. Ela se sente bem com eles. Pensando em se casar, ela procura alguém que também se sinta com ela como ela é e, ao mesmo tempo satisfaça as suas necessidades emocionais. Isto significa, geralmente, alguém bem diferente dela, e faz parte da atração. Agora, combine essas duas coleções de temperamentos, personalidades e características individuais, e veja quanto campo para discordância e dificuldades [...] (PETERSEN, 1985, p. 41).

Vendo por esse ângulo, a infidelidade conjugal parece devastadora para uma relação. Segundo Zampieri (2004, p.161), “no aspecto psicológico, a aventura sexual extraconjugal pode ser uma das forças mais dissociadoras, emocionalmente falando, de um casamento tradicional ocidental”. No entanto, em nossos estudos, assim como em nossa prática clínica, observamos que a infidelidade tem grande complexidade, podendo ser espontânea ou intencional (5) e pode trazer resultados diversos.

Como nosso objeto de estudo é a mulher traída, achamos importante levantar alguns pontos que são interessantes para o desenvolvimento dessa monografia.


2.1 Vivendo a traição

Quando falamos de infidelidade conjugal, podemos mencionar a participação de três partes: a pessoa que trai, a pessoa que é traída e a nova relação, isto é, a pessoa (ou pessoas) com a qual a traição foi consumada. Nesse trabalho abordaremos apenas o casal original e nosso enfoque estará na mulher traída. Cabe ressaltar também que não entraremos no mérito das relações homossexuais, assim, mesmo que nosso levantamento se adapte a esse público, falaremos exclusivamente sobre a relação entre homens e mulheres.

O termo traidor, normalmente é usado para se referir à pessoa que cometeu o ato da traição. Contudo, seu uso, em nossa concepção, embute um julgamento de valor e de responsabilização ao qual não iremos nos ater. Mesmo porque, em muitas situações não existe apenas um responsável. É claro que o ato da traição em si, pode ser mensurado. Como diria Petersen (1985, p. 78), “você não pode impedir as tentações de virem, mas pode decidir o que vai fazer com cada uma delas”, porém, muitas vezes a infidelidade acaba sendo a conseqüência de uma relação desgastada e mal zelada. Se, associarmos o casamento insatisfatório a uma causa que explique o ato de infidelidade, certamente haverá, no mínimo, dois responsáveis por essa insatisfação, já que cada um provavelmente contribuirá com sua parcela para que isso aconteça.

Um pouco de negligência pode gerar muito prejuízo; pela falta de um prego, perdeu-se a ferradura; pela falta da ferradura, perdeu-se o cavalo; pela falta do cavalo, o cavaleiro perdeu-se, sendo vencido e morto pelo inimigo – tudo pela falta de um pouco de cuidado com o prego da ferradura (PETERSEN, 1985, p. 56).

Ainda assim, depois de confirmada a traição, a mulher pode apresentar uma série de sentimentos e reações apresentadas por Feldman (2005) e comentadas por nós.

• Alívio: especialmente para as mulheres que buscam saber a verdade
• Choque: quando a desconfiança se torna certeza
• Negação: por incapacidade de suportar a traição
• Raiva: que pode ser dirigida ao cônjuge, ao outro, a Deus, ou a si mesmo, etc.
• Mágoa e ressentimento: que podem durar uma vida inteira
• Tristeza e depressão: muitas vezes escondida por outras sensações
• Culpa: que pode ser projetiva ou retrofletida (6)
• Dor: certamente o sentimento mais inevitável nessa situação

Quando estudo as reações às infidelidades sexuais conjugais vejo as mais variadas por parte do traído: desde o desejo de vingança, a negação, desorientação, abertura de uma crise conjugal, a criação de um distanciamento que pode ocasionar o divórcio emocional e, inclusive a culpa. Isso freqüentemente ocorre com as esposas, provavelmente como reflexo das repressões sexuais de algumas mulheres, que são condicionadas, até hoje, a serem responsáveis por todos os problemas e fracassos de seus casamentos. Ouço relatos de pessoas traídas pelos cônjuges que sofreram infartos no miocárdio contingente à revelação da infidelidade de seu cônjuge. Outros, falam de angústias e, mais raro, de tentativas de suicídios (ZAMPIERI, 2004, p.162).

Precisamos considerar que não há uma regra de comportamentos e nem uma sucessão de sentimentos que são, necessariamente, vividos pelas mulheres que foram traídas. É importante lembrar que cada um de nós possui singularidades. Além disso, o campo no qual cada indivíduo está inserido apresenta suas peculiaridades, o que pode gerar diferentes reações para uma mesma causa.

Veremos, a seguir, algumas dessas possíveis causas que podem motivar a infidelidade conjugal.


2.2 O que pode causar a infidelidade conjugal?

Antes que começássemos a desenvolver esse subcapítulo, uma indagação nos freou. Ao que estamos nos remetendo quando falamos de infidelidade conjugal?

É verdade que no decorrer dessas páginas, muitas vezes falamos sobre a quebra de exclusividade sexual, como também nos referimos a quebra de lealdade e confiança. Dessa forma, o termo “infidelidade conjugal” irá designar não apenas o sexo com outra pessoa, mas o segredo e a mentira. Isso porque, mesmo vivendo numa sociedade monogâmica, hoje em dia podemos ver casais que estabelecem contratos nos quais estar com outros parceiros é permitido. No filme “Frida”, que retrata a vida da pintora mexicana Frida Kahlo, uma cena nos chama a atenção. Frida casa com Diogo Rivera, estabelecendo um casamento aberto. Diogo era um mulherengo, o que era do conhecimento de sua esposa. Quando foi pedida em casamento, ela pede uma única coisa ao marido: lealdade. Ela sabia de seus casos, mas só pede o divórcio quando o encontra na cama com sua irmã.

