MT 01: CLÍNICA CONTEMPORÂNEA - DOS DESENCONTROS AOS "BONS" ENCONTROS

Autores

  • Ângela Schillings

Resumo

MT 01: CLÍNICA CONTEMPORÂNEA - DOS DESENCONTROS AOS "BONS" ENCONTROS Angela Schillings UMA NOVA PROPOSTA PARA A PSICOLOGIA CLÍNICA NO CAMPO CONTEMPORÂNEO A forma usual como se costuma entender psicologia clínica vem atrelada à perspectiva de uma visão mais tradicional sustentada na forte herança da clínica médica, baseada no binômio saúde doença e que, no caso da nossa profissão, nomeia-se de psicoterapia ou mais costumeiramente, terapia. É tão forte esta percepção que psicologia clínica é usualmente definida como sinônimo de psicoterapia. Esta maneira de entender a psicologia clínica restringe seu uso ao que se convencionou tratar como uma “área” de trabalho do profissional da psicologia e que cria inúmeros mal entendidos para sua função. É usual ouvirmos dizer que não se faz clínica nas escolas, nem nas organizações, nem mais recentemente que clínica não se faz em saúde pública, querendo dizer com isto que não se aplica a psicoterapia a estes lugares, dando a entender que existe uma tarefa específica que a clínica faz que não seja da esfera de vários espaços onde o psicólogo esteja inserido. Os desencontros causados por esta percepção criam não só um grande desconforto a muitos profissionais psicólogos, pois acaba mantendo uma “área” de trabalho separada da interface dos outros fazeres da psicologia, bem como estabelece um ilusório lugar de poder aos que detêm um determinado tipo de conhecimento que os qualificam como sabedores de um fazer que não viabiliza seu compartilhamento. Se pensarmos que estamos inseridos em um mundo mercadológico, esta visão pode fazer sentido como “fatia de mercado”, porém se olharmos para qual é o objeto de maior interesse da psicologia – os seres humanos e suas relações, esta visão perde o sentido mais básico que nossa profissão necessita ter para a compreensão deste ser humano inserido no mundo que o afeta e que é afetado por ele de forma contínua e indissociável. A partir destes questionamentos, a proposta do presente trabalho é “descolar” psicologia clínica de psicoterapia, buscando desenvolver um novo tipo de olhar que não seja restritivo, avançando a perspectiva da psicologia clínica para além do binômio saúde doença, pelo qual é usualmente entendido e, para tanto, buscamos no conceito de campo da gestalt e também no conceito de estratégia clínica de Bohoslawisky, uma forma de repensar a psicologia clínica dando-lhe maior amplitude e fluidez, não limitando sua existência a um lugar, uma tarefa, uma área de atuação ou um campo de trabalho. Se pensarmos psicologia clínica sem a visão tradicional a que estamos acostumados, uma nova proposta pode ser capaz de possibilitar um fazer psicológico que seja empregado onde quer que se relacionem seres humanos, estando em um campo e como parte do campo que se configura. Esta perspectiva nos coloca abertos e disponíveis para a real demanda que se apresenta e nos tira do lugar de quem já possui um à priori na relação a ser estabelecida, nos permitindo seguir o fluxo das ocorrências de acordo com a direção que elas apresentem e em conformidade com seu desenvolvimento genuíno. Referências Bibliográficas BOHOSLAWISKY, R. Orientação educacional - a estratégia clínica. São Paulo: Martins Fontes, 1998. CAVALERI, P. A. Del campo a la frontera de contacto - contribuiciones para una reconsideración de La frontera de contacto en psicoterapia de la Gestalt. In LOBB, M. S. Psicoterapia de la Gestalt - hermenéutica e clínica. Barcelona: Gedisa, 2002. PERLS, F. Abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.