Palestrantes:
Sandra Salomão, Teresinha Mello e Rosane Porto.
Moderadora: Paula Nascimento.
Resumo:
Gestalt-terapia com famílias: uma evolução da psicoterapia.
São constantes os desafios que o gestalt-terapeuta enfrenta na sua clínica
quando atende famílias. Os conflitos, as comunicações destorcidas,
as situações inacabadas, as mudanças bruscas, as novas
demandas decorrentes da diversidade e complexidade dos relacionamentos contemporâneos,
são algumas das questões que levam as pessoas a buscar ajuda terapêutica
para manejar seus relacionamentos de intimidade. A oportunidade de participarmos
da Mesa Redonda intitulada: “Conversando sobre famílias”
levou-nos a pensar sobre o quanto seria importante dividirmos com os companheiros
de abordagem algumas experiências vividas em nossos consultórios
de psicoterapia referentes ao assunto. Com este objetivo pretendemos apresentar
e refletir acerca de alguns casos de nossa prática clínica com
posterior interlocução com o público presente. Acreditamos
que o intercâmbio favoreça tanto aos apresentadores quanto àqueles
que se dispõem a assistir.
2.1 Terapia familiar em situação de desafio
grave: crescimento e ajustamento criativo para clientes e terapeutas
Sandra Salomão
Resumo
O trabalho apresenta a evolução longitudinal do tratamento de
uma família com um membro esquizofrênico. A ênfase do trabalho
é a importância diagnóstica de possíveis riscos de
uma paralisação no processo de desenvolvimento da família
e sobre os procedimentos terapêuticos utilizados nesses casos.
Também serão abordados aspectos relativos à estrutura organizacional
da família e sobre suas divisões de responsabilidade e como esse
tema retrata o trabalho com famílias em geral.
Proposta
As famílias são formadas na maior parte das vezes com base em
expectativas de seguir em frente em relação à família
original. Estão presentes no campo emocional o sentimento de continuidade,
a realização de relacionamentos íntimos, a vivência
de um campo de afetividade e segurança dentre muitos outros projetos
de construção, reparação e mesmo de busca de sobrevivência
física ou psíquica.
É a partir da experiência factual de que a vida “caminha”
e de que aquela família terá movimentos, mudanças e crescimento
que surge a necessidade do terapeuta de famílias enfatizar a importância
diagnóstica e construir um projeto terapêutico de intervenções
sobre os aspectos que possam estar indicando riscos para o não desenvolvimento
do ciclo de vida familiar e agravamento do processo de adoecer e de sofrimento
evitável.
Quando as famílias enfrentam algum problema grave, a saída e a
saúde estarão centradas na reorganização de sua
gestalt, de suas fronteiras e da capacidade de adequar-se aos desafios inesperados,
ou pelo contrário, potencialmente previsíveis, muitas vezes, por
conta da própria organização disfuncional da família.
As reflexões que apresentarei referem-se a uma família que vem
sendo acompanhada em seu desenvolvimento longitudinalmente, o que é raro
em psicoterapia, mas muito importante para a confirmação ou correção
de nossos procedimentos. O trabalho acontece com alguns intervalos de tempo
entre os atendimentos, que foram provocados quando diferentes membros da família
sentiram dificuldades e necessidades de mudanças no desenvolvimento no
ciclo vital em suas vidas, individualmente falando, e o sistema familiar atuava
impedindo esse caminhar.
Com um intervalo de aproximadamente oito anos aconteceram dois processos terapêuticos: um de terapia de família e outro individual. Durante esse tempo ocasionalmente alguns membros da família vêm para consultas relacionais, quando necessário.
O trabalho aborda um dos grandes desafios para uma família e para o terapeuta de família ou equipe terapêutica: como ajudar a uma família cuja psicose aberta em um membro jovem – o filho primogênito indica que a evolução dessa família, com suas situações geradas transgeracionalmente, corre o risco de interromper para todos os membros da família as possibilidades de seguir a frente. A família em questão corria o risco de adoecer mais e apresentar maior sofrimento para todos.
