Tratamento da esquizofrenia hebefrênica sem uso de remédio psicotrópico

Autores

  • Jaty Santos Rocha

Palavras-chave:

esquizofrenia hebefrênica

Resumo

Estudo de caso: Paciente com 21, do sexo masculino, sempre trazido ao consultório pelo genitor, apresentando mudança de comportamento, já estava afastado do convívio dos amigos, da faculdade, da namorada e da família, há quase seis meses, só deixando seu quarto para fazer suas refeições, para onde depois retornava. Em sua consulta inicial, o jovem informou que tinha um poder especial, dizendo que, quando mexia sua boca para um lado, seus professores da faculdade andavam na mesma direção, e as pessoas que estavam em sua frente também acompanhavam com seus olhares o mesmo sentido de sua boca. Dizia ainda que ouvia uma “voz”, que o chamava de doido e que, posteriormente, passou a chama-lo de veado, razão que o fez largar sua namorada e posteriormente, deixá-lo com dúvidas sobre sua masculinidade. Além disso,o paciente nos relatou que, em algumas vezes, aquela "voz" o ordenava a beber, bem como, a usar drogas - o que ele prontamente fazia. Durante a consulta, o jovem apresentava risos imotivados, sinais de hebefrenia e, por fim, informou ainda que, vez por outra, pensava em suicídio. No passado, casos como esse eram encaminhados para a psiquiatria, devido à complexidade e riscos. Como já se estava atendendo a outros quadros psicóticos menores, sem que o paciente fizesse uso de remédio, e já tendo sistematizado esse tipo de tratamento, resolvi atendê-lo do mesmo jeito, sabendo que, se não conseguisse algo positivo, teria de encaminha-lo ao psiquiatra. Dessa forma, mesmo com delírio, foi perguntado ao paciente o que mais o atormentava, e ele disse que era a “voz”, indagado se ele queria se livrar dela, e respondeu, prontamente, que sim Foi perguntado também que se a "voz" o mandasse matar alguém, se ele o faria, o que foi dito que não. Caso dissesse que sim, seria considerado paciente violento, ou seja, inviável a essa proposta. 1.1 Tratamento: 1º Passo: Nunca frustrar, obter a tranquilidade e limite, para quem não as possuem. Ao psicólogo 1. Saber que, seu paciente, durante as consultas, irá falar de uma série de situações que o deixa tenso, intranquilo, ou como dizem, expressando/falando “coisas sem nexo”. Para essa ocasião, digo apenas que o psicólogo permaneça presente, sem ouvi-lo, Perls (1969), e não tente inserir nada fora do aspecto da tranquilidade; 2. Estar sempre tranquilo, por ser um ponto fundamental de partida exigida para o caso, o que, sem esse requisito, nada o fará conseguir sua meta. Adianta-se para que o terapeuta tenha muita paciência; seguir firme visando o objetivo; Lembrar-se de pontos básicos das sessões anteriores, para nunca frustrar o paciente, mesmo sendo hábil, Perls (1969). Procure deixá-lo mais tranquilo, isso pode levar várias sessões, e pode ser percebido pelo terapeuta devido à mudança do visual e nas roupas do doente. Porém, caso haja num determinado momento, uma dificuldade no tratamento, o que é esperado, nesse sentido, lembre-se de que o doente já perdeu seu juízo, portanto, sua dificuldade profissional é natural. Assim, seja perseverante e nunca entre em choque com o paciente, fale sempre com “voz” baixa e calma, pode ser utilizado relaxamento com controle de respiração (“Zen-Budismo”), tentando sempre acalmá-lo. Lembrar-se apenas que, vez por outra, deverá ser dito ao doente que se ele cooperar de forma adequada, logo se “livrará” de seu tormento e passará a ter uma vida normal. Isso irá ajudá-lo a buscar a tranquilidade do paciente. Em nosso caso clínico, a exemplo, a calma foi conseguida apenas após algumas sessões; 3. Não frustrar o paciente sobre nenhum aspecto, inclusive com o silêncio prolongado, como faz a terapia convencional, Freud (1933), que tudo seja feito de forma gradual e bastante prudente; 4. Colocar um limite, Freud (1933).Dessa maneira, o profissional irá usar de todo o conhecimento técnico, com o apoio de seu paciente. Em nosso caso podemos informar que conseguimos colocar em prática essa abordagem com a aceitação dos pacientes. No caso clínico, informamos inúmeras vezes ao paciente que iriamos poupá-lo junto ao seu pai e a sua família, mas que isso iria depender da cooperação dele e, caso não fosse notado tal empenho, teríamos que comunicar o problema ao genitor. Nessa ocasião, foi notado que o paciente não queria que seu pai e nem a família soubesse de seu real quadro. Vê-se isso de forma positiva, o que da uma possibilidade de colocar de início um limite, Freud (1933); o que ele já tinha perdido. Em contrapartida, quando a família do paciente é informada de tais problemas, o paciente passa a “chutar o balde”, ou seja, a não ligar para mais nada, por ser considerado louco de verdade. A partir daí, esse problema toma uma forma gigantesca, dificultando qualquer tratamento psicoterápico. 