TL 04: UMA EXPERIÊNCIA DA GESTALT-TERAPIA NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL ATRAVÉS DO TEATRO

Autores

  • FELIPE FONSECA DE FREITAS

Palavras-chave:

SAÚDE MENTAL, TEATRO

Resumo

Diferente da maioria das propostas que trabalham com arte no âmbito da saúde mental, cuja finalidade fincase como um meio de tratamento, a Cia. de Teatro Os Nômades, projeto da ONG Espaço Artaud, apresenta-se como um espaço de aperfeiçoamento das habilidades artísticas, favorecendo a inclusão dos usuários em atividades de reconhecido valor social, dando voz à sujeitos por muito sentenciados ao silêncio de um diagnóstico por si adoecedor. Neste sentido, enfatiza a potencialidade do ser humano, independente dos ‘acometimentos’ psíquicos. Entretanto, é evidente que seu fazer teatral não fica totalmente destituído de qualquer qualidade terapêutica.Todas as relações e criações coletivas realizadas nos ensaios e aulas são “encharcadas” de reconstruções e reinvenções que possibilitam encontros e desencontros com possibilidades de ser e estar no mundo. "Teatro é encontro. Todas as vezes que eu vou para o ensaio, todas as vezes que a gente tem apresentação, é o encontro com o outro, é o encontro comigo, é o encontro com as minhas emoções" (Tânia de Oliveira, atriz da Cia., apud PONTO CEGO, 2007). É neste tom que o Espaço Artaud aproxima-se da Gestalt-terapia. Apesar da ONG não ter se estruturado nesta abordagem, ao construir este diálogo, possibilitamos uma visão do Espaço como um ambiente com possíveis características fenomenológicas e existenciais na produção de saúde. Saúde não referente a normatividade biológica, rica em juízo de valor ao transformar um caráter comum (normal) em valor ideal (JASPER apud CANGUILHEM, 1995). Mas uma saúde não limitada a causas, ampliando a percepção do campo a partir de uma perspectiva multifacetada por diferentes fatores através da experiência direta de cada um (GOMES et al, 2008). Inserido no contexto da reforma psiquiátrica, a riqueza do trabalho da Cia. está em seu próprio exercício, ao proporcionar um espaço que valoriza o humano e sua capacidade de criação/ transformação, lidando com aspectos saudáveis, permitindo que seus membros experimentem suas próprias potencialidades. É atuando que estes cidadãos-atores vão respondendo criativamente as suas necessidades, desenvolvendo outras formas de estar no mundo, não mais petrificados ao rótulo da doença. A experimentação artística permite a expressão por meio de uma linguagem sensorial e intuitiva, o que possibilita que a vida se manifeste na “emergência da afirmação de si-mesmo-no-mundo, na integridade de sua multiplicidade e na processualidade de seu devir” (FONSECA, 1989: 9). A vivência do ator é uma experiência relacional, onde cada pessoa é impactada e, ao mesmo tempo, respondente deste impacto. Desta forma, a atividade artística aponta para uma pluralidade de conteúdos possíveis em/entre aquele que produz e aquele que recebe a comunicação. Por conta disso, a relação entre os envolvidos é facilitada, transformada e ampliada, adquirindo novo significado de acordo com a afetação produzida.Portanto, não tornando invisível a dificuldade presente na psicose, o que vemos com a realização deste trabalho teatral, por valorizar o aqui agora e a percepção e o sentimento de cada um, incentiva gradativamente o contato, e amplia as relações com as pessoas da Cia. e dos espaços que se apresentam. Desta forma, o grupo de teatro torna-se um espaço ideal para o desenvolvimento das potencialidades. Referências bibliográficas: ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Martins Fontes, 1993. CANGUILHEM, Georges. O Normal e o Patológico. 4ªed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. FONSECA, Afonso H. Lisboa da. Psicoterapia & Arte: considerações sobre um nexo desencontrado. Maceió: mimeo, 1989. GOMES, Annatália M. de A. et al. Fenomenologia, humanização e promoção da saúde: uma proposta de articulação. Saude soc. São Paulo, vol. 17, nº 1, Mar. 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902008000100013&lng=en&nrm=iso MÜLLER-GRANZOTTO, M., MÜLLER-GRANZOTTO, R. Clínica dos ajustamentos psicóticos: uma proposta a partir da gestalt-terapia. Revista IGT na Rede, v. 5, n° 8, 2008, p.3-25. Disponível em:http://www.igt.psc.br PONTO CEGO. Produção de Will Pantaleão e Júlia Spadaccinni. Rio de Janeiro, 2007. DVD (14 min). Documentário sobre a Companhia de Teatro Amador Os Nômades, com depoimentos dos atores da Cia. Disponível (trecho) em: http://www.youtube.com/watch?v=B8KPqwuYZeA

Publicado

2014-01-10