Não podemos identificar todas as causas que determinam os comportamentos humanos. Nesse caso não é diferente, porém, mesmo não identificáveis todos os comportamentos estão inseridos num contexto, apresentando assim, diferentes variáveis.

Veremos a seguir algumas razões, que facilitam com que o homem traia sua mulher. É importante colocar, que essa apresentação não tem um sentido linear de causa e efeito no qual o comportamento de um gera a reação do outro. Nosso olhar é de uma causalidade circular (7) , em que o comportamento de cada pessoa influencia o comportamento das outras. Nossa intenção é trazer um referencial, buscando observar como as interações acontecem.

Imaturidade Emocional

A imaturidade emocional não está necessariamente associada à pessoa mais jovem e sim às pessoas cujos comportamentos parecem se identificar muito mais com questões que normalmente atravessam a vida de um adolescente. É um período que, embora possa ser permanente, tende a se transformar com o tempo passando de uma dependência da infância para a interdependência do adulto (PETERSEN, 1985). Dessa forma, quando esses comportamentos acontecem num período de adolescência, eles têm grande chance de se dissolverem. No entanto, podem apresentar um caráter disfuncional e serem estendidos para a vida adulta.

Dentro desse contexto, trouxemos duas situações, comentadas por Petersen (1985) e Zampieri (2004), que podem levar a traição: o ato de auto-afirmação e a competitividade.

Em alguns momentos da nossa vida, podemos nos sentir inseguros e pouco confiantes em nós mesmos. Essa idéia pode estar relacionada com nossa sexualidade. Dessa forma, muitos homens checam sua virilidade colocando em prova as conquistas que conseguem obter, isto é, checam sua capacidade de seduzir mulheres. Essa prova de masculinidade também pode acontecer num processo competitivo com outros homens. Mesmo envolvidos numa relação conjugal, eles mantêm essa postura de auto-confirmação e, embora não possamos garantir que as traições não virarão casos amorosos mais sérios, tais características parecem estar muito mais voltadas para quantidade, que para qualidade.

Falta de Comunicação

A falta de comunicação em qualquer tipo de relação pode criar problemas. Quando falamos de uma relação conjugal é fundamental que o casal cuide dessa área, já que os problemas só podem ser resolvidos se falados e ouvidos. Se um dos pares apresenta uma queixa que precisa ser compartilhada com o outro é importante que eles conversem e tentem, juntos, buscar uma maneira para solucionar aquela questão.

Podemos citar como exemplos problemas com o sexo, mulheres que dão mais atenção ao trabalho ou aos filhos, deixando de lado sua relação marital, dificuldade de relacionamento entre o marido e a família da esposa quando estes estão mais próximos ou vivem na mesma casa.

Necessidades Insatisfeitas

É pouco provável que homens e mulheres que vivem uma relação se satisfaçam em todos os sentidos. Sem dúvida é essencial para o sucesso de um casal, entender que o outro pode nos adicionar, mas não nos completar. No entanto, algumas dessas necessidades insatisfeitas podem ser resolvidas com o diálogo. Outras podem favorecer a infidelidade conjugal.

O abandono ou a distância sexual por parte da mulher, senão a mais marcante, certamente é a causa mais comentada entre os homens. Não há como estabelecer uma quantidade ideal de sexo entre um casal para que a relação seja satisfatória, mas, o sexo é indiscutivelmente muito importante numa relação conjugal. Sua falta pode facilitar com que o homem procure outras mulheres que satisfaçam esse desejo.

Não menos importante que o sexo, a atenção, admiração, aceitação e afeto são características básicas para manter um casamento saudável e satisfatório entre os cônjuges.

É claro que existem muitas outras razões usadas para justificar o processo de traição. Como podemos observar em algumas dessas causas, a responsabilidade de um casamento faltoso e insatisfatório às necessidades afetivas dos pares, pode estar nas duas pessoas.

Mas, se essa relação não é satisfatória em algum dos pontos que citamos, porque muitos casais permanecem juntos?

Em se tratando de casamentos, os filhos, assim como os bens construídos e adquiridos podem ser razões para manter a união do casal. Em outros casos os cônjuges não estão prontos para dar uma solução aos seus problemas e resolvem manter a relação, nem que seja por um tempo. Aqui, a infidelidade conjugal é bem presente, o que pode ser do conhecimento e aceitação dos dois.

Ainda existem outras razões que mantêm as relações. Veja o comentário de Zampieri:

Há motivos para ficar juntos mesmo quando as coisas não estão bem. Certas pessoas ficam juntas porque isso é melhor para sua vida social, satisfaz a família ou é vantajoso profissionalmente. É claro que há pessoas que permanecem casadas porque têm medo de ficar sozinhas e estão convencidas de que ninguém mais as quererá, como ouço sobretudo de mulheres (2004, p. 169)

Contudo, nem todos os casais que vivem a infidelidade têm um relacionamento ruim. A traição pode ser ocasional, acidental, isto é, acontecer sem programação, um lapso e a relação pode até mesmo ser restaurada em seus aspectos, inclusive de confiança e lealdade. Em outros casos, o que pode acontecer é a revitalização de um casamento monótono, tendo o caso extraconjugal continuidade ou não. Outra possibilidade é a constatação de um amor que já tinha virado dúvida. Com isso, podemos dizer que nem todo caso de infidelidade conjugal e sinônimo de um relacionamento fadado ao fracasso ou de problemas insolúveis (8).