5. Ainda na consulta, informar para o paciente que o mesmo será assistido, no consultório, entre duas ou três vezes por semana, durante os dois primeiros meses de tratamento, e que, nos dias em que ele não comparecer, terá que ter o compromisso de ligar para seu terapeuta fazer um acompanhamento eficaz à distância. Com vistas a evitar o problema de morte/suicídio - essa questão é similar à evolução feita pelos médicos, quando os pacientes estão internados, é informado até que, se algo passar, nesse sentido, por sua cabeça, que ele não tome qualquer solução sem antes falar com o profissional (comprometimento feito várias vezes, em quase todas as sessões psicológicas). Isso deve ser lembrado, com objetivo de conseguir todos os itens apresentados, dito isto, passar para o passo seguinte, o que é válido. 2º Passo: Trabalhar o delírio com técnicas de desmistificação, nova aprendizagem, reforço positivo, Skinner (1990) e esclarecimento, Rogers e Freud (1933). Ao psicólogo 1. Tentar reduzir o delírio do paciente, todo aspecto nesse sentido deve ser trabalhado na terapia, um a um (não tenha pressa!). Faça da forma recomendada, para num segundo momento perceber que o delírio total acabou. Ademais, atualmente, essa tarefa não é feita devido à grande dificuldadepara atender aos psicóticos, onde na verdade existe até um medo inconsciente do profissional; 2. Tentar desmistificar o delírio. Como exemplo, menciona-se o atendimento que foi feito ao esquizofrênico-hebefrênico, que já fazia o que a “voz” ordenava, inclusive, usando droga, e bebendo demais, quando se deixava ser mandado pela “voz”. Às vezes, esse paciente era chamado pela “voz” de doido e de veado, o que o fez logo evitar as pessoas, deixando inclusive a namorada, a faculdade e isolando-se dos familiares, só saindo do quarto para fazer as refeições. Feito o trabalho, tentando-se aos poucos acabar com cada item falso, isso foi feito em doses homeopáticas; cada item trabalhado, analisado, revisto, para ser corrigido, sabendo-se que, aos poucos, o paciente iria melhorar de seu pensamento que estava totalmente desorganizado, o que considero válido. 3. Posteriormente, corrigir todo o discurso que está incoerente, assim como a “realidade” vivida pelo paciente - apresentada no item 2, acima. Cada situação observada como errada, deve ser trabalhada(corrigida), uma a uma, não importa quantas sessões possam ser acrescidas, o objetivo é o que importa. Lembrete: para todas essas questões-problema usam-se exemplos ocorridos e conhecidos de pessoas que públicas, onde essas celebridades tenham errado, segundo o juízo/pensamento do profissional, pois, os exemplos fazem com que as pessoas os analisem e, para nós psicólogos, o que importa é que os pacientes corrijam essas situações erradas, mostradas como exemplo, dandonos suas próprias respostas. 4. A técnica dos esclarecimentos Rogers (2002), como os exemplos já mencionados lembram uma psicoterapia de grupo, onde são trazidos vários assuntos e cada participante expõe uma melhor solução ao grupo, o que é produtivo. Assim, lembre-se do caso de nosso ex-Presidente Collor que com a expressão “Caçador de marajás”, fez até os mais cultos da Nação votarem nele, e veja o que aconteceu! Assim, lembre-se de que, os exemplos fazem com que as pessoas os entendam (sigam), seja neurótico ou psicótico, como acontece numa propaganda, que faz as pessoas mais esclarecidas e até mesmo letradas “comprarem” o que é anunciado, não importa o estado psicológico em que esta pessoa esteja inserida, essa técnica é muito importante e deve ser usadapara que se possam corrigir todos os itens apresentados, apenas aqueles considerados