Diagnose diferencial na clínica gestáltica: análise de três casos
Palavras-chave:
diagnose diferencial gestalticaResumo
O modo de o clínico e o consulente reagirem à vulnerabilidade do afeto (função id), ou o modo de reagirem à vulnerabilidade política face ao desejo (função de ato) de um terceiro, ou à vulnerabilidade das representações (função personalidade) ameaçadas por um tirano (que pode ser um estado de exceção, um regime totalitário) desenha formas ao mesmo tempo distintas e regulares, as quais não podem ser exclusivamente imputadas ao clínico ou ao consulente. Trata-se, em verdade, de ajustamentos criativos no campo clínico, modos singulares de os envolvidos operarem diante dos fatores que provocam desvio. E eis o que motivou PHG a produzirem – apoiados na tese das três funções do sistema-self – uma ficção sobre diferentes ajustamentos criadores produzidos na experiência clínica. Dependendo da vulnerabilidade de uma função ou de outra, do efeito desviante que uma ou outra provocasse, o clínico e o consulente criariam um tipo de resposta; respostas est as que nada mais são que as “formas clínicas da Gestalt-terapia”. Tal como se pode ler na terceira parte do segundo volume do Gestalt Terapia, PHG concebem pelo menos três lugares diferentes que pudessem ser ocupados por um clínico. Eles são pensados a partir da presença ou ausência, em um campo que envolve o clínico e o consulente, das funções atribuídas a um sistema self. Trata-se da psicose, da neurose e da aflição. Segundo os autores em tela: “(c)omo distúrbio da função de self, a neurose encontra-se a meio caminho entre o distúrbio do self espontâneo, que é a aflição, e o distúrbio das funções de id, que é a psicose” (1951, p. 235). PHG mencionam aqui três tipos de formas clínicas, cada uma delas relacionadas à vulnerabilidade de uma função específica do sistema-self (e não a patologias ou características específicas de sujeitos ou pessoas). Não se trata de um ensaio de psicopatologia, ou de uma descrição complexa sobre as propriedades da alma humana. PHG têm em conta tão somente os ajustamentos criadores que alguém pudesse criar em regime clínico quando uma ou outra dimensão do sistema complexo de contatos (que é o self) estiver vulnerável, independentemente da causa desta vulnerabilidade. Eis em que sentido, então, PHG vinculam, à vulnerabilidade da função id, um tipo de criação à qual chamam de psicose, à vulnerabilidade da função personalidade – entendida como a dimensão antropológica do self – os autores relacionam um tipo de ajustamento criador denominado misery, e que preferimos traduzir por sofrimento (em vez de aflição, como na versão brasileira). Por fim, como efeito da vulnerabilidade da função de ato, PHG fazem menção à neurose, a mais discutida de todas as formas clínicas. No presente mini curso queremos propor uma nova forma de apresentação das clínicas gestálticas, a qual agrega à divisão das funções de campo - estabelecida nos termos da teoria do self – as reflexões éticas, políticas e antropológicas. Tal significa dizer que, dado que a clínica da psicose é uma forma de se posicionar face à vulnerabilidade da função id, porquanto a função id diz respeito à dimensão ética da experiência do contato (o acolhimento a presença ou ausência de outrem), a clínica da psicose é uma clínica eminentemente ética. Já a clínica do sofrimento, tendo ela sua gênese na vulnerabilidade da função personalidade, que é a dimensão antropológica do sistema self, nós consideraremos tal clínica um modo de ajustamento antropológico. Por fim, por se tratar ela de uma maneira de operar face à vulnerabilidade da função de ato, considerando que a vulnerabilidade da função de ato tem uma gênese política, é a clínica da neu rose uma clínica política. Por meio da apresentação de três casos clínicos, em diálogo estabelecido com o grupo, faremos a distinção entre as clínicas e discutiremos as intervenções possíveis para o acolhimento dos ajustamentos. Público-alvo: Profissionais e estudantes.Publicado
2015-12-01
Edição
Seção
Mini-cursos