PARA ALÉM DA PSICOTERAPIA: A PROPOSTA ÉTICA E POLÍTICA DE PAUL GOODMAN
Palavras-chave:
além da psicoterapiaResumo
O livro Gestalt-Terapia escrito originalmente em 1951 e assinado por Perls, Hefferline e Goodman teve sua parte teórica desenvolvida quase que integralmente por Paul Goodman (Stoehr, 1994). Por isso, mas do que um livro de psicoterapia, o livro se propõe a ser uma análise ensaística do campo político, educacional e cultural dos meados do século XX. Além disso, Goodman apresenta uma nova compreensão antropológica de como podemos conceber a neurose e as grandes dificuldades enfrentadas pelas pessoas no nosso século (Perls, Hefferline e Goodman, 1997). Por isso, Goodman apresenta uam releitura da psicanálise freudiana e para-freudiana, da fenomenologia, do pragmatismo, da semântica e da filosofia kantiana para discutir, no campo das relações humanas uma nova abordagem de compreensão da experiência. Empreender uma análise da experiência é mais do que olhar para o campo da clínica psicoterápica, é olhar também para o fato de que toda intervenção psicoterápica visa, prioritariamente, uma ação social. Por isso que Goodman e seus colaboradores afirmam que “A psicoterapia eficiente é sem dúvidas um risco social” (Perls, Hefferline e Goodman, 1997, p. 144). Há então, no livro Gestalt terapia (Perls, Hefferline e Goodman, 1997), uma ética gestáltica oriunda dessa nova concepção de natureza humana advinda de seus diálogos com Fritz Perls e Laura Perls, mas também de toda a incursão que Paul Goodman já tinha no anarquismo (Stoehr, 1994) e também todo seu exame político das propostas Freudianas e Para-Freudianas, a saber, o trabalho dos culturalistas e de Wilhelm Reich (Goodman, 1991). Podemos encontrar embutido nessas teses, o modelo de como Paul Goodman pensa o campo da educação, da política e psicoterapia: a crença na autonomia e na capacidade dos indivíduos se desenvolverem ao construir um crescimento sem as barreiras das resistências habituais. Ainda sim, sua tese anárquica de desenvolvimento de autonomia não pressupunha que as pessoas são naturalmente boas, mas justamente o contrário: É porque as pessoas não são confiáveis, que o poder não pode ser centralizado na mão de ninguém. (Goodman, 2010). Porém, além disso, se há uma nota concepção política que não pressupõe uma pressão social que define o que as pessoas devem ser e como elas devem ser, o organismo pode construir e desenvolver o seu próprio potencial. Goodman acredita que, é na emergência de uma figura vigorosa, da integração da natureza que há a saída para os conflitos, sejam biológicos ou sociais. Esse processo, Goodman chamou de Eros: “Para Goodman, Eros era o símbolo do poder da natureza viva em nós. Natura sanat” (Stoehr, 1991, p. 4) Sendo assim, confiar na capacidade de auto-regulação organísmica é o critério mais coerente para o desenvolvimento de uma nova ética social. Por mais que o processo de auto-regulação não seja infalível, ainda sim todo processo saudável, e por isso confiável, necessariamente se constitui a partir de um ajustamento criativo, ou seja, um processo de contato sem interrupção. Goodman já começava a ensaiar essas propostas em seus trabalhos anteriores (Stoehr, 1994), porém é no livro Gestalt-therapy que ele consegue de fato sistematizar uma nova proposta de natureza humana, e após a escrita do livro, aos poucos, Goodman vai abandonando seu interesse pela psicoterapia e começa a focar mais nas discussões de transformação social oriundas da educação e da política. A proposta de uma política anarquista e de uma educação libertária se tornam a saída possível para uma superação do pensamento dicotômico hegemônico e da divisão neurótica que torna as pessoas cada vez menos integradas com sua experiência. Por isso, esse trabalho tem como objetivo, apresentar a proposta de uma ética social baseada nos escritos de Paul Goodman, entendendo que, quanto mais conhecermos as propostas políticas e educacionais de Paul Goodman, mais podemos desenvolver aquilo que no livro Gestalt-terapia está proposto como uma concepção de natureza humana e aplica-la nos vários campos de atuação do Gestalt-terapeuta. Referências • Goodman, P. Nature Heals: The Psychological Essays of Paul Goodman. The Gestalt Journal Press, 1991. • Goodman, P. Drawing the line once again: Paul Goodman´s Anarchist Writings. Oakland: PMPRESS, 2010. • Muller-Granzotto M. J. e Muller-Granzotto R. L. Psicose e Sofrimento.São Paulo: Summus, 2012a. • Muller-Granzotto M. J. e Muller- Granzotto R. L. Clínicas Gestálticas: o sentido ético, político e antropológico da teoria do self.São Paulo: Summus, 2012b. • Perls, F. Hefferline, R. Goodman, P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997. • Stoehr, T. Here, Now and Next: Paul Goodman and the Origins of Gestalt Therapy. California: Josey-Bass, 1994. Palavra 1: Paul Goodman Palavra 2: política Palavra 3: anarquia Modalidade de apresentação: Comunicação/ tema livre Área de concentração: Contribuições teóricasPublicado
2015-12-01
Edição
Seção
Temas-Livres