errados pela ciência. Lembrete: Caso o exemplo que o profissional mencione não surta o efeito desejado, deve-se mencionar outro, até conseguir fazer com que o paciente pense como a maioria das pessoas normais, que está bem, sem nenhum transtorno em relação a cada item (ponto, questão apresentada), não se importe com a quantidade de sessões que cada item precise, faça isso de forma prudente e persistente, não se deixe levar pelo seu insucesso em algum item, pois pode acontecer, num primeiro momento, mas na sessão seguinte, o profissional irá conseguir fazer com que o paciente o corrija. É o que importa, pois, sabemos que cada um de nós pode estar fechado, cansado ou com algum problema existencial, num determinado instante; aliás, fato comum a todo ser humano e, caso isso esteja acontecendo num determinado atendimento, o profissional não deve se culpar, possivelmente, na sessão seguinte ele deve se sentir apto para ir em frente e acertar, ou seja, todos nós temos nossos limites, mas a perseverança em conseguir a melhora, o fará conseguir, não determine data pra isso, pois não podemos fazer dessa maneira, limite-se a fazer o que é possível, o que estiver ao alcance, pois somos simples mortais. Importante, quando existir uma dificuldade em determinado esclarecimento/resposta, tentar implementar sempre um outro exemplo, nesse sentido, se não puder ser no momento que esteja trabalhando, tentar fazer num outro momento, como já foi mencionado acima, pois, isso entra no doente como um reforço positivo, Skinner (1953), para fazer compactar a personalidade do psicótico que está sendo atendido. 6. Dessa forma, voltando para o exemplo acima, do esquizofrênico, que dizia que, quando mexia o nariz e a boca para um mesmo lado as pessoas acompanhavam nesse mesmo lado, foi repetida a situação várias vezes, e mostrado, como já foi dito a ele, que era coincidência, pois não se estava fazendo o que ele queria uma vez que ele achava que, tinha algum poder. Deve-se, portanto, apresentar sempre uma pausa nesse sentido, durante a sessão e pedir para que ele refaça seu ritual errado, para mostrá-lo que não se trata de poder ou dom nenhum, que ele possui. Lembrete:(seguir sempre o mesmo modelo), pois essa situação ele já repetiu várias vezes, com as mais diversas pessoas, e já tem como verdade. Então, o que você precisa fazer é repetir isso ao longo de várias sessões, para que ele aos poucos comece a acreditar nessa nova e certa situação apresentada pelo psicólogo, fazer isso sem forçá-lo, mas com habilidade. Ele pode até dizer que oprofissional está vacinado, por isso, deve-se fazer com que o doente apresente seus novos itens, que o levaram a ter uma falsa percepção. Garanto que, quando tiver trabalhado todos os itens, um a um, o psicólogo começará a ver uma outra pessoa na sua frente. Já mais confiante noprofissional, já menos perturbado, mas, lembre-se de que, ainda, falta trabalhar as alucinações, então, não exigir muito do paciente, nem de você. Fazendo uma comparação, embora se esteja trabalhado as partes individuais, ou focais, mas o objetivo maior é o “todo”, como dizia Perls (1969):isso será notado por você mais à frente. É como um médico que, repara através da cirurgia, um coração e quando isso acontece as dificuldades da pessoa desaparecem, e ele passa a viver normalmente, a técnica acima apresentada tem a mesma finalidade, que é partindo de uma situação considerada difícil, sendo trabalhada eficazmente, lá na frente essa pessoa estará bem e você passará a trabalhar o todo. Digo para você, não deixar que sua ansiedade ou pressa coloquetudo a perder, como já mencionei, anteriormente, a paciência, a prudência, a perseverança, a técnica e o objetivo são os caminhos para se conseguir uma vitória, em relação a esses casos psiquiátricos. Caso o paciente ache que seja Jesus ou coisa parecida, pergunte inicialmente como ele era chamado, mostre seu documento de identidade, enfatize a fotografia, pergunte o que houve para tal mudança, pois, sabendo-se o que ocorreu para ele ter essa percepção falsa, muito provavelmente, aos poucos o faça corrigir seu erro, lembre-se de que isso tem que ser repetido várias vezes, como um reforço positivo, Skinner (1990), não entre em choque com o paciente, apenas o faça ver a