Porém, não podemos esquecer que a infidelidade conjugal pode ser um fator determinante para separação dos casais. Pittman (1994, apud Prado 2004, p.14), defende que “a infidelidade é o principal elemento disruptor das famílias, a experiência mais temida e devastadora de um casamento”.

Romper um relacionamento amoroso não é fácil e pode trazer sentimentos quase que insuportáveis. Muitas vezes, a conclusão final é a mesma para quem traiu e para quem foi traído, já que “as conseqüências da infidelidade são tão destrutivas que inviabilizam a continuidade da relação” (FELDMAN, 2005, p. 194), mesmo que ambos não queiram a separação.

A mulher que escolhe separar-se pode se fechar para essa e outras relações, sentir ódio, vontade de vingança, entrar em depressão. Todavia, mesmo que seja mais esperado, nem sempre é a mulher traída que determina o rompimento dessa relação. Os homens também podem estabelecer esse término por motivos diversos: envolvimento com a amante, por perceberem que o casamento já não lhe satisfazia, sentimento de culpa e remorso por sua traição.

Comumente, as mulheres buscam entender os motivos geradores da traição de seus cônjuges e muitas vezes se agarram em explicações inadequadas, criadas por elas mesmas.


2.3 Mitos da infidelidade conjugal

Na busca de referências que abordam o tema da infidelidade conjugal é muito comum encontrarmos considerações sobre os mitos que assombram a pessoa traída. O sentido da palavra mito, no contexto desse trabalho, faz alusão a crenças fictícias, infundadas. No próximo capítulo faremos uma reflexão sobre o motivo da mulher se apropriar de crenças, quando se vê envolvida numa relação na qual seu parceiro a traiu.
Agora, baseados em autores como Feldman (2005), Petersen (1985), Marini (2008), Zampieri (2004), selecionamos alguns mitos que freqüentemente são abordados em nosso consultório e faremos comentários sobre os mesmos.

Quem Ama Não Trai

A própria leitura desse capítulo já faz uma desconstrução dessa crença. Vimos que a infidelidade conjugal pode ser o sintoma de uma disfunção ou uma dificuldade na relação. Vimos também que nem sempre a infidelidade traz resultados que vão contra a manutenção e qualidade do relacionamento. Além disso, a traição pode acontecer num momento que o casal está em perfeita harmonia. Até porque, trair é uma questão de escolha e de valor. Da mesma forma que uma pessoa pode estar bem com seu parceiro e vir a traí-lo, outra pode viver uma constante angústia e sofrimento em sua relação e jamais cometer esse ato.

É importante tecermos alguns comentários. Se quem trai não ama, então podemos afirmar que quem trai não sofre. Com freqüência, a pessoa que é traída só acredita no prazer que seu parceiro tem sentido com a outra. Porém, aquele que trai pode sentir-se culpado, arrependido, angustiado, temeroso com a descoberta e o fim da relação e, esses sentimentos podem vir acompanhados de muita dor e tristeza.

A Amante é Mais Sexy que Eu

Muito provavelmente este argumento é mais usado pelas mulheres. Allan e Bárbara Pease (2000) apresentam uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrando o que os homens buscam numa mulher e o que as mulheres pensam que eles buscam. O mesmo processo também foi aplicado às mulheres. Veja o quadro abaixo:

O que as mulheres procuram O que os homens pensam que elas procuram
1. Personalidade 1. Personalidade
2. Humor 2. Corpo Bonito
3. Sensibilidade 3. Humor
4. Inteligência 4. Sensibilidade
5. Corpo Bonito 5. Boa aparência
   
O que os homens procuram O que as mulheres pensam que eles procuram
1. Personalidade 1. Boa Aparência
2. Boa Aparência 2. Corpo Bonito
3. Inteligência 3. Peito
4. Humor 4. Bunda
5. Corpo Bonito 5. Personalidade

(p. 186/187)

Nem sempre a traição é motivada pelo sexo ou simples fascínio por uma aparência. Também nesse capítulo, vimos outras razões que podem levar os homens a ser infiéis com suas mulheres. O afeto, carinho, admiração são exemplos de sentimentos cuja falta pode gerar descontentamento e conseqüentemente uma busca por compensação.

Traição é Sinônimo de Separação

Definitivamente não! Uma relação extraconjugal pode gerar reflexões do casal a respeito daquele relacionamento e, em alguns casos, motivar, inclusive uma melhora dessa relação.

A Infidelidade é uma Defesa Contra Possíveis Infidelidades do Parceiro

Pudemos perceber dois sentidos nesse mito. Imagine que a mulher apresenta uma superestima e se qualifica como superior ao seu parceiro. Ela poderia justificar a traição do homem acreditando que ele agiu dessa forma invejado pelo seu potencial e procurando uma forma de se sentir superior a ela. Pensamos aqui num viés narcisista.

Embora essa palavra tenha se adjetivado, o termo está relacionado ao jovem Narciso, personagem da Mitologia Grega, que se apaixonou por sua própria imagem espelhada na superfície de um lago, onde acaba morrendo afogado. Essa supervalorização mostra uma disfunção do ego, isto é, uma disfunção nos processos de identificação e alienação.

No entanto, esse comportamento pode não somente se associar a essa supervalorização, como indicar um forte sentimento de insegurança.