Chegam para atendimento a mãe, o filho e a filha adolescentes. A mãe, inicialmente, procura uma terapia individual para o filho, que já não apresenta os surtos e encontra-se para a família estabilizada medicamente falando, pois não abriu mais nenhum surto. Está começando a “cronificar” sintomas psicóticos e faz pouco ou nenhum contato e sua vida está vazia e se restringe à doença. Ao início do tratamento recebo um laudo no qual ele aparece classificado com psicótico hebefrênico pelo psiquiatra da família. Mãe e filha já fazem terapia em Gestalt-terapia com outro profissional. Os pais são divorciados e o pai, também com boas experiências de psicanálise, é recasado e tem mais dois filhos, um ainda bem criança. O primeiro surto ocorre “por coincidência”, por ocasião do nascimento do segundo filho. Após a primeira entrevista com o rapaz e já com uma identidade de terapeuta de família, avalio o despropósito desse atendimento individual e proponho que a família esteja em terapia e procuro envolver a família ampliada e a família recasada no atendimento e me proponho a incluir o pai e a nova família, que morava em outro estado, evitando que ele por morar “fora”, ficasse de fora do tratamento.
Para dar início
a esse atendimento foi importante ter vinda à minha mente todas as minhas
crenças de gestalt-terapeuta, de terapeuta de família ainda em
construção e a minha crença de que mudanças seriam
possíveis para aquele rapaz e “suas famílias”.
No início do processo terapêutico foi preciso acolher o susto e
lidar com a ambiguidade familiar que variava entre acreditar na idéia
de que nada poderia melhorar muito e que algo poderia ser feito, para num segundo
momento descontruir a idéia de uma eterna doença para uma nova
forma de vida e acomodar todas as demandas dos membros da família, as
escolhas e práticas de como dar continuidade ao desenvolvimento familiar,
as vidas pessoas e as atribuições de responsabilidades e cuidados
para com o paciente referido.
Como a maioria das terapias de família que transcorrem satisfatoriamente
o foco se deslocou de um e caminhou para a necessidade de todos.
Estiveram em psicoterapia de família durante aproximadamente dois anos, algumas consultas para a mãe e depois, “de longe” e por mais três anos, através da terapia “individual” de um dos seus membros, a irmã do “paciente referido” – uma das filhas da família.
A exposição será feita apresentando a descrição da organização da família, dos passos e intervenções que tornaram possível apoiar os recursos construtivos, desafiar os arranjos disfuncionais e expor teoricamente enquadres do procedimento terapêutico. Expor a dinâmica intrincada e complexa da formação emocional desse campo afetivo traz à luz uma visão de gestalt-terapeuta e de visão sistêmica da família permite compreender os muitos níveis emocionais e manobras terapêuticas necessárias de serem realizadas no trabalho com famílias.
A dinâmica
dessa família tão especial, que luta pelo seu crescimento e os
impasses terapêuticos e reflexões sobre esses atendimentos, fazem
do trabalho com essa família um texto sobre terapia familiar e sobre
a vida.
Essas pessoas a quem tive e tenho a honra de atender me proporcionaram acreditar
mais e mais na importância da terapia de família e em como na vida
como na Gestalt-terapia é preciso poder aprender com a experiência.
Bibliografia
ANDOLFI, M.;
ANGELO, C. Tempo e mito em terapia familiar
. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
MINUCHIN, S. Famílias, funcionamento e tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
MINUCHIN, S.; FISHMAN, S.C. Técnicas de terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
MINUCHIN, S. A cura da família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
POLSTER, E.; POLSTER, M. Gestalt-terapia Integrada. São Paulo: Summus, 2001.
SALOMÃO, S. Anais dos congressos de terapia de família – ATF
WHITAKER, C.A.;
BUMBERRY, W.M. Dançando com a família.
Porto Alegre: Artmed.
ZINKER, J. Processo criativo em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2007.
2.2
CONVERSANDO SOBRE FAMÍLIAS
Teresinha Mello da Silveira
A partir do convite para participar da Mesa Redonda “Conversando Sobre Famílias”, no III Congresso de Gestalt-terapia do Rio de Janeiro, tenho revisto todos os atendimentos com famílias que fiz nos últimos anos. Neste sentido, tornou-se bastante evidente a sustentação que o arcabouço teórico da Gestalt-terapia fornece para as terapias com grupos, casais e famílias. Muito particularmente a Teoria de Campo Fenomenológica apontada por diversos autores (YONTEF, 1998; ZINKER, 2001) e a Teoria Organísmica de Kurt Goldstein (TELLEGEN, 1984), fazem um diferencial no que se refere a outras abordagens terapêuticas. Coerente com a teoria, muitos conceitos gestálticos perpassam a prática. Para fins da apresentação que me disponho a fazer destaco entre outros as fronteira de contato, a conscientização (POLSTER & POLSTER, 2001), o ajustamento criativo e a situação inacabada (PERLS, HEFFERLINE, GOODMAN, 1997).
A vinheta
de um caso que atendi durante dez meses serve de pretexto para ilustrar a coerência
e a consistência dos supostos gestálticos identificados no atendimento.
