Insuficiência Renal e hemodiálise: Um diálogo sobre a doença crônica e a Gestalt-terapia

Autores

  • Carolina Parente de Andrade
  • Josélia Quintas Quintas

Palavras-chave:

hemodialise e insuficiencia renal

Resumo

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), em todo o mundo, 500 milhões de pessoas sofrem de problemas renais e 1,5 milhão delas estão em diálise. As estatísticas revelam também que uma em cada dez pessoas no mundo sofre de doença renal crônica. No Brasil, estima-se que aproximadamente 130 mil pessoas fazem o tratamento. A hemodiálise é um procedimento que utiliza uma máquina (Rim artificial) para filtrar o sangue, substituindo a função dos rins. Através dela são retirados do sangue substâncias que em excesso trazem prejuízos ao corpo, como a ureia, potássio, sódio e água. Ela ocorre pelo menos três vezes por semana e tem duração de 4 horas. O paciente é conectado a maquina, por um acesso realizado, através de uma pequena cirurgia, chamado de fístula. Como característica muito importante desse tratamento tem-se uma grande restrição alimentar e de líquidos. Com certeza, é uma situação bem difícil, depender de uma máquina para continuar vivendo, mas o tratamento é uma oportunidade de vida em uma doença que há poucas décadas era fatal. Como coloca Freitas (2009, p.40) O corpo doente tem um sentido próprio por nos tirar do habitual, um corpo "esquecido" e, por isso mesmo, vivido. A doença faz-nos lembrar que temos um corpo. A dor rompe com uma história e com um cotidiano, com um "habitual ser". Mas, paradoxalmente, essa história que ao mesmo tempo é surpreendida e forçada a seguir novos rumos, é uma referência para os sentidos da dor, essa intrusa inesperada. Não existe uma reação orgânica sem uma repercussão mental. A enfermidade explica algo sobre o movimento da vida. (GALLI, 2009.) De acordo com Alvim (2006), a abordagem gestáltica considera o homem e todo organismo vivo interligados com o resto do mundo. Não faz sentido falar do homem isoladamente, pois este vive em determinado meio, que faz parte de sua existência e forma com ele uma totalidade. Não há eventos puramente externos ou internos, mas um organismo e um meio que interagem e têm uma relação de reciprocidade. Nesse contexto, a doença é sempre uma pausa, uma interrupção dos padrões de hábitos nos quais o indivíduo vive, talvez irrefletidamente, durante muitos anos, podendo fazer com que este questione determinados valores, prioridades e maneiras de ser que geralmente são aceitos sem discussão. Ela pode despertar em algumas pessoas a necessidade de compreender mais profundamente quem elas são e o que é importante para elas, levando-as a viverem mais conscientemente e valorizando mais as situações habituais. A tendência a escolher um determinado modo de enfrentamento depende do modo de ser individual, dos recursos disponíveis internos, socioambientais, valores e crenças. O adoecimento, desse modo, está ligado a um ajustamento criativo disfuncional do indivíduo, a uma parte “perdida” que está em desajuste com o todo. Dessa maneira, torna-se imprescindível conhecer o paciente, suas experiências prévias, atentando para o momento existencial que este está vivendo, como experiencia os fenômenos no aqui-agora, diante do contexto que o permeia, e a significação dada ao seu adoecimento a partir de seu mundo de valores e concepções, pois estes configuram situações específicas de dor e sofrimento (ANGERAMI-CAMON, 2001). É importante avaliar a natureza e o grau de intensidade do acontecimento do adoecer na vida do indivíduo, e que recursos o paciente possui para um enfrentamento adequado da situação. Essa tarefa requer do terapeuta o uso total e imediato de suas habilidades, visto que pode não haver tempo para esperar passivamente pelo insight ou pela elaboração,mesmo na doença crônica. E isto exige do psicólogo uma postura mais acolhedora e assertiva. Escutar não é tarefa fácil. Ouvir palavras repletas de dor, angústia ou sem nexo aparente, pode vir a ser um trabalho árduo. (SILVA& BOAVENTURA, 2012). Deste, modo o atendimento psicológico a esses pacientes é realizado de modo a oferecer conforto e tranquilidade e, quando suas condições físicas permitem, estabelece-se um diálogo por meio do qual a relação de contato vai se fazendo e se refazendo, em suas múltiplas facetas. (CASTRO & SOUZA, 2012). Referências ALVIM, M. B. Contato e cultura organizacional: Ensaio para um modelo Psicológico de análise organizacional na perspectiva da abordagem gestáltica. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília. 2006 ANGERAMI-CAMON, V. A. Relato de experiência de intervenção psicológica junto a crianças hospitalizadas. In: ______. Psicologia Hospitalar: a atuação do psicólogo no contexto hospitalar. São Paulo: Traço, 1996. p.15-57. CASTRO, E. SOUZA , A. – Cuidando da pessoa com câncer: Contribuições da Gestalt-Terapi. IGT na rede Vol.9, N° 16, Rio de Janeiro, 2012. FREITAS, J. L. Experiência de Adoecimento e Morte: Diálogos entre a pesquisa e a Gestalt-terapia.Curitiba: Juruá Editora. 2009 GALLI, L. Um olhar fenomenológico sobre a questão da saúde e da doença. Revista Psi. Vol.9, Rio de Janeiro, 2009. SBN – Sociedade Brasileira de Nefrologia, 2013. SILVA, R. B; BOAVENTURA, C. F. Psico-oncologia e Gestalt-terapia: uma comunicação possível e necessária. Rev. abordagem Gestalt, Goiânia, v. 17, n. 1, 2011 . Modalidade de apresentação: Mesa redonda

Publicado

2015-12-01