Mini-curso 02: Gestalt- Comunitária: Criando uma nova consciência social. Interlocução entre a Gestalt-terapia e a terapia Comunitária

 

Julia Gama Tourinho

 

Resumo
Esse trabalho tem como objetivo fazer uma interlocução entre a gestalt-terapia e a Terapia comunitária de Adalberto Barreto, através da apresentação de conceitos e técnicas. Trazendo reflexões sobre novas formas de atuação do gestalt-terapeuta e suas implicações sociais na atualidade, através da exposição de uma forma detalhada desses conceitos.


Proposta
Esse trabalho tem como objetivo fazer uma interlocução entre a gestalt-terapia - em especial a proposta de trabalho com grandes grupos de Polster - e a Terapia comunitária de Adalberto Barreto, através da apresentação de conceitos e técnicas.

Creio ser a prática do Gestalt-terapeuta.totalmente coerente com a abordagem da terapia comunitária, já que trabalhamos com conceitos como: teoria de campo, conceitos de auto-regulação, awreness, etc.

A consolidação da gestalt veio afirmar a sua postura revolucionária que visava romper as barreiras das quatro paredes de um consultório - método da psicoterapia clássica. Era um movimento que tinha por objetivo trazer algo novo para a sociedade, por muitos encarado como filosofia ou estilo de vida.

Perls defendia enfaticamente o “viver a teoria”, em que o terapeuta não seria apenas aquele que vê de fora sobre a vida das pessoas, mas sim que trabalha o contato com suas próprias limitações e amplia suas fronteiras, adquirindo novas experiências e formas de relação.

A filosofia da gestalt vem propor através de sua visão de mundo, uma nova consciência social, com indivíduos mais saudáveis. Isso fornece à gestalt a base filosófica e teórica para trabalhos comunitários e/ou de maior amplitude.

Em contra partida, há vinte anos atrás no Ceará surgiu a proposta da Terapia comunitária, técnica desenvolvida e aperfeiçoada por Adaberto Barreto, psiquiatra e antropólogo, fundador e coordenador do projeto Quatro Varas. Inicialmente atendia as pessoas no hospital das clinicas da faculdade. Depois de um tempo não conseguia mais atender as demandas devido ao grande numero de pessoas que o procuravam. Então ele decidiu transferir seu trabalho para a comunidade ao invés de receber as pessoas no hospital, passou a uma vez por semana ir até a comunidade. Seu trabalho que antes era, em sua maioria, medicalização passou a ser a construção da Terapia Comunitária. Além disso, com essa atitude ele reforçou a competência da comunidade proporcionando o fortalecimento dos vínculos. Saindo da dependência para a autonomia.

“Estimular a autonomia é uma forma de estimular o crescimento pessoal e o desenvolvimento familiar e comunitário. A consciência de que as soluções para os problemas provêm da própria comunidade reforça a autoconfiança.” (BARRETO, 2008)

“Minha formulação é que amadurecer é transcender ao apoio ambiental para o auto-apoio” (PERLS, 1977)

A terapia comunitária tem como objetivo uma mudança de olhar, que visa construir uma nova consciência social

“É um espaço comunitário onde se procura partilhar experiências de vida e sabedorias de forma horizontal e circular. Cada um torna-se terapeuta de si mesmo a partir da escuta das histórias de vida que ali são relatadas. Todos se tornam co-responsáveis na busca de soluções e superação dos desafios do cotidiano, em um ambiente acolhedor e caloroso.” (BARRETO, 2008; P. 38)

“Prevenir é, sobretudo, estimular o grupo a usar sua criatividade e construir seu presente e seu futuro a partir de seus próprios recursos.” (BARRETO, 2008)

Perls também aborda a importância do contato e do ajustamento criativo para o crescimento do indivíduo. (Perls, 1997) E esse crescimento só se dá através das interações humanas e do campo.

Poderia continuar a fazer citações que comprovam a evidente correlação entre a gestalt-terapia e a Terapia Comunitária, mas tal atitude fugiria a limitação de paginas que existe para essa proposta, pois ainda desejo citar polster e seu novo livro em que formula uma teoria sobre trabalho com grandes grupos.

Erving Polster, em seu último trabalho, Uncommon Ground, Harmonizing Psychotherapy and Community to Enhance Everyday Living, denomina como Life Focus Communities, um "terreno incomum" da prática psicoterápica, que tem como proposta possibilitar um espaço que permita através do sentimento de pertencimento e das interações de seus membros caminhos que facilitem o cotidiano ao longo de suas vidas, colhendo o senso de propósito que as religiões trazem, utilizando princípios e procedimentos inerentes à psicoterapia (Polster, 2006).

Sua Life Focus Communities, baseada na visão fenomenológica e relacional da Gestalt-terapia, busca promoção de awareness, indo de encontro das mais diversas necessidades do cotidiano das pessoas e possibilitando o sentimento de pertencimento criado pela formação de comunidades e o senso de continuidade que as acompanha.

Para Polster, equilibrar a awareness da individualidade, o desejo, a necessidade pela totalidade e a intimidade com o outro é a chave para o crescimento e realização. E isso se dá nas interações de um grupo cujo participante tenha suas individualidades respeitadas, mas no entanto sinta-se pertencido àquela comunidade. A esse sentimento de pertencimento, Polster chama de connectedness, um conceito que contempla tanto a totalidade quanto reconhece a importância de seus componentes individuais. Para desenvolver connectedness nos membros de um grupo, trabalha-se algumas dimensões específicas na elaboração das Life Focus Communities: momento a momento, evento a evento, pessoa a pessoa e self a self.

A proposta das Life Focus Communities é oferecer novas formas de congregação, ancoradas por novas e tradicionais expressões artísticas dando suporte a uma melhor comunicação, awareness para a vida e senso de autonomia e conexão. É um caminho para o desafio das demandas que a psicoterapia contemporânea tem a responder. É ter atenção em como nós vivemos nossas vidas, na constante busca de significado, de pertencimento, coerência, continuidade e totalidade (POLSTER, 2006).

Esse trabalho tem a proposta de trazer reflexões aos participantes do mini-curso sobre novas formas de atuação do gestalt- terapeuta e suas implicações sociais na atualidade, através da exposição de uma forma detalhada dos conceitos acima apresentados.

 

Bibliografia

BARRETO, Adalberto. Terapia Comunitária: passo a passo. Fortaleza. Gráfica LCR, 2008.

BARRETO, Adalberto. Terapia comunitária: entre nesta roda.Disponível em: <http://www.abratecom.org.br/terapiacomunitaria.asp>. Acesso em: 15 jul. 2008.

PERLS, F. S. Gestalt-terapia / Frederick Perls, Ralph Hefferline, Paul Goodman; [tradução Fernando Rosa Ribeiro] – São Paulo: Summus, 1997.