MC 9: NADA SERÁ COMO ANTES: A MORTE E O MORRER NA ATUALIDADE
Resumo
MC 9: NADA SERÁ COMO ANTES: A MORTE E O MORRER NA ATUALIDADE Mayla Cosmo RESUMO Apesar da inexorabilidade da morte, o ser humano tenta, desde todos os tempos, desafia-la e vencê-la em busca da imortalidade. Sua presença traz muito sofrimento, dor, ruptura e tristeza, e confronta-nos com o desconhecido. Seja na clínica ou em outros campos de atuação (hospitais, escolas, etc.) o gestalt-terapeuta se depara com situações que envolvem a morte, perdas e luto. Portanto, o objetivo deste curso é promover reflexão sobre as repercussões da morte e do morrer na práxis do gestalt-terapeuta Palavra Chave: morte, luto, gestalt-terapia PROPOSTA Morte e vida são dois lados da mesma moeda. A vida contém a morte e esta, encerra-a. Apesar de sua inexorabilidade, o ser humano tenta, desde todos os tempos, desafiar e vencer a morte em busca da imortalidade. A presença da morte na vida traz muito sofrimento, dor, ruptura e tristeza, e confronta-nos com o desconhecido. Essa morte pode ser experienciada através de separações, de doenças e da perda de pessoas queridas. Além disso, ao longo do desenvolvimento também experimentamos e enfrentamos algumas “mortes”, como a entrada na adolescência, casamento, nascimento do filho, mudanças de casa, de país, de status, etc. A reação emocional à perda e seu processo de elaboração constituem o processo de luto. Apesar de depararmo-nos constantemente com a morte, principalmente através dos noticiários, dificilmente pensamos em nossa morte ou na perda de algum ente querido. Prevalece o mecanismo de negação da morte, negação esta reforçada pelo desenvolvimento científico e tecnológico do século XX. Assim, em muitos casos, a morte deixou de ser natural e tornou-se um fenômeno complexo, gradual e até mesmo, reversível. A morte na atualidade é algo a ser adiado, não factível (Esslinger, 2004). Áries (1990), historiador francês, definiu as atitudes básicas do homem, ao longo do tempo, com relação à morte e caracteriza como morte invertida a representação de morte nos séculos XX e XXI, ou seja, a passagem do lugar de morte, que antes ocorria em casa, na presença da família, para os hospitais, já que esta passou a ser vista como inimiga oculta e interdita. Por um lado, assistimos ao processo de medicalização da morte, tendo o médico um papel central nos cuidados e nas decisões acerca dos momentos finais de vida (Adam; Herzlich, 2001). Esse processo traz implicações éticas, e a bioética surge como ramo de pesquisa e compreensão dos fenômenos complexos que envolvem tal campo. Temas como eutanásia, distanásia, ortotanásia, suicídio assistido, estão em alta atualmente. Por outro, vemos os grandes desastres (enchentes, tsunamis), as mortes violentas (terrorismo, atentados, homicídio, etc), que dizimam milhares de pessoas em um curto espaço de tempo, e somos assombrados por tais imagens. Dentro desse contexto, abrem-se diversas possibilidades para a atuação e intervenção do gestalt-terapeuta, seja na clínica, em hospitais, em instituições de saúde, nos locais de desastres, entre outros. A visão de totalidade do ser humano da GT (Perls, 1997) permite compreender a multidimensionalidade da experiência do sujeito relacionada à morte e ao morrer. Diversos aspectos devem ser considerados, como a cultura, as relações familiares, a personalidade do enlutado, sua religiosidade/espiritualidade, o tipo de morte, entre outros. Esses fatores vão contribuir na forma de ajustamento à situação de luto. Para a GT, o ser humano vai construindo diversas formas de estar e relacionar-se, denominadas de ajustamentos criativos, que podem se apresentar de formas mais ou menos saudáveis. Para melhor compreender a singularidade do sofrimento do cliente, é preciso entrar na experiência subjetiva deste - deixando de lado temporariamente nossa visão do mundo, conceitos, valores e preconceitos - e para tal, é necessário que o terapeuta assuma uma postura dialógica. Uma relação dialógica é pautada no diálogo autêntico, na presença genuína (Hycner; Jacobs, 1997). Yontef (1998) define o diálogo como um “conversar juntos”. Um diálogo existencial é o que acontece quando duas pessoas se encontram como pessoas, mesmo sem palavras; em que cada uma é “impactada por” e “responde ao” outro. O relacionamento dialógico é uma forma especializada desse contato mútuo. Nesse contato, a figura de interesse de ambas as partes é a interação com a outra pessoa. O dialógico acontece entre as pessoas envolvidas e o seu sentido está na interação. Portanto, o objetivo deste curso é promover reflexão sobre as repercussões da morte e do morrer na práxis do gestalt-terapeuta e pretende: - Instrumentalizar o gestalt-terapeuta para abordar pacientes e famílias enlutadas; - Discutir quais os ecos no terapeuta das vivências e experiências com morte e luto. Acredito que a reflexão sobre a morte do outro, bem como sobre a nossa própria morte, nos torna mais plenos diante da vida. Indubitavelmente, a experiência de perda, principalmente de um ente querido, deixa marcas profundas e promove muitas mudanças – nada será como antes. Mas, se encararmos as tragédias como chances ou oportunidades de crescimento, podemos descobrir seu potencial de transformação. Elizabeth Kubler-Ross (2012), famosa mundialmente por seus estudos acerca da morte e do morrer, ressalta que “ a morte é o maior prazer que nos aguarda. Nunca deveríamos nos preocupar com ela, mas sim com o que fazemos hoje. Se hoje fizermos a melhor escolha em tudo, não apenas em nossos atos, mas também em nossas palavras e em nossos pensamentos, então teremos uma experiência incrivelmente feliz no momento da morte”. BIBLIOGRAFIA ADAM, P; HERZLICH, C. Sociologia da doença e da medicina. São Paulo: EDUSC, 2001 ARIÈS, P. O homem diante da morte. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990 ESSLINGER, I. De quem é a vida afinal? Descortinando os cenários da morte no hospital. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004 HYCNER, R. & JACOBS, L. Relação e cura em gestalt-terapia. São Paulo: Summus Editorial, 1997 KUBLER-ROSS, E. O túnel e a luz: reflexões essenciais sobre a vida e a morte. 4a Ed. Campinas, SP: Verus Editora, 2012 PERLS, F. ; HEFFERLINE e GOODMAN, P. . Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997 YONTEF, G. M. Processo, Diálogo e Awareness. São Paulo: Summus Editorial, 1998Publicado
2014-07-29
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Seção
Mini-cursos