Mini curso 2: A riqueza do grupo terapêutico como modalidade de atendimento e adequação à realidade social. Reflexão sobre o pouco uso e incentivo desta modalidade terapêutica.
Márcia Estarque Pinheiro da Silva
Resumo
Em consonância com o tema do congresso “Gestalt-terapia:
Transformação no campo em busca da boa forma”, este trabalho
está voltado para a reflexão e discussão sobre a riqueza
do recurso terapêutico de grupo, sua adequação a realidade
do Rio de Janeiro e o seu pouco uso e incentivo entre psicólogos gestalt-terapeutas
cariocas.
Proposta
O Objetivo deste trabalho é disparar a reflexão e discussão sobre a riqueza do recurso terapêutico de grupo, sua adequação a realidade do Rio de Janeiro e o seu pouco uso e incentivo entre psicólogos gestalt-terapeutas cariocas.
Na prática clínica e docente da autora cada vez
mais fica destacada a importância da modalidade de atendimento em grupo
como recurso clínico. São demarcados dois pontos extremamente
relevantes para esta reflexão:
a) a relação entre a população com poder aquisitivo
mais baixo e os psicólogos clínicos disponíveis para atender
esta demanda dentro de uma determinada faixa de remuneração necessária
a manutenção dos custos do profissional.
b) a riqueza desta modalidade de atendimento.
O fato da demanda da clientela do Rio de Janeiro em busca de atendimento psicológico
ser grande e ao mesmo tempo difícil de ser atendida em função
de seu baixo poder aquisitivo sempre foi um fato que considerado extremamente
relevante para esta autora.
É amplamente divulgada entre os profissionais de psicologia a incompatibilidade entre o número de pessoas que necessitam deste tipo de atendimento e o número de profissionais disponíveis para realizá-lo dentro de parâmetros financeiros de grande parte da população do Rio de Janeiro. É muito grande a procura por centros de atendimento psicológico de baixo custo (SPA de Universidades, Institutos de ensino em psicologia e clínicas populares) ou gratuitos (SUS) e em contra partida o número de vagas para este atendimento é muito reduzido.
Diante desta realidade acrescento ainda o ponto de que a busca por atendimento psicológico no Rio de Janeiro ainda se concentrar dentro de um modelo tradicional, isto é, um psicólogo atendendo um cliente em um tempo de 50 minutos.
É observada também certa dificuldade de inserção e manutenção no mercado de trabalho de psicólogos. Esta dificuldade muitas vezes é relacionada por estes profissionais a uma queixa de falta de clientes em seus consultórios com possibilidade de remuneração para seu trabalho. Interessante ressaltar que a grande maioria destes profissionais sequer cogitam a possibilidade de um atendimento em grupo, muitas vezes com uma visão de que esta não seja tão eficiente e até mesmo possível.
O trabalho em grupos tem inúmeras vantagens em relação ao atendimento individual, além das vantagens financeiras como bem ressalta Boris (2007, p. 181): “Entretanto a economia do trabalho grupal não se limita ao seu preço, geralmente mais barato, mais ao fato de poder mais facilmente ser usufruído por um maior número de pessoas e de tratar de questões mais amplas e compatíveis com a realidade sociocultural. Sua ineficiência e superficialidade também são questionáveis, dependendo da disponibilidade dos participantes grupais de se aprofundar em suas questões e da habilidade facilitadora e cooperativa do psicoterapeuta. A profundidade da psicoterapia grupal requer maior confiança, tempo e habilidade, pois lidamos com as atualidades dos vários participantes.”
O recurso de grupo como modalidade terapêutica já surge como possibilidade para Perls no período entre 1946 e1956, de acordo Boris (2007, p. 180 apud SHEPARD, 1977).
“Fritz ainda recorria ao divã, mas começava a utilizar cada vez mais os encontros de cara a cara [...], assim como a explorar no campo da terapia de grupo.”
