MR 5: A GESTALT-TERAPIA FAZENDO CONTATO COM A LIDERANÇA: AMPLIANDO POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO
Resumo
MR 5: A GESTALT-TERAPIA FAZENDO CONTATO COM A LIDERANÇA: AMPLIANDO POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO Italo Guerra Viegas RESUMO O presente estudo faz a interlocução entre a Gestalt-terapia e o exercício da liderança servidora. A postura do líder servidor contribui para humanizar as relações, bem como se assemelha, em diversos aspectos, com a do gestalt-terapeuta. No entanto, as diferenças subjacentes são mais significativas do que as semelhanças. Portanto, a postura gestáltica exige um grande esforço, pois estar a serviço do dialógico requer sacrifícios. Enfim, a despeito das inúmeras semelhanças, as diferenças apontam para uma maior complexidade da relação dialógica, denotando que o gestalt-terapeuta, a partir da postura existencial-fenomenológica, vai muito mais além do que o líder servidor. Diante disso, abre-se mais uma possibilidade de atuação, tendo em vista que a Gestalt-terapia possui ferramentas conceituais poderosas para intervir na capacitação de líderes no âmbito corporativo. Palavras-chave: líder servidor; Gestalt-terapia; Relação Dialógica. INTRODUÇÃO A Gestalt-Terapia vem ganhando espaço a cada dia e este trabalho visa contribuir para esse crescimento. O tema central está focado nas semelhanças e diferenças entre a postura gestáltica e o exercício da liderança servidora, destacando suas implicações práticas. Hunter (2006) pontua que três quartos das empresas nos Estados Unidos gastam, por ano, cerca de 15 bilhões de dólares no treinamento de funcionários que ocupam posição de liderança. No entanto, menos de 10% daqueles que participam promovem as mudanças de comportamento necessárias quando retornam para frente de suas equipes. A descrição que James Hunter, autor do Best-seller O Monge e o Executivo, fez sobre o exercício da liderança servidora possui vários conceitos que se assemelham aos existentes no âmbito da Gestalt-terapia. Diante disso, inicialmente, foi feita a interlocução entre a postura gestáltica e o conceito de liderança servidora, procurando semelhanças e diferenças, no sentido de destacar as ferramentas conceituais que a Gestalt-terapia possui para intervir nos processos grupais em outros contextos, bem como visualizar mais uma possibilidade de atuação do gestalt-terapeuta no âmbito corporativo. A GESTALT-TERAPIA E A LIDERANÇA SERVIDORA: DEFININDO LIMITES A influência construída a partir da presença do líder servidor denota a dimensão da dificuldade desse estilo de liderança. Ademais, Hunter (2004) menciona que o conceito de liderança servidora põe em cheque a eficácia dos métodos de liderança baseados na força e coerção. O contexto se transformou e as pessoas também. Portanto, há pouco espaço para esses métodos ortodoxos que desrespeitam a condição humana e suas idiossincrasias. Hunter (2006) questiona o caráter inato da liderança, dizendo que ser líder é uma simples questão de escolha. Diante do exposto, define o conceito de liderança como “[...] a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir objetivos comuns, inspirando confiança por meio da força do caráter.” (HUNTER, 2006. p. 18). Este autor complementa essa ideia, assinalando que este cenário incentiva as pessoas a tornarem-se as melhores que são capazes de ser. A missão do líder, portanto, é permeada pela necessidade imperativa de “[...] executar as tarefas enquanto se constroem os relacionamentos.” (HUNTER, 2004, p. 34) e encontrar o equilíbrio entre essas duas instâncias é o grande desafio a ser alcançado. Segundo Zinker (2001), pode-se dizer que o gestalt-terapeuta transcende às questões de conteúdo, na medida em que o processo é o foco. Essa postura é um grande diferencial. O amor é premissa básica do verbo servir e é definido como “paciência, bondade, humildade, respeito, generosidade, perdão, honestidade, compromisso.” (HUNTER, 2004, p. 78). No entanto, as posturas listadas não representam sentimentos, mas formas distintas de comportamentos. Vale ressaltar, que apenas alguns serão abordados neste trabalho. Neste momento, é preciso fazer uma análise criteriosa, pois a intenção não é fazer a simples transposição de conceitos entre uma teoria e outra. Afinal de contas, são dois referenciais que possuem raízes ideológicas distintas. Vale destacar, que as semelhanças, apesar de serem superficiais, são significativas. Diante disso, após ultrapassar essa camada superficial de similaridades, pode-se explorar o campo das diferenças, Ainda na esfera das semelhanças, a influência é um aspecto inegável inerente à atuação do líder e do psicólogo. Entretanto, Hunter (2004) defende a tese de que a liderança servidora é permeada por sacrifício e por servir. Essa postura é entendida como sacrifício em prol da satisfação das reais necessidades das pessoas e de um objetivo comum. É estranho pensar nos termos sacrifício e serviço em relação à atuação do gestalt-terapeuta, mas a Relação Dialógica lança uma luz que clarifica, afirmando que “Em uma abordagem dialógica genuína, parece-me que o terapeuta é o ‘steward’ do dialógico. Isso implica que, em sentido mais profundo, a individualidade do terapeuta está subordinada (ao menos temporariamente) a serviço do dialógico.” (HYCNER & JACOBS , 1997, p. 36-37, grifo nosso). A partir dessa postura confirmadora, pode-se dizer que ouvir o outro na sua inteireza, refletindo sua imagem através das intervenções, representa a árdua tarefa do gestalt-terapeuta. A condição de bom ouvinte está associada ao que Hunter (2006) classificou de atitude de bondade, que é definida como sendo a habilidade de prestar atenção nos outros e, a partir disso, apreciar e incentivar as características que se apresentam. O bom ouvinte possui condições de estabelecer uma relação empática. No entanto, Buber (apud HYCNER & JACOBS, 1997, p. 44, grifo do autor) vai além, pois acredita que “[...] a empatia é somente um sentimento – um sentimento importante – mas somente um entre muitos.” O autor menciona o conceito de inclusão, definindo-o como um “[...] voltar-se existencial para o outro e uma tentativa de experienciar o lado da pessoa assim como o próprio.” (BUBER apud HYCNER & JACOBS, 1997, p. 44) Pode-se dizer que a bondade caminha com a generosidade. Hunter (2004) define esta última como uma atitude que atende às demandas reais das pessoas. Portanto, o gestalt-terapeuta é generoso à medida que percebe como o cliente está funcionando e o convida a uma ampliação do nível de consciência, procurando estabelecer uma relação dialógica genuína. Buber (apud HYCNER & JACOBS, 1997, p. 37, grifo nosso) diz que “Você tem uma grande tarefa auto-imposta – a grande tarefa – de suprir essa necessidade da pessoa e fazer muito mais do que em uma situação normal.” A paciência, definida por Hunter (2004) como sendo a capacidade de controlar os impulsos, pode ser trazida para o âmbito terapêutico, na medida em que aceitar o cliente exatamente como ele é, faz parte da postura existencial-fenomenológica. Hycner e Jacobs (1997) mencionam a angústia de querer que o cliente caminhe mais rápido, ao mesmo tempo em que procura respeitar a velocidade do seu processo de mudança. A paciência e o respeito se complementam. Hunter (2006) diz que ser respeitoso significa dar importância as pessoas, simplesmente por serem humanos. Segundo Ribeiro (1985), pode-se dizer que a postura gestáltica vai além mais uma vez, pois aceitar o cliente exatamente como é representa um exercício constante na atuação do gestalt-terapeuta. Ademais, o respeito aos limites de contato também é imperativo. Enfim, diálogo implica escuta. Escuta implica proximidade. Proximidade implica envolvimento. Envolvimento implica estar inteiro diante do outro, implica percebê-lo na sua totalidade, escutar o inaudível, ou seja, dar forma ao diálogo. Parece um jogo de palavras, mas que dá uma ideia da pertinência e da dificuldade do conceito de relação dialógica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como a Gestalt-terapia vai além, ela possui ferramentas conceituais consistentes para intervir em processos grupais distintos. O mundo corporativo é mais uma possibilidade de atuação do gestalt-terapeuta, considerando a necessidade de treinamento de profissionais que ocupam cargos de liderança. A visão de homem da abordagem gestáltica pode ser apreendida, atentando-se sempre para os limites de atuação de cada um. Afinal de contas, o objetivo é criar condições para que se tornem líderes melhores e não gestalt-terapeutas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS CHIAVENATO, IDALBERTO. Introdução à teoria geral da administração: edição compacta. 2.ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. HESSELBEIN, F.; GOLDSMITH, M. & BECKHARD, P.. O líder do futuro. São Paulo: Editora futura, 2001. HUNTER, JAMES C.. O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. ______;. Como se tornar um líder servidor: os princípios de liderança de o monge e o executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. HYCNER, RICHARD E JACOBS, LYNNE. Relação e cura em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997. PERLS, FREDRICH. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. ______; HEFFERLINE, RALPH; GOODMAN, Paul. Gestalt-Terapia. São Paulo: Summus, 1997. POLSTER, MIRIAM E POLSTER, ERVING. Gestalt terapia integrada. Belo Horizonte: Interlivros, 1979. RIBEIRO, JORGE PONCIANO. Gestalt-Terapia: refazendo um caminho. São Paulo: Summus, 1985. ZINKER, J.. A busca da elegância em psicoterapia: uma abordagem gestáltica com casais, famílias e sistemas íntimos. São Paulo: Summus, 2001.Publicado
2014-07-29
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Mesas-redondas