Podemos olhar esse mito por outra lente. A mulher pode acreditar que o homem não confia nela, tratando a traição (dele) como uma maneira de “defesa” para as possíveis traições dela. O mito está na mulher acreditar que a traição acontece em função da insegurança do outro.

Eu sou culpada pela traição do meu parceiro

Ser infiel é uma questão de escolha. Ninguém pode ser culpado pelas decisões do outro. Embora o casal possa ser responsável pela traição de apenas um dos cônjuges, isso não o torna culpado pela escolha desse feito.

É importante fazermos a distinção entre o sentido da palavra culpa e responsabilidade para elucidarmos estas diferenças.

A responsabilidade envolve tomada de consciência dos próprios atos. Para a Gestalt-terapia, é uma “conseqüência do processo de reflexão sobre si mesmo e sobre nosso papel no mundo” (LIMA, 2007, p. 188). Reconhecer a própria responsabilidade quando o outro a trai significa perceber a sua participação nos motivos que levaram com que o outro a traísse.

Quando uma mulher se culpa pela traição do homem, ela age retrofletidamente (9), assumindo aquilo que é da responsabilidade do outro. Ela se autoflagela e a vê como única responsável pela escolha e pelos atos praticados por ele.

Na música “Mil Perdões” de Chico Buarque, ele descreve com poesia esse sentimento vivido por tantas mulheres. Veja um trecho:

“[...] Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
[...] Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair”

A seguir, faremos uma discussão, com um olhar psicoterapêutico, buscando entender o que leva as mulheres a se apossarem desses mitos para enfrentar uma infidelidade que já foi consumada.



UM OLHAR GESTÁLTICO SOBRE OS MITOS DA TRAIÇÃO

Até aqui, o caminho que nós traçamos teve por objetivo conhecer e observar o papel, lugar e postura da mulher na sociedade no que tange as suas relações conjugais. No primeiro capítulo, fizemos um breve levantamento histórico, desde nossos ancestrais, olhando a postura e papel da mulher numa relação a dois, assim como as transformações ocorridas com as mesmas nas últimas décadas. No segundo capítulo, falamos sobre infidelidade conjugal dentro de um modelo romântico de monogamia. Ainda nesse segundo capítulo, levantamos algumas crenças que permeiam o pensamento feminino ao pensar no tema da infidelidade.

No presente capítulo, nossa atenção está voltada para a descoberta da traição. Tendo como enfoque a mulher, faremos uma análise do comportamento feminino, isto é, das possíveis reações apresentadas quando confirmam que foram traídas por seus cônjuges. É importante lembrar que o acesso para que fizéssemos tais levantamentos, veio através de leituras, de nossa experiência clínica e de conversas informais com mulheres que viveram a experiência de serem traídas, debatendo algumas das idéias que aqui serão apresentadas e que acabaram corroborando com as hipóteses que serão expostas. Paralelamente, faremos comentários sob um olhar psicoterapêutico, buscando entender essas reações e observando como os conceitos da Gestalt-terapia podem facilitar nossa percepção e conseqüentemente nosso trabalho desenvolvido com mulheres que vivem essa situação.

Quando observamos um fenômeno qualquer, sabemos que ele ocorre dentro de um contexto e é atravessado por muitas variáveis que influenciam a realização daquele fenômeno. Pegamos como exemplo, uma vitivinicultura (10) . O que define uma melhor qualidade na produção e elaboração de vinhos finos são quatro fatores: o clima, o solo, as castas (11) e a tecnologia empregada. A uva amadurece melhor em regiões de climas amenos. Na época de amadurecimento, elas exigem uma temperatura mais quente e no período de descanso da videira uma temperatura baixa. O nível de chuva também é importante e precisa ser baixo, já que o acúmulo de água nos frutos dilui o teor de açúcar e de outros componentes acarretando menor qualidade dos mesmos. Com relação ao solo, a videira não se desenvolve bem em terrenos que concentram água e a presença de muita matéria orgânica não favorece a obtenção de uvas de qualidade. Estas, assim como as videiras, são cuidadas e avaliadas em todos os seus períodos vegetativos, podendo receber reparos quando necessário. A tecnologia está envolvida no período de plantação das uvas e no processo de elaboração dos vinhos. Um alto grau tecnológico favorecerá na qualidade desses vinhos e, inclusive, na quantidade dessa produção (12) .

Olhando para este exemplo, percebemos quantos fatores estão envolvidos e se entremeiam nesse processo. O mesmo acontece com os indivíduos. Cada um de nós vive dentro de um contexto e nossos comportamentos são influenciados por uma série de variáveis: nossa educação, personalidade, cultura, eventos inter e intrapsíquicos, heranças genéticas, eventos sociais, etc. (RODRIGUES, 2000). Esse processo foi observado e chamado por Kurt Lewin de “teoria de campo”.

As afirmações básicas de uma teoria de campo são (a) o comportamento deve ser derivado de uma totalidade de fatos coexistentes, (b) esses fatos coexistentes têm caráter de um “campo dinâmico” enquanto o estado de qualquer parte desse sistema depende de cada uma das partes do campo (LEWIN, 1965 apud ELÍDIO, 2007, p. 210).

Baseados nessa teoria vamos pensar na mulher que é traída por seu parceiro. Uma variável que podemos levantar é a maneira pela qual se deu essa confirmação já que ela pode acontecer de diferentes formas.

