PN 04: INTERLOCUÇÃO ENTRE GESTALT-TERAPIA E DANÇA
Resumo
PN 04: INTERLOCUÇÃO ENTRE GESTALT-TERAPIA E DANÇA Mariana Luiza Becker da Silva Andressa Melina Becker da Silva RESUMO A dança como forma de comunicação não verbal, expressa os sentimentos internos de forma a externalizá-los. Com ela o indivíduo consegue perceber seu eu e trazer a auto-realização para o momento presente. Passa-se a aceitar a si e aos outros de maneira natural. Compreende-se, pela auto-regulação as gestaltens em aberto e assumindo-se como responsável por suas ações, pode-se propor de maneira criativa soluções para o fechamento das mesmas. Ampliando a consciência no processo de awareness o indivíduo poderá se assumir e aceitar a responsabilidade por suas próprias escolhas. Assim, a dança tem fundamentações na Gestalt-Terapia e pode ser utilizada em processo terapêutico. Palavras-Chave: Dança; Expressão; Gestalt-Terapia. PROPOSTA A dança, mesmo que não estruturada, existe desde os primórdios da existência humana. Ela é considerada para todos os povos, em todos os tempos, um meio de comunicação e expressão. Este se materializa através dos movimentos dos corpos, organizados em sequência significativa, e de experiências que transcendem o poder das palavras e da mímica. É um modo de existir, pois representa a magia, religião, trabalho, festa, amor e morte. Os homens dançaram e continuam dançando em todos os momentos solenes de sua existência (GARAUDY, 1980). Dançar representa uma disponibilidade que se tem com o mundo ao seu redor, uma abertura para a vida, repleta de significações. Mas a dança merece respeito, pois pode ser trabalhada em contexto terapêutico. A dança para a maioria das pessoas é sinônimo de código (ballet clássico, moderno, contemporâneo), de coreografia pronta ou de estilo musical (funk, rap, reggar, street dance) características atribuídas que são cristalizadas pelas relações com a mídia. Para contrapor essa mensagem errônea, é necessário discutir e problematizar a necessidade de códigos externos, trabalhando com processos criativos em Dança. Estes permitirão ampliar o vocabulário de movimentos e torná-los um valioso instrumento para a comunicação e terapia. Se um indivíduo fica preso em passos e técnicas ele não desenvolverá a criatividade, nem na dança, nem na vida. O indivíduo precisará expressar seus sentimentos através da dança e só conseguirá fazer isso com êxito, a partir do momento em que for livre para fazer isso. O terapeuta dará suporte para seu desenvolvimento, mas cabe o julgamento do próprio cliente se está ou não saudável, se está melhorando seus conflitos ou não. Esta é a principal interligação entre a Gestalt-Terapia, o Existencialismo, a Fenomenologia e a Dança. A mistura entre razão e sensibilidade que o trabalho de Dança proporciona, através da terapia corporal do movimento, é essencial para atingir a compreensão dos processos intuitivos. Essa linguagem não verbal contagia o corpo (que é o que vejo no outro e em mim) exterioriza a alma (é o que sinto, misturado com o que penso, imagino, quero, desejo, temo..., todas elas fundamentalmente ligadas e dependentes do corpo)(GAIARSA,1995). Ela nasce da necessidade de comunicação com o transcendental, de conhecer o desconhecido, de estar em relação com o outro. É uma das raras atividades humanas em que o homem se encontra totalmente engajado com o corpo, espírito e coração (GARAUDY, 1980). Buscando a história da Gestalt-terapia, percebem-se as influências das artes na sua formação e ai está presente uma das associações da abordagem terapêutica com a dança. “Os conceitos básicos da Gestalt são filosóficos e estéticos”, afirma Laura Perls (1992, p.149). Ela e Paul Goodman são responsáveis por trazer uma preocupação com a natureza da arte para formular a Gestalt-Terapia, uma abordagem plantada firmemente em um contexto de valores estéticos tanto quanto de idéias psicológicas (Miller, 1980). A Gestalt-Terapia foi concebida por pensadores e clínicos que eram envolvidos em disciplinas artísticas, tais como literatura, música, dança e teatro (Alvim, 2006). Eles “encontraram nas artes uma visão de funcionamento ideal, a qual eles estenderam a toda atividade humana. Essa visão tornou-se a sua medida de saúde e doença e guiou sua prática em psicoterapia” (Miller, 1980, p.86). Laura Perls afirmou que a terapia é mais arte