TL 25: AJUSTAMENTOS CRIATIVOS NA INFÂNCIA ATRAVESSADA PELO ESPECTRO AUTISTA - UM OLHAR GESTALTICO

Autores

  • Vanessa Miranda Santos de Paula Carneiro
  • Cláudia Lúcia de Oliveira Pereira Pinto

Resumo

TL 25: AJUSTAMENTOS CRIATIVOS NA INFÂNCIA ATRAVESSADA PELO ESPECTRO AUTISTA - UM OLHAR GESTALTICO Vanessa Miranda Santos de Paula Carneiro Cláudia Lúcia de Oliveira Pereira Pinto RESUMO O presente artigo aborda o Espectro Autista à luz da Gestalt-Terapia, através de revisão bibliográfica e articulação dos conceitos de ajustamento criativo, bloqueio de contato e os sintomas caracterizados pelo saber médico, ampliando o olhar acerca da temática, de modo a auxiliar a inserção de psicoterapeutas infantis em equipes multiprofissionais, bem como problematizar as possíveis intervenções na clínica. Palavras-chave: ajustamento criativo, espectro autista, bloqueio de contato INTRODUÇÃO Segundo a Academia Americana de Neurologia (AAN), nas duas últimas décadas tem sido verificado crescente número de crianças diagnosticadas como portadoras de Autismo/Espectro Autista (EA) de etiologia desconhecida, mas com influências genéticas e ambientais. As autoras visam refletir sobre o EA à luz da Gestalt-Terapia (GT), propondo uma nova perspectiva para este modo de ser-e-estar-no-mundo; divulgar a temática, a fim de facilitar a inserção do psicoterapeuta infantil em uma equipe multiprofissional e reconhecer as consequentes demandas que surgem na clínica, visto que os sintomas médicos relatados serão problematizados enquanto ajustamentos criativos realizados pelos indivíduos. METODOLOGIA Foi realizada revisão bibliográfica (“Google Scholar”) com os critérios: artigos publicados entre 2007 e 2012, com pelo menos um resumo; palavras-chave: “ajustamento criativo”, “ajustamento psicótico”, “autismo”, “Gestalt-Terapia”. Foram utilizados também materiais do acervo pessoal das autoras, como livros e artigos anteriores ao ano de 2007. Não foi encontrado nenhum material que correspondesse totalmente ao intuito do presente artigo, visto ser um assunto pouco explorado na Gestalt-Terapia e tratado, em geral, como um ajustamento do tipo psicótico, sem maiores aprofundamentos. AUTISMO X ESPECTRO AUTISTA Para a AAN, o que atualmente é conhecido por “Autismo” pelo público leigo é denominado “espectro autista”, sendo dividido em dois subtipos: Autismo e Asperger. Apesar de algumas diferenças, ambas são caracterizadas por dificuldade de interação social e comunicação verbal, além de comportamentos repetitivos e ideias fixas. Há diversos níveis de comprometimento biopsicossocial: há crianças que não falam (Autismo), em contraste com as que possuem fala bem desenvolvida, de vocabulário rebuscado para a idade, porém com palavras utilizadas sem entendimento total do significado (Asperger). Não há cura para o EA e a recomendação é de uma intervenção interdisciplinar precoce. Segundo o DSM-IV-TR (2002), a prevalência do Autismo é de 15 casos em cada 10.000 indivíduos, sendo a incidência 5 vezes maior no sexo masculino. Com relação ao Asperger, os dados são variáveis – podendo chegar até a 1 para cada 500 crianças nascidas. (AAN) PANORAMA A maioria dos autores estudados enfoca as deficiências provenientes do espectro autista, ao invés de vislumbrar as qualidades, interesses e potenciais da criança. (CRISTO,2009). Logo, a intervenção realizada costuma ser pautada no rótulo “patológico”, o que possibilita a super-exposição a estímulos sensoriais, sendo um fator estressor para a criança – a qual, muitas vezes, possui uma hiper ou hipo sensibilidade em determinada área, como a audição e pode ter respostas incomuns para o padrão socialmente aceito. (BOSA, 2006) Este elemento estressor pode ser proveniente tanto da ação dos parentes, quanto de programas específicos para desenvolvimento de habilidades, os quais consistem em envolver os familiares e a criança em uma rotina de até 7 horas diárias de trabalho com a mesma.