Fórum de Abertura: Transformação no Campo em Busca de uma Boa Forma
Palestrantes: Gladys D’Acri, Maria das Graças Gouvêa e Paula Nascimento.

Resumo:
Esta atividade se propõe a ser um fórum interativo cujos objetivos são
promover a reflexão sobre as transformações no mundo contemporâneo e as ressonâncias na comunidade gestáltica do Estado do Rio de Janeiro, bem como as possibilidades de manutenção dos fundamentos da Gestalt-terapia frente às necessidades atuais.

Transformação no campo em busca de uma boa forma
Gladys Costa de Moraes Rêgo Macedo D’Acri

Na Gestalt-terapia, a visão de homem é de um ser biopsicossocial e em constante relação com o seu meio, levando em conta o que acontece em sua totalidade e em que contexto isto ocorre (FRAZÃO, 1997). Desta forma, o comportamento humano é considerado uma função do “campo organismo-ambiente”.

Não tínhamos ideia de que o temário proposto “Transformação no campo em busca de uma boa forma” seria um indício do que culmina com a nossa consciência, enquanto comissão organizadora deste evento, de que precisamos mudar o formato de organização do que até aqui foi um modelo que deu certo para dar um sentido de comunidade para o Estado do Rio de Janeiro, principalmente, diante das peculiaridades da cidade do Rio de Janeiro onde é constituída por vários Centros formadores, com pouco intercambio entre si.

Talvez nos ajude a compreender esta realidade em nosso estado se partirmos do princípio de que a Teoria de Campo compreende a realidade como campos e estes se subdividem em vários outros campos, conforme a realidade vai se apresentando nele, mas que há algo fundamental neste campo maior que o mantém identificável, e “isso significa, que a realidade se manifesta a nós de vários modos ou que nós a descobrimos de vários modos.” (RIBEIRO, 1994, p.63)

Meu objetivo não é propor uma discussão entre a relação da Psicologia da Gestalt com a Gestalt-terapia, mas reconhecer na primeira suas contribuições na construção da nossa abordagem e, sendo assim, passível de nos oferecer uma compreensão do momento em que nos encontramos diante da necessidade de atender as exigências do mundo contemporâneo e nos manter consoantes com os preceitos da Gestalt-terapia, principalmente ao que diz respeito ao funcionamento saudável. Para isto, pretendo aproveitar a história da constituição da comunidade gestáltica, tanto a nível nacional como em nosso estado, para mostrar a importância da noção de campo organismo/meio e reconhecer em nossa abordagem um paradigma importante para lidar com as questões contemporâneas,
a começar em nosso próprio campo.

A partir da necessidade de conhecer a evolução da GT para compartilhar suas dúvidas e certezas com outros colegas e buscar “caminhos viáveis à consolidação da corrente em nosso país” (MELL0, 1996, p.12), Teresinha Mello e Salete Cabral deram o ponta pé inicial para “organizar um encontro no qual pessoas de vários estados pudessem dividir suas preocupações, interesses e conhecimentos, de tal forma que ficasse esboçado um corpo da Gestalt-terapia do Brasil”. (id, p.12)

Inicialmente, tentaram mobilizar os colegas que fizeram parte da formação delas enquanto gestalt-terapeutas, mas encontraram pouca aceitação e adesão por diversos motivos, dentre eles o medo da “institucionalização da gestalt alegando que o fato descaracterizaria as propostas revolucionárias da referida corrente” (id, p.12). Para a surpresa de Teresinha foi com seus alunos da primeira turma de formação e o grupo de seus ex-estagiários em Gestalt-terapia, recém formados pela UERJ, que este evento foi tomando forma. A entrada da Sandra Salomão possibilitou a divisão da coordenação com Teresinha, visto que em função da sua gravidez, Salete precisou se afastar.

O I Encontro Nacional de Gestalt-terapia, do qual participei fazendo parte da comissão de apoio realizou-se em 1987, no auditório do Hospital Pinel. Que bela surpresa quando nos deparamos com pessoas de várias partes do país.
E nas palavras d e Mello (1996) “foi então que assistimos a transição de um grupo de gestalt-terapeutas para um movimento de Gestalt-terapia no Brasil” (p.13). Neste Encontro, houve o reconh ecimento do desejo de se reu nir com uma periodicidade definida. Então, bianualmente, é decidido em plenária a quem caberá a organização do Encontro seguinte. Ano passado, em Vitória, foi realizado o XII Encontro Nacional, mas a partir do III Encontro organizado pelo grupo de Brasília, em 1991, passamos a ter um de Congresso frente status às necessidades para o acontecimento do evento. São mantidas, até o presente momento, as duas nomenclaturas.

Lançada a semente no âmbito nacional, parte do grupo de organização do I Encontro Nacional, entusiasmado com a possibilidade da manutenção d e um espaço de troca, continuou a se reunir na Vita Clínica de Psicoterapia, de propriedade d e Teresinha Melo. Pouco a pouco, p essoas iam e vinham nestas reuniões. Entretanto, gradativamente, foi se pe rcebendo que hav ia interesses diferentes na forma de se manter e ste espaço de tr oca o que culminou com uma cisão.

Parte do grupo que concordava com a criação de uma instituição que desse representatividade ao movimento de desenvolvimento da Gestalt-terapia em nosso estado fundou o Centro de Desenvolvimento de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro (GT-Rio) uma associação de gestalt-terapeutas que se propunha a organizar eventos científicos para promover a nossa abordagem. Não tínhamos sede e, sim, uma caixa postal e um telefone alugado. A cada dois anos uma chapa era eleita composta de no mínimo dois coordenadores e uma equipe para funcionar nas comissões de evento, científica, biblioteca, comunicação, divulgação e secretaria. No estatuto constava a obrigatoriedade de se realizar um Congresso a cada gestão.

À primeira coordenação coube à Sheila Orgler e Sérgio Garbati e a inauguração da associação foi com um evento na PUC, em 1995, no qual tive a função de mestre de cerimônias fazendo a abertura do I Seminário do Centro de Desenvolvimento de Gestalt-terapia do Rio de Janeiro, cujo temário foi “Gestalt-terapia: ampliando fronteiras”. Lançamos também um periódico o Gestalt Journal do Rio de Janeiro.
Foi um sucesso o evento!

Em 1996, coube a mim, Patrícia Lima – Ticha, Patrícia Tavares e Márcia Estarque a coordenação do GT-Rio. Em nossa gestão, realizamos o I Congresso do Centro de Desenvolvimento de Gestalt-terapia do Rio de Janeiro – GT-Rio, na UFRJ, com o tema “Amor e solidão em Gestalt-terapia”, um evento com muita troca de afeto e conhecimento e o I Fórum Interativo de Gestalt-terapia – um ciclo de palestras no Colégio Brasileiro de Cirurgião. Nosso periódico, nesta época, assumiu a cara de revista e editamos dois números.
A coordenação seguinte do GT-Rio, em 1998, coube à Rosa Cristina Cavalcante, Indalesse Maria Franco, Margareth Gonçalves e Lucio Melo os quais realizaram na UERJ, em 1999, o II Congresso do Centro de Desenvolvimento de Gestalt-terapia do Rio de Janeiro, com o tema “Fim do milênio: uma gestalt aberta”. Além disto, fizeram palestras avulsas cujos convidados eram os próprios sócios do GT-Rio. Eles certamente viveram o momento mais difícil da associação que é, a meu ver, a manutenção. Aumentava o número de sócios inadimplentes, o público foi diminuindo nos eventos e, sem dinheiro para investir, ainda tentaram mobilizar a comunidade, através de correspondências, com o movimento “Não deixe o GT-Rio morrer”. Entretanto, infelizmente, morreu, mas como tudo o que tem uma importância e acaba, preserva, através dos tempos, o respeito e saudosismo, conforme percebemos na frequencia com que ainda é citado nas bibliografias dos trabalhos científicos, nos eventos, nos congressos, inclusive, nacionais. Certamente não foi por incompetência de nossas colegas, mas se o campo é uma configuração unificada de vários subsistemas, e, por isto, é dinâmico, conforme nos diz Ribeiro (1994), então nele podemos compreender o fenômeno de ressonância. Se levarmos em conta de que “na teoria de campo todas as coisas são construídas conforme as condições do campo e os interesses do percebedor” (YONTEF, 1998, p. 178), quando àquela coordenação escolhe para o congresso que teriam que realizar o tema “Fim do milênio: uma gestalt aberta”, não influencia e é influenciado?

Ne sta mesma época, houve um boom de eventos p romovidos pelos próprios centros como as Jor nadas do Aconteser; as do Centro Sand ra Salomão; da Clínica Bem Viver ; do Instituto Car ioca; do Gestalt em Figura; o evento “Gestaltand o em nossa terra e entre nós” promov ido por mim, Ticha e Patrícia Tavares; I e II Encontr o d o D ialógico, IGT e me perdoem àqueles que não estão sendo citados, certamente é por falta de memór ia desta au tora e não por ser em menos importantes.
Em 2004, eu, Graça e Ticha, participando do workshop com Joel Latner, organizado pelo Centro Sandra Salomão, na hora do intervalo, casualmente comentamos a vontade de voltar a fazer congressos. Nesse mesmo ano, nos mobilizamos para iniciar um novo movimento de congregação. Propusemos uma reunião com representantes de todos os centros de formação desta cidade e iniciamos a difícil tarefa de lidar com as diferenças. Conseguimos pouco a pouco formar um grupo disposto a trabalhar em prol de um ideal e organizamos o I Congresso de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro, em 2005, no Instituto de Psiquiatria da UFRJ cujo tema foi “O nosso jeito de fazer Gestalt.”
Animados com o número de colegas presentes e com a confirmação da importância d e eventos desta natureza para mantermos um espaço de intercâmbio profissional, nos arriscamos à candidatura para a organização do X Encontro Nacional de Gestalt-terapia e VIII Congresso de Gestalt-terapia, em 2007, visto que completaríamos 20 anos da organização, em nosso estado, do I Encontro Nacional.

Também foi um sucesso de público, de reconhecimento da comunidade nacional e a confirmação de que a realização dos congressos é um dos caminhos possíveis para a congregação e promoção e desenvolvimento de nossa abordagem. Nutridos com os resultados, nos propomos a realizar, logo no ano seguinte, em 2008, o II Congresso de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro, neste mesmo hotel.
Havia, ainda, representantes de vários Centros na comissão organizadora. Com o tema “A Gestalt em ação num mundo em transformação” conseguimos realizar um evento com muito afeto e troca de conhecimentos, embora muitos de nós sofrendo com a inesperada partida de nossa querida Sheila Orgler, quatro dias antes de o evento iniciar.

A comissão organizadora foi diminuindo, ao longo do tempo, por diversos motivos e hoje estas três guerreiras estão aqui, mais unidas do que nunca, realizando o III Congresso de Gestalt-terapia do Estado do Rio de Janeiro.
Quase desistimos por diversos momentos, pois a realidade se apresentava de forma muito diferente dos demais eventos. As coisas não fluíam, então foi quando nos demos conta do temário que propusemos e o que estávamos dando e percebendo do campo. Há uma responsabilidade a ser compartilhada.
Numa abordagem de campo como a nossa, sabemos que o ser humano é um ser de campo, então ao mesmo tempo em que faz parte dos elementos que constituem o campo, é também constituído por ele. O indivíduo é criador do campo ao qual se relaciona quando influencia, explicita ou implicitamente, o campo e é criado pelo campo quando é influenciado por ele. “O campo é constituído a partir de fenômenos de atração e repulsão e sem dúvida por muitos outros dos quais somos receptores e agentes.” (DELACROIX, 2009, p.73, tradução nossa).

O contato com a minha responsabilidade enquanto alguém que influencia o campo e sou influenciada por ele, me faz tomar a decisão de me despedir da organização dos congressos estaduais, com a sensação de dever cumprido, mas com a preocupação do que acontecerá com o espaço conquistado por todos nós durante estes anos de intenso trabalho para dar reconhecimento a nossa abordagem. Gostaria que aproveitássemos estes dois dias de evento para entrarmos em contato com nossos desejos e possibilidades quantos aos novos horizontes da Gestalt-terapia em nosso estado.
“Nós e o nosso meio somos uma só coisa. Não podemos olhar sem ter algo para onde olhar. Não podemos respirar sem ar. Não podemos viver sem ser parte da sociedade. Portanto, não podemos, certamente, observar um organismo como se ele fosse capaz de funcionar em isolamento.” (PERLS in FAGAN & SHEPARD, 1980, p. 49)

Bibliografia
D’ACRI, G. Reflexões sobre o contrato terapêutico como instrumento de autorregulação do terapeuta. . V.15,Revista da Abordagem Gestáltica n.1 Goiânia, jun. 2009.

DELACROIX, J-M. Encuentro com la psicoterapia: uma visión antropológica de la relación y el sentido de la enfermedad em la parodoja. Santiago de Chile: Editorial Cuatro Vientos, 2009.de La vida

ELÍDEO, H. Teoria de Campo. In D’Acri, G; Lima, P; Orgler, S. Dicionário de Gestalt-terapia: Gestaltês. São Paulo: Summus, 2007.

FRAZÃO, L. M. Apresentação à edição brasileira. In: PERLS, F. S.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.

MELLO, T. S. A moderna Gestalt-terapia do Rio de Janeiro. Revista Vita de Gestalt-terapia. Ano 2, n.3, 1996.

PERLS, F. S.; HEFFERLINE, R.; GOODMAN, P.. São Paulo: Gestalt-terapia Summus, 1997.

___________. (1973). Quatro palestras. In FAGAN, J.; SHEPHERD, I. L. (orgs). ; teoria, técnica e aplicações. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. Gestalt-terapia; teoria, técnica e aplicações. Rio de Janeiro: Zahar, 1980

RIBEIRO, J. P. : Gestalt-terapia: o processo grupal: uma abordagem fenomenológica da teoria de campo e holística. São Paulo: Summus, 1994.

YONTEF, G.M. Processo, Diálogo e Awareness: ensaios em Gestalt- terapia. São Paulo: Summus, 1998.

 

Cultura, educaçâo e contemporaneidade
Maria das Graças Gouvêa


“O pensamento que calcula, não pode parar. Nunca chega à serenidade do sentido. O pensamento que calcula, não é um pensamento do sentido, um pensamento, que pensa o sentido de si mesmo ou de qualquer coisa. (...) É da angústia deste pensamento do sentido que estamos fugindo hoje e na fuga lhe sentimos a falta.” (LEÃO, 1975, p. 22)

A educação no mundo contemporâneo recebe um forte apelo para se adequar às demandas sociais de desempenh o e boa-performance, categor ias pelas quais se medem a validade e o sentido das pessoas em geral em nossa sociedade. Isto é reconhecido por muitos daqueles que se dedicam a estudar a educação como um fenômeno coerente com uma tendência da cultura globalizada, tendência atraves da qual a própria cultura se transforma em mercadoria. Assim nas palavras de Patrizia Piozzi, “A situação de “rendição ao mercado”, que vivemos nestes tempos difíceis e desesperançados, confere um caráter profético ao temor de Condorcet de que o lado mecânico e cego do progresso, emblematicamente figurado no espírito mercantil, fosse vitorioso, reeditando na terra as épocas das trevas.” (PIOZZI, 2004, p. 655-676)
Diante do exposto tenho como objetivo trazer à discussão neste fórum a necessidade da utopia em nossas ações e neste aqui-e-agora em particular. Mas é necessário definir, ainda que muito brevemente, o conceito de utopia que se utiliza aqui. Não se trata do conceito vulgar ou ingênuo de utopia como algo impossível.

E sim, como uma abertura de possibilidades. A utopia é pensada como aquele possível que ainda não é, mas pode vir a ser. Uma fronteira entre a irrealidade e a realidade, “uma necessidade essencial da condição humana, a de transcender a ordem existente”. (ROUANET, 2000, p. 14-17)
Heidegger (1959) no ensaio “Serenidade”, afirma que o Homem se encontra hoje vivendo uma fuga do pensamento, fugindo do tipo de pensamento que medita sobre o sentido e a razão de ser das coisas.
Pressupondo que o pensamento que medita está em fuga, e que o pensamento que calcula é predominantemente presente em nossa cultura, quais seriam as conseqüências deste pensamento no ensino da psicologia e especialmente no ensino e desenvolvimento das psicoterapias. Se tivermos como proposta promover uma conscientização e essencialmente uma re-apropriação do sentido de nossos vividos, e de nossos alunos e clientes, este processo deve passar pelo pensamento que medita... ou há como não fazê-lo deste modo?

Se compreendermos que o fundamento de uma utopia da performance, hegemônica na contemporaneidade, carrega idéias que fortalecem uma noção instrumental de tudo e de todos, tanto da educação quanto nas relações interpessoais. Temos também que reconhecer, por outro lado, que a Gestalt-terapia em suas origens, está caracterizada por uma utopia humanizante e que esta pode nos orientar na direção do pensamento meditante, desde que não se resuma ao compartilhamento de afetos e impressões, e leve mais além, proporcionando o questionamento do sentido dos afetos e impressões vividas. E nos fazendo compreender de que forma tais disposições e afetos são forças num campo muito mais abrangente de nosso momento histórico-social em particular.

Tomo as palavras de Rouanet, em “A morte e renascimento das utopias”, para concluir esta fala e a minha versão da nossa proposta de reflexão:
“Não é dando as costas à modernidade que devemos buscar a utopia, mas sim na própria modernidade. Ela tem um vetor funcional, sistêmico, ligado à racionalidade instrumental. Mas tem também um vetor humanista, ligado à racionalidade emancipatória.” (ROUANET, 2000, p. 14-17)
Como podemos nos apropriar e exercer esta racionalidade emancipatória sem um espaço de discussão, crítica e desenvolvimento de nossa própria abordagem?
Eu quero crer que podemos nos organizar para mantê-lo com esta proposta de abertura e emancipação presente nas origens da Gestalt-terapia.

Referência bibliográfica

HEIDEGGER, M.. Tradução Maria Madalena Andrade e Olga Santos.
Serenidade Lisboa, Portugal: Instituto Piaget, s/d. (1ª edição alemã: 1959).

LEÃO, E. C. Existência e Psicanálise. LEÃO, E. C. & LACOMBE, F. P
Existência e Psicanálise In. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1975.

PIOZZI, P. Da necessidade à liberdade: uma nota sobre as propostas
de Diderot e Condorcet para o ensino superior. Educ. Soc. [online].
2004, vol.25, n.88, pp. 655-676. ISSN 0101-7330. doi: 10.1590/S0101-
73302004000300002.

ROUANET, S. P. A morte e o renascimento das utopias. Jornal Folha de São Paulo. Artigo Editoria MAIS! Página: 14 a 17. Seção “Brasil 501 d.C.” Em 25/06/2000.

Apropriando-me da Minha Forma Neste Campo
Paula Ferreira do Nascimento

“O todo é maior que a soma de suas partes.” Aristóteles Atualmente a comunidade gestáltica do Estado do Rio de Janeiro se encontra no impasse sobre a forma que tomará para manter seu crescimento e expansão sem se perder dos fundamentos da Gestalt-terapia, fundada em 1946.
Muitos profissionais e instituições buscam apoiar este movimento de expansão, porém o nosso momento atual denota uma independência dentro deste campo, o que contradiz com a base filosófica da Gestalt-terapia que acredita na relação como forma de atuação.
Amorim, ao discorrer sobre o conceito do dialógico, cita Buber ao relatar que: “o diálogo inclui a relação e a atitude de ir em direção do outro, em busca do encontro da totalidade da existência humana: quando, seguimos nosso caminho, encontramos um homem que, seguindo seu caminho, vem ao nosso encontro, temos conhecimento somente de nossa parte do caminho, e não da sua, pois esta nós vivenciamos somente no encontro.” (In D’ACRI; LIMA & ORGLER, 2007, p. 68)

Sendo assim, se não for possível um encontro iremos nos manter empobrecidos em nossos caminhos paralelos, sem uma mudança real no campo. Segundo Lewin (1965 p.29), “o comportamento deve ser derivado de uma totalidade de fatos coexistentes, esses fatos coexistentes tem caráter de ‘um campo dinâmico’ enquanto o estado de qualquer parte deste sistema depende de cada uma das partes do campo”. Diante disto, depende apenas de nós para que haja uma modificação significativa no momento atual.
Em Gestalt-terapia, o experimento é um evento dirigido no qual se vivencia uma situação. É uma possibilidade de viver a polarização, saindo da racionalização que impede a excitação para a ação. Não é um ensaio do futuro, mas a abertura para o desenvolvimento do auto-suporte com espontaneidade.

“O experimento é a pedra angular do aprendizado experiencial. Ele transforma o falar em fazer, as recordações estéreis e as teorizações em estar plenamente aqui, com a totalidade da imaginação, da energia e da excitação.” (ZINKER, 2007, p. 141)
O experimento é a modificação sistemática da conduta que nasce da experiência.
A natureza do experimento depende dos conteúdos e formas da pessoa, do que ela experiencia no aqui e agora e do repertório de experiências de vida do cliente e do psicoterapeuta.
Segundo Salomão, “é criar um ambiente terapêutico que auxilie o cliente a se lançar no processo de aprender a reintegrar partes dissociadas, sensibilizar-se novamente, testar novos e criativos ajustamentos, ser responsivo ao seu aqui e agora, lidar com evitações, aprender experiencialmente sobre si mesmo e viver a terapia como a vida, num processo contínuo de conscientização.” (In D’ACRI; LIMA & ORGLER, 2007, p. 102)

O experimento é uma possibilidade para que a pessoa amplie sua capacidade de sentir e envolver-se na situação presente, permitindo que tenha consciência de como ela está realmente no aqui-e-agora.
“Dentro da visão gestáltica, acredita-se que uma decisão só pode ser tomada no momento presente e que, definindo a sua forma, o sujeito possa realizar uma escolha com responsabilidade e compromisso.

Segundo Ferraz: “Gestalt-terapia é uma atitude básica, (…) compreender e aprender, mas sobre tudo, experimentar e promover nosso poder criativo de reintegrar as partes dissociadas; expandir ao máximo nosso campo vivido e nossa liberdade de escolha, tentar escapar ao determinismo alienado do passado e do meio, á carga de nossos condicionamentos “históricos” ou “geográficos” e encontrar assim um território de liberdade e de responsabilidade.” (D’ACRI; LIMA & ORGLER, 2007, p. 133) In Baseado neste instrumento que a Gestalt-terapia nos oferece, será proposto um experimento visando à conscientização do que cada participante tem a oferecer para a criação de um campo dinâmico que tenha como objetivo maior a continuidade da comunidade gestáltica do Estado do Rio de Janeiro mantendo a filosofia do Encontro.

Referências bibliográficas

AMORIM, T. D’Acri, G; Lima, P; Orgler, S. Dicionário de Gestal-terapia: Gestaltês. Dialógico . In São Paulo: Summus, 2007.

FERRAZ, P. Gestalt-terapia D’Acri, G; Lima, P; Orgler, S. . In Dicionário de Gestalt-terapia: Gestaltês. São Paulo: Summus, 2007.

LEWIN,K. Teoria de campo em ciência social. São Paulo: Pioneira,1965

RIBEIRO, J. P. O ciclo do contato. São Paulo: Summus, 2007.

SALOMÃO,S. Experimento. In D’Acri, G; Lima, P; Orgler, S. Dicionário de Gestalt-terapia: Gestaltês. São Paulo: Summus, 2007.

ZINKER,J. Processo criativo em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2007