A mulher pode suspeitar que alguma coisa esteja acontecendo e investir nessa descoberta, investigando hipóteses e o comportamento de seu cônjuge. Ela pode descobrir acidentalmente ou pode ser informada por alguém, seja seu próprio companheiro, a pessoa com a qual a traição foi consumada ou através de terceiros como amigos ou familiares, por exemplo (FELDMAN, 2005).

Outra variável importante é o estado da interação do casal. Como vimos no capítulo anterior, várias são as razões que podem facilitar com que o homem traia a mulher. A falta de zelo, tanto do homem como da mulher, numa relação pode ser a porta de entrada para uma traição. É importante que ambos se comprometam em tratar uma relação que dá sinais de desgaste ou que já não traz a satisfação que cada um necessita. Vale lembrar que estamos inseridos num campo e este é sempre mutável. Assim, quando duas pessoas que decidem compartilhar sua vida, criando expectativas uma com a outra, passam a não encontrar o retorno que esperavam daquela comunhão, é importante refletir sobre os impasses que surgem ou sobre o novo campo que se constitui, buscando novas formas de interação com o meio.

Se tratássemos desse assunto de forma lógica e linear, olhando apenas para essas duas variáveis já perceberíamos a multiplicidade de resultados que poderiam ser gerados pela combinação destas. No entanto, pela ótica da teoria de campo, sabemos da infinidade de variáveis que podem estar presentes. A própria história da mulher apresentada no capítulo 1 poderia ser incluída aqui como uma possível variável. Ainda assim, precisamos considerar que cada indivíduo vive um contexto singular e que dificilmente pode ser mensurado.

Após a descoberta da traição, muitos sentimentos podem vir à tona, mas certamente a dor se presentifica em quase todos os casos de infidelidade conjugal. Isso porque ela está associada não apenas com o ato em si da traição sexual, mas com a quebra de lealdade e confiança. Além disso, falamos nesse trabalho sobre uma relação monogâmica na qual um espera do outro determinados comprometimentos dentre as quais a exclusividade sexual é uma delas. Dessa forma, a expectativa de fidelidade e lealdade vem por terra, resultando numa perda marcante, já que a pessoa idealizada deixa de existir.

Muitas vezes, mesmo envolvida pela dor, a descoberta da traição pode gerar certo alívio. A suspeita da infidelidade pode vir acompanhada de muita angústia, assim, para as mulheres que buscam saber a verdade dos fatos, o esclarecimento dessa dúvida pode trazer este alívio. Como diria Feldman (2005, p. 47), “antes a verdade doída que a ‘mentira bondosa’”.

No entanto, a dor gerada pela traição pode ser tão dilacerante que muitas pessoas escolhem protelar ou até mesmo não fazer contato com ela. Temos observado no consultório que muitas mulheres se apropriam de justificativas inadequadas como forma de evitar esse sofrimento.

Cada pessoa tem a escolha entre viver ou não a verdade presente em sua vida. Cada uma, no seu próprio ritmo, desenvolve a prontidão para encará-la e existe o momento exato para que cada uma atinja essa prontidão. Considerando-se sua estrutura emocional e a dor que pode resultar do confronto com a realidade, sabe-se que algumas pessoas jamais estarão prontas para conhecer as verdades de sua vida (FELDMAN, 2005, p. 51).

Precisamos olhar com maior cuidado para esta questão. Segundo a Gestalt-terapia, todo indivíduo passa por um processo chamado auto-regulação organísmica, isto é, processo pelo qual mantemos nosso equilíbrio. Para isso é fundamental satisfazer nossas necessidades. Quando sentimos sede é sinal de que nosso corpo está precisando de água, logo precisamos consumi-la para manter o equilíbrio do corpo. O contato é uma necessidade psicológica de todo indivíduo. Através dele, nós assimilamos o que é nutritivo e rejeitamos o que é nocivo para nós. Como resultado, teremos sempre a mudança (SILVEIRA, 2007).

O contato é o sangue vital do crescimento, o meio de modificação da pessoa e das experiências que ela tem do mundo. A mudança é um produto inescapável de contato porque a apropriação da novidade assimilável ou a rejeição da inassimilável levará inevitavelmente à mudança (POLSTER, E.; POLSTER, M., 1979, p.102)

De acordo com Silveira (2007, p. 59) “o ato de contatar envolve sempre a percepção clara da situação”, o que pode, em muitos casos, gerar grande sofrimento. A mulher traída pode apresentar dificuldades em ter essa clareza. Além disso, o processo de mudança, que é implícito no contato, pode trazer mais angústia e tristeza que a descoberta da traição já causou. “Algumas awareness (13) são dolorosas demais para serem suportadas; algumas ações são difíceis demais para serem realizadas” (ZINKER, 2001, p. 138).

Segundo Perls (1988), evitar o contato através da fuga da realidade pode ser uma forma saudável de evitar certos tormentos. Para ele, a fuga não precisa ser encarada como algo negativo. Pelo contrário, ela pode ser vista como uma boa forma de enfrentar o perigo. Até porque, todo contato é ajustamento criativo o que significa que cada indivíduo, no seu processo de contato, escolhe uma boa forma de ajustar seu equilíbrio psicológico.

Contato e fuga são nossos meios de satisfazer nossas necessidades, no entanto, “se o contato é superprolongado, torna-se sem efeito e doloroso; se a fuga é muito demorada, interfere no processo de vida” (PERLS, 1988, p. 37).

