MC 15: A CLÍNICA EM MOVIMENTO: REVISITANDO SENTIDOS
Palavras-chave:
MOVIMENTO, SENTIDOSResumo
“Perca a razão, recupere os sentidos” Fritz Perls Quais os pré-requisitos que temos quando nos propomos a trabalhar clinicamente? Certamente essa pergunta pode receber diferentes respostas dependendo do lugar do qual nos dispomos a responder enquanto Gestaltterapeutas. É possível imaginar que nos referimos aqui às diferenças entre cada terapeuta. No entanto deixemos de lado essa possibilidade de resposta e recoloquemos a pergunta em outros termos: de que forma somos atravessados por uma série de formas de perceber que privilegiam certos sentidos em detrimento de outros? Em outras palavras: de que maneira nossos sentidos se organizam e podem se cristalizar em um determinado fazer clínico? Basicamente, o objetivo deste mini-curso é explorar as diferentes respostas para as questões citadas acima. Nessa direção tomamos como epígrafe a célebre frase de Fritz Perls, pois ela pode, para além das controvérsias que já criou no campo da Gestalt-terapia, em sua interface com o movimento da Contracultura (Fromm e Miller, 1997), ser revisitada em busca de novos sentidos para prática clínica. É importante mencionar que a referida recomendação dizia respeito a todos, o que significa que nós, terapeutas, precisamos constantemente considerar seriamente o modo como devemos recuperar nossos sentidos. Isso significa aumentar o grau de reflexividade da proposição em busca de um mapeamento preciso da sensorialidade, enquanto instrumento clínico do terapeuta. Muito embora esse tema seja de absoluta relevância no exercício cotidiano da Gestalt-terapia, tendo em vista o sempre renovado convite ao contato, pouco tem se produzido acerca do tema da sensorialidade propriamente dito (Alvim e Ribeiro, 2009; Perls, 1997 e 1988; Polster, 1973). Dessa forma, o presente mini-curso visa contribuir para esse campo de discussão articulando à proposição de Perls, de recuperar os sentidos, os dados atuais da pesquisa de Pós-doutorado, Fabricando um Dispositivo Clínico Transversal, realizada no Núcleo de Cognição e Coletivos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Kastrup e Tsallis, 2010; Tsallis et all, 2010). Essa pesquisa se deu a partir da implementação de um Dispositivo Clínico (DC) com pessoas que em algum momento de suas vidas tonaram-se cegas. Nesse contexto, nós, os terapeutas tivemos a oportunidade de nos interrogar sobre quais os efeitos que se produziram na clínica quando nossa organização sensorial privilegiou certos sentidos em detrimento de outros. Em poucas palavras, no compartilhar dessa experiência com aqueles que não vêem, pudemos problematizar a herança sensorial silenciosa com a qual trabalhamos na clínica., ou melhor, foi preciso retornar aos sentidos através de um contínuo e sistemático processo de awareness. Cronograma: Primeira aula (1,5h) – apresentação do o conceito de awareness, bem como a frase de Fritz Perls em seu contexto de época e em sua possibilidade contemporânea de interface com o exercício clínico. Para fomentar a discussão teórica serão apresentados os dados de campo obtidos através da pesquisa de pós-doutorado Fabricando um Dispositivo Clínico Transversal (UFRJ). Segunda aula (1,5h) - serão propostos alguns experimentos que possam ajudar na percepção de nossas próprias configurações sensoriais no exercício clínico. Referências Bibliográficas ALVIM, Monica Botelho; RIBEIRO, Jorge Ponciano. O lugar da experiment-ação no trabalho clínico em Gestalt-terapia. Em: Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 9, p.36-57. Rio de Janeiro, 2009. FROMM, Isadore; MILLER, Michael Vincent. Introdução à edição do The Gestalt Journal. Em: PERLS, Fritz; HEFFERLINE, Ralph; GOODMAN, Paul. Gestalt-terapia. Rio de Janeiro: Summus, 1997. KASTRUP Virgínia; TSALLIS Alexandra Cleopatre. Acoplamentos, vínculos e deficiência visual: sobre um vetor de atravessamento Varela-Latour. Informática na educação: teoria & prática, v. 12, n.2, 2009. PERLS, Fritz; HEFFERLINE, Ralph; GOODMAN, Paul. Gestalt-terapia. Rio de Janeiro: Summus, 1997. PERLS, Fritz. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988. POLSTER, Erving. Funcionamento Sensorial em Psicoterapia em FAGAN, Joe; SHEPHERD, Irma Lee. (Orgs.) Gestalt-terapia: teoria, técnicas e aplicações. Rio de Janeiro: Zahar, 1973. TSALLIS, Alexandra Cleopatre; SOUZA, Bernardo; JUNGER, Elisa; DAVID, Jessica; MOREIRA, Leonardo; MACHADO, Renata; MADEIRA, Rodrigo; MENEZES, Virgínia; RULFF, Willy. Tateando, Fabricando, Explorando, Implementando, Parangoleando um dispositivo clínico. Em: MORAES, Marcia; KASTRUP, Virgínia. Exercícios de ver e não ver: arte e pesquisa COM pessoas com deficiência visual. Rio de Janeiro: Nau, 2010.Publicado
2012-09-06
Edição
Seção
Mini-cursos