MC 06: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA CLÍNICA COM CRIANÇAS: UM OLHAR PARA ALÉM DO SINTOMA.

Autores

  • Cintia Mara Lavratti

Palavras-chave:

CRIANÇA, SINTOMA

Resumo

Quando pensamos na infância, geralmente nosso imaginário percorre rostinhos rosados com um sorriso faceiro e aquele ar angelical que pinta os quadros midiáticos das crianças felizes. Porém refletir sobre a prática clínica com crianças requer um olhar para muito além da infância que, por defesa ou desespero, ainda insistimos em caracterizar em nosso discurso e na percepção da chamada “inocência infantil É sabido que as crianças, por sua plasticidade, curiosidade e desenvolvimento crescente tem em grande número características de leveza, alegria e conquistas surpreendentes. Mas para exercer o lugar de clínico infantil é preciso disponibilidade para o reconhecimento da dor, do desamparo, da violência e da falta de compreensão e esclarecimento que atravessam as vivências psicológicas de uma criança. Na clínica infantil entendemos que a criança “brinca melhor os seus problemas do que fala deles”, desta forma temos nos recursos lúdicos o caminho de acesso ao universo psicológico do cliente. Ao propiciarmos a criação de uma emergência clínica segura na qual a brincadeira possa fluir livremente e a criança se sinta autorizada a metaforizar suas dores, dúvidas e inquietações na forma de um brinquedo, de um jogo ou de uma brincadeira criamos um campo no qual a expressão do que é recusado, impedido ou evitado em sua vida encontra ocasião para se configurar, e este emergir por si só já representa para a criança uma possibilidade psicoterapêutica, haja vista que nomear o que se sente e se ver legitimado concorre para a confiança e o auto suporte. Sentimentos muito escassos na escuta clínica de crianças. O sintoma infantil, geralmente vem ancorado no discurso de pais ou cuidadores, ansiosos e sem respostas, existe uma melancolia subterrânea que se apresenta no contato destes com o psicoterapeuta que elegeram para ser o fiel depositário de suas inquietações e segundo eles próprios: ”seus fracassos”. Há uma ambivalência entre o pedido de ajuda e uma atitude de quem já sabe a resposta. O sintoma de um filho no campo familiar é sempre a representatividade de uma totalidade disfuncional, e os pais ora se colocam no lugar de quem sabe, ora de quem nega, e negando buscam culpados; a televisão, a escola, a crise financeira e profissional, pois se implicar como coparticipe dos sintomas do filho é por demais doloroso. Sendo assim requer uma sensibilidade impar do psicoterapeuta, para que este possa frustrar as investidas de manipulação e culpabilização da criança e de terceiros, mesclados de um acolhimento ao derradeiro reconhecimento de que amar os filhos não basta, é preciso muito mais, e geralmente um mais que é da natureza do não sabido P. H. G. (1997) apontam para a seguinte máxima: “a lei básica da vida é auto preservar-se e crescer”, o que implica dizer que toda criança tem em si uma tendência voltada para o desenvolvimento de suas potencialidades, mas para tal requer um ambiente que possa lhe oferecer respeito, proteção, e acima de tudo orientação de como deslocar-se em um mundo desconhecido. Tarefa que os pais ainda se sentem pouco aptos a desempenhar. Cabe perguntar: quem desempenhou com eles esta tarefa? Neste mini curso iremos refletir sobre o sintoma como uma forma de ajustamento de um campo total, de uma família que anseia por uma melhor forma e de uma criança que representa em seu corpo, em seu sintoma um pedido genuíno de socorro. Bibliografia PERLS, F.; HEFFERLINE, R. GOODMAN, P. Gestalt-Terapia. Trad. Fernando Rosa Ribeiro. São Paulo: Summus, 1997. MILLER, A. O Drama da Criança Bem Dotada: como os pais podem formar (e deformar) a vida emocional dos filhos. São Paulo: Summus, 1997.

Publicado

2012-09-06