O processo de fuga (ou resistência) é uma maneira criativa de lidar com determinadas situações, se mais tarde, tendo mais suporte, o indivíduo buscar novas formas de enfrentar a problemática não contatada. No entanto, quando a pessoa fica cristalizada, interrompendo seu crescimento, é bem provável que esta interrupção traga novas interrupções e, com isso, gere resultados desagradáveis. Ao processo pelo o qual o indivíduo se torna incapaz de alterar suas técnicas de interação com o meio, impossibilitando o contato, Perls deu o nome de “mecanismos neuróticos” (14) .

Podemos trazer como exemplo desses mecanismos, a negação da mulher diante da infidelidade de seu parceiro. Vamos supor que uma mulher fique sabendo que seu marido foi visto jantando com “outra”. Não podendo suportar a dor de uma possível traição, apesar talvez de muitas evidências, a pessoa traída nega essa verdade. Estamos falando de um caso de deflexão. Segundo Jorge Ponciano Ribeiro, pessoas que apresentam sintomas de deflexão agem da seguinte forma:

As pessoas se comportam como se nada estivesse acontecendo. Mantêm, com naturalidade, comportamentos autodestrutivos. Não deixam os verdadeiros sentimentos aflorarem. A organização fica com medo de olhar para dentro de si mesma, se reconhecer e não saber o que fazer com aquilo (RIBEIRO, 1997, p. 85).

A deflexão “é uma manobra para se desviar de um contato direto com uma outra pessoa” (POLSTER, E; POLSTER, M, 1979, p. 93). Aqui, o calor é retirado do contato. É dada pouca ou nenhuma atenção ao que a outra pessoa diz. Em se tratando de uma negação, a mulher traída poderia buscar explicações que justificassem aquele encontro.

Os mecanismos de defesa são processos criativos que podem ajudar o indivíduo a se orientar na busca de auto-regulação. Porém, eles podem deixar de exercer essa função saudável. Isso porque, quando cristalizados, dificultam o contato. Nesse trabalho, nosso foco está em citá-los como formas cristalizadas de interagir com o meio. Dessa forma, falaremos sobre as disfunções de contato (15) .

Voltemos então às justificativas inadequadas que muitas mulheres se apropriam para não fazer contato, evitando dessa forma o sofrimento. Esse sentimento pode não estar apenas relacionado com o processo de infidelidade do companheiro, mas também com a incapacidade da mulher traída assumir sua responsabilidade nesse mesmo processo, até porque, às vezes é mais fácil responsabilizar o outro pela traição e fechar os olhos para nossa participação.

Vimos no capítulo anterior alguns mitos que são usados pelas mulheres quando estão vivendo uma traição. Mas o que faz com que elas se utilizem desses mitos? Quando falamos da “negação” associada à deflexão, pudemos observar que essa reação funcionou como um mecanismo de defesa; como uma forma de resistência ao contato. Observando os mitos selecionados no capítulo 2, percebemos que eles podem apresentar essa mesma função, isto é, atuar como um bloqueador de contato. Vale lembrar que a palavra mito está sendo empregada neste trabalho para designar uma crença fictícia. Assim, o uso de justificativas incoerentes serve como meio de retrair-se do campo de “perigo”.

Há pessoas que literalmente não vêem o que não querem ver, não ouvem o que não querem ouvir, não sentem o que não querem sentir – tudo isto para acabar com o que consideram perigoso (PERLS, 1988, p. 35).

Vejamos como poderia ser feita uma associação de alguns dos mitos que foram apresentados no capítulo 2 com os mecanismos neuróticos da Gestalt-terapia (16).

Quem Ama Não Trai

Pode estar relacionado com os mecanismos de introjeção e projeção. No primeiro mecanismo o indivíduo aceita, sem assimilar ou discriminar, tudo aquilo que vem do meio permitindo, sem nenhum julgamento, que as novas informações, idéias, pensamentos, etc. façam parte de sua personalidade. A projeção funciona de maneira oposta, isto é, o sujeito deposita no outro aquilo que é seu.

Imagine, por exemplo, que a mulher em sua educação, introjeta a idéia de que quem ama não mente, não engana, não é desleal. É como se ela desconsiderasse seu pertencimento em um campo e criasse essa idéia fixa de comportamento. Aqui, a traição do marido é vista como sinônimo de inexistência de amor.

Segundo Perls (1988, p. 50), “em geral, [...] nossas introjeções nos levam ao sentimento de auto-desvalorização e auto-alienação que produz a projeção”, o que se encaixa prontamente neste exemplo. Se a mulher introjeta a idéia de que se ela não mentir, não enganar, não for desleal é porque ela ama, significa que caso seu companheiro a traia é porque ele não a ama.

A amante é mais sexy do que eu

Também pode estar relacionado com os mecanismos de introjeção e projeção.

Vivemos num contexto onde a beleza é extremamente valorizada e incitada. Atualmente, a mulher magra é a mulher bela. Há algum tempo, os seios fartos foram valorizados e ouvíamos que as clínicas faziam filas com mulheres querendo colocar silicones. Assim, uma mulher que introjeta tais idéia de beleza, pode acreditar que a traição do cônjuge pode ser explicada pelo simples fato da “outra” ser mais atraente.

A projeção também pode ser empregada aqui, porém não associaremos agora com a introjeção acima. Imagine que a mulher trairia seu parceiro, ou ficaria instigada a fazê-lo, caso fosse seduzida por um homem muito sexy e atraente. Projetivamente ela pode pensar que como ela agiria dessa forma, naturalmente ele também agiria assim se viesse passar por essa situação.

