A Dimensão Política nas Organizações: Uma leitura a partir das clínicas gestálticas

Autores

  • Pinheiro Belmiro Belmiro
  • Tássia Lobato Lobato

Palavras-chave:

Política nas Organizações

Resumo

A produtividade nas organizações é foco de vários estudos nas mais diversas áreas de conhecimento. A Psicologia Organizacional apresenta inúmeros estudos em busca de conhecer as causas para maior produtividade e redução de comportamentos conhecidos como contraproducentes (SPECTOR, 2009). Atualmente, busca-se cada vez mais, o que as empresas chamam de competitividade, e, para isso, torna-se necessário um ambiente de trabalho onde as pessoas “vestem a camisa”, “tem foco no trabalho” e uma série de outros jargões conhecidos da área. Os psicólogos que atuam nas organizações são convocados a encontrar as pessoas com melhor perfil para determinadas atividades, a motivar equipes a produzir cada vez mais e melhor, a reter talento s que geram riquezas e ganhos para a organização e promover ações que garantam, de alguma forma, um ambiente atraente e acolhedor para que essas pessoas queiram, mais ainda, se doar naquela atividade específica. Além disso, existe uma série de instrumentos e ferramentas para avaliar a qualidade do trabalho que tem sido desenvolvido e, até mesmo se a organização oferece um ambiente que favoreça o melhor desempenho de suas equipes e pessoas. No entanto, mesmo com o avanço dos estudos sobre a cultura e clima organizacional, a maioria dessas ferramentas e ações desenvolvidas pelas organizações, tem um foco centrado no trabalhador, suas habilidades e disposição para o trabalho. A partir da noção de cultura organizacional, podemos pensar um modelo de gestão de pessoas que avalie, igualmente, as pessoas, seus esforços, preparo e habilidades, e o ambiente organizacional, sendo este não somente a estrutura oferecida ao trabalho (equipamentos, planos salariais e de carreira, treinamentos, etc), mas também as pessoas com as quais esse sujeito trabalha, a quem se reportam, os estilos de liderança e o tipo de trabalho que desenvolve. Não obstante, essa perspectiva ainda aborda essa relação ambiente/trabalhador, de maneira causal. Pois, tenta-se avaliar, de que forma os aspectos da cultura organizacional produzem comportamentos producentes ou contraproducentes. Nesse aspecto a teoria de campo, proposta por Perls, Hefferline e Goodman (1997), pode nos orientar para uma abordagem menos mecanicista dentro das organizações. “Desse ponto de vista, por exemplo, não se podem considerar fatores históricos e culturais modificando ou complicando condições de uma situação biofísica mais simples, mas como intrínsecos à maneira pela qual todo problema se nos apresenta” (p.43). Deste modo, não estamos avaliando como a estrutura oferecida pela organização pode interferir no comportamento do trabalhador, mas observando-a como parte de um todo, que pode ser, por exemplo, o comportamento que se tentar eliminar. Muller-Granzotto e Muller-Granzotto (2007), propõem uma releitura da teoria do self, proposta por Perls, Hefferline e Goodman (1997), em que trazem noção de campo a partir de três pontos de vista: Ético, político e antropológico. O ético diz respeito ao acolhimento do inexplicável que se apresentar na experiência, o campo do outrem. O ponto de vista antropológico refere-se à condição propriamente humana, no que diz respeito a instituições culturais, sociais e atenção às necessidades e sentimentos do sujeito. Neste trabalho, enfocaremos o terceiro aspecto, o campo Político. Este é o campo das relações de poder. Isto porque, dentro das organizações, percebe-se claramente um embate entre excitamentos (Perls, Hefferline e Goodman, 1997) e exigências sociais e econômicas, função personalidade. Neste ponto, a Gestalt terapia pode trazer uma contribuição significativa, ao possibilitar um olhar clínico para essas relações de poder que se dão, por exemplo, entre equipes e líderes. Considerando não a liderança ou equipe como algo a ser corrigido ou alvo de intervenção específica, mas como parte de uma dinâmica que envolve uma luta por um poder de ação. No campo político, Muller-Granzotto e Muller-Granzotto (2012) apresentam três principais formas de ajustamento criativo, as quais apresentamos a seguir. O Ajustamento Neurótico, onde o sujeito tenta encontrar formas em que o outro aja por ele, por exemplo, as tentativas de barganhas e as dificuldades de assumir responsabilidades por falhas ou sucessos dentro da empresa; o ajustamento anti-social, que é uma forma de luta em que o sujeito tentar destruir as exigências sociais em função dos seus afetos. Podemos pensar aqui, em comportamentos contraproducentes que trazem danos diretamente para a organização e/ou membros desta (roubos, absenteísmo, agressões, etc). E por último, os ajustamentos banais, que são uma tentativa de fuga ao conflito. O sujeito prefere não enfrentar e busca formas de fugir. Exemplos que podem ilustrar tal ajustamento nas organizações são os altos índices de rotatividade, ou mesmo aumento de doenças relacionadas ao uso de álcool e drog as. Ressaltamos, no entanto, que os exemplos acima, precisam ser sempre avaliados a partir de uma perspectiva de campo, pois não são em si mesmos ajustamentos específicos e não dizem respeito a uma pessoa, pois dependem da função que exercem naquele momento e são construídos a partir do campo das relações, sistema self (Perls, Hefferline e Goodman, 1997). Por isso, o olhar clínico gestáltico proposto neste trabalho, é um caminho para alargar a atuação do psicólogo dentro das organizações, minimizando a visão causal e personalista, ou seja, olhando muito mais para as relações de poder que se estabelecem no mundo do trabalho, do que enfocando em pessoas ou trabalhadores problemas. REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS: MULLER-GRANZOTTO M.J.; MULLERGRANZOTTO R.L, Fenomenologia e Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2007. MULLER-GRANZOTTO M.J.; MULLER-GRANZOTTO R.L, Clínicas Gestálticas: Sentido Ético, Político e Antropológico da Teoria do Self. São Paulo: Summus, 2012. PERLS, Frederick; HEFFERLINE, Ralph; GOODMAN, Paul. Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus, 1997. SPECTOR, Paul; Psicologia nas Organizações. São Paulo: Saraiva 2005. Palavra 1: Organizações Palavra 2: Clinicas gestáticas Palavra 3: Ajustamentos Políticos Modalidade de apresentação: Comunicação/ tema livre Área de concentração: Interdisciplinaridade e novas interfaces (com outras práticas)

Publicado

2015-12-01