forma correta da situação, com tranquilidade e firmeza. Pois a base desse item é o psicólogo conseguir achar todos os itens que fizeram o paciente achar que era Jesus ou outra celebridade,fazendose isso, irá achar o motivo ou a causa do problema, o que a psiquiatria não consegue enxergar, e afinal, esse é o nosso terreno de nós psicólogos. A outra ciência trata, exclusivamente, através de medicação o problema, deixando ele sempre bem vivo na mente do doente, e nós ao descobrirmos o fazemos como quem está analisando algo microscopicamente. Analogamente, se vejo que um vírus ataca por um local, procuro não ir por aquele caminho, pois se faço assim, nãoserei atingido. A técnica corresponde a procurar ir por terrenos firmes, contornando os pântanos; senão, caso não percebamos isso, nós iremos nos afogar, e não é esse o objetivo. Assim, seguiu-se fazendo com o resto das falsas crenças, pedindo que ele apresentasse uma após a outra, para ser desmistificada, até que ele veja que não tinha poder nenhum. Ao estar tranquilo e ser colocado em xeque, tendo em vista as várias repetições, nesse sentido, ele vai passar a acreditar na nova situação que está vendo. Com isso a percepção passa ao poucos a ser melhorada devido ao item anterior, principalmente, por estar tranquilo e sabendo que já conseguiuum pequeno feito. Para ficar bem nítido na mente do paciente, posteriormente, é solicitado que o terapeuta apresente três exemplos públicos ao doente, onde as pessoas famosas erraram por algum motivo, na sua visão de terapeuta , fazendo com que seus pacientes deem sua resposta ao que foi apresentado, "in per si", observe se ele repete o erro das celebridades ou se acertam, em cada exemplo dado, para cada caso apresentado, deverá ser bem reforçada a resposta certa do paciente, Skinner (1953). Ao mesmo tempo, apresentando o equívoco (erro) da celebridade, tente apresentar exemplos onde o famoso tenha uma idade avançada, lembrando ao paciente que todos erram até mesmo os famosos, com idade avançada, tal fato, repetido várias vezes, isso fará com que elecomece a acertar suas respostas, vendo que não erra como aconteceu com as celebridades, fato que dará ao paciente mais confiança em si. Esta questão é importante e mais fácil para o paciente, porque ele já sabe do erro da celebridade, o qual você enfatizará, e ele terá tempo na terapia suficiente para não cair no mesmo erro, o que, às vezes, as pessoas são pegas de surpresa, daí suas respostas serem equivocadas, ou não muito boas. 1.2 Observação: A técnica do reforço positivo deverá ser deixada de lado, mais a frente, quando já não tiver mais utilidade para o paciente, por ele está bem, sem delírio. O objetivo dessa situação é trazer o paciente para entrar em contato com a realidade, o que de outra forma seria impossível, nesse sentido, acho viável o uso dessa técnica, mesmo com a contraindicação de alguns colegas terapeutas, pois o que existe é saber que, quando uma pessoa deixa de ser normal, isso será o remédio azedo, mas que funciona, em pessoas e até em animais; seu uso é restrito ao psicótico inicial. Lembro que o intuito de tal procedimento é melhorar a insegurança, os medos do paciente em relação aos erros cometidos por ele, assim, ficam mais confiantes, seguros, o que considerado positivo, e fará com que seu corpo e sua mente percebam seu acerto diante da vida; e a cada acerto, o paciente ficará mais confiante nele mesmo, o que anteriormente havia sido perdido. Num segundo momento, essa técnica faz melhorar a percepção que estava comprometida, pois,sempre deixa os participantes no aqui e agora Perls (1969), fazendo com que o paciente melhore um pouco mais sua percepção, fato que demandará um certo tempo. Acredite que, a cada sessão,o profissional fazendo como é proposto notará uma substancial melhora no pensamento e percepção de seu paciente, aos poucos, diante de uma desordem inicial, o que parece mágica, mas tudo isso acontece devido ao fruto de seu trabalho: calmo, persistente, prudente, e que precisa ter como pilar a paciência, e o conhecimento da rotina e a habilidade técnica, inicialmente, acabando os delírios, passa-se para trabalhar o terceiro passo, o que é considerado válido. Modalidade de apresentação: Comunicação/tema l

Publicado

2015-12-01