Esta família foi escolhida pelo fato apresentar mudanças evidenciadas
na postura de seus membros que concorreram para um novo
movimento do grupo familiar diante da vida.
Seria impossível mostrar em tão poucas linhas a dimensão deste atendimento que se mostrou tão frutífero na medida em que o olhar do terapeuta se voltou para a dinâmica familiar e para os recursos inegáveis para compreender e acompanhar este grupo que serve de exemplo para dialogar com meus pares. Liana tinha oito anos quando veio ao primeiro atendimento pela mão de Deise, sua mãe. Era uma menina gordinha (fazia regime na época), risonha e carinhosa.
Liana e Deise sonhavam com a família perfeita. A vida, no entanto, fez o arranjo possível. Desta maneira essas pessoas chegaram ao meu consultório encaminhadas pelo psiquiatra. A queixa explícita era que Liana era hiperativa, distraída, agitada, tinha dificuldade no relacionamento com os coleguinhas e com a professora e, inclusive, naquela semana pegou o celular da bolsa da professora, brincou com ele e guardou na sua pasta. A mãe, já cansada de ir à escola, conversa com o psiquiatra que sugeriu atendimento familiar.
No atendimento
ao grupo familiar o olhar do terapeuta se volta para a todo em interação.
Cada terapeuta elege um caminho para ajudar a família a descobrir ajustamentos
criativos mais satisfatórios.
Para facilitar a conscientização dos impasses e possibilidades
de contato grupo familiar parto de uma compreensão diagnóstica
inicial que contempla o processo interacional dos participantes no momento presente.
Sendo assim valho-me de tudo que é mostrado desde que as pessoas chegam.
Sobre este primeiro atendimento percebi o relacionamento afetuoso entre uma
mãe bastante ansiosa, falando baixo, quase sussurrando, parecendo segurar
uma grande dor e uma filha dispersa, buscando o que tivesse na sala e querendo
ver tudo de uma só vez dagadas sobre quem era a família a menina
completou bem. In alegre o que a mãe dizia citando o nome do padrasto,
Walter, atual marido da mãe.
A mãe
rapidamente explicou que ele não viria porque trabalhava. O pai de Liana
estava desaparecido depois de ter sido condenado a pagar pensão para
a filha. Este último acontecimento foi narrado pela mãe numa fala
quase inaudível.
Ao observar a dinâmica do relacionamento, a palavra que me veio era proteção.
Tudo indicava o desejo da mãe de criar um ambiente protetivo para a filha.
Na tentativa de proteger a filha, acredito eu, os gestos e expressões
corporais denunciavam para muitos não ditos. Liana, em acordo com este
contexto, e também numa atitude protetiva com a mãe, mostrava-se
inquieta fingindo que não ouvia o que era falado. Digo fingindo porque
logo as entradas ocasionais na conversa da mãe comigo denotavam o quanto
Liana sabia o que estava acontecendo. Fato importante este porque a partir da
inclusão de Liana na convers, a mãe saiu do desconforto de não
poder dizer o que precisava ser dito.
Não foi um atendimento difícil, pois ambas pareciam bem empenhadas na mudança e a minha relação com elas e os experimentos vivenciados permitiram que a dupla caminhasse celeremente para outro modelo de funcionamento familiar. Na forma de uma sinopse, apenas para citar alguns movimentos que aconteceram durante o tempo que estive junto, constatei que mãe e filha estavam se aceitando mais e o rótulo de doente não mais ocupava todo o espaço na interação da dupla.
Era comum
Liana comunicar alguma coisa através de desenhos ou de posturas corporais.
Foi a partir de uma postura corporal de Liana que o trabalho terapêutico
se mostrou profícuo. A mãe tinha o hábito de discorrer
sobre todas as mazelas de Liana esperando que a terapeuta lhe dissesse como
consertar. Em uma ocasião Deise desenrolava o carretel de queixas quando
a terapeuta constatou que a menina estava de cabeça para baixo na poltrona
e com os pés para cima. Antes que Deise tirasse Liana desta posição
comecei a explorar o rico material que Liana oferecia. Fiz as perguntas comuns:
Como é estar assim? O que você vê daí? Como é
você olhar daí e nós olharmos daqui? Sugeri que ela experimentasse
outras formas de olhar e ela não saiu do lugar. E então? –
Minha mãe tem que olhar assim. Pronto deu o recado. Todos nos colocamos
de cabeça para baixo. Falamos o que víamos, levantamos e convidamos
mais uma vez ela a olhar de cabeça para cima como sua mãe. A mãe
estava prestes a tirá-la da posição e nós falamos
que agora era a vez dela ver do jeito que a mãe via. Ela concordou e
sentou. In dagada sobre o que via ela riu e só disse: - igual a minha
mãe.