A infidelidade é uma defesa contra possíveis infidelidades do parceiro

No capítulo anterior, olhamos para esse mito por duas lentes: uma forma narcisista e uma defesa antecipada para garantir a “segurança”.

Na primeira situação o emprego desse mito tem caráter egotista, isto é, o indivíduo volta-se para si mesmo de forma exagerada.

Ginger (1995, apud D’Acri; Orgler, 2007, p. 81) considera o egotismo como “uma hipertrofia artificial do ego, que visa encorajar o narcisismo e a responsabilização pessoal a fim de preparar para a autonomia”.

Segundo Perls, Herffeline e Goodman (1997, p. 257), o indivíduo “evita as surpresas do ambiente (medo de competição) tentando isolar-se como sendo a única realidade: isto ele faz ‘assumindo o comando’ do ambiente e o tornando seu”.

Dessa forma, a mulher que se supervaloriza, acreditando que a traição de seu parceiro ocorre por inveja está fixada apenas em si mesma, não sendo capaz de refletir sobre seu campo.

Na segunda situação na qual a mulher justifica a infidelidade do homem como uma forma de se precaver de traições dela, podemos falar que ela está evitando o contato pelo mecanismo de confluência.

Nesse mecanismo, não há distinção entre o “eu” e o “não eu”. No mito que trazemos como exemplo, não há distinção entre a mulher e seu companheiro. Ela acredita que ele se sente inseguro quanto à fidelidade dela e justifica o ato de infidelidade dele por essa insegurança. A forma de agir de um é a mesma forma de agir do outro e mesmo que ela não o traia, para ela existe uma coerência na atitude do cônjuge.


Eu sou culpada pela traição do meu parceiro

Quando a mulher usa este artifício para justificar a traição de seu parceiro, ela busca em si mesma toda a responsabilidade por aquele ato, ficando arrependida pelo o que fez ou deixou de fazer, buscando erros e falhas que justifiquem a infidelidade de seu cônjuge.

Esse comportamento pode ser entendido como um mecanismo de retroflexão no qual a energia criada com a situação se volta para própria pessoa.

[...] as energias expansivas, de orientação e de manipulação, estão totalmente comprometidas com a situação ambiental, seja no amor, raiva, dó, dor, etc.; mas ele não consegue agüentar e tem de interromper, tem medo de ferir (destruir) ou ser ferido; será necessariamente decepcionante. Nesse caso, as energias comprometidas voltam-se contra os únicos objetos seguros disponíveis no campo: sua própria personalidade e seu próprio corpo (Perls; Hefferline; Goodman, 1997, p. 225 e 226).

Embora estes exemplos mostrem uma maneira de escapar de uma realidade que pode estar carregada de sofrimento, no processo psicoterapêutico, o terapeuta não deve ter por objetivo desconstruir as resistências apresentadas pela sua cliente, muito menos dirigir a terapia para que a mulher traída possa se dar conta de que ela pode estar se apropriando de razões inadequadas para justificar o processo de traição. O terapeuta pode tentar facilitar com que a cliente olhe para as suas resistências, entenda suas funções e então possa dentro do seu processo de awareness escolher, ela mesma, manter ou desconstruir suas resistências.

Em vez de procurar remover a resistência, é melhor colocá-la em foco, assumindo a posição de que, na melhor das hipóteses, uma pessoa cresce através da resistência e, na pior, a resistência é uma parte de sua identidade. Rotular de meramente resistente o comportamento original é uma coisa enganosa. Remover a resistência para retornar à pureza pré-existente é um sonho inútil, porque a pessoa que tem resistido é uma nova pessoa e não existe um caminho de retomo. Cada passo no desenvolvimento da resistência se torna parte de uma nova formação da natureza do indivíduo. Ele não se torna a pessoa anterior, acrescida de uma resistência que pode ser removida, tão logo ele se torne forte o bastante para removê-la. Ele é uma pessoa totalmente nova (POLSTER, E; POLSTER, M., 1979, p. 63)

Ao associarmos os mitos apresentados aos mecanismos de defesa da Gestalt-terapia não pretendemos fazer uma atribuição de causa e efeito, muito menos criar rótulos interpretativos daquilo que os clientes nos trazem. Mesmo porque, a Gestalt tem um olhar fenomenológico do cliente, isto é, ela “estuda o ‘campo’ conforme ele é experienciado por uma pessoa num dado momento” (YONTEF, 1998, p. 159). Assim, conhecer como funciona a awareness do cliente, estando ela favorável ou não a satisfação de suas necessidades traz para o terapeuta um conhecimento da capacidade da pessoa para o auto-suporte e para realizar seus contatos (YONTEF, 1998). São ferramentas que poderão ser utilizadas no processo, visando com que o cliente possa vir a se auto-governar. É importante frisar que o objetivo da terapia não é apenas trabalhar as demandas dos clientes, mas instrumentá-los para que eles sejam capazes de conduzirem suas vidas na direção da boa forma quando estiverem diante de novos obstáculos. Para que a pessoa seja capaz de manter uma auto-regulação organísmica ela precisa estar aware.

Percebemos então, que conhecendo os comportamentos de nosso cliente e os mecanismos utilizados pelos mesmos para estar fora de contato, teremos maior facilidade na condução do processo terapêutico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final desse trabalho pudemos perceber que a dificuldade não está apenas em experienciar o processo de infidelidade conjugal, mas também em escrever sobre isso. Se uma das propostas dessa monografia era ampliar a percepção do psicólogo se, ou quando ele viesse atender uma demanda como essa, podemos garantir que para nós essa percepção já foi ampliada. Isso porque mergulhamos dentro desse campo e pudemos olhar para ele atravessado por muitas vertentes, o que nos fez contatar tantas outras possibilidades.