(LAMPREIA, 2007) AJUSTAMENTO CRIATIVO, BLOQUEIO DE CONTATO E SINTOMAS DO ESPECTRO AUTISTA Pelo fato de cada indivíduo ser único, não há um padrão de ajustamento criativo, devendo ser consideradas a história da pessoa e o contexto. As questões abordadas a seguir são conceitos norteadores para a intervenção realizada pelo psicoterapeuta. Ajustamento Criativo é o processo de buscar soluções disponíveis em si, no meio ambiente - ou em ambos - para a auto-regulação organísmica através do ciclo do contato. (RIBEIRO, 2006). Portanto, ainda que, para se auto-regular, o indivíduo modifique sua necessidade original quando não encontra amparo nas configurações atuais do meio, trata-se de um modo coerente e válido. (ANTONY, 2009) Ribeiro (1997) afirma que a teoria do “Ciclo do Contato” pode ser utilizada como uma forma de problematizar a psicopatologia do sintoma, o psicodiagnóstico e, consequentemente, o prognóstico, no qual o objetivo final seria o processo de mudança. Logo, os conceitos da GT podem ser relacionados a sintomas do EA, como definidos a seguir. A introjeção (RIBEIRO, 1997 e POLSTER;POLSTER, 2001) pode ser evidenciada no uso de vocabulário rebuscado para a idade da criança, o qual é desprovido de sentido para o emissor, pois é uma fala mecânica, aprendida por meio da observação. (BOSA, 2006) Há também um fraco grau de diferenciação entre o “eu” e o outro (POLSTER; POLSTER, 2001 e BOSA, 2006), visto que, ao se comunicar, não sabe expressar essa diferença, referindo-se a si mesmo na terceira pessoa e/ou confundindo os pronomes. Não se trata de uma dificuldade de aprendizagem do idioma, pois – em geral – não há déficit cognitivo. (DSM-IV-TR, 2002 e BOSA, 2006) Os comportamentos ditos “desafiadores”, movimentos agressivos e repetitivos, podem ser um indicativo de Retroflexão (POLSTER; POLSTER, 2001 e BOSA, 2006), visto que, em geral, há uma dificuldade de expressar o que está sentindo. Antony e Ribeiro (2004) relatam que uma ação motora excessiva que ocorre concomitante com a atenção difusa também pode ser um tipo de deflexão. Segundo Ribeiro (1997), uma das características da Confluência é o fato do indivíduo prezar pelo grupo, tentar agradar os outros que estão à sua volta. Apesar de pouco conhecido e contrário ao estereótipo do Espectro Autista, há uma necessidade de exercer a sociabilidade – a qual ocorre de modo repetitivo/mecânico ou sem muito embasamento em padrões sociais, ainda que haja o intuito de ser agradável. (BOSA, 2006) Além de existir, em certos casos, uma alteração sensorial e perceptual (LAMPREIA, 2003), é possível perceber uma dessensibilização (RIBEIRO, 1997) à medida em que a fala não é modulada por emoções na maioria das situações, dando a impressão de apatia e monotonia para quem escuta. (CRISTO,2009). A fixação (RIBEIRO,1997) é notada através do apego à rotinas (e o sofrimento que as mudanças causam), bem como sintomas obsessivo-compulsivos. (BOSA, 2006) CONCLUSÃO Apesar do entendimento do EA à luz da GT ainda ser limitado, como ficou evidenciado na revisão bibliográfica, as autoras articularam o saber médico com o saber gestáltico, enfatizando a importância do conhecimento mais aprofundado sobre a temática. Dada a crescente incidência deste distúrbio e a necessidade de adotar diretrizes diferenciadas no atendimento psicoterapêutico a estas crianças, o profissional poderá melhorar a qualidade de vida das mesmas e de seus familiares, enfocando os aspectos positivos e minimizando os sintomas que as estigmatizam. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS American Academy of Neurology. Autism. Disponível em . Acesso em 16 mai 2012. ANTONY, S. M. R. Os ajustamentos criativos da criança em sofrimento: uma compreensão da gestalt-terapia sobre as principais psicopatologias da infância. Estudos e pesquisas em psicologia, UERJ, Rio de Janeiro, ano 9, n.2, p.356-375, 2º semestre de 2009. ANTONY, S.; RIBEIRO, J.P. A Criança Hiperativa: Uma Visão da Abordagem Gestáltica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v.20, n.2, p.127-134, Mai-Ago 2004. American Psychiatric Association (2000). Transtornos Globais do Desenvolvimento. DSM-IV-TR: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Trad sob responsabilidade de Cláudia Dornelles. 4ª Ed rev, Porto Alegre: Artmed (2002). p.98–111. BOSA, C.A. Autismo: Intervenções psicoeducacionais. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 28(Supl I), p.47-53, 2006. CRISTO, D.A. A construção de uma relação de ajuda com portadores da síndrome do autismo. Revista do NUFEN, ano 01, v.1, p.79-92, 2009. LAMPREIA,C. Avaliações quantitativa e qualitativa de um menino autista: uma análise crítica. Psicologia em Estudo, Maringá, v.8, n.1, p. 57-65, 2003. LAMPREIA, C. A perspectiva desenvolvimentista para a intervenção precoce no autismo. Estudos de Psicologia, Campinas, v.24, p.105-114, 2007. POLSTER, E.; POLSTER, M. (1973). Gestalt terapia integrada. Trad. Sob a direção de Sônia Augusto. São Paulo: Summus, 2001. 321p. RIBEIRO, J. P. O ciclo do contato: temas básicos na abordagem gestáltica. 2 ed. São Paulo: Summus, 1997. 102 p. RIBEIRO, J.P. Vade-mécum de Gestalt-terapia: conceitos básicos. São Paulo: Summus, 2006. 184p.

Publicado

2014-09-18