Em outra sessão
enquanto a mãe conversava com a terapeuta, a filha mostrava-se irrequieta
mexendo nos objetos da mãe. A mãe para poder conversar, tira o
celular da bolsa e dá para a menina brincar. Lembrando da queixa inicial
foi possível situar em outro contexto o fato de Liana tirar o celular
da bolsa da professora.
Aliás, através de laudo da escola que acompanhou o encaminhamento,
eu soube que o relacionamento da menina com a escola estava muito desgastado.
Com a autorização da família visitei a escola e confirmei
o cansaço dos professores nas tentativas infrutíferas de colocar
Liana dentro das normas.
O tempo passa
e a menina passa a confiar e a falar mais do que acontecia na escola e percebi
o quanto ela precisava que a mãe acreditasse nela. A culminância
deste processo se deu quando a mãe foi à escola para reclamar
com a professora de um trabalho que a mesma tinha corrigido errado. Pela primeira
vez Deise se dirigiu ao estabelecimento escolar em defesa da filha e esta atitude
foi fundamental para a menina se sentir legitimada.
Na medida em que o trabalho aprofundava, o relacionamento com outros parentes
tornam-se figura no atendimento e compreendi melhor porque a dificuldade de
relacionamento.
A menina era
muito tolhida porque o lugar onde moravam era muito perigoso.
Deise tinha dificuldades no racionamento com sua mãe, avó da menina,
que morava no mesmo terreno. A família não se relacionava com
vizinhos e não faziam amizades. Liana gostava da avó e dos tios,
mas não lhe era permitido maiores aproximações. Emergem
muitas situações inacabadas que inevitavelmente refletiam na família
constituída de Walter, Deise e Liana. Muitas cenas foram reconstituídas
no setting terapêutico e as vivências decorrentes propiciaram uma
clareza maior dos limites possíveis.
Posteriormente, aliviada dos “sintomas” de Liana que tanto assustavam Deise, surgem dois temas novos que se referem à relação com o marido e com o seu próprio corpo. Sobre ao relacionamento do casal, Walter compareceu apenas numa sessão que foi bastante importante para desfazer alguns nós referentes a questões de fronteira familiar (relação casal-filha, padrasto-filha e mãe-filha) e fronteira conjugal (questões do casal que eram encobertas pela preocupação com Liana).
A vinda de Walter também traz um elemento novo quando revela que Deise tem distúrbio alimentar. Vale lembrar que Liana estava de regime quando chegou para os atendimentos. Eu já tinha notado que Deise havia engordado visivelmente durante o processo da terapia. Também ficou claro o montante de situações inacabadas referentes ao relacionamento de Deise com sua família de origem e com Luís, pai de Liana, as quais se faziam presentes na relação do casal e da família.
Ao final da
terapia o diagnóstico de hiperatividade perdeu toda a importância.
Liana melhorou o rendimento na escola; Deise se preocupou em promover encontros
da filha com outros companheiros; a família se comunicava melhor; Deise
buscou atendimento psicoterapêutico individual. Desta forma a família
descobre maneiras mais criativas de funcionar e havia maior confiança
mútua, com ajustes mais saudáveis.
Estes são alguns aspectos que serão desenvolvidos na exposição oral e no intercâmbio com os companheiros e com o público em geral, onde serão apontadas algumas intervenções gestálticas que a meu ver fizeram a diferença.
Bibliografia
PERLS, F; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. Gestalt-terapia. 2ª Ed. São
Paulo: Summus, 1997.
POLSTER, E.;
POLSTER, M. Gestalt-terapia integrada. São Paulo:
Summus, 2001.
RIBEIRO, J.P. Gestalt-terapia: o processo grupal. São Paulo: Summus,1993.
TELLEGEN, T.A. Gestalt e grupos: uma perspectiva sistêmica. São Paulo: Summus, 1984.
YONTEF, G.M. Processo, Diálogo e Awareness: Ensaios em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus,1998.
ZINKER, J.
A Busca da Elegância em Psicoterapia: Uma abordagem
gestáltica com casais, famílias e sistemas íntimos. São
Paulo: Summus, 2001.
2.3 Atendendo Famílias na Contemporaneidade
Rosane Carneiro Porto
Resumo
Apresentação
de um caso clínico de família revelando as sutilezas e a
complexidade do atendimento terapêutico com aportes teóricos e
metodológicos da Gestalt-terapia na pós-modernidade.