Ao longo de seu desenvolvimento profissional, Perls foi aperfeiçoando suas técnicas e recursos e foi também criticando cada vez mais os atendimentos individuais e também o atendimento de grupo. O mesmo chegou ao ponto de também criticar o trabalho com grupos terapêuticos, trazendo como única possibilidade, o trabalho com workshops de Gestalt-terapia.
“[...] De fato, cheguei à conclusão que toda terapia individual é obsoleta e deveria ser substituída por workshops, de Gestalt-terapia.” (PERLS, 1977, p.29).
Dentro do desenvolvimento da Gestalt-terapia o trabalho com grupos viveu vários momentos. Inicialmente o trabalho era individual em grupo, isto é, o centro era o terapeuta. Ao longo do tempo e a partir de várias reflexões, alterações surgiram e hoje na amostra que a autora acompanha, o grupo é trabalhado como grupo e não com um olhar individual no grupo. O Terapeuta busca incentivar que o grupo troque entre si sobre as relações que são estabelecidas naquele contexto, na busca de ampliação de awareness. O olhar do terapeuta é um olhar de campo. Este é um recurso muito útil para várias situações de atendimento, mas não para todas.
O terapeuta deverá observar a possibilidade de acompanhar de perto casos mais graves individualmente. Em um grupo com pessoas como temáticas diferentes, um deles apresentar-se não compartilhando a realidade – com alucinações e delírios, por exemplo – pode impedir que o terapeuta possa acolher adequadamente este membro e os demais neste momento. Ou talvez uma pessoa que tenha como característica marcante um alto grau de agressividade talvez precise ter um acompanhamento individual inicial para facilitar com que as suas trocas no grupo sejam ricas e suportivas em momentos posteriores.
“Sem dúvida, os grupos como comunidades de aprendizagem cooperativa não são uma panacéia para todos os males. [...] Ou seja, quando bem conduzido por facilitadores conscientes desses riscos e perigos, podem vir a ser formas de resistência às tendências sociais desagregadoras.” (BORIS, 2007, p. 183)
A Gestalt-terapia é uma abordagem que conta com conceitos que são extremamente coerentes e consistentes para o trabalho com grupos. Dentre vários destaco a noção de contato, fronteira de contato, awareness, campo e principalmente o embasamento fenomenológico para o trabalho terapêutico.
“O processo grupal em gestalt, conforme é desenvolvido
em nosso Instituto em Cleveland, funciona de acordo com quatro princípios
básicos: 1) a primazia da experiência grupal em andamento; 2) o
processo
grupal; 3) a importância do contato ativo de desenvolver a awareness entre
os participantes; 4) o uso de experimentos interativos, estimulados por um líder
ativamente envolvido.” (ZINKER, 2007, p. 182)
Minha reflexão parte deste ponto para tentar compreender o que acontece que o recurso de grupo terapêutico não aparece como possibilidade tanto para a clientela – que na maioria das vezes nem conhece este recurso – e tão pouco para os psicólogos que muitas vezes também apresentam desconhecimento técnico e preconceitos e não buscam aperfeiçoamento nesta modalidade de atendimento.
O trabalho consistirá em uma breve apresentação em powerpoint de pontos disparadores para uma discussão ampla. Divisão em pequenos grupos para debate mais aprofundado de perguntas disparadoras que serão escolhidas a partir da troca entre o coordenador do mini-curso e posterior troca no grupo mais amplo sobre os debates dos pequenos grupos.
Referência bibliográfica
BORIS, G.D.J.B. Psicoteria de grupo e workshop. In: D’Acri, G.; Lima, P. ; Orgler, S. Dicionário de Gestalt-terapia: Gestaltês. São Paulo: Summus, 2007.
PERLS, F.S. Terapia de grupo versus terapia individual In: STEVENS, J. O. (org.) – Isto é Gestalt. São Paulo: Summus, 1977.
ZINKER, J. Processo criativo em Gestalt-terapia. São
Paulo: Summus, 2007.