A caminhada do Instituto de Gestalt-Terapia de Brasília (IGTB) –
seu credenciamento como curso de especialização.
AUTORES: Sheila Maria da Rocha Antony
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Mestre em Psicologia Clínica pela UnB.
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Psicóloga do Centro de Orientação Médico Psicopedagógica da Secretaria de
Estado de Saúde – COMPP/SES/DF.
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Vice-Presidente e Coordenadora da Clínica do IGTB.
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Facilitadora do Curso “Gestalt-Terapia com crianças”, carga horária de 60
horas.
Endereço:
SQN 202 – Bl. D – apt. 201 CEP:
70.832-040 Brasília-DF
Tel.
(61) 3202.5013/8133.1515
e-mail:
sheilaantony@conectanet.com.br
ou
Miriam May Philippi
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Mestre em Psicologia Clínica pela UnB.
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Professora do curso de graduação no Centro de Ensino Universitário de Brasília
– UNICEUB.
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Coordenadora do Curso de Especialização do IGTB.
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Formação em Terapia Familiar Sistêmica.
Endereço:
SMPW Quadra 26 – Conj. 03 – Lote 09 – Casa D
Tel.
(61) 3328.2562/8419.8001
e-mail:
miriamphilippi@yahoo.com.br
RESUMO
O
presente artigo procura apresentar a caminhada do Instituto de Gestalt-Terapia
de Brasília, desde a sua fundação até o credenciamento do curso de especialização
em Psicologia Clínica na Perspectiva da Gestalt-Terapia, bem como as
características do funcionamento do curso e de seu corpo docente. Descrevemos
também a importância do diálogo entre o IGTB e a comissão de fiscalização do
Conselho Federal de Psicologia, representada pela ABEP, para a consolidação dos
cursos de especialização em Psicologia.
Palavras-chave:
Gestalt-Terapia, especialização, ABEP.
A CAMINHADA DO INSTITUTO DE
GESTALT-TERAPIA DE BRASILIA
(IGTB): seu credenciamento como
Curso de Especialização em Psicologia Clínica.
É longa a nossa caminhada. O IGTB foi fundado,
em 28 de junho de 1996, por Jorge Ponciano Ribeiro, desde então nosso
presidente. Faltava no percurso profissional de Jorge Ponciano o nascimento
desse Instituto, uma vez que, sua jornada como formador em Gestalt-Terapia e
co-fundador de muitos Institutos Gestálticos, pelo Brasil afora, é antiga.
Muitos foram os chamados e poucos
aqueles que permaneceram na luta e crença de construir um centro de divulgação,
treinamento, pesquisa e especialização em Gestalt-Terapia. Todos fomos
ex-alunos de Jorge, quer na graduação quer na formação. Cada um trouxe sua
história própria que, em um dado momento, foram entrelaçadas em nome da
Gestalt. Adriano, Carlene, Célia, Maura, Miriam, Mônica, Nayla, Sheila
constituímos o grupo de docentes que no decorrer dessa década investiu com o
coração no sonho de solidificar a GT em Brasília, sustentada em uma filosofia
humanista e com uma visão psicossocial voltada para o atendimento comunitário,
que incentiva a co-participação dos alunos em nossos projetos.
O IGTB iniciou a sua existência na clínica do
Jorge, lá permanecendo por dois anos até que se decidiu ocupar um andar
completo de um prédio para ser a sede do Instituto. Formamos a nossa 1ª turma
(o G1), em 1999, tendo sido um momento muito especial para todos nós. A
conclusão do grupo veio confirmar nossos anseios, propósitos e missão. Tivemos
nossos “entraves” ao longo desses anos, como todo grande grupo tem, ainda mais
sendo composto por tantos doutores e mestres (90 % do corpo docente tem
mestrado e doutorado).
Seguimos firmes e adiante com cada novo grupo
repensando, reformulando, refazendo sempre nossa organização administrativa e
modelo pedagógico. Hoje já passaram pelo IGTB 155 alunos e alguns já fazem
parte da nossa equipe de monitores que promovem os grupos de estudos.O passo
seguinte é que venham integrar nossa equipe de formadores, já que alguns já
concluíram o seu mestrado. A nossa idéia é renovar, pois entendemos que o IGTB
pertence à comunidade gestáltica.
Em março de 2006, estamos iniciando o G7,
nossa 7ª turma, fechada em 33 alunos e contemplada com a participação de
psicólogos de Montes Claros, Campo Grande e São Luis.
Conquistamos o título de Especialização em
Psicologia Clínica, em 30 de setembro de 2005, conferido pelo CFP. O processo
de credenciamento com seus critérios de nível acadêmico serviu de impulso para
aperfeiçoarmos nossos procedimentos regulares da clínica, do curso de
especialização e do próprio funcionamento do Instituto de Gestalt-Terapia de
Brasília. Elaboramos o Regimento Interno do IGTB. Informatizamos a biblioteca
composta de 360 livros, 16 periódicos e 6 videos. Criamos formulários de melhor
qualidade para nossa clínica, denominada de Clínica Gestáltica de Atendimento
Comunitário. Redigimos um memorial, fazendo uma apresentação da história da
fundação do IGTB e descrevendo todas as atividades oferecidas e as funções
exercidas pelos membros do Instituto. Assim, anexamos ao projeto, por
recomendação dos fiscais, todos os documentos e formulários utilizados pelos
professores e alunos referentes às atividades desenvolvidas no curso e na
clínica.
Um outro ponto de interesse dos representantes
do CFP foi verificar a qualidade da relação instituição-aluno,
professor-instituição, professor-aluno, além de querer conferir a qualificação
dos docentes em integrar a prática clínica e a formação acadêmica. Acreditamos
que o nosso ponto forte é sermos uma equipe que tem uma história que procura
aliar a vida acadêmica com a prática clínica. Devemos esse mérito ao Professor
Jorge Ponciano, uma vez sempre procurou incentivar seus alunos a integrar, como
ele: prática e produção acadêmica. O Jorge continua produzindo muito e atuando
como professor, em várias disciplinas na nossa especialização, (dentre elas, o
Processo Terapêutico em Grupo), além de conduzir a maior parte de nossos
encontros vivenciais. Provavelmente, somos a mais numerosa equipe de formadores
(9 membros) em Gestalt-Terapia e que tem um corpo docente com interesses muito
diversificados. Essa diversidade de interesses tem proporcionado muitos
questionamentos e possibilitado dar aos alunos supervisões clínicas de
qualidade e orientações de grande amplitude para a monografia de final de
curso.
Sheila Antony tem procurado aprofundar seus
conhecimentos no atendimento a crianças e adolescentes. Adriano Holanda
continua fazendo o diálogo entre a Fenomenologia e a Gestalt-Terapia. Maria
Maura Alves e Nayla Reis desenvolvem a cada ano reflexões sobre as questões do corpo,
da arte e da criatividade na prática e na teoria da Gestalt-Terapia. Miriam
Philippi se interessa pelo acompanhamento de casais, famílias e comunidades, a
partir da perspectiva da Gestalt-Terapia. Carlene Tenório defendeu seu mestrado
e seu doutorado procurando discutir a psicopatologia e a teoria do self, no
âmbito da Gestalt-Terapia. Mônica Alvim ampliou seu interesse em compreender as
organizações dentro da Abordagem Gestáltica e tem trabalhado em seu doutorado o
corpo em Merleau-Ponty. Célia Moraes em seu doutorado integrou a
espiritualidade ao contexto da psicoterapia. Temos ainda a contribuição dos
Professores convidados Rodolfo Petrelli e Marcelo Tavares (ambos doutores) no
campo filosófico e na psicopatologia, complementando nossa grade curricular.
No
desejo de socializar mais nosso trabalho clínico, o Instituto recebeu a
certificação de OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público).
Esse título possibilita parcerias com o governo e outras instituições, de tal
modo que possamos oferecer serviços especializados (por meio de professores,
alunos e ex-alunos) de cunho psicossocial. No momento, estamos articulando
parcerias e levantando demandas para prestar mais serviços à comunidade e
otimizarmos a clínica que já funciona há oito anos, Assim, esperamos que a
qualificação de OSCIP nos permita firmar parcerias, expandir nossas
possibilidades de estágio clínico sem perdermos a característica de instituição
sem fins lucrativos. Acreditamos que fazer Gestalt-Terapia é estar-no-mundo, é ir
para o campo, se inserir na comunidade para atender às suas demandas
primordiais.
Ao longo desse caminho, percebemos a
necessidade de uma administração mais profissionalizada para podermos dar maior
suporte ao corpo discente e docente. A ampliação e qualificação do nosso quadro
profissional foi importantíssima para a melhora dos atendimentos na
instituição. A expansão desse suporte veio acompanhada do aumento das
coordenações do IGTB. Hoje são três coordenações: de cursos, da clínica e a
mais nova que é a de elaboração e execução de projetos sociais. Além das
coordenações, o IGTB possui um corpo administrativo composto de um
administrador, uma secretária e uma auxiliar de serviços.
Atualmente, nosso Instituto tem reuniões
mensais com todos os membros de diretoria e reuniões semanais de coordenação.
Oferece palestras abertas à comunidade, quinzenalmente (a programação
encontra-se disponível no site do IGTB) e grupos de estudos semanais com os
alunos em curso. Há dois encontros anuais com toda a equipe para reflexão e
auto-avaliação na Fazenda Capão do Negro (de propriedade do Prof. Jorge
Ponciano) que funciona também como um “Campus Avançado” para cursos de
aperfeiçoamento e treinamento em GT.
Para o IGTB a visita da comissão de
fiscalização da ABEP (Associação Brasileira de Ensino de Psicologia), órgão
credenciado pelo CFP para fiscalizar as instituições formadoras de psicólogos
nas diversas abordagens e campo de atuação, foi de grande importância para
validar e reconhecer o nosso trabalho, já que o programa que vínhamos
executando foi aceito sem ressalvas. A mesma visita nos possibilitou definirmos
novas metas, para estarmos nos auto-eco-regulando a fim de acompanhar as
sugestões feitas pelos vistoriadores, e que podem se tornar exigências para os
futuros núcleos de credenciamento.
Hoje sabemos que as instituições formadoras
poderão ter um papel significativo na indicação das exigências necessárias e
nos critérios para avaliação dos cursos. Acreditamos que esses critérios devem
continuar sofrendo mudanças e talvez seja importante nos organizarmos como
Gestaltistas para discutirmos o que consideramos relevante para uma
especialização de excelência em Gestalt-Terapia, sabendo que somos um grupo
plural e que guarda as suas singularidades.
Uma das reflexões que consideramos relevante é
a discussão quanto ao formato do trabalho final. Talvez um trabalho final em
forma de artigo aumente a possibilidade de termos mais publicações em revistas
científicas, o que não invalida que os trabalhos os cursos de especialização estejam
disponíveis no site da Biblioteca Virtual de Saúde. Também podemos continuar a
discutir o perfil da equipe de formadores, já que essa questão parece ainda
criar polêmicas, apesar de estar claro que a ênfase dos cursos de
especialização deve ser na prática profissional.
Há um convite da ABEP para que o recém criado
núcleo de especialização se reúna no próximo Encontro Nacional dos Psicólogos,
em setembro de 2006, em São Paulo, para discutir os cursos de especialização.
Acreditamos que seja importante a nossa presença como grupo para levarmos as
nossas sugestões.
No mais reconhecemos que a presença da ABEP em
nosso meio profissional só veio a contribuir e colocamo-nos à disposição dos
demais Institutos de Gestalt-Terapia para somarmos esforços em difundir nossa
abordagem de forma respeitosa e com a qualificação técnico-científica que lhe
são dignas.