Mini curso 5: A postura dialógica na abordagem gestáltica
Teresa Amorim
Resumo
O objetivo deste trabalho é apresentar e assimilar os principais conceitos
da relação dialógica dentro da estrutura da Gestalt-terapia,
tornando-se um instrumento indispensável na formação e
capacitação profissional do gestalt-terapeuta.
Proposta
Através da dedicação ativa, o terapeuta se aproxima do
outro, indo em direção ao fluxo existencial da revelação
da concretude da vida. A filosofia dialógica provoca uma regeneração
da postura do gestalt-terapeuta, enfocando o encontro genuíno como ponto
de partida, e respondendo com isso ao apelo incessante da Gestalt – a
ênfase no aqui-e-agora e no desenvolvimento do self. Isso implica em suscitar
uma postura mais experimental e criativa, onde os riscos envolvidos são
ultrapassados sobretudo pela magnitude de uma presença autêntica.
Tudo se fundamenta na ontologia do fenômeno da relação,
onde o inesperado é esperado. Um grande labirinto a ser percorrido, onde
mérito não é necessariamente achar a saída, mas
principalmente permanecer no mistério da profunda intimidade do diálogo.
“A relação com o Tu é imediata. Entre o Eu e o Tu não se interpõe nenhum jogo de conceitos, nenhum esquema, nenhuma fantasia; e a própria memória se transforma no momento em que passa dos detalhes à totalidade. Entre Eu e o Tu não há fim algum, nenhuma avidez ou antecipação; e a própria aspiração se transforma no momento em que se passa do sonho à realidade. Todo meio é obstáculo. Somente na medida em que todos os meios são abolidos, acontece o encontro.” (BUBER)
A filosofia dialógica emprega e implica em um neologismo de uma postura verdadeiramente relacional na prática gestáltica. Nossa maneira de compreender, até então, esta postura ficava reduzida a teoria de contato, o que na maior parte das vezes se tornava incompleta. Padecíamos de uma maior responsabilidade pela relação terapêutica. Decorrente das possibilidades e dificuldades desses encontros, a psicoterapia dialógica trouxe uma riqueza não só na linguagem, mas principalmente na postura, em que a fé no humano é aplicada e alcançada.
Trata-se aqui de uma atmosfera de redenção ao Ser em sua alteridade. Isso requer admiração frente ao outro, confirmando suas polaridades e desafiando seu self escondido, e expondo com isso o próprio self do terapeuta.
Qual o significado de
postura?
Ponto de vista. Maneira de pensar e agir. Atitude.
O que podemos entender
e compreender por postura dialógica?
É basicamente desenvolver uma postura relacional. A atitude relacional
das polaridades Eu-Tu e Eu-Isso. É agir sintonizado na busca de uma mutualidade
de contato e assim permitindo que se instaure o processo de cura.
EU-TU envolve um verdadeiro encontro, um momento em que o próprio ser envolve-se unicamente com o outro ser. É necessário abandonar a segurança do próprio self para se disponibilizar ao outro. Num mergulho profundo no outro, se confirma o outro em sua alteridade. Sem garantias, podemos apenas manter uma atitude dialógica para o encontro genuíno, e com isso estar à serviço do outro. Em hipótese nenhuma o encontro dialógico pode ser forçado, mas deve ser possibilitado pelo movimento do terapeuta em direção ao paciente. A citação de Buber esclarece o que quero dizer aqui:
“O TU me encontra pela graça e não é encontrado pela procura.” (BUBER)
É preciso aceitar:
“(...) o encanto de sua chegada e a nostalgia solene de sua partida (...).”
(BUBER)
EU-ISSO retrata por outro lado o envolvimento objetivo de uma relação, um meio para um fim. Não se deve menosprezar a sua existência e sua própria necessidade na vida humana. O ser humano é cercado por momentos EU-ISSO e é importante não se petrificar diante desses encontros. É bom lembrar que todos os momentos EU-TU são seguidos por momentos de EU-ISSO. “...essa é a grande melancolia de nosso destino, a de que cada TU, em nosso mundo, precisa tornar-se um ISSO “(Buber).
A postura dialógica é um compromisso com a experiência concreta da vida, um envolvimento com a totalidade do Ser. Também um maior comprometimento com o valor inerente do processo ontológico do encontro Eu-Tu e Eu-Isso. Além disso, uma atitude em relação à existência humana relacional no processo terapêutico. Um vínculo de responsabilidade pelo encontro como fator principal na atitude existencial. Partindo de uma presença autêntica e plena, chega-se incondicionalmente ao ser humano em toda a sua alteridade.
Metodologia
O mini-curso será desenvolvido a partir dos conceitos básicos
da abordagem dialógica, nosso objetivo será delinear e problematizar
a postura dialógica do gestalt-terapeuta no contexto clínico.
Para desenvolver esse trabalho farei uso da revisão bibliográfica
de alguns autores como Hycner, Yontef e Buber. Propomos articular os conceitos
das relações Eu-Tu e Eu-Isso buscando contextualizar alguns conceitos
como: aceitação, confirmação, “curador ferido”,
o “entre” e o encontro dialógico. Através desse mini-curso,
pretendemos acompanhar as ações práticas do psicoterapeuta
clínico implicado numa postura dialógica.
Bibliografia
BUBER, M. Eu e tu. São Paulo: Centauro, 19 74.
_______. Do diálogo e do dialógico. São Paulo: Perspectiva, 1982.
_______. Imagens do bem e do mal. Petrópolis: Vozes, 1992.
CARDELLA, B. O amor na relação
terapêutica – uma visão gestáltica. São Paulo:
Summus, 1994.
HYCNER, R. De pessoa a pessoa: psicoterapia dialógica. São Paulo:
Summus, 1995.
HYCNER, R; JACOB S, L. Relação e cura em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.
JULIANO, J.C . A arte de restaurar histórias. São Paulo: Summus, 1999.
MILLER, A. O drama d a criança bem dotada. São Paulo: Summus, 1997.
POLSTER, E.; POLSTE R, M. Gestalt-terapia integrada. São Paulo: Summus, 2001.
PORCHAT, I.; BARROS, P.
Ser terapeuta – depoimentos. São Paulo:
Summus, 1985.
RIBEIRO, W. Existência e essência – desafios e práticas das psicoterapias relacionais. São Paulo: Summus, 1998.
YONTEF, G. Processo, diálogo
e awareness: ensaios em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1998.