WR 13: TRABALHO COM O CORPO: INTEGRAÇÃO DOS MÉTODOS DIALÓGICO E EXPERIENCIAL

Autores

  • Eliane de Oliveira Farah

Resumo

WR 13: TRABALHO COM O CORPO: INTEGRAÇÃO DOS MÉTODOS DIALÓGICO E EXPERIENCIAL Eliane de Oliveira Farah RESUMO A vivência corporal será descrita como instrumento básico do método experiencial que por sua vez será compreendido como, necessariamente, complementar ao método dialógico. A relação dialógica entre o terapeuta e o cliente e o diálogo do cliente com o próprio corpo serão apresentados como uma integração legítima de métodos, capaz de abranger todo o processo de desenvolvimento do self, uma vez que o mesmo dá-se na relação do organismo com o ambiente. Para tal, serão propostos exercícios de consciência corporal e integração dos dois métodos referidos. Palavras-chave: corpo, método dialógico, experimento. PROPOSTA Ter a Fenomenologia e o Holismo como bases, indica que a GT enfatiza o fenômeno tal qual ele acontece aqui-agora, o que implica que em termos práticos é a experiência imediata do corpo que expressa o agora e como da realidade organísmica. Também devemos levar em conta que para a GT o self é conceituado como um sistema de contatos na fronteira organismo/ambiente e: “integra sempre funções perceptivo-proprioceptivas, funções motor-musculares e necessidades orgânicas. (...) Expressando isso de outra maneira: é o órgão sensorial que percebe, é o músculo que se movimenta, é o órgão vegetativo que sofre de um excedente ou de um déficit; mas é o organismo-como-um todo em contato com o ambiente que é consciente, manipula e sente.” (PHG, 1997 p.179-180) Isso significa que entender o organismo como um todo não significa menosprezar suas partes e sim abordá-las como integradas a um todo e em interação com o ambiente. É do conhecimento de qualquer gestalt-terapeuta o fato de que o ciclo de contato, isto é, a sequência de ajustamentos que o organismo precisa fazer em busca da auto-regulação, é iniciado pela emergência de uma necessidade, o que só é possível pela consciência das sensações. PHG (1997) descrevem esse momento, o contatar, como sendo a passagem da função conservadora de autorregulação do organismo (fisiologia) para a função de ajustamento criativo do self. O fundo, de onde as figuras emergem, vai se deslocando do organismo para o ambiente, até que no momento do contato organismo e ambiente formam uma totalidade. Uma vez que é a consciência das sensações que permite direcionar os movimentos de ajustamentos criativos do organismo e seu campo, para a assimilação da novidade e crescimento do organismo, e uma vez que é no corpo que as sensações se mostram como figuras, é de extrema importância a atenção sobre as excitações ou pré-contatos. Portanto, investigar o como e para quê a consciência das sensações é interrompida é essencial para o processo de contatar. PHG (1997) chamam a atenção para esse aspecto: Assim, as situações fisiológicas inacabadas excitam com periodicidade a fronteira de contato devido a algum déficit ou excesso, e essa periodicidade se aplica a todas as funções, seja metabolismo, a necessidade de orgasmo, a necessidade de dividir, a de exercitar ou repousar etc.; e todas estas ocorrem no self sob a forma de anseios ou apetite, fome, ânsia de excretar, sexualidade, cansaço etc. p.206 Quanto maior o grau de neurose da pessoa, tanto mais suas situações fisiológicas se manterão inacabadas, fato decorrente da fixação em esquemas obsoletos de tentativas de autorregulação, isto é, na confluência neurótica, num “apego a um comportamento consumado para obter satisfação, é como se a nova excitação fosse roubá-lo” (PHG, 1997 p.252), evitando assim a experiência do contato que trás a novidade e com isso ameaça os sistemas rígidos de ajustamentos. No pré-contato o self está diminuído e a função organísmica predominante é do id. É um estado de não-contato. Mente e corpo, organismo e ambiente se polarizam. Perls (1981) considera o ritmo de contato/fuga com o meio ambiente como componente principal do equilíbrio do organismo e defende que a imaturidade e a neurose implicam numa percepção imprópria do que constitui este ritmo ou uma incapacidade de regular seu equilíbrio. Segundo ele, as condições para realizar esse equilíbrio envolvem uma conscientização desobstruída da hierarquia de necessidades e isso, em última análise, só é possível através da consciência corporal. O principal objetivo da GT é o de ajudar o cliente a alcançar awareness, o que significa em termos práticos, que o cliente deve aprender a discriminar sensações e sentimentos, identificar quais necessidades estão relacionados a esses e se responsabilizar pela satisfação dessas necessidades. Do ponto de vista terapêutico, o experimento com o corpo não busca a interpretação da postura ou da tensão e sim o significado, o sentido desses, como tentativa de ajustamento criativo. Não visa à mudança da estrutura corporal, busca através da consciência da postura corporal a ampliação da awareness e a possibilidade do sujeito atualizar suas experiências organísmicas no aqui-agora e assim ajudá-lo a fazer escolhas mais congruentes com a sua busca de auto-regulação. É claro que a consciência corporal não é suficiente para a awareness, mas é somente a partir dela que a experiência autêntica do organismo pode ser revelada. Tampouco, estamos aqui enfatizando o Experimento em detrimento do dialógico, ambos os métodos são igualmente relevantes para a GT, mas sem o trabalho com o corpo a prática da GT se torna um eterno “falar sobre”. Sem o trabalho com o corpo a GT deixa de ser fenomenológica e passa a ser apenas existencial. Laura Perls apud Ginger (2007), afirma: Há um ponto que eu jamais sublinharei bastante: o trabalho corporal faz parte integrante da Gestalt-terapia. A gestalt é uma terapia holística – o que significa que ela leva em conta o organismo total e não simplesmente a voz, a ação, ou seja, lá o que for. p.124 Desse modo, a proposta do presente workshop é o de favorecer a experimentação de alguns exercícios de consciência corporal como tentativa de fortalecimento de uma atitude de valorização do trabalho corporal por parte dos gestalt-terapeutas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS GINGER, SERGE. Gestalt: a arte do contato. Petrópolis, Editora Vozes, 2007. PERLS, F. HEFFERLINE, R. GOODMAN, P. Gestalt-Terapia. São Paulo, Editora Summus, 1977. PERLS, F. Abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Rio de Janeiro, Zahar, 1981.

Publicado

2014-07-29