Proposta
A Gestalt-terapia foi criada em meados do século XX apresentando uma
proposta inovadora para o contexto da psicoterapia. Considerada como uma vertente
da psicologia humanista e apoiada na filosofia existencial-fenomenológica
colocou sua atenção na experimentação dentro do
próprio setting terapêutico.
Ao enfatizar a relação do conteúdo com a forma de expressão e a ação, tornou-se primordialmente conhecida por seus recursos técnicos utilizados no contexto clinico individual e grupal. Nas décadas passadas houve uma forte preocupação por parte dos gestalterapeutas de enfatizar a fundamentação filosófica e em aprofundar os conteúdos teóricos da abordagem. No final do século XX e início do século XXI, uma vertente evolutiva aponta na direção de relacioná-la ao contexto científico pós-moderno, revendo seus paradigmas, sua linguagem e adequando seus recursos técnicos a uma Gestalt-terapia contemporânea. Enriquecida com os novos saberes a Gestalt-terapia se transforma e amplia sua perspectiva teórica e prática, o que vem possibilitando uma expansão de seu campo de atuação em diversos contextos.
O foco nos
relacionamentos tem se tornando cada vez mais freqüente no setting terapêutico,
incluindo famílias, casais, grupos e comunidades. A Gestalt-terapia a
partir de vários autores, entre eles, Joseph Zinker, tem desenvolvido
recursos teóricos e técnicos para o atendimento de famílias
e sistemas íntimos. No sentido de aprumar o sistema terapêutico
com concepções novo-paradigmáticas, podemos citar a sintonia
das reflexões apresentadas por Walter Ribeiro (1998) sobre atitudes terapêuticas
e o processo de cura em Gestalt-terapia.
Alguns autores contemporâneos que partem da mesma perspectiva paradigmática
contribuem, enriquecem e ampliam as reflexões da Gestalt-terapia.
Contribuições de Humberto Maturana (1977), neurobiólogo chileno, que se fundamentando num enfoque biológico amplia e fundamenta algumas questões enfocadas pela Gestalt; Gregory Bateson (1973) oferece conceitos sobre o processo de promover mudanças: “a diferença que faz diferença”; autores contemporâneos de abordagem sistêmica podem, ainda, acrescentar reflexões a Gestalt-terapia. A importância desta apresentação está na oportunidade de promover uma reflexão epistemológica da práxis Gestáltica com famílias, enriquecida com o aporte teórico da pós-modernidade.
O caso clínico apresentado está em atendimento há dois anos com sessões semanais e foi selecionado pela complexidade da demanda que apresenta, bem como pela especificidade de seu formato no setting terapêutico, composto por duas terapeutas em trabalho de equipe, que oferece uma alternativa de atendimento apropriado a sistemas complexos.
Será apresentado através de um resumido histórico do caso e do Mapa da Terapia, que organiza as sessões no tempo de acordo com um tema selecionado para cada sessão, oferecendo uma visão geral do andamento do processo terapêutico. O genograma ajudará na compreensão das implicações transgeracionais que influenciam a questão central que os trouxe para a terapia.
Alguns trechos
de sessões nos ajudarão a relacionar alguns conceitos da Gestalt-terapia
com atitudes e recursos terapêuticos com o objetivo de repensar epistemologicamente
a prática clinica da Gestalt-terapia.
O eixo central desta apresentação aponta para uma mudança
na visão do lugar do terapeuta, que passa de um interventor a um colaborador
do sistema terapêutico.
Referência bibliográfica
ANDERSEN, T. Processos Reflexivos. Rio de Janeiro: Instituto NOOS: ITF, 2002.
GRANDESSO,
M. Sobre a Reconstrução do Significado: uma análise
epistemológica da prática clínica. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2000.
HOLANDA, A. F.; FARIA, N. J. Gestalt-terapia e Contemporaneidade: Contribuições para uma Construção Epistemológica da Teoria e da Prática Gestáltica. Campinas: Livro Pleno, 2005.
MATURANA, H. R. A Ontologia da Realidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1997.
_____________.
Transformación en la convivencia. Santiago do Chile:
Dólmen Ediciones, 2002.
RIBEIRO, W. Existência / Essência: Desafios Teóricos e Práticos das Psicoterapias Relacionais. São Paulo: Summus editorial, 1998.
SCHNITMAN, D. F. (org.) Novos Paradigmas, Cultura e Subjetividade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
YONTEF, G. Processo, Diálogo e Awareness. São Paulo: Summus,1998.
ZINKER, J.
C. A Busca da Elegância em Psicoterapia: Uma Abordagem Gestáltica
com casais, Famílias e Sistemas Íntimos. São Paulo: Summus
Editorial, 2001.