que ciência, no sentido de que necessita de muita intuição e sensibilidade e que vai muito além de uma abordagem associativa. Para ela, “ser um artista é funcionar de modo holístico” (Perls, 1992, p.20). Então, compreendendo o fenômeno expressivo dessa maneira, a unificação inerente a ele dispensaria interpretação, pois ela própria fornece a compreensão. De fato, segundo Pareyson (1966, p. 61), o que acontece em arte é que não há forma que não seja conteúdo, e conteúdo que não seja forma; o resultado artístico é um conteúdo expresso em forma e, “precisamente porque o artista resolveu toda vontade expressiva, significativa e comunicativa no fazer, no gesto formativo, na atividade operativa... por isso tudo, em arte, até a coisa aparentemente irrelevante diz, significa, comunica alguma coisa”. A conseqüência da entrega na dança é a auto-realização, satisfação plena do conhecer seu eu, de conhecer suas potencialidades físicas e saber do que é capaz. Esta realização ocorre após o experimento corpóreo feito, pelo experimento dos diferentes ritmos, pois as diferenças nas aulas contribuem para o conhecimento holístico do ser que dança, que através deste descobre qual a melhor maneira de realizar-se através de movimentos. Logo diálogos internos passam a ser estabelecidos com mais freqüência e clareza, começando o bailarino (ou cliente em terapia) a entender sua própria mensagem, pois, seus movimentos passam a ter mais sentido, é a cinética que entra em ação. Cada movimento corresponde a uma palavra, afirma Fux (1996, p.10). Fux (1998) neste contexto, afirma que dançando de dentro para fora e reconhecendo-nos através de nossos corpos, sentimo-nos melhor. Primeiro nos aceitamos e depois aos outros. A dançaterapia é um caminho aberto para a integração total, já que o corpo assim estimulado faz aparecer áreas adormecidas que nos transformam; ao expressá-las, representamos nosso mundo oculto e nos sentimos melhor. O corpo não mente quando fala e usando da linguagem não-verbal mostra um mundo desconhecido e valioso, uma vez que liberto dos paradigmas sociais colocados sobre ele, sua função é enaltecida. Os sentimentos originados da descoberta de si certamente assemelham-se à superação, poder, libertação, euforia, sensibilidade e aceitação. A expressão dos sentimentos através da dança pode gerar mudanças na dinâmica do cliente de maneira saudável, ou seja, não é que ele se tornará o que deveria ser, mas sim, através da conscientização, o indivíduo poderá assumir a responsabilidade de seus atos e terá consciência dos mesmos, afinal, mudar é tornar-se o que se é. Se a pessoa tiver a capacidade de sentir o que passa dentro dela e fora, distinguindo isso no momento presente, ela conseguirá indicar qual sentimento lhe ocorre e em que direção de move. O terapeuta convidará o cliente a experimentar esse sentimento de forma profunda, para que se aproprie do mesmo (POLSTER & POLSTER, 2001). Uma das formas de a pessoa experimentar se sentir é através da dança. O corpo servirá de interlocução entre o interno e o externo. Através da movimentação pela dança, o indivíduo poderá vivenciar o aqui-e-agora, buscando a auto-regulação, a conscientização, o equilíbrio entre corpo, alma e mente, para que deste encontro existencial interpessoal possa-se fechar as gestaltens anteriormente abertas. Ampliar-se-á a consciência no processo de awareness e o indivíduo poderá assumir e aceitar a responsabilidade por suas próprias escolhas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVIM, M. B. Experience esthétique et corporeité. In Jean-Marie Robine (Org.). La psychothérapie comme esthétique [p.43-54]. Bordeaux: LÉxprimerie, 2006. FUX, M. Formação em Dançaterapia. São Paulo: Summus, 1996. __________. Dançaterapia. Cannabrava. 3.ed. São Paulo: Summus, 1998. GAIARSA, J.A. O que é corpo. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. GARAUDY, R. Dançar a vida. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. MILLER, M. V. Notes on Art and Symptoms. The Gestalt Journal, v. 3, N. 1, p. 86-98, 1980. PAREYSON, L. Os problemas da estética. São Paulo: Martins Fontes, 1966. PERLS, L. Living at the boundary. New York: The Gestalt Journal Press, 1992. POLSTER, E.; POLSTER M. Gestal-terapia integrada. São Paulo: Summus, 2001.Publicado
2014-09-19
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