A abordagem da Gestalt-terapia permite olharmos para a complexidade e totalidade dos indivíduos, assim como na maneira pela qual eles interagem com o meio. Dessa forma, quanto maior nosso conhecimento sobre as demandas do cliente, maior nossa percepção e facilidade para manejar esse processo.

Fica claro para nós que lidar com a traição não é uma tarefa simples, independente do contexto em que ela esteja inserida. A história da mulher, por exemplo, mostra o quanto a infidelidade marital trazia embutido uma desvalorização da essência feminina. Já na era do amor romântico, a dor gerada pela quebra da lealdade e confiança, a desconstrução de idealizações, quando ocorrem com mulheres cuja auto-estima está baixa ou ausente, pode motivar uma dificuldade de funcionamento saudável.

Atualmente, muitos estudos estão acontecendo questionando a monogamia, logo, a exclusividade sexual. A psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins, autora dos livros “A Cama na Varanda” e “O Futuro que se Anuncia” acredita que o individualismo no século XXI irá levar ao fim do amor romântico dando entrada ao poliamor, movimento que recusa a monogamia como uma necessidade e defende que a exclusividade sexual não precisa existir para garantir a existência e sucesso do amor (LINS, 2005).

Diante destas idéias, é inevitável nos questionarmos se essa busca por uma nova forma de relação amorosa não pode representar uma maneira de esquivar-se do sofrimento que uma infidelidade pode causar.

Uma outra hipótese que deve ser olhada com cuidado é o fato de vivermos num momento histórico em que as doenças sexualmente transmissíveis estão se propagando com muita facilidade, inclusive entre os casais que “assumiram” uma relação “monogâmica”. A AIDS, por exemplo, que era de grande incidência entre os homossexuais e usuários de drogas, aparece hoje fortemente entre os casais heterossexuais, esteja ela relacionada ao sexo com prostitutas, com a bissexualidade, e com a infidelidade conjugal. Não poderíamos pensar então que o ato de fidelidade entre os casais é uma hipocrisia?

Ainda vivemos num contexto romântico e não conhecemos as respostas de qual caminho os indivíduos elegerão para viverem felizes no amor. Porém, independente da diretriz que será trilhada na constituição das relações amorosas não podemos deixar de olhar para os efeitos da traição e aprender a lidar com eles.

Os mitos, tanto usados pelas mulheres para bloquear o contato com a realidade ou até mesmo como forma de preservação, encontram um outro obstáculo: a preservação da saúde.

Parece que as mulheres terão que enfrentar uma nova contradição. Se no romance ela enfrenta a polaridade de ser livre escolhendo com quem vai ficar e ao mesmo tempo vivendo a monogamia que exige o cumprimento de regras, ela agora terá que viver o embate de escolher viver a monogamia e ao mesmo tempo se preservar contra a infidelidade de seus cônjuges.

Será que novos mitos serão criados?

 

REFERÊNCIAS

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Endereço para correspondência:

Mariana Moura Magalhães

E-mail: mmoura_psi@yahoo.com.br

Recebido em: 31 / 07/ 2008.
Aprovado em: 07 / 03/ 2009.

 

(1) O sentido da palavra mito será usada nesse trabalho para designar crenças fictícias.

(2) Estupro cometido por vários homens que se revezam violando a vítima.

(3) Ver Bibliografia.

(4) A palavra romance estará sendo usada para nos referimos àqueles que vivem o amor romântico.

(5) Quando falamos de espontaneidade nos referimos à atos que não foram planejados e que acabam trazendo desorientação. Na intencionalidade, há motivação.

(6) Ver capítulo 3.

(7) O termo “causalidade circular” foi trazido pela Teoria Sistêmica se contrapondo a causalidade linear na qual A + B = C. Na causalidade circular, “há uma interação dinâmica de forças entre muitas variáveis” (RAPIZO, 1998, p. 26).

(8) Ver o livro “Quem Não Trai?” de Anna Sharp.

(9) Ver Capítulo 3.

(10) Vitivinicultura são propriedades que produzem uvas e fabricam vinhos.

(11) A palavra casta significa o tipo de uva que é empregada na elaboração dos vinhos.

(12) Informações obtidas através da Associação Brasileira de Sommelier (ABS).

(13) “Na Gestalt-terapia, a awareness é concebida como “estar em contato”, e a ausência de awareness, como “estar fora de contato”” (YONTEF, 1998, p.33).

(14) Os mecanismos neuróticos também podem ser chamados de mecanismo de defesa ou mecanismo de resistência.

(15) Todo contato ocorre na fronteira entre o “eu” e o “não-eu”, isto é, entre eu e o que está fora de mim, seja o meio, outra pessoa, um objeto, etc. Estas fronteiras são particulares para cada pessoa, pois diferem pela maneira pela qual cada um contata com o meio. Segundo Erving e Miriam Polster, nessa fronteira, o contato é obtido através de funções ou evitado pela sua corrupção. (POLSTER, E; POLSTER, M., 1979). Se esse contato é bloqueado, nos referimos à disfunção do contato.

(16) Embora já tenhamos apresentado a teoria de campo e comentado sobre as diferentes variáveis que o atravessam, é importante lembrar que essa associação será o nosso referencial e não o linear.