Poster 2: “Mentiras no divã”: estudo de caso analisado à luz das teorias de base da Gestalt-terapia.

 

Natalia Almeida Tostes, Nathália Ferreira Borba, Nicole Bacellar Zaneti


Resumo
Este estudo visa resgatar as bases epistemológicas da Gestalt-terapia, enfatizando as Teorias de Base: Psicologia da Gestalt, Teoria Organísmica-Holística e Teoria de Campo. A partir dessas teorias e conceitos, realizamos um estudo de caso do prólogo do livro “Mentiras no Divã” de Irvim D. Yalom.

 

Proposta
O objetivo desse trabalho é resgatar as bases epistemológicas da Gestalt-terapia, enfatizando as Teorias de Base da Gestalt-terapia: Psicologia da Gestalt, Teoria de Campo, Teorias Organísmica e Holística, aplicando-as em um estudo de caso do prólogo do livro “Mentiras no divã” de Irvim D. Yalom.

A Psicologia da Gestalt traz para a Gestalt-terapia (GT) o entendimento da vida psíquica e comportamental através dos princípios da percepção, da experiência imediata, de parte-todo. A visão de unidade e estrutura está presente na palavra gestalt, usada no próprio nome da abordagem (RIBEIRO, 1985). D’Acri, Lima e Orgler (2007) afirmam que este conceito é utilizado em GT “como uma unidade de referência adequada para pensar os todos sobre os quais o princípio da auto-regulação impera.” (D’ACRI; LIMA & ORGLER, p. 125)

As Teorias Organísmica e Holística contribui para a GT com a visão do organismo como uma totalidade, em que o todo é maior do que a soma de suas partes, mas ambos se influenciam mutuamente (ROBINE, 1993). O conceito de auto-regulação permite que o gestalt-terapeuta auxilie o cliente a compreender que ele tem uma tendência para se atualizar, criativamente (RIBEIRO, 1999).

A teoria de campo de Kurt Lewin traz para a GT o entendimento dos processos grupais, de aprendizagem e na percepção do indivíduo dentro de seu contexto.

A teoria de campo também reforça a noção do aqui-agora, pois o indivíduo e suas ações só são influenciados pelo campo no qual estão inseridos no momento presente; o passado e o futuro só tem influência se estiverem no campo atual (RIBEIRO, 2007).

A partir dessas teorias e conceitos, realizamos um estudo de caso do prólogo do livro “Mentiras no Divã”, que retrata uma entrevista do Comitê de Ética médica a um terapeuta experiente (DR. TROTTER) e acusado por má conduta sexual com uma paciente de 32 anos (BELLE) (YALOM, 2006). Dr. Trotter relata que conheceu Belle em seu consultório e realizou seu tratamento psicoterapêutico por alguns anos, fala de suas impressões e descreve brevemente o campo dela.

Ela era de uma família abastada, mostrava-se deprimida, com automutilações que estavam presentes em todo o corpo: “era a única hora em que se sentia viva” (Yalom, 2006, p. 12). Consumia frequentemente álcool e um pouco de heroína. Tinha anorexia. Era casada, sem filhos. Constantemente envolvia-se em experiências sexuais extraconjugais de natureza perigosa. Ela fazia constantes jogos de sedução e manipulação sobre a situação terapêutica, até que um dia fez uma proposta desesperada: ficaria completamente “limpa” por um ano; em troca, eles viveriam um tempo como homem e mulher. Ela tanto insistiu que o terapeuta aceitou sua proposta. Aqui, vemos alguns conceitos de Campo de Lewin, pois o comportamento de aceitar do terapeuta foi derivado da totalidade de fatos coexistentes naquele momento, naquele campo dinâmico, que possibilitou frente a todos os argumentos prós e contra, a decisão de topar o acordo.

O caso permite diversas aplicações das teorias de base e conceitos específicos da GT, como o fato de Dr. Trotter buscar compreender Belle em sua totalidade, sem a prioris, com o objetivo de estar em contato com a cliente e construir uma unidade significativa entre a percepção dela e a do terapeuta. Há aspectos da Psicologia da Gestalt na forma como o terapeuta se coloca frente à percepção de sua paciente, vendo seus sintomas de forma integrada como parte-todo, e não como parte e todo. Ele apreende esse fenômeno primeiro como totalidade, evidenciando as Teorias Organísmica e Holística, não diferenciando as partes e construindo, assim, uma relação Eu-Tu.

 

Referência bibliográfica

D’ACRI, G., LIMA, P.; ORGLER, S. Dicionário de Gestalt-terapia: Gestaltês. São Paulo: Summus, 2007.

RIBEIRO , J. P. Gestalt-terapia: Refazendo um Caminho. São Paulo: Summus. 1985.

_________. Gestalt-terapia de Curta Duração. São Paulo: Summus. 1999.

_________. Vade-Mécum de Gestalt-terapia. São Paulo: Summus. 2007.

ROBINE, J. M. Le Holism de J. C. Smuts. 1993. Recuperado em 12 agosto, 2008 de http: www.gestalt.org/Robine/htm.

YALOM, I.D. Mentiras no divã. (pp. 09-44). Rio de Janeiro: Ediouro. 2006.