TL 06: EU E VOCÊ JUNTOS PARA SEMPRE? A CONFLUÊNCIA NAS RELAÇÕES

Autores

  • Ana Paula Meda
  • Suelen Pimentel Regueiro Cernadas

Resumo

TL 06: EU E VOCÊ JUNTOS PARA SEMPRE? A CONFLUÊNCIA NAS RELAÇÕES Ana Paula Lopes Mêda Suelen Pimentel Regueiro Cernadas RESUMO Este trabalho visa discorrer sobre a confluência presente nas diversas relações tanto em sua forma saudável quanto em sua forma disfuncional. Para entender esse processo, consideramos a importância do indivíduo reconhecer suas próprias necessidades, se tornar consciente do que é seu e do que é do outro, experimentando assim a possibilidade de um contato saudável. O “nós” pode ser aceito quando lhe convém como possibilidade de crescimento. Assim, o indivíduo pode escolher utilizar a confluência como recurso criativo. Palavra chave: Confluência. Contato. Criatividade (Ajustamento Criativo). PROPOSTA Para a Gestalt-terapia as interrupções no ciclo de contato são ajustamentos possíveis em dado momento e, neste sentido, podem ser saudáveis. Quando essas interrupções deixam de ser adotadas em situações emergenciais e passam a ser utilizadas de forma indiscriminada temos uma forma habitual neurótica. Esse trabalho visa discorrer sobre a confluência presente nos relacionamentos, tanto em sua forma saudável quanto em sua forma disfuncional. Segundo Mezzara (2006, p. 156), “o contato é estabelecido para que o indivíduo possa satisfazer uma necessidade ou fechar uma figura, e após obter esse resultado existe uma retração para que surja nova necessidade, novo contato, assimilação e retração”. Na confluência, o indivíduo não é capaz de identificar suas próprias necessidades, não se percebe como diferente e não sabe o que é seu e o que é do outro, perdendo sua identidade pelo medo de ser diferente e pela necessidade de fusão. “A função que sintetiza a necessidade de união e de separação é o contato” (Polster & Polster, 2001, p. 111). O contato só ocorre com o diferente, com o novo e é uma possibilidade de crescimento. Para que uma relação seja saudável, a diferenciação se faz necessária e isso envolve consciência de si e da relação que se estabelece com o mundo e com os outros. Significa “presença consciente do meu eu-no-mundo-com-o-outro” (Antony, 2010). Segundo Polster & Polster (2001, p. 106), “A confluência é uma corrida para quem tem três pernas, organizada entre duas pernas que concordam em não discordar. É um contrato não expresso, muitas vezes com cláusulas ocultas e letras pequenas que talvez sejam conhecidas apenas por um dos sócios”. Os envolvidos mantêm acordos não discutidos e não esclarecidos previamente, procurando cumpri-los fielmente apesar de desconhecê-los. Quando há o descumprimento de alguma cláusula desse “contrato” e alguém se permite sair da confluência surge, geralmente, um sentimento de “culpa por parte de quem não agiu como fantasiou que o outro desejaria” (Rodrigues, 2009, p. 124). Pessoas que vivem relações confluentes tendem a supervalorizar a concordância e a semelhança a fim de evitar conflitos. O organismo mantem a retração como forma de evitar contatar a diferença, evitando assim o surgimento da discordância. Pelo medo do confronto, se gasta menos energia e o contato se torna incompleto ou fraco. O individuo aceita o que o outro pede e não reclama. Sentimentos como raiva, confusão, retração ou opressão são comuns e com isso o contato acaba não acontecendo de forma saudável. Por outro lado, existem momentos em que a confluência é necessária. Contanto que seja temporária e consciente, ela pode ser considerada um ajustamento criativo. Por exemplo, quando os pais concordam na educação de seus filhos; quando um casal faz uma viagem internacional e apenas uma das partes domina o idioma; ou quando um dos indivíduos está imerso em um projeto de trabalho podendo deixar que a outra parte decida a rotina do casal. Nesses casos, há o surgimento e reconhecimento de novas necessidades e os indivíduos podem experienciar diferentes formas de se relacionar. Na experiência clínica percebemos muitos casos de relações confluentes. O confluente acaba por buscar uma parceria para se estruturar e manter-se como tal. “Ocorre então o ‘encaixe’ de papéis, pois se há pessoas que se submetem aos outros, é porque há outros que desejam submeter pessoas.” (Rodrigues, 2009, p. 124). Como discutido anteriormente, quando a indiferenciação do indivíduo é temporária pode ser saudável. Porém, quando a confluência se torna crônica, o individuo tornar-se incapaz de perceber onde um começa e o outro termina. Não tendo consciência de si ele não faz contato com o outro. Segundo Zinker (2007, p. 218), “com frequência, pessoas ligadas por vínculos profundos se perdem nos limites psicológicos uma da outra, chegando inclusive a ficar parecidas. Sempre que dois limites claramente entram em atrito, os indivíduos experienciam um sentimento vibrante de contato”. E, “todo contato é ajustamento criativo do organismo e ambiente” PHG (1997, p. 45). A partir do momento em que percebemos nosso incômodo e aceitamos fazer diferente, podemos usar nossa criatividade para obter um novo significado para a confluência. É importante, durante o processo psicoterapêutico, que as fronteiras do eu sejam trabalhadas a fim de que possam estar mais delimitadas, onde cada um no seu ‘território’ consiga reconhecer seus limites, possibilitando se relacionar de uma forma benéfica para ambos, com um maior conhecimento do que é seu e do que é do outro. Trabalhar a confiança e segurança em si é uma importante forma de se libertar da confluência sem temer sentir-se abandonado ou dissoluto. O indivíduo pode, então, aceitar a diferença do outro para ser leal a si e, ainda sim, conviver com o antigo de forma crítica e inteligente. Porém, quando o processo de conscientização se inicia podem surgir sentimentos como culpa, raiva de si mesmo e/ou ressentimento, pois o indivíduo começa a reconhecer que faz pelo outro e não por si. A partir desse momento, observa-se que a confluência começou a ser perturbada. O contínuo reconhecimento e aprendizado de seus limites/diferenças individuais pode ajudar a resolver muitas frustrações causadas pelo desconhecimento do outro. Portanto, estar mais aware de como você está se relacionando com o outro e aceitar o ‘nós’ quando lhe convém são possibilidades de crescimento. Perls (1977) compôs a célebre oração da Gestalt, que se encaixa perfeitamente com o que acabamos de abordar no trabalho: “Eu faço minhas coisas, você faz as suas Não estou neste mundo para viver de acordo com suas expectativas. Você não está neste mundo para viver de acordo com as minhas. Você é você, eu sou eu. Se por acaso nos encontrarmos, é lindo. Se não, nada há a fazer”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTONY, S. A criança em desenvolvimento no mundo: um olhar gestáltico. IGT na Rede, Vol. 3, Número 4, 2006. MEZZARA, A. M. K. E a Gestalt ermerge. Vida e obra de Frederick Perls. São Paulo: Altana, 2006. PERLS, F.S. Gestalt-terapia explicada. São Paulo: Summus, 1977. PERLS, F.S; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997. RODRIGUES, H. E. Introdução à Gestalt-terapia: conversando sobre os fundamentos da abordagem gestáltica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. POLSTER, E.; POLSTER, M. Gestalt-terapia integrada. São Paulo: Summus, 2001. ZINKER, J. Processo criativo em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2007.

Publicado

2014-09-18