MC 4: O LUGAR DA FAMÍLIA DIANTE DO ABUSO SEXUAL INFANTIL, SOB A ÓTICA DA GESTALT TERAPIA

Autores

  • Gilberto Fernandes da Silva

Resumo

MC 4: O LUGAR DA FAMÍLIA DIANTE DO ABUSO SEXUAL INFANTIL, SOB A ÓTICA DA GESTALT TERAPIA Gilberto Fernandes da Silva RESUMO Vivemos numa época em que a informação circula com espantosa velocidade. Entretanto alguns temas continuam superficiais ou ocultos, envoltos por “camadas de tabus e preconceitos. O lugar da família diante do abuso sexual infantil é um desses pontos obscuros e pouco discutido. O presente trabalho visa, sob a ótica da gestalt terapia, jogar um pouco da luz do debate sobre o tema, na tentativa, não de esgotar, mas sim de chamar a atenção para essa questão que tanto aflige quem dela toma conhecimento. Palavras chaves: família, abuso sexual infantil, gestalt terapia PROPOSTA Vivemos numa sociedade que construiu e mantém o exercício de sua sexualidade, sob o controle de tabus e preconceitos, criando regras, normas e leis na tentativa de impedir ou minimizar a prática de certas condutas de cunho sexual. Dentre essas práticas temos o abuso sexual infantil. Esse tema afeta profundamente as pessoas que dele tomam conhecimento. Alem disso apresenta duas características marcantes: Ocorrem na maioria das vezes no interior da família e desperta fortes sentimentos de raiva, indignação, revolta e principalmente um sentimento de justiça, que as vezes beira as margens da punição. Os tabus e preconceitos que envolvem o tema afetam em maior ou menor grau, a todos os membros de nossa sociedade. Inclusive os profissionais de várias áreas do saber que irão atuam com esses casos. Nos dias atuais, qualquer cidadão mediano encontra, com certa facilidade, farto material sobre abuso sexual infantil na internet. Existem sites que, com base em pesquisas, apontam que a maioria dos casos de abuso sexual infantil ocorre dentro da família. Que o autor é uma pessoa muito próxima a criança, seja amigo ou profissional com obrigação de cuidado e proteção. Que o tema em nossa sociedade é envolto pelo tabu do incesto. Que é um crime bem democrático, manifestando-se em todos os níveis sociais, intelectuais e financeiros. Entretanto não é fácil encontrar espaços que discuta de forma ampla, sincera e aberta o presente tema, bem como suas consequências, suas causas, seus efeitos a curto, médio e longo prazo sobre a vítima e seus familiares. Nem na internet, nem em centros acadêmicos formadores de opinião. Não se joga a luz do debate, do consenso, da desmistificação sobre esse tema milenar que tanto nos mobiliza emocionalmente. Só para efeito de comparação a AIDS, surgiu na mídia, em meados da década de 80. Na época dizia-se que os homossexuais e prostitutas eram grupo de risco. O “aidético” morria cedo e era muito discriminado pela sociedade. Os homossexuais e prostitutas que sempre sofreram com a discriminação e preconceito, se viram de uma hora para outra mais expostos e vulneráveis. Hoje, cerca de 25 anos depois, o soro positivo, não mais “aidético”, leva uma vida normal e os homossexuais e prostitutas deixaram para trás um momento desconfortável de suas histórias. E quanto ao milenar abuso sexual o que mudou? O que se discutiu? O que se avançou na forma de identificar, prevenir e no cuidar das pessoas que o vivenciaram de forma direta ou não? O presente trabalho terá a pretensão de jogar um pouco da luz do debate sobre o tema, discutindo o lugar e papel da família nos casos de abuso sexual infantil. Terá como base os fundamentos teóricos filosóficos da gestalt terapia e o trabalho realizado por 10 anos, em unidades especializadas da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, onde realizava entrevistas psicológicas com supostas vítimas de abuso sexual. A gestalterapia percebe o homem numa posição central em relação aos outros seres vivos, sendo o único responsável pela sua existência e em constante processo de individualização e interação com o meio ambiente, numa busca idealizada de sua auto-regulação organísmica ou na vivencia real de seu ajustamento criativo. Com base nessa visão holística de homem, sempre inserido em seu meio social, foi possível perceber que escutar e dar voz ao sofrimento das mães poderia ser uma forma de auxiliar à família a melhor lidar com o incesto sob vários aspectos. Essa nova forma de perceber a questão suscitou alguns questionamentos, no decorrer do processo psicológico. Foram eles: Qual o lugar da mãe numa relação incestuosa? Ela teria, conscientemente ou não, algum tipo de envolvimento? Como ficaram as relações familiares após a revelação do abuso sexual? A mãe acolhia ou não o relato da criança? Quais sentimentos conscientes ou não, a mãe manifestava pelo companheiro ou marido suspeito do abuso? Tais sentimentos estariam atuando contra ou a favor da busca da verdade em relação aos fatos em apuração? A gestalterapia pode contribuir de forma positiva nesse processo? Com base no exposto acima, pretendo propor uma discussão e reflexão sobre a hipótese de que entrevistas psicológicas com mães de crianças vítimas de incesto, numa visão holística e contextualizada no meio social, acrescida de uma escuta acolhedora e uma postura de confirmação em relação aos seus sentimentos, possibilitaria uma reorganização familiar no sentido de facilitar o trânsito de emoções no seio da mesma, com vistas a uma superação de possíveis traumas e alterações comportamentais relacionados às vivências do abuso sexual. Para desenvolver as reflexões acerca do tema em pauta, será apresentado, num primeiro momento, um breve histórico do processo de construção da sexualidade ocidental, dando foco à relação entre família e abusos sexual, com destaque para a modalidade incesto. Num segundo momento serão apresentados os fundamentos teóricos filosóficos e conceituais que sustentam a teoria e a prática da gestalterapia. Espera-se que as reflexões e questionamentos possam contribuir com os debates sobre incesto infantil ao dar, de forma imparcial, ênfase as emoções e sentimentos vivenciados pelas mães dentro de uma interação incestuosa, não como uma forma de justificar, mas sim de entender. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÁRIES, PHILIPPE. A História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro; LTC, 1981 (Tradução de Dora Flaksman) DEL PRIORE, MARY. A História das Crianças no Brasil, São Paulo; Contexto, 2000. FURLANI, JIMENA. Mitos e tabus da sexualidade humana: subsídios ao trabalho em educação sexual. 2ª edição. Belo Horizonte; Autêntica, 2003 FURNISS, THILMAN. Abuso Sexual da Criança: Uma Abordagem Multidisciplinar, Manejo, Terapia e intervenção Legal Integradas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993 (Tradução: Maria Adriana Veríssimo Veronese). 